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Produção e vendas de livros. Perguntas – mais que reflexões – sobre a pesquisa

Vale a pena lembrar que a pesquisa de Produção e Vendas do Mercado Editorial nasceu de uma reunião de técnicos em informações e produções de dados estatísticos, organizada pelo CERLALC e feita na Bienal do Livro de S. Paulo de 1990. A iniciativa de propor a reunião no contexto da Bienal foi do Alfredo Weiszflog, ex-presidente da CBL e diretor da entidade na época. Para a reunião vieram colegas de vários países da América Latina, além do secretário geral do CERLALC na época (o nome me escapa) e um representante do Census Bureau dos EUA.

               Antes mesmo da reunião, Alfredo já havia me convocado para participar da equipe de dois (ele e eu), que deveria pensar modos de recolher informações do mercado editorial brasileira. Já havia consenso majoritário na diretoria da CBL (não unanimidade) de que informações confiáveis sobre o mercado eram componente essencial para duas áreas, além de acabar com o chutômetro até então imperante: 1) para detectar tendências; 2) para ter força em negociações com governo, outras entidades e o público em geral, mostrando o tamanho e a importância do mercado editorial.

               Foi uma trajetória longa que se iniciou ali, e bem que mal completa este ano sua trigésima edição. A CBL montou uma “Comissão de Pesquisa”, entre representantes de seus associados, que supervisionava e discutia perspectivas e resultados. Até quando permaneci na CBL, em 2002, a participação e interesse dos membros da Comissão de Pesquisa era intensa, e desde o início, dentre outros princípios, foi decidido que os dados seriam divulgados mesmo que apresentassem números desfavoráveis ao mercado. Era uma época também quando listas de bestsellers, divulgação do número de tiragens pelos editores, quantidade de pessoas presentes nas feiras e bienais costumava ser fantasmagórica. Tudo aumentava…

Desde o início da pesquisa havia a preparação de um relatório de divulgação para a imprensa e o público em geral, mas havia também um relatório bem mais detalhado dos dados, que era enviado aos sócios. Como não sou sócio nem da CBL nem do SNEL, há anos que não leio o relatório completo, que suponho continue sendo produzido.

               Assim, com base no divulgado e na apresentação feita hoje, meus pitacos (dúvidas e aplausos).

A coordenadora informou que a amostragem incluiu “61%” do mercado. Mais adiante qualificou o assunto explicitou que os livros digitais não entraram, e que estão sendo objeto de outra pesquisa.

               Mas eu me pergunto: como se chegou a essa porcentagem da amostra?

Explico. As empresas participantes são divididas em categorias pelo faturamento: grandes, médias, pequenas, além do setor ou subsetor. Para projetar a produção total e o faturamento, uma amostra que inclua, por exemplo, 90% das didáticas (bem possível), mais um tanto das grandes de livros em geral, é mais que suficiente. As editoras pequenas pouco contribuem para o cálculo do volume de produção, e isso pode ser projetado. Entretanto, as editoras pequenas e médias têm um papel importante para a detectar a bibliodiversidade da produção editorial. Autores novos (nacionais e estrangeiros), ou pouco conhecidos (mas de reconhecida qualidade) e eventualmente de prestígio (mas poucas vendas) são publicados principalmente pelas pequenas e médias, que arriscam mais, seja por princípio, seja por necessidade (os adiantamentos são menores, é claro).

Assim, dizer que a amostra abarca 61% do mercado suscita a pergunta: de produção de exemplares ou de títulos? Qual a diversidade e abrangência dos temas editados no Brasil? Pode-se desenhar uma tendência a partir da série histórica? A estrutura da amostra é crucial para se entender isso. Anteriormente os temas eram listados a partir de uma tabela do ISBN, simplificada. Provavelmente hoje seja mais fácil ampliar isso com outros códigos de metadados.

Pode ser que essa informação esteja no relatório completo. Quem só acompanha a divulgação está manco.

