O UNIVERSAL E O PARTICULAR NA NOSSA LITERATURA

Há algumas semanas a jornalista Eliane Blum escreveu um artigo na Revista Época sobre as dificuldades que os agentes literários que trabalham com autores brasileiros têm para vender seus títulos. Dizia Eliane, citando agentes literários, que “os escritores americanos conquistaram o direito de ser universais para a velha Europa e seu ranço colonizador – já dos brasileiros exige-se uma espécie de selo de autenticidade que seria dado pela “temática brasileira”.”

O texto da Eliane é muito interessante e levanta questões bem pertinentes, mais além do que trato aqui. E faz pensar sobre o assunto (o que, para mim, é realmente sua maior virtude), e disso resultaram algumas reflexões que desejo compartilhar.

Primeiro fato: o escritor brasileiro mais traduzido na atualidade é o Paulo Coelho. Independentemente de quaisquer considerações sobre suas virtudes (ou não) literárias, uma coisa é certa: Paul Rabitt não tem “temática brasileira”, definitivamente. Aliás, uma – dentre as tantas – “acusações” que lhe são feitas é precisamente a de nem ser conhecido como brasileiro. Talvez ele seja “o estrangeiro domesticado que mora dentro deles”, como diz Eliane. Seus romances-receituários de peregrino, etc. etc., abordam precisamente os famosos temas universais: solidão, busca espiritual, redenção, etc. etc.
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Entrevista para matéria na Carta Capital


Esta semana na Carta Capital, o repórter Lucas Callegari publica uma matéria interessante sobre a indústria editorial e as livrarias.
Lucas me enviou uma série de perguntas, que respondi por escrito.
Evidentemente essas são grandes demais para uma revista, e por isso vou publicá-las aqui, em vários posts.

– O que significa para o mercado brasileiro a entrada da Penguin no capital da Companhia das Letras? Este negócio pode ser visto como parte de movimento dentro do setor levando a uma maior concentração? Reforça a tendência maior presença das empresas estrangeiras adquirindo brasileiras? O que o mercado brasileiro tem de atrativo que pode ter motivado o negócio?

Não se conhecem os detalhes do negócio. Uma parte do investimento da Penguin foi a compra da participação de sócios minoritários, do responsável pelas finanças da empresa e de duas editoras da casa. Mas não sabemos se houve um aumento do capital, com a consequente redistribuição de cotas, ou se os ingleses compraram partes dos demais sócios. Nesse sentido não dá para saber se essa movimentação leva a uma “concentração” no setor dos livros gerais. Certamente abre portas estratégicas para a Companhia das Letras, que passa a fazer parte de um grupo com articulações internacionais do qual já fazem parte outras editoras.
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TEREMOS MAIS E MELHORES DADOS SOBRE AS VENDAS EM 2012?

A anunciada possibilidade de que o BookScan, da Nielsen ou outra solução da BfK possam vir a ser empregadas no Brasil para rastrear o consumo de livros no país permite fazer algumas observações sobre a questão dos dados do mercado editorial brasileiro.

Tanto a Nielsen quando a BfK já estão presentes no Brasil há anos, fazendo vários tipos de pesquisa para diferentes segmentos da indústria nacional. Inclusive pesquisas online sobre o consumo de bens. A Nielsen, por exemplo, oferece Serviços de Mensuração de Varejo, linha de produtos da qual a BookScan faz parte. A BfK tem a Shopper Inteligence, produto do mesmo tipo do oferecido pela concorrente. Todas trabalham com informações recolhidas diretamente nos PDVs – pontos de venda – através do registro de códigos de barra.
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Petição pública contra o fechamento da Livraria Camões no Rio de Janeiro

Amigos(as),

Acabei de ler e assinar este abaixo-assinado online: «Contra o fechamento da Livraria Camões»

http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=camoes

Pessoalmente, concordo com este abaixo-assinado e acho que você também pode concordar.

Assine o abaixo-assinado e divulgue para seus contatos.

Obrigado,
Felipe José Lindoso
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Mais um retrocesso da política cultural em Portugal

Sempre admirei a política – que supunha ser de Estado, e não dos eventuais governos – para a difusão cultural de Portugal e da Espanha. O Instituto Camões e o Instituto Cervantes, o Instituto Português do Livro e da Biblioteca como instituições autônomas, desenvolviam – e até certo ponto ainda desenvolvem – um trabalho importantíssimo de difusão da cultura desses dois países ibéricos. O Instituto Camões mantem leitorados e cátedras em dezenas de países, centros de ensino do português como língua estrangeira, centros culturais, apoio a publicações e projetos de pesquisa. O mesmo faz o Instituto Cervantes.

Durante alguns anos a ação do Ministério da Cultura de Portugal foi apoiada pelo ICEP, uma versão lusa da Apex, agência de promoção de exportações. A presença portuguesa nas bienais de livros de São Paulo e do Rio, com delegações de escritores, era financiada pelo ICEP. Há coisa de dez anos isso deixou de ser feito, e os estandes portugueses minguaram substancialmente nesses eventos.
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Ano Novo: Vida Nova?

Ano novo, vida nova, diz o senso comum. Na verdade, essa marca canônica do tempo serve mesmo como marco arbitrário para marcar processos continuados e que às vezes têm ritmos bem diferenciados. Um exemplo bem claro disso, desconhecido para o público geral mas seguido atentamente pelas editoras, é o dos calendários para pré-inscrição, seleção, contratação e entrega dos livros dos diferentes programas de livros para as escolas, gerenciados pelo FNDE, órgão do Ministério da Educação. Nestes dias está terminando a entrega, pelos correios, dos livros didáticos que serão usados em 2012 e, ao mesmo tempo, a pré-inscrição para o PNLD para 2014.

