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PAULO COELHO, MODIANO E PIRATARIA – ECOS DE FRANKFURT

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Três assuntos chamaram minha atenção no noticiário da semana passada sobre a Feira de Frankfurt. Por “ordem de chegada”: Paulo Coelho e sua conversa com Jurgen Boos, o Nobel de Patrick Modiano, e os comentários de editores brasileiros sobre a pirataria digital.
Matutando, acho que estabeleci algumas ligações significativas entre os três eventos. Reflexões que compartilho com vocês.
Na sua conversa com Boos, que é o diretor da Feira, e que chamou Mr. Rabbit para, de certa forma, compensar seu polêmico forfait ano passado, o Mago espicaçou a fundo o mercado editorial.

Segundo a matéria assinada por Ubiratan Brasil no Caderno 2 do Estadão do dia 9, Paulo Coelho declarou que “São duas as grandes razões que fazem alguém ler: a busca de entretenimento e a de conhecimento. Mas, no mundo tecnológico em que vivemos, esse leitor não necessita mais da cadeia intermediária entre ele e o conteúdo. Assim, editores, distribuidores e livreiros tornam-se, muitas vezes, dispensáveis para esse leitor, pois encarecem o produto.”

A estratégia pessoal de Paulo Coelho em relação ao assunto é simples: vende as versões digitais de seus livros a US $ 9,90 (na maioria dos casos), e não se importa com a pirataria. Na entrevista mencionou que viu uma edição em árabe que “certamente será pirateado em papel em todo mundo árabe”. A razão: a edição libanesa é muito cara para os compradores da região. Em outra ocasião, se não me falha a memória, ele mencionou que não se importava com traduções piratas de seus livros (acho que mencionava uma tradução para o farsi).

Resumindo, o que Paulo Coelho coloca é: livros baratos; acessibilidade máxima.

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FOI BONITA A FESTA

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Passada a feira, o que restou?

A festa foi bonita. A programação diversificada uma presença de público significativa. Não consegui acompanhar as atividades com os autores fora de feira, mas me consta que foram várias e bem recebidas pelo público. Também não consegui visitar os museus onde havia exposições de artistas brasileiros, mas também soube que estavam bonitas, bem organizadas e com presença de público.

A quantidade de traduções de autores brasileiros, principalmente – mas não exclusivamente – na Alemanha foi muito expressiva, e deve continuar ainda. Na medida em que continue o programa de bolsas de tradução. O programa da Amazon Crossings, anunciado já no final da feira, foi uma surpresa interessante. O braço editorial da Amazon já é a editora com mais títulos traduzidos para o inglês, sinal da determinação de Jeff Bezos de investir na área editorial, dando a volta na resistência de autores americanos e ingleses, temerosos da ausência de seus livros nas livrarias, seja nas grandes cadeias, seja nas livrarias independente. A Amazon afirma que distribui e distribuirá os títulos nas livrarias, mas isso vai depender da demanda dos leitores que por eles se interessarem e não quiserem aproveitar as facilidades para aquisição que o gigante do e-varejo oferece.

No âmbito mais geral, a palestra/entrevista coletiva de Markus Dohle, o chefão da Penguin Randon House foi muito significativa. Nada mais de guerras com a Amazon e os demais integradores de e-books, disse ele, mandando a pombinha da paz para Seattle. Afirmou a importância do livro impresso, notando a diminuição do crescimento dos e-books no mercado dos EUA e na Inglaterra. Mas ninguém sabe realmente qual será o destino das livrarias independentes, lá, aqui e alhures.

As duas empresas de rastreamento eletrônico de vendas, a GfK e a Nielson BookScan fizeram apresentações de seus produtos, com enfoques diferentes. É notável o fato do Brasil ser um dos poucos países onde as duas já rastreiam a venda de livros. Ambas faziam levantamento de um grande número de produtos vendidos no varejo, mas livros não.