Preço médio. Logo no começo, a Mariana Bueno reconheceu que são muitos os fatores que condicionam o que se poderia chamar de preço médio: tamanho, acabamento, número de páginas. Certíssimo.

Mas, logo adiante, revelou: o cálculo é feito simplesmente pela divisão do faturamento – líquido, é claro – pela quantidade de exemplares vendidos. Assim, um livro para crianças que custe R$ 20,00 é somado com os livros CTP que podem custar mais de R$ 100,00. Qual a média disso? Sem mencionar como se descobre o desconto médio…

O Marcos da Veiga Pereira mencionou um fato real, e que a maioria dos livros tem o preço (de capa) fixado hoje por razões mercadológicas em categorias (geralmente com os famosos 90 centavos finais, porque não sei quem décadas atrás descobriu que era mais fácil vender qualquer coisa sem o número redondo…). E essa definição de preços está, em grande medida, influenciada por formatos. As editoras não informariam, qual o preço de capa de cada livro, mas se quisermos mesmo usar esse conceito de preço médio, dessa maneira é que não se chega a nada significativo. Já discuti esse assunto em 2011, e remeto para o post. O que não dá é somar o peso de laranja, mamão, morango e melancia e dividir pelo total das frutas para achar um ficcional e inútil “peso médio” da frutaria. Há que imaginar outras maneiras.

Além desse ponto dos formatos, o faturamento é influenciado também pelos diferentes níveis de desconto. As grandes redes têm mais poder de barganha e, portanto, descontos maiores. Há uma espécie de subproblema embutido nisso: para ter sua remuneração mínima, a editora deve calcular o preço considerando principalmente o maior nível de descontos para que o recebido por cada exemplar possa efetivamente recuperar o investimento, os direitos autorais e a margem da editora (inclusive a rotação do estoque, que é um problema à parte). A consequência: isso influi no preço de capa (que é nominal, mas é a base do pagamento de D.A.s) já que, para maior nível, de descontos maior tem que ser esse preço nominal. Os ingressos das vendas estão sempre em descompasso com as despesas correntes e os investimentos da editora.

 O resultado é que a bicicleta tem sempre que correr e planejar (ou torcer) para os best-sellers ou os livros da moda (felizes anos do pornô-chic dos “50 tons de cinza” e similares e dos livros de desenhar…) compensarem tudo isso.

Mariana Bueno tem toda razão ao afirmar que a metodologia da pesquisa não mudou, todos esses anos. Não mudou no essencial, o que é fundamental para as comparações (e houve uma quebra da série histórica quando se fez uma reavaliação do universo das editoras pesquisadas). Não mudou no essencial, mas foi sendo aperfeiçoada no decorrer doa anos, e acredito (sem ter acesso aos relatórios completos) que possa ser ainda mais.

Um último ponto no que diz respeito aos dados de produção e vendas. Acredito que seja urgente unificar o recolhimento dos dados das vendas de conteúdos digitais, incluindo os audiobooks (ainda poucos por aqui, mas melhor incluí-los enquanto são poucos), para que se tenha uma dimensão mais realista do mercado editorial brasileiro, sua dimensão e seus problemas.

Um aperfeiçoamento positivo, sem dúvida, foi a especificação da porcentagem de livros vendidos nas chamadas livrarias “exclusivamente digitais”. A Nielsen tem os dados de venda direto de algumas dessas livrarias (os magazines digitais como Submarino, Americanas e congêneres), mas depende das informações das editoras para ter os dados da Amazon, que é opaca e só divulga os dados de venda diretamente aos fornecedores. Só que a Amazon também vende de outras pequenas editoras, autores independentes e pelo KDP. Mas esse é um problema geral da varejista, que vem sendo enfrentado de várias maneiras no exterior.

