Era 1983, nos estertores da Ditadura Civil-Militar, tal como conhecíamos o regime instaurado em 1964 e que durou(?) até a eleição da dupla Tancredo Neves/José Sarney.
Na Editora Marco Zero entrou em pauta o lançamento do mais recente romance de “A Ordem do Dia” do nosso sócio, o grande escritor Márcio Souza. Evidentemente o que conversávamos era sobre o lançamento desse seu romance. Para os que não viveram ou se esqueceram da época, as “Ordens do Dia” eram pauta e preocupação de todos que viviam e observavam a cena política brasileira. Todas as vezes que um milico soltava um desses documentos, todo mundo se debruçava para fazer a “exegese” do texto do militar. Era algo parecido ao que os “sovietólogos” faziam depois que cada foto das paradas na Praça Vermelha, com a posição dos membros do CC do falecido PCUS.
Coisas assim…
Pois bem, decidimos procurar o general Nelson Werneck Sodré para fazer a orelha. O general Nelson Werneck Sodré era um historiador reconhecido e com extensa obra, inclusive uma “História Militar do Brasil”. Ele havia participado da formação do ISEB (para os que não lembram, taqui uma referência sintética https://pt.wikipedia.org/wiki/Instituto_Superior_de_Estudos_Brasileiros ). Enfim, o general Nelson Werneck Sodré era fruto de uma geração de militares que permitiam a existência de pensadores como ele – e não se expressariam com twitter, caso isso já existisse – e sim com ensaios e pesquisas. O ISER foi liquidado em 1964, é claro.
Lembro bem do almoço quando conversamos com o general. Foi no segundo andar da Colombo (doceria e restaurante do centro do Rio de Janeiro), ocasião em que ele contou histórias, reminiscências, sempre bem divertidas. E topou fazer a orelha.
O fato, entretanto, é que convidar o General Nelson Werneck Sodré para escrever a orelha era quase que uma provocação adicional para arapongas et caterva. (Araponga pode ser consultado também nas wikipédias da vida: https://revistaeducacao.com.br/2018/03/26/conheca-origem-expressoes-x-9-araponga/ ).
Cabe uma menção à capa do livro. É uma ilustração de Carlos Chagas, que era famoso na época pela produção de cartazes, principalmente de filmes. Ele interpretava o filme ao que se supunha ser o “gosto brasileiro” para atrair cinéfilos. Na maioria das vezes o Carlos Chaga colocava em posição proeminente um desenho de alguma mulher semidespida, com um seio bem… proeminente, digamos.
Enfim, foi para a gráfica o “Folhetim voador não identificado, onde as patentes militares entram em transe para a delícia dos que jamais ganharão a Medalha do Pacificador.”
Então preparem-se para conhecer o brigadeiro Fischer, que é dado à autocombustão quando acha que algum comunista está por perto, e o general Pessoa, pessoalmente chefe do seja lá o que for para o estudo de extraterrestres e que entende tudo de OVNIS.
Mais um substancial elenco de apoio.
O que nem sonhávamos era que o romance era uma distopia sobre o Brasil de 2028-2022. Estavam lá todas as maluquices, arbitrariedades, delírios e falcatruas desse quadriênio que felizmente termina dentro de alguns dias.
Rimos muito.
Mas quem quiser, agora, infelizmente, só nos sebos.
Ou, quem sabe, o general ET convocado pelos piscantes celulares de um grupelho de portoalegrenses chegue também para ajudar? https://www.facebook.com/beraba.gandra/videos/497580568992613