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UM TRADUTOR MEDIEVAL

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Aos tradutores brasileiros, que tornam acessíveis a nós os livros do resto do mundo.

Estátua do tradutor na cidade onde morou, Wissenbourg, na Alsácia
Estátua do tradutor na cidade onde morou, Wissenbourg, na Alsácia

Os tradutores conhecem – ou, pelo menos, ouviram falar de S. Jerônimo – considerado como seu padroeiro na tradição católica. Jerônimo, ao que conta, traduziu a Bíblia do grego e do hebraico para o latim, consolidando a versão que ficou conhecida como a Vulgata, o texto básico da Igreja Católica para a Bíblia.

Recentemente tomei conhecimento de um sucessor de Jerônimo. Ou, melhor dizendo, de um antecessor de Lutero na tradução da Vulgata para uma língua vernacular.

No último encontro do Conexões Itaú Cultural – Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira,  que aconteceu em novembro, convidamos (sou um dos curadores do programa), o tradutor François Weigel, que verte para o francês obras originais em português.

O Conexões é um programa que já está em seu sexto ano e constrói um banco de dados com informações sobre quem pesquisa, estuda, ensina e traduz literatura brasileira no exterior. Esse banco de dados http://conexoesitaucultural.org.br/parceiros/ de acesso público, já registra informações de mais de trezentos “mapeados”, como dizemos. Nos Encontros, que acontecem anualmente, reúnem-se para discussões e trocas de ideias convidados internacionais e nacionais, que estabelecem redes – conexões – e trocam ideias e experiências sobre o que fazem.

Ilustração no manuscrito dos Evangelhos de Otfried
Ilustração no manuscrito dos Evangelhos de Otfried

François Weigel é francês da Alsácia-Lorena, essa região que já trocou de mãos entre a França e a Alemanha várias vezes no decorrer dos séculos. A região fala dois dialetos de origem alemã, o alsaciano e o frâncico, que na prática não se distinguem, conhecidos ambos como alsaciano.
Na sua apresentação, Weigel começou com uma introdução apresentando o monge franco Otfried, que morou em Wissembourg, na Alsácia, onde traduziu os evangelhos, a partir da Vulgata, para o mittelalthochdeutsch, ou seja, para o “alto-alemão médio”, antecessor do moderno alemão, e que é mais próximo do alsaciano moderno que do alemão moderno. Por essa razão, o texto medieval pode até ser compreendido, em grande medida, pelos modernos alsacianos. Na época, uma língua ainda sem regras, simplesmente falada pelo povo. Otfried trabalhou nessa tradução por volta do ano 870. Ou seja, mais de quatrocentos anos depois que S. Jerônimo estabeleceu a Vulgata.

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DICAS DE EDIÇÃO DE TRADUÇÃO (EM INGLÊS)

O blog Publishing Persopectives publicou hoje artigo de   Theresa M. Paquette relatando uma mesa redonda sobre edição de traduções literárias, com a presença de uma tradutora do alemão para o inglês, Susan Bernofsky, e cinco editores de Nova York.

Eis o texto:

5 Tips for Editing Literary Works in Translation

GBO Translation Panel, from left to right: Ed Nawotka, Edwin Frank, Susan Bernofsky, Declan Spring and Stephen Twilley.

Three top US book editors and one translator share their top tips for working with literary translations.

By Theresa M. Paquette

On Tuesday night, the German Book Office in New York City hosted a panel entitled, “Editing Translations – Editing Susan,” which offered attendees advice on editing works in translation. It followed a day-long workshop in which German-English translator Susan Bernofsky worked with up-and-coming translators around a text by Jenny Erpenbeck, whose novel The End of Days (New Directions) Bernofsky had recently translated.

Moderated by Publishing Perspectives editor-in-chief Ed Nawotka, panelists included, in addition to Ms. Bernofsky: Declan Spring, vice president and senior editor at New Directions; Edwin Frank, editor of New York Review Books Classics; and Stephen Twilley, managing editor of Public Culture and Public Books — all three of whom have edited her work.