Marcos da Veiga Pereira fez uma observação muito pertinente: os livros digitais não criam leitores, crescem na medida em que já exista uma grande base de leitores. Mas colocaria um pouco de sal nessa observação. Considerando os problemas de logística que enfrentamos (um livro pode levar um mês pelo correio para chegar no interior do Amazonas, por exemplo), explorar a potencialidade de entrega do livro digital é importante. O mesmo vale para os milhões de brasileiros que vivem no exterior. Possivelmente o índice de leitores entre eles seja ainda menor que o da população geral, mas nunca é desprezível.

A pesquisa detectou um ainda pequeno, mas significativo, sinal de recuperação das vendas das editoras em 2018. Foi o ano em que estourou de vez as crises da Saraiva e da Cultura, de modo que essa recuperação de fato revela uma resiliência do mercado editorial em diversificar os canais de venda. Mariana Bueno atribui a recuperação do valor total de faturamento a uma recuperação dos preços “médio”. Recuperação, de fato, houve. Duas interrogações ficam para este ano: foi o tal “preço médio” ou a diversificação? E será que essa recuperação deu fôlego suficiente para enfrentar a pandemia? Pelas informações jornalísticas mais recentes, inclusive o número de demissões, isso provoca dúvidas.

Só que esses problemas fogem da questão dos dados e do recolhimento de informações. Mas sempre tenho em mente um dos lemas que ouvi de um distribuidor de porta-a-porta: vamos buscar e entregar o livro donde quer que o cliente esteja…

CRISES

Acompanho há tempos a crise que foi crescendo e amadurecendo nas relações entre as editoras e as redes da Cultura e da Saraiva. Os atrasos, tergiversações – diria eu, pura e simplesmente má fé em vários momentos – levaram várias editoras de pequeno e médio porte à beira da falência, e também as grandes casas a dificuldades em seu fluxo de caixa. Finalmente, há alguns dias, Marcos Pereira, afirmando sua condição de liderança, declarou que as editoras – através do SNEL – não aceitariam a “proposta” sem-vergonha da Saraiva e esperavam o pedido de recuperação judicial da sociedade anônima. “Queremos saber da situação real da empresa e de como efetivamente pretende (ou pode, diria eu) pagar as dívidas”.

Parabéns, Marcos Pereira.

Mas é o caso de perguntar: essa crise era previsível e inesperada?

Era previsível, por vir se arrastando há muito tempo, e muito menos inesperada.

Uma análise fria e desapaixonada sobre o mercado editorial brasileiro mostra, facilmente, que as editoras, em especial os grandes grupos editoriais, foram criando e cultivando as raízes dessa crise, e que deveriam há tempo ter provocado medidas mais assertivas no que diz respeito à relação editoras/distribuidoras/livrarias.

Já em 1995, logo depois do Plano Real, a então rede Siciliano, na pessoa do seu então controlador e futuro presidente da CBL, lançou um verdadeiro ultimato às editoras: precisava de mais descontos e mais prazo para o pagamento, porque a estabilidade da moeda prejudicava a rentabilidade da empresa. Na verdade, essa “rentabilidade” se devia à especulação inflacionária que destruía a economia do país (hoje temos outras ameaças, até muito mais sérias, mas não é o caso aqui). As redes compravam com 50% de desconto e prazo de 90 dias. A duplicata emitida pela venda, com preço determinado, valia uma fração dos custos e da rentabilidade das editoras quando eram pagas.

A chantagem funcionou. Apesar da resistência temporária de algumas editoras grandes, o dito mercado cedeu e aumentou os descontos para as grandes redes. E daí em diante as diferenças de descontos e prazos entre as redes e as livrarias independentes só fez crescer, com as independentes comendo o pão que o diabo amassou (ou as famílias Hertz e Siciliano/Saraiva).

 

Para a rede Siciliano, um final melancólico. A má gestão e as brigas familiares (que chegaram até a justiça) liquidaram a rede, que finalmente foi vendida na bacia das almas para a Saraiva. Que agora enfrenta o mesmo tipo de problemas.

O sistema de distribuição – que nunca foi grande coisa, mas era bem mais estruturado que hoje – também foi para o buraco.

Acho que foi o marco zero da crise que supurou agora.