A reduzida presença dos editores nessas apresentações pode ser explicada pelas agendas apertadas da Feira de Frankfurt, e estou curioso para ver quem estará presente na conferência que a GfK fará no começo de novembro, em S. Paulo, sobre as tendências de vendas no varejo, inclusive de livros. Continuo com a forte impressão de que os editores – e as livrarias – não compreendem a importância dos metadados e do tratamento estatístico das vendas. A riqueza dos dados para o planejamento estratégico e tático de vendas ainda não entrou realmente no campo de visão da indústria editorial brasileira, e a maioria das empresas ainda considera isso tudo como gasto e não como investimento. Vamos ver a evolução disso nos próximos meses.

O prof. Renato Lessa, presidente da Biblioteca Nacional, matizou mais a importância do programa de bolsas de tradução, afirmando sua boa relação “custo benefício”.

Mas…

Não há certeza de que o programa de promoção da literatura brasileira se firme como uma política pública. Ainda depende da vontade dos dirigentes da BN e do Ministério da Cultura.

Dois fatos foram significativos para mostrar a precariedade da situação.

O primeiro foi a ausência de dirigentes da nova Diretoria do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (aliás, nem sei mais qual o nome oficial da repartição) na Feira. Supostamente devem estar se preparando para assumir as ações que a Fundação Biblioteca Nacional, através de seu presidente, afirma não serem de sua alçada: presença nas feiras internacionais e ações outras da área. Já comentei que não se tem notícias da continuidade do programa de bolsas de residência para tradutores nem do intercâmbio dos escritores.

Era de se esperar que os novos diretores da DLLLB estivessem em Frankfurt, quando nada para participar da avaliação e ver como a coisa funciona. O professor Castilho, secretário executivo do PNLL – e usuário de outros chapéus, como o da ABEU e o da própria Fundação Editora da UNESP – estava lá, mas não os dirigentes dos seus meios de ação dentro do MinC.

E, nos jornais, já se fala que as programadas presenças do Brasil nas feiras de Bolonha e Paris, por exemplo, teriam restrições no âmbito do governo. Não se fez – ainda nem houve tempo para isso – uma avaliação sistemática dos resultados de Frankfurt, mas já se fala que sem dinheiro das editoras não se vai fazer mais nada significativo. Escrevi sobre isso e repito: as editoras não têm grande interesse na venda de direitos autorais. Já deveriam estar apostando mais na venda de livros de formato eletrônico para a grande diáspora brasileira, esses milhões de brasileiros espalhados pelo mundo, que podem ter acesso aos e-books, mas nem isso é levado a sério.

OS DISCURSOS

Comentei em outro post os discursos da abertura da Feira, e reitero minhas observações.

Cabe mencionar aqui o discurso do Paulo Lins na “transmissão do bastão”, no encerramento da Feira. Foi muito bonito e significativo. A distinção feita entre a constatação de que vivemos em uma sociedade racista – foi muito oportuna a menção que o Paulo Lins fez de o racismo ser uma constante no Brasil e nos países europeus – mas que a composição da lista dos escritores não refletiu nenhuma posição desse tipo, e sim expressou as “condições do mercado”.

“Tudo é mercado”, disse Paulo Lins. E, certamente, um dos critérios na elaboração da lista foi o posicionamento dos autores diante do mercado editorial. Seja por sua presença atual, seja no que os curadores consideraram como potencialidades de mercado. No mais, a análise da composição da lista necessariamente deve ter um toque panglossiano: é a melhor lista possível no mundo dos curadores. Outros fossem esses, a lista seria diferente. E sofreria a mesma crítica.

Tragédia e palhaçada foi a presença do Vice-Presidente Michel Temer. As gafes – grosserias – se sucederam. Depois de chamar Marta Suplicy de Ministra da Educação, Temer pespegou a presepada do discurso propriamente dito. Bem diz Paulo Lins que isso de querer bancar o poeta é algo perigoso.

Quanto ao discurso do Luís Rufatto, já o comentei e mantenho o que disse.

