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Lições e observações do Ed Nawotka

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No dia 6 de agosto passado, o jornalista Ed Nawotka, editor da  newsletter Publishing Perspectives  participou de evento organizado pela nossa PublishNews, com o apoio da Nielsen e da Livraria Martins Fontes. O tema original do seminário era “Estratégias Globais para Editores Brasileiros”. E, de fato, Ed Nawotka expôs várias ideias sobre as possibilidades de expansão global de negócios para editores brasileiros.

Assisti à palestra e não pretendo resumi-la aqui, pois isso já foi feito na newsletter do dia seguinte ao seminário.

Entretanto, quero aproveitar a oportunidade para destacar alguns assuntos tratados por ele que, para mim, foram muito interessantes.

Um preâmbulo. Altair Brasil, que foi presidente da CBL e, antes de adquirir com outros sócios, a operação da Bertrand Brasil (hoje selo da Record), trabalhou em vendas do setor gráfico e no segmento de porta-a-porta. Altair comentou comigo, várias vezes, que “quem vendia livros em quantidade eram as gráficas; livreiro vende um exemplar de cada vez”. Essa é uma lição bem clara do segmento de vendas porta-a-porta. Não deixam passar nenhuma venda, e vão atrás do cliente onde quer que ele esteja. Só para ilustrar, uma historinha que o Hamilton Terni Costa conta. Quando era diretor da gráfica da Melhoramentos, antes da unidade ser vendida, Hamilton convidou um grupo de editores e distribuidores do porta-a-porta para conhecer as instalações. No final da visita, na hora do cafezinho, quando Hamilton colocava as vantagens para que eles imprimissem na Melhoramentos, um ou dois dos visitantes revelou: haviam feito vendas de coleções para os funcionários da gráfica, durante a visita. No papo. Na hora.

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BREVE HISTÓRIA DA AUTOAJUDA, O GÊNERO MAIS VENDIDO NO MUNDO

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Jessica Lamb-Shapiro

Publicada originalmente no Publishing Perspectives

A autoajuda anda por aqui há milhares de anos, amada e odiada por todo esse tempo. O mais antigo progenitor de livros de autoajuda foi um gênero egípcio chamado “Sebayt”, uma literatura de instruções sobre a vida (“Sebayt” quer dizer “ensinar”). Uma carta de um pai para o filho com conselhos. “As Máximas de Ptahotep”, escrita certa de 2.800 a.C., propugnava um comportamento moral e autocontrole. Antigos textos gregos ofereciam meditações, aforismos e máximas sobre a melhor maneira de viver.

Durante a Alta Idade Média, na Idade Média e no Renascimento, livros do tipo “Espelho dos Príncipes” contavam histórias de reis cujo comportamento devia ser imitado ou evitado. Eram semelhantes às histórias inspiracionais de hoje, como a série “Canja de Galinha para a Alma”, só que também incluíam contos de advertência. A literatura de aperfeiçoamentos pessoal deu um grande salto depois de 1455, quando Gutemberg barateou a impressão e tornou esses livros disponíveis para uma distribuição mais ampla. De repente, qualquer um podia escrever suas receitas sobre a melhor maneira de viver.
Jessica-Lamb-Shapiro No decorrer dos anos 1600 e 1700, livros de comportamento ensinavam aos homens como se comportar polidamente em sociedade, e foram populares na Itália, França e Inglaterra. Na França, eram conhecidos como livros de “savoir vivre”. O historiador Jacques Carre argumenta que “seu espírito se perdeu, e apenas aplicações mecânicas de algumas recomendações isoladas, supostamente destinadas a proporcionar refinamento imediato, era apresentadas aos leitores insuspeitos”. Os tópicos abordados incluíam, “Coisas Odiosas e Imundas”, “Assoando o Nariz”, “Cabelos Cortados como uma Tigela”, e “Barbas de Comprimento Assustador”.

Pode haver muito desprezo pelos livros de autoajuda de hoje, mas estes fazem parte de um mercado de melhoria pessoal em crescente expansão que não mostra nenhum sinal de esquecimento. A autoajuda é tão popular agora quanto foi no tempo de Chesterton, e como indústria, cresceu exponencialmente.