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PACTO NA CADEIA DO LIVRO – ENTRE FALAR E AGIR

No Seminário sobre a experiência francesa de aplicação do sistema de preço fixo, no último dia 3 de maio, no auditório da Livraria Martins Fontes Paulista, os presidentes das entidades ligadas ao livro – Bernardo Gurbanov (ANL), Marcos Pereira (SNEL) e Luis Antonio Torelli expressaram uma posição comum, mencionando a necessidade de “um pacto” das entidades para que, mesmo antes da eventual aprovação do projeto da senadora Fátima Bezerra, essa medida de defesa da cadeia produtiva entrasse em vigor.

Não é a primeira vez que se fala no tal pacto. Mas, até agora, que se saiba, tudo não passou de vento quente. Não há nenhuma proposta concreta na mesa. E pactos se fazem a partir de propostas, colocadas preto no branco, em torno das quais as partes possam chegar a um consenso.

Minha surpresa, no decorrer do encontro, foi verificar que os franceses, além da legislação, já avançaram muito para que as práticas comerciais entre os membros da cadeia do livro ocorram de forma mais harmônica e tendo como parâmetro – para além da imprescindível necessidade de cada setor ganhar dinheiro – o desenvolvimento do mercado e a promoção do livro e da leitura junto ao grande público.

O evento foi realizado pelo Escritório Internacional da Edição Francesa (BIEF) e pelo Escritório do Livro da Embaixada da França no Brasil, com patrocínio das três entidades.

Dados seus recados, antes do intervalo para almoço, os três dirigentes foram cuidar da vida, enquanto o seminário continuava com uma plateia menos concorrida.

A sessão matutina já havia destacado alguns pontos importantes na experiência de aplicação da chamada Loi Lang. Jean-Guy Boin, do BIEF (Bureau International de l’Édition Française), assinalou que “em um mercado maduro, como o francês”, ao contrário do que diziam os detratores da lei, os preços subiram menos que a inflação em todo o período de vigência da legislação. Esse, evidentemente, é um ponto importante a ser sempre destacado. Entretanto, assinalou M. Boin, a necessidade de explicar isso para o público é permanente. Até hoje (e particularmente depois do crescimento da Amazon) aparecem clientes que perguntam aos livreiros porque não existem descontos, como em outros países.

Quando a lei foi aprovada (1981), tanto o Ministério da Cultura francês quanto as entidades de editores e livreiros desenvolveram campanhas explicando a medida, com a presença de formadores de opinião, não apenas escritores, como personalidades de várias áreas. Foi muito enfatizada a importância da lei para a garantia de bibliodiversidade e para uma oferta mais ampla de títulos, que escapassem da lógica imediata dos best-sellers. A concorrência se transferiu para a qualidade do serviço prestado pelas livrarias.

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ANÁLISE DE PREÇOS DE LIVROS – NOVIDADES IMPORTANTES E UM ERRO PERSISTENTE

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O SNEL – Sindicato Nacional de Editores de Livros e a Nielsen Bookscan apresentaram seu primeiro Painel das Vendas de Livros no Brasil. Trata-se de uma iniciativa importante e significativa. O Painel da Nielsen Bookscan tem como principal vantagem a medição direta, na boca do caixa, das vendas feitas pelas empresas que instalaram o programa em seus sistemas. Isso elimina a chamada expansão dos dados, mecanismo estatístico que permite inferir o resultado total a partir de uma amostra significativa.

Nesse sentido, temos dados de venda de livros com um grau de confiabilidade muito superior ao da pesquisa antiga feita agora pela FIPE, a partir de iniciativa que começou lá nos anos 1990. Nessa pesquisa – que até agora era iniciativa conjunta da CBL e do SNEL – as editoras preenchem formulários com as informações pertinentes, que são então processadas. São dados, portanto, provenientes dos produtores (editoras), que declaram suas vendas para o governo (em vários níveis) e para o mercado, seja diretamente para as livrarias ou para os distribuidores. Além das vendas, essa pesquisa produz resultados sobre a produção (títulos e exemplares). As vendas para o Governo Federal são precisas – é o FNDE que informa, detalhadamente, a quantidade de exemplares adquiridos e o valor pago.