O Edital para o PNLD 2014 vinha sendo discutido entre o FNDE e as editoras, principalmente através da Abrelivro, desde meados do ano passado, por incluir uma inovação importante: serão consideradas coleções com materiais multimídia, que deverão estar em CD-ROMs e, ao mesmo tempo, abrigados em portais das editoras acessados através do portal do livro didático do MEC. Até maio essas coleções deverão ser entregues para avaliação, com conteúdo e formatação física tal como serão eventualmente adquiridas pelo MEC mais adiante. Ou seja, as editoras didáticas têm que fazer edições completas do material que será vendido em 2013 e usado pelos alunos em 2014, e esse processo já vem sendo executado há pelo menos um ano.
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São Paulo – A Babel começa a fazer sentido


A Biblioteca de Babel borgiana, onde todo conhecimento se acumula e nada acontece porque tudo já está lá, só pode ser decifrada quando se consegue recuperar a informação, para assim lhe dar sentido. Esta semana o Sistema de Bibliotecas Públicas de S. Paulo (que está muitíssimo longe de ter esse alcance borgiano, mas que já é um sistema considerável), deu um passo importante para que se possa explorar seu conteúdo.

A Secretaria Municipal de Cultura de S. Paulo completou a catalogação retrospectiva do acervo circulante de todo seu sistema de bibliotecas públicas: 52 bibliotecas de bairro, a Biblioteca Mário de Andrade – segunda maior do país em acervo – Biblioteca Monteiro Lobato, as quatro Bibliotecas do Centro Cultural S. Paulo (Vergueiro), dez ônibus-biblioteca, Biblioteca do Centro Cultural da Juventude e treze pontos de cultura. O sistema abriga também as bibliotecas dos CEUs (45), cujos acervos são adquiridos pela Secretaria Municipal de Educação.
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Informatização das Bibliotecas de S. Paulo


A Coordenadoria do Sistema Municipal de Bibliotecas Públicas da Secretaria de Cultura do Município de S. Paulo dá nesta segunda feira, dia 19, um importante passo na democratização do acesso ao acervo de livros do sistema de bibliotecas da cidade, anunciando a conclusão da informatização da catalogação retrospectiva do acervo das suas bibliotecas. A cerimônia acontecerá na Biblioteca Alceu Amoroso Lima, na Av. Henrique Schaumann,777, do bairro de Pinheiros, na Capital. A partir das 10:30 hs.

Essa informatização permite a qualquer cidadão saber que títulos, quantos exemplares existem em todo o sistema e em que biblioteca está cada exemplar. E também se o livro está disponível para empréstimo e em que unidade.

O sistema de gerenciamento de bibliotecas da SMC é o Alexandria Online, um dos mais fortes e eficientes programas do gênero, que desde 2005 fez a catalogação retrospectiva do acervo de 82 unidades do sistema – 55 bibliotecas de bairro, o acervo circulante da Biblioteca Mário de Andrade, da Biblioteca Monteiro Lobato, das quatro bibliotecas do Centro Cultural São Paulo, dos dez ônibus-biblioteca, da biblioteca do Centro Cultural da Juventude e de treze pontos de cultura. Nesse processo foram catalogados e cadastrados um milhão e meio de exemplares.
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Quem representa quem no mundo editorial?

Uma evidente constatação do meio editorial brasileiro é a da multiplicidade de instituições “representativas” do mundo editorial e livreiro. Temos a CBL – Câmara Brasileira do livro, que reúne editores, distribuidores, livreiros; o SNEL – Sindicato Nacional de Editores de Livros, a entidade sindical oficial da estrutura corporativista do Estado brasileiro; a ABRELIVROS – Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares, nascidas de uma dissidência da CBL quando os editores de didáticos não se sentiram convenientemente representados; a LIBRE – Liga Brasileira de Editoras, que pretende representar as editoras independentes e de menor porte; a ABDL – Associação Brasileira de Difusão do Livro, que reúne editores e distribuidores de livros de coleções, os vendidos de “porta-a-porta”; a ANL – Associação Nacional de Livrarias, que reivindica a representação dos livreiros. Além desses, uma miríade de câmaras, associações e entidades de âmbito estadual, entre as quais se destacam a Câmara Riograndense do Livro, que organiza a feira de livros mais antiga do país, a de Porto Alegre; a Câmara Mineira do Livro; o Sindicato dos Livreiros do Ceará, e vou parando por aqui porque a coisa vai se multiplicando numa sopa de letrinhas.
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Preço fixo, agenciamento e direitos autorais. E as livrarias no meio

Recentemente foi publicada a notícia de que a Comissão Europeia estaria iniciando um procedimento investigativo para verificar se o modelo de “agenciamento” na venda de e-books estaria ou não infringindo a legislação comunitária que protege a livre concorrência. A investigação da CE abrangeria inclusive a possibilidade de um “conluio” entre a Apple a as grandes editoras americanas (algumas das quais, hoje, pertencem a conglomerados europeus) para controlar o preço dos livros. Em resumo, a acusação era de cartelização.

Já tratei algumas vezes de certos aspectos da comercialização de livros físicos, notando como os descontos cada vez maiores (além de vantagens adicionais) exigidos pelas grandes cadeias tende a puxar o preço dos livros para cima, disfarçando esse fenômeno com os descontos oferecidos no varejo – pelas grandes cadeias – e efetivamente jogando para fora da competição as livrarias independentes, incapazes de competir nesse jogo, particularmente no caso dos livros que entram na lista dos best-sellers (ou que já são “desenhados” para a lista).
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Políticas públicas para o livro e o mercado editorial