Mas acrescento duas observações.

A primeira sobre a reação das autoridades brasileiras, expressadas no comportamento do Temer e em comentários da Ministra da Cultura. Não entendi. A estrutura do discurso corresponde exatamente ao que o Lula sempre disse: depois de 500 anos de opressão “pela primeira vez na história desse país”, se fazia algo para mudar a condição da população mais pobre. Acho que deviam era faturar a coincidência do discurso do Rufatto com o do Lula, da Presidente Dilma e da propaganda oficial.

O segundo ponto a ser observado no discurso do escritor, e de forma negativa, foi o uso exclusivo da primeira pessoa do singular. É até compreensível que Rufatto quisesse destacar sua experiência pessoal. Mas é bom lembrar que essas angústias expressadas no discurso, a responsabilidade dos escritores diante de uma realidade angustiante, não é exclusividade dele.

A verdade é que a literatura brasileira contemporânea tem uma quantidade excessiva de escritores solipsistas. Fazem literatura de alto nível técnico, mas o que lhes importa é seu eu e sua experiência.

Rufatto faz parte de outra tendência, a dos escritores que olham o Brasil, se colocam dentro da nossa realidade para transcender a si e às suas experiências pessoais. Essa é a turma do Rufatto. Mas este, ao reduzir as suas preocupações ao nível individual, perdeu a oportunidade de afirmar que não está solitário, e que essa posição do escritor em um país no qual a expressão “capitalismo selvagem” não é uma metáfora, não se reduz a experiência individual, por mais dura que esta seja. Nem mesmo entre seus colegas de delegação. Muitos outros escritores e escritoras compartilham dessas preocupações, sejam lá quais forem suas trajetórias individuais, e o discurso na primeira pessoa do singular de certa forma perde força ao se esquecer disso. Até porque essa experiência da transcendência da literatura inclui os leitores e mobiliza forças muito mais profundas em nossa sociedade.

Mas a festa foi bonita.

Esperemos que não traga ressaca.

Frankfurt – ices 2 – O Pavilhão do Brasil estava bonito

Minha primeira impressão, no dia da inauguração, não foi muito boa. Era necessário entrar pelo lado, por uma porta (uma de cada lado, certo). E na minha cabeça uma exposição sobre o Brasil deveria estar escancarada desde o começo;

Quando voltei para visitar com mais detalhe, vi que o conceito estava funcionando. As “ilhas” boladas pela Daniela Thomas mostravam diferentes aproximações ao país. Havia pessoas lendo. A seção dos totens com personagens da literatura brasileira ficou bem bolada.

Eram totens com nomes de alguns dos personagens de livros formados por pilhas de impressos que apresentavam o livro, o personagem e um pequeno trecho da obra. Olhem o Policarpo Quaresma (infelizmente não consegui escanear a página inteira, pelo formato, mas dá para ver o conteúdo):

Texto do totem do Policarpo Quaresma
Texto do totem do Policarpo Quaresma

E outras fotos de totens:
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Os painéis sobre as várias facetas do país, com colagem de textos em uma face e, atrás, projeção de um filme/documentário, sempre baseados em textos literários: Metrópole, subúrbio, sertão, floresta, mar e terra também ficaram bonitos.

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As redes onde as pessoas escutavam arquivos sonoros:

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As tais “bicicletas” que faziam projetar documentários sobre vários aspectos da vida nacional. Nem sei se funcionavam só com a pedalada, mas todo mundo estava pedalando…

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Tinha até gente lendo…

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E, desculpem todos, mas não consegui manipular as fotos para evitar as distorções. Quando aprender, conserto…

Museu Gutenberg me faz virar artista gráfico – e outras Frankfurt – ices

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Desde as primeiras vezes que visitamos a Feira de Frankfurt, então pela falecida Marco Zero – Maria José Silveira, Márcio Souza e eu – sempre fizemos questão de visitar os outros pavilhões.