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PREÇO FIXO, DEBATES RECENTES

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A eventualidade da adoção de uma lei que regule o preço de venda dos livros pelas livrarias, a chamada “Lei do Preço Fixo” foi objeto de duas discussões na semana passada. No dia 17, no Rio de Janeiro, o debate promovido pelo SNEL – Sindicato Nacional de Editores de Livros – convidou participantes do Reino Unido, da França e da Alemanha, além de editores brasileiros. Na terça-feira, dia 18, em S. Paulo, na sede da CBL – Câmara Brasileira do Livro – a ANL – Associação Nacional de Livrarias, promoveu outra discussão sobre o tema, convidando o advogado que assessora a entidade, o editor-distribuidor-livreiro Alexandre Martins Fontes e a mim, para a conversa.

Os três convidados internacionais do Rio de Janeiro – Sam Edenborough, Jean-Guy Boin e Joachim Kaufmann – foram clara e incisivamente favoráveis a uma medida que limite a possibilidade de descontos pelas livrarias.

Sam Edenborough, presidente da Associação de Autores e Agentes do Reino Unido foi, na minha opinião, quem fez a apresentação mais interessante. O mercado editorial do Reino Unido praticava o preço fixo até 1995, quando o chamado Net Book Agreement, foi cancelado. Edenborough trazia, portanto, uma avaliação do que acontecia quando o sistema valia e do que aconteceu depois de seu cancelamento.

Os adjetivos usados por Edenborough para caracterizar as duas situações (até 1995 e após 1995) são eloquentes: “Preço Livre: O Oeste Selvagem”, “Sucessos e fracassos são mais extremos”, “Os grandes players ficam cada vez maiores, e os menores cada vez menores”, e assim por diante.

(O site do SNEL disponibiliza informações sobre as apresentações)

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CARTAS AOS PRESIDENCIÁVEIS DE 2014

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Logo após a Bienal do livro de S. Paulo, várias entidades do livro apresentaram cartas dirigidas aos presidenciáveis destas eleições. Uma, preparada pela CLB, foi também assinada pela ABDL – Associação Brasileira de Difusão do Livro, ABEU – Associação Brasileira das Editoras Universitárias e ANL – Associação Nacional de Livrarias. A outra foi assinada exclusivamente pelo SNEL – Sindicato Nacional dos Editores de Livros.

A iniciativa de preparar cartas aos candidatos à presidência não é inédita, ao contrário do que andaram dizendo as entidades. Em 2002, a CBL preparou uma carta enviada para os então principais candidatos: Lula, Serra e Ciro Gomes. A campanha do Lula mandou Palocci, Marco Aurélio Garcia e Galeno Amorim para uma reunião na sede da entidade. A campanha do Serra enviou o Clóvis Carvalho, que havia sido ministro do FHC, que também conversou na entidade. Ciro Gomes acusou o recebimento, mas não mandou ninguém.

Em 2006, Galeno Amorim, através da OEI, organizou uma “Carta do Povo do Livro” aos presidenciáveis, com centenas de assinaturas de autores, editores, bibliotecários, agentes de leitura, etc. Em 2010 ninguém se manifestou.

Isso é só para recuperar a história, sempre um tanto desmemoriada…

Na entrevista que me concedeu ainda durante a Bienal, Karine Pansa contou, em linhas gerais, a gênese da carta redigida pela CBL, que deveria ter sido divulgada por ocasião da abertura da Bienal, e ficou para mais tarde. A presidente da CBL informou que a ideia surgiu a partir da demanda de um candidato (não informou qual), e acabou entrando em pauta em uma das reuniões do grupo de entidades do livro.