Muitos dos textos mais antigos de autoajuda ainda estão no mercado. “A Arte da Guerra”, de SunTzu, um antigo tratado militar chinês, é popular entre os homens de negócio dos Estados Unidos; as “Meditações”, de Marco Aurélio é um best-seller na China contemporânea. Livros de autoajuda criados em uma cultura podem ser muito populares em outras: Wayne Dyer (“Seus pontos fracos”, entre outros) é popular na Holanda. “O Segredo”, de Rhonda Byrne, autora australiana, é best-seller no Irã.

A despeito de sua ubiquidade, é difícil dizer se os livros de autoajuda ajudam ou não alguém. Há pouquíssima pesquisa acadêmica sobre o assunto. As estatísticas do mercado editorial alegam que 80% dos leitores de livros de autoajuda são compradores que repetem suas compras, o que poderia indicar que os livros não estão ajudando. Alguns sugerem que os leitores de livros de autoajuda não leem mais que as primeiras vinte páginas, se é que chegam a abrir o livro. O simples ato de comprar um livro de autoajuda é relatado como algo que fez alguém sentir-se melhor.

Aristóteles acreditava que a leitura tinha capacidades curativas. Ao mesmo tempo em que os compradores de livros de autoajuda talvez não curem o que os aflige, sentir-se melhor não é algo a ser inteiramente descartado. As pessoas odeiam seus trabalhos, se apaixonam, temem envelhecer e se preocupam com o peso, e os livros de autoajuda tratam e tentam atenuar esses problemas. A vida machuca, e a promessa feita pelos livros de autoajuda é um alívio dessa dor.

O colapso de outros sistemas de crenças, sistemas que, em algum momento, proporcionaram direção e significado, permitiram que a autoajuda a se tornasse ainda mais valiosa. A autoajuda proporciona um sentido de comunidade para os solitários; mas também pode isolá-los ainda mais. A autoajuda proporciona uma linguagem com a qual discutir problemas particulares e difíceis; mas às vezes essa linguagem desliza para um discurso sem sentido. É um mundo cheio de charlatões e boas pessoas, e um no qual nem sempre é fácil separar a escumalha do ouro.

Um anúncio no metrô de New York para a Marble Colegiate Church, onde o autor de autoajuda, Norman Vincent Peale já foi pregador, explica a ansiedade básica que alimenta essa indústria mamute: “A vida não vem com um manual de instrução”. Nossos seres racionais sabem que esse manual de instrução não existe, mas nossos seres ansiosos continuarão tentando comprar um.

“Fariam a mesma pergunta para Philip Roth?”

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Esse é o título do artigo de Dennis Abrams, publicado na Publishing Perspectives do dia 3 de maio, a partir de uma queixa feita pela romancista Claire Messud em uma entrevista que lhe foi feita pela Publishers Weekly a propósito do lançamento de seu último livro The Woman Upstairs (veja aqui a resenha publicada no New York Times Book Review). Note-se que a PW é uma publicação do mercado editorial.

Como se trata de assunto de caráter geral, solicitei permissão para publicá-la aqui, gentilmente concedida pelo Ed Nawotka.
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The Woman Upstairs (Knopf) está recebendo críticas elogiosas de várias publicações. Mas em uma entrevista recente com a Publishers Weekly, Mesud ficou frustrada com a linha das perguntas, particularmente sobre o principal personagem do romance, Nora Eldridge.

Depois que lhe perguntaram, “Eu não gostaria de ser amiga de Nora, e você? É uma personagem quase insuportavelmente cinzenta”, Messud respondeu:

“Por favor, que tipo de pergunta é essa? Você gostaria de ser amiga de Hubert Humbert? Gostaria de fazer amizade com Mickey Sabbath? Saleem Sinai? Hamlet? Krapp? Édipo? Oscar Wao? Antígona, Rskolnikov? Qualquer um dos personagens de Correções? Ou algum dos personagens de Infinite Jest? Algum dos personagens de qualquer coisa escrita por Pynchon? Ou Martin Amis? Ou Orham Pamuk? Ou de Alice Munro, já que estamos nisso? Se você ler para descobrir amigos, está com muitos problemas. Lemos para descobrir a vida, com todas suas possibilidades. A pergunta relevante não é se ‘esse é um amigo em potencial para mim?’ mas sim ‘esse personagem vive?’

Mas a coisa vai além disso, acho.