O simples percorrer toda aquela imensidão proporciona um panorama das tendências que a indústria editorial assume naquele ano. Além disso, os pavilhões de artes gráficas, de equipamentos (e hoje de softwares também) para editoras e livrarias, abriam nossos olhos para o que se faz de mais avançado na indústria editorial.

Este ano, quando visitei a feira como curador do Conexões Itaú Cultural – Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira, não deixei de dar meu rolê pela feira.

No Pavilhão 4, das editoras alemãs, está também o estande do Museu Gutenberg, de Mainz, onde nosso patrono inventou a prensa com tipos móveis e desencadeou a criação da Galáxia que leva seu nome.

Ali sempre está uma réplica da prensa na qual imprimiu os primeiros livros, e um impressor vestido a caráter tira cópias de uma página da sua Bíblia usando a mesma tecnologia que ele usou.

Mas lá estão professores e aprendizes da escola de artes gráficas anexa ao Museu, demonstrando algumas técnicas. E hoje eu experimentei uma. O jovem coloca umas espécies de moldes sob uma folha de papel branco, e o candidato a artista gráfico usa rolos com tintas básicas para criar faixas por cima, de cada cor. Ressalta assim o molde do fundo com um padrão colorido.

Assim, graças ao Museu Gutenberg, hoje me qualifiquei como artista gráfico… É o que está no alto do post.

Fiquei orgulhosíssimo…

MOSTRA SIMPÁTICA

Uma das áreas do setor de artes gráficas e desliga da feira apresentou uma mostra de trabalhos de artistas brasileiros inspirados em livros e seus formatos – ou “desformatos” talvez. Algumas fotos.

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PAULO LINS TODO PIMPÃO

A Feira de Frankfurt prepara posts com fotos de autores presentes. O pai do primo da minha neta Ana, o único escritor negro presente, ficou todo pimpão na foto.

“Eu tinha tirado a foto, mas nem sabia para o que era”, me disse, com sua modéstia característica…

Olhem só.

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Fogos de artifício pré Frankfurt

No período imediatamente anterior à inauguração da Feira de Frankfurt, na qual este ano o Brasil será o país homenageado, sempre se ouvem críticas, e as manifestações diversas de incompreensão e oportunismo.

É claro que críticas são legítimas, e longe de mim ser contra quem critica. Mas uma coisa é reconhecer o direito de crítica e outra é achar que qualquer uma é válida. Principalmente quando são feitas por personagens de renome que usam de sua posição para coloca-las sem uma justificativa arrazoada. No mundo acadêmico isso é conhecido como usar o critério de autoridade para validar o que se fala. Abdica-se, na verdade, da análise e da demonstração dos fatos para expressar opiniões de caráter estritamente pessoal que nem sempre estão fundados na realidade.

Dessa maneira se constroem pseudo argumentos de caráter estritamente ideológico, ou que simplesmente escondem estratégias de marketing pessoal.

São exemplos disso dois acontecimentos desse final de semana pré Frankfurt.

O primeiro protagonizado pelo nosso mago titular, autor que vende milhões de exemplares de livros pelo mundo todo e, para muitos, é epítome do escritor brasileiro bem sucedido. Paulo Coelho declinou de participar da delegação “oficial” de escritores brasileiros convidados, alegando que autores de sucesso popular não haviam sido convidados.

Com isso, viu gastar muita tinta para expor e comentar as virulentas críticas feitas ao governo brasileiro e à Biblioteca Nacional. Nem vou entrar no mérito dessas críticas. Concordo com algumas delas e discordo de outras.