(Vale outra passagem pela ladeira da memória. Apesar de anunciada como tal, a iniciativa de buscar a coordenação de ações entre as várias entidades do livro também não é nova. Nas gestões do Altair Brasil e do Raul Wassermann foram feitas várias dessas reuniões, na busca da coordenação de ações. A reforma dos estatutos de CBL, na gestão Wassermann, apontava claramente para uma perspectiva de evolução da CBL para uma espécie de federação das entidades, que teriam inclusive participação na gestão da mesma. Esse estatuto, aprovado em Assembleia Geral depois de meses de discussão, foi rapidamente modificado nos primeiros meses da gestão Oswaldo Siciliano). Mas voltemos ao assunto, para não perder o foco.

Depois da solicitação do não mencionado candidato, a CBL decidiu enviar a carta para todos, para evitar engajamento em campanhas. Correto. Uma minuta foi preparada pelo jurídico da entidade. Era, no primeiro momento, uma carta da CBL. Nessa reunião em que foi levantado o assunto, houve o compromisso de recolher as opiniões das diferentes entidades sobre o conjunto das questões.

Karine Pansa destacou alguns pontos. Em primeiro lugar, existem diferenças de perspectivas entre as entidades. “É natural”, disse. Mas o importante, para a dirigente da CBL, é que o diálogo entre as entidades continua. Especificamente em relação ao SNEL e à Libre, que não assinaram a carta lançada pela CBL, Karine Pansa declarou que a diretoria do sindicato pediu mais tempo para discutir as propostas. A Libre, por sua vez, exigia uma ênfase específica na situação das pequenas editoras, que não foi possível compor no momento. Karine Pansa sempre ressaltou que a continuade do diálogo entre as entidades é o ganho importante que foi mantido.

No final, a CBL (na versão do link, a cópia da dirigida à Marina)    divulgou seu documento e o SNEL  o seu.

Então, vamos ao grão.

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SNEL DIVULGA PESQUISA SOBRE MERCADO EDITORIAL – ÓTIMA INICIATIVA

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O Sindicato Nacional de Editores de Livros – SNEL, divulgou pesquisa fruto de bolsa de estudo financiada pela entidade junto ao Instituto Coppead de Administração. Esse apoio resultou em uma tese de mestrado, de autoria de Leonardo Bastos da Fonseca, “Crescimento da Indústria Editorial de Livros do Brasil e seus Desafios”, orientado pela professora Denise Lima Fleck.

É uma iniciativa importante, até pela escassez de estudos analíticos e sistemáticos sobre o tema. A própria bibliografia apresentada no trabalho mostra uma abundância de matérias jornalísticas vis à vis a produção mais extensa e pesquisada.
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Estatísticas e precisões meia-boca

Recebi vários e-mails perguntando se eu não iria comentar a pesquisa de produção editorial feita pela FIPE para a CBL e o SNEL.

Respondi que não. Já escrevi sobre o assunto anteriormente, expressando várias vezes minhas reservas quanto à atual qualidade dessa pesquisa. Além disso, a matéria do Carrenho no PublishNews cobre muito bem vários tópicos do assunto.

Mas a matéria do Carrenho tem um trecho que quero comentar rapidamente. Na entrevista coletiva, ele questionou o economista da pesquisa, Leonardo Müller, sobre a história do preço médio, que teria aumentado de 2011 para 2012. Respondeu Müller ao questionamento:

“A FIPE reconhece a fragilidade do preço médio do livro como um dado estatístico. ‘Não se trata de um índice de preços ou de inflação, é apenas o faturamento dividido pelo número de livros vendidos’, enfatizou o pesquisador Leonardo Müller, coordenador do projeto. ‘O que dá para dizer é que as editoras estão oferecendo livros mais baratos, tivemos os pocket books, por exemplo’, complementou referindo-se aos últimos anos. ‘Não é possível inferir que o preço ao consumidor tenha caído com este dado, embora isto seja bastante possível’, ainda declarou o economista”.

Concordo, em princípio, com as observações do Carrenho sobre o assunto na referida matéria.