Here are the panelists’ top five tips for editing works in translation:

1. Listen to the Author

According to Bernofsky, the problem with translation is this: you must create something that has legibility in its own right, not necessarily “an exact representation of,” the text, but a credible version of the author’s text, voice, and — of perhaps most importance — tone. She gave a shout-out to Erpenbeck, sitting in the audience, and the two recalled the collaborative work between translator and author. When it is clear the translation cannot be an exact representation of the original, the input of the author is essential.

2. Don’t Edit Where You Don’t Need To

Stephen Twilley says that an editor must always ask him or herself, “Can the text justify this?” This means, besides listening to the author, one must “listen” to the text. What is the significance of a particular detail in the narrative, for example? What are the consequences of removing or altering it? If this is removed or altered, does the work lose something crucial?

3. Don’t De-Contextualize

The panelists cited multiple instances in which an author or translator insisted their story was universal – and therefore that translations should forego any cultural specificity. All seemed to agree, however, that with this approach something is lost. As Bernofsky said, “Characters, when they [become] more international, they [become] blander.” Stephen Twilley compared a de-contextualized work to “plastic food.”

4. Style > Syntax

Edwin Frank made the point – and all agreed – that translation occurs not at the level of syntax and semantics, but at that of style. “You can translate syntax and semantics and you don’t have a book;” what is important for a work of translation is not that it matches the original word-for-word, but that the author’s original narrative, with all its idiosyncrasies and subtleties, is kept intact.

5. Treat the Translator Like the Author

Edwin Frank urged attendees to keep in mind that a translation is “finally the translator’s work.” While the editor offers a fresh eye with which to view the text, it is not his or her project. And so, to quote Spring, “You can’t argue over every little stet.”

Poliglota versus Tradutor: diferentes abordagens do Multilinguismo


Há algumas semanas li, no New York Times Book Review, a resenha desse livro, que achei muito interessante. Hoje, o autor publicou um artigo na newsletter Publishing Perspectives. Tomei a liberdade de escrever ao Ed Nawotka, editor da newsletter, para traduzir e publicar aqui o artigo, que compartilho com vocês.

Poliglota versus Tradutor: diferentes abordagens do Multilinguismo

Michael Erard

O tradutor e o poliglota assumem posições bem distintas diante do fato de que todos os seres humanos não falam a mesma língua. O tradutor está no negócio da transposição, levando significados de um lado para o outro das barreiras linguísticas, para benefício daqueles mais linguisticamente enraizados. O poliglota, por outro lado, vai sozinho, raramente retraça seus passos, e não leva nada para ninguém. O tradutor pilota uma balsa de transporte. O poliglota é como Marco Polo.
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Os desafios de traduzir nos EUA

É bem conhecido o dado de que o índice de livros traduzidos e publicados nos Estados Unidos e nos outros países de língua inglesa (Grã Bretanha e Austrália) é ínfimo. Chad Post, um batalhador para que aumente esse índice, mantém um site exatamente com o nome de Three Percent que, segundo ele, é o índice de obras traduzidas.
O Publishing Perspectives de hoje, 29 de agosto, reproduz uma entrevista com Edith Grossman, tradutora para o inglês de importantes obras originalmente em espanhol (publicou recentemente uma elogiada tradução do Dom Quixote) comenta sobre essas dificuldades e sobre a importância e as dificuldades do ofício de traduzir, que quero compartilhar com vocês.

O PORTUGUÊS “É UM OBSTÁCULO” PARA A DIFUSÃO DA LITERATURA BRASILEIRA NO EXTERIOR?

O projeto Conexões Itaú Cultural – Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira, incluiu no questionário enviado para professores, pesquisadores e tradutores a pergunta sobre o papel do idioma português como um fator positivo, negativo ou neutro na difusão internacional da nossa literatura.
As respostas dos cerca de cento e cinquenta “mapeados” que tinham respondido ao questionário na época da elaboração deste texto (Hoje, o número de “mapeados” já está próximo de duzentos), são muito interessantes. Revelam uma determinada percepção do papel do idioma na difusão da literatura que vale a pena discutir.

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