Mas o que está evidente no pseudo ex-abrupto do mago não são as críticas. Trata-se mais de uma operação de marketing, como tantas outras que ele já fez. Observem que ele mesmo criou “furos”. A entrevista deveria ser publicada no domingo na Alemanha, mas Paulo Coelho providenciou traduções da mesma em inglês e português para divulgação seletiva e escalonada do conteúdo pelos jornais do mundo afora, e particularmente no Brasil. Note-se que o fato de ser escalonada também faz parte da operação de marketing. A entrevista foi enviada com embargo de data para vários meios, enquanto outros a receberam sem essa advertência. Ou seja, ele criou “furos” artificiais entre vários meios de imprensa, com o singelo objetivo de fazer render mais a notícia. É claro que pediu desculpas aos embargados-furados depois. Fácil.

Vários dos autores que Peter Rabbit mencionou também estarão lá na feira. A convite de seus editores. Que sabem muito bem que a Feira de Livros de Frankfurt, além – repito, além – do lado cultural, é uma feira de negócios editoriais. E os editores aproveitam a oportunidade para colocar seus autores. Como sempre fizeram e continuarão fazendo caso o governo desista de apoiar a presença de um estande brasileiro, nesta e em outras. Normal.

Além da manipulação, nosso Peter Rabbit “desenfatizou” – para não dizer ocultou, o fato de que estará na Feira, cumprindo os compromissos marcados com suas editoras. E ainda deixou o MinC na defensiva. O resultado foi conseguir uma exposição ainda maior que teria – e que certamente já seria enorme – às custas de criticar a bendita lista de convidados.

Faço questão de repetir aqui. Fosse eu quem organizasse a lista, provavelmente usaria outros critérios e escolheria outros autores. Na minha opinião, por qualquer critério adotado, a lista tem omissões difíceis de entender. Mas, fosse minha a lista, ou fosse a de qualquer outra pessoa, grupo ou coletivo que a organizasse, as críticas, em qualquer caso, são inevitáveis. Pois não há
não há como evitar: quem foi escolhido acha isso simplesmente natural e merecido, e quem não foi se considera vítimas de complôs e panelinhas. Assim caminha a humanidade, per omnia omnia secula.

Mas devo dizer que esse fuzuê todo é mais uma amostra da imensa capacidade do mago de se promover, e não é à toa que tratamos de um dos escritores mais vendidos do mundo. No mercado editorial, quem não se promove não vende. Pode conseguir glória crítica e literária, mas para vender tem que mercadejar muito. E nisso Paulo Coelho é, sem nenhuma dúvida, nosso gênio particular.

Outro tipo de crítica é a que foi expressa – não pela primeira vez – pelo jornalista Élio Gaspari em sua coluna dominical n’O Globo. Eventos como o de Frankfurt são apenas oportunidade para mandriões mamarem nas tetas da vaca estatal, segundo ele. E que se alguém tem que tratar da divulgação da literatura brasileira no exterior, que sejam os próprios autores e seus editores.

É uma posição política e ideológica da qual discordo frontalmente. Essa critica do sr. Élio Gaspari confunde os negócios editoriais com a projeção da cultura brasileira (não e
apenas literária, mas em todas suas formas). Como diria nosso prezado Conselheiro Acácio, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Os editores vendem eventualmente alguns autores por questão de prestígio, e aproveitam o fato de comprar muitos direitos internacionais para empurrar um que outro de seus editados.

A literatura brasileira não se apresenta com mais força no concerto universal das ideias simplesmente porque o português é um idioma que está em um gueto: somos nós, os portugueses e a camada de cima da elite dos chamados PALOPs – Países de Língua Oficial Portuguesa. A predominância do inglês é avassaladora e nossas condições de trocas nessa imperfeitíssima República Mundial das Letras é extremamente desigual

Essa atitude, na minha opinião, combina duas posições ideológicas dominantes no pensamento contemporâneo: o culto ao deus mercado e a louvação da dita iniciativa privada.

Mas, no fundo, é também uma manifestação contemporâneo daquele famoso espírito de vira-latas cunhado por Nelson Rodrigues.