E se não for simplesmente uma pergunta ruim pela razões apontadas por Messud, mas uma pergunta que parte de suposições sobre livros de autores mulheres (e os personagens desses livros), que jamais seriam feitas sobre livros de autores homens?

Será que em algum momento perguntariam a Philip Roth se ele seria amigo de Portnoy?
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O artigo foi publicado em uma seção de discussões da Publishing Perspectives. E você, o que acha?

“O que há em um nome”, ou Guerra de Versões

Gosto de pensar no verso de Shakespeare como um tributo à guerra de versões. Os nomes – Montecchio ou Capuleto – assumem significados conforme a posição de quem os diz para quem, e a tragédia se arma a partir daí. Ou seja, depende do ponto de vista.

O Publishing Perspectives do dia 27 de junho trouxe uma entrevista feita com Alberto Vitale, ex-executivo da Randon House entre 1989 e 2002, por uma bolsista Fulbright da New York University, Joana Costa Knufinke, espanhola que também faz seu doutorado em Literatura na Universidad de Barcelona.

Vitale é um dos nomes lendários da edição americana no período. Italiano educado nos EUA, como chefão da Random House – na época a maior editora dos EUA – era um temido porta-voz da indústria editorial americana nas negociações com a Feira de Livros de Frankfurt, principalmente a respeito da localização dos estandes. Esse tema o fez ter vários atritos com Peter Weidhaas, descritos pelo alemão em seu livro de memórias, See You in Frankfurt (Locus Publishers, New York, 2010). Foram alguns embates cataclísmicos, o do poderio e arrogância dos americanos contra o poderio e a arrogância dos alemães.
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“Oh, e-books, como os amamos? Deixe-me contar de quantos modos…”

Transcrevo em seguida, por gentileza do Publishing Perspectives um artigo de Peter Cook sobre um instrumento de pesquisa sobre e-books feito pelo BISG – Book Industry Study Group e que comentarei em um próximo post.

Eis o artigo:

Oh, e-books, como os amamos? Deixe-me contar de quantos modos…
(Desde que pague US $ 6.750 pela subscrição da pesquisa)

Por Peter Cook (cortesia de Publishing Perspectives)

Os modos realmente estão sendo contados assiduamente e continuadamente, e disponíveis na ponta dos dedos em tempo real para editores pelo Book Industry Study Group (BISG). A última apresentação tem-que-ter-tem-que-ver é a da pesquisa em curso e continuada Consumer Attitudes Towards E-Book Reading (Atitudes dos Consumidores em Relação à Leitura de e-books) que esclarece e quantifica o tamanho e a profundidade da mais nova das paixões: quais são os e-readers mais “quentes”? Quais os que estão minguando? Que características os consumidores querem ter em seguida? O que mais compradores de e-books fazem ou consumem com seus aparelhos?
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O “DNA” dos livros pode servir de base para encontrá-los?

Semana passada Claudiney Ferreira, com quem trabalho no projeto Conexões Itaú CulturalMapeamento Internacional da Literatura Brasileira – e que vasculha a Internet quase obsessivamente atrás de sites sobre literatura, achou uma curiosidade: o BookLamp. Tratava-se de um site que se propunha a levantar o DNA dos livros para servir de motor de buscas para os leitores descobrirem livros “semelhantes” aos que gostaram, e de ferramenta para autores e editores.
Visitei o site e achei realmente fascinante. E já tinha planejado escrever um post sobre o assunto.
Esse trabalho me foi poupado pelo Ed Nawotka, do Publishing Perspectives, que no dia 24 publicou um artigo sobre o assunto. Ed Nawotka esteve aqui há pouco, no Congresso do Livro Digital, e sua palestra motivou que eu escrevesse um post sobre a questão dos metadados e sua importância para o mercado editorial.
Bem, quem quiser ler o original, o link está aqui. Com permissão do Ed Nawotka, traduzi o artigo que deixo aqui para vocês:

O “Projeto do Genoma do Livro” do BookLamp é o futuro da descoberta?

Por Edward Nawotka

Se você achava que metadados eram complicados, conheça Booklamp.org., um novo motor de descoberta de livros que pesquisa 32.160 diferentes pontos de dados por livro. “Fazemos isso processando o texto completo proporcionado pelo editor em formato digital e passando pelo nosso computador”, explica o CEO Aaron Stanton.

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