Scouts and Agents Centre – O coração da Feira de Frankfurt


Lembro bem do momento em que foi criado o local especifico para que agentes literários e “scouts” – os profissionais que fazem prospecção de livros para as editoras – foi criado, lá pelos anos noventa. Era uma novidade, pois esses profissionais que se espalhavam pela feira, com seus estandes, passaram a ter um local próprio, padronizado. Era um espaço de uns vinte por vinte metros, com divisórias para uma mesa e duas ou três cadeiras. Na foto aqui publicada pode se ver a dimensão atual desse centro, que ocupa dois terços de um andar do pavilhão sete. A área total do pavilhão só é compartilhada com a feira de vendedores de livros raros – belíssimos e em muitos idiomas – que ocupa hoje área semelhante à que o centro dos autores ocupava há mais de uma década.

BIENAL DO LIVRO DE SÃO PAULO 2012 – DE ONDE VEIO, PARA ONDE VAI?

Inaugura-se esta semana mais uma Bienal Internacional do Livro de S. Paulo, no Pavilhão do Anhembi. Participo das Bienais do Livro desde os anos 1980, como visitante, expositor e, a certas alturas, como membro da organização. Desde 2004 voltei a ser apenas visitante.

Como a Bienal do Livro é um evento de grande importância, quero aproveitar a oportunidade para comentar alguns dos problemas, sintomas que vêm sendo sentidos desde pelo menos o início do século XXI. E que, aparentemente, vêm se agravando.
Este ano já se podem fazer algumas constatações. Desistências de participações – algumas simbólicas e outras de peso –, uma programação divulgada com atraso e sem nomes internacionais de peso, reclamações sobre o preço dos estandes (raíz de algumas desistências). Por outro lado, a CBL, detentora da Bienal e a Reed Exhibitions Alcântara Machado, a organizadora, informam que a área do evento aumentou e que o aumento real no custo do metro quadrado de estandes foi “apenas” 6,81 %, considerando-se os aumentos havidos de 2008 a 2012. Na época da inflação esse era um índice baixo. Hoje…

Mas, antes de comentar isso, volvemos à origens.
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Fórum das Letras de Ouro Preto – um encontro literário para a cidade

O Fórum das Letras, da Universidade Federal de Ouro Preto, é um encontro literário com algumas características que me parecem particularmente interessantes. A principal delas é o fato de ser pensado e planejado para a participação e desfrute da cidade e de seus moradores, e não para um público externo que chega de fora para participar do evento. Isso lhe dá uma dinâmica ao mesmo tempo mais tranquila e, de certa maneira, mais intensa. Não existe o clima de estrelismo que prevalece em outros eventos do tipo, e a plateia, muitos estudantes e moradores da cidade, tem uma participação atenta.

O prefeito de Ouro Preto, Angelo Oswaldo, é um personagem singular. Intelectual bem preparado, conhece a história da cidade e está ligado aos problemas relacionados com meio ambiente, preservação do patrimônio histórico e cultural.
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O Brasil em Frankfurt em 1994 – 1

No logotipo da participação brasileira, a esperança de um país de leitores

A participação do Brasil como “País Tema” da Feira do Livro de Frankfurt, em 1994, representou para mim e para a equipe que coordenou o evento durante quase três anos de trabalho, empenhados em que o país fizesse uma bela figura. O núcleo central da equipe foi coordenado por Alfredo Weizsflog, representando a CBL, Regina Bilac Pinto, o SNEL, o Embaixador Wladimir Murtinho, do MinC, Embaixador Sérgio Telles, Chefe do Departamento Cultural do Itamaraty e Márcio Souza, representando a Biblioteca Nacional. Na área executiva estávamos com Júlio Heilbron e Gilberta Mendes, da EMC – Empresa de Marketing Cultural, na área de produção, juntamente com Heloísa Alves. Eu era o encarregado de relações institucionais, ajudando na convergência das ações. Essa equipe, mais um punhado de curadores das exposições, respondia junto aos órgãos e instituições integrantes e colaboradoras do projeto, mais de vinte no Brasil e outro tanto na Alemanha.
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