Mas acrescento: a resposta lembra um velho ditado, que diz que a estatística é a forma científica de contar lorotas. É mas não é. Não é, mas pode ser.

Não é. Esse “preço médio” inventado pela FIPE é uma invenção sem sentido. Feita a pedido dos editores, que não querem cumprir o negociado e contribuir para o fundo que foi acordado quando da desoneração do PIS/PASEP-COFINS. E a declaração do economista não passa de uma justificativa que não significa rigorosamente nada.

Quem quiser, leia aqui e aqui meus dois posts. O primeiro sobre a tortura que os números sofreram. E o outro exatamente sobre o tal “preço médio”.

As pesquisas e a inércia dos editores brasileiros

No último post apresentei o resumo de uma pesquisa online feita pelo BISG – Books Industry Study Group sobre o comportamento dos consumidores de e-books.

Quero chamar atenção para alguns pontos.

O primeiro é que a pesquisa custa caro. Para ter acesso aos dados cada editor tem que desembolsar mais de seis mil dólares pela assinatura.

O segundo é que é preciso “fazer perguntas” à pesquisa. Qualquer pesquisa não responde automaticamente as questões do objeto pesquisado. Quem tem interesse precisa fazer as perguntas para ver como os dados apresentados respondem à suas inquietações.
Assim, as pesquisas valem a pena. Permitem a formulação de estratégias para as empresas, já que cada uma faz as perguntas que lhe interessam e de modo distinto.

Ora, estamos aqui no Brasil em uma situação estranha.

A Câmara Brasileira do Livro – CBL e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros – SNEL mandaram circulares para os respectivos associados recomendando que preencham o novo questionário da pesquisa de produção e vendas do setor editorial, atualmente feita pela FIPE.

Há meses fiz um post manifestando minha surpresa e inconformidade pelo fato da pesquisa de 2011, que apresentava os dados de produção de 2010, ter modificado as cifras apresentadas anteriormente relativas a 2009.

Sinceramente, esperei que me explicassem as razões dessa atitude. A única explicação que apareceu foi a de que teria havido um “censo” entre as editoras do universo, e que a partir daí modificaram os dados de 2009. Todos os estatísticos com quem conversei concordam comigo que esse não é o procedimento correto, por duas razões:

– Essa atualização do universo de pesquisas deveria ser uma tarefa constante, anualmente se revisando as editoras que o integram, para detectar que novas editoras eventualmente ingressaram no mercado e quais as que fecharam. Assim era feito até 2002 e, aparentemente, negligenciado depois.

– Se constatado uma modificação realmente significativa no universo, o que se deveria fazer era iniciar uma nova série histórica. Isso de “atualizar” um ano que ficou para trás não funciona: e os outros anos? Onde isso iria acabar? O IBGE, por exemplo, que faz pesquisas por amostragem, não “revisa” os dados das PNADs anteriores em função da nova amostragem.

Eu gostaria de estar errado, e que uma instituição como a FIPE fosse capaz de explicar racional e detalhadamente seu procedimento e o justificasse.

Ao contrário, o que aconteceu foi simplesmente a não divulgação do relatório completo dessa pesquisa. Pelo menos, nenhum dos sócios das duas entidades que eu conheço e aos quais perguntei se haviam recebido o relatório completo me disse tê-lo recebido.

E, ao que conste, ninguém reclamou disso nas assembleias ordinárias realizadas nas duas instituições, em janeiro/fevereiro.
Isso fala por si só sobre a importância que os editores dão à pesquisa. Bem, quem não pergunta não consegue respostas. E quem não liga para o que é dito pode comer gato por lebre. É uma pena.

TEREMOS MAIS E MELHORES DADOS SOBRE AS VENDAS EM 2012?

A anunciada possibilidade de que o BookScan, da Nielsen ou outra solução da BfK possam vir a ser empregadas no Brasil para rastrear o consumo de livros no país permite fazer algumas observações sobre a questão dos dados do mercado editorial brasileiro.

Tanto a Nielsen quando a BfK já estão presentes no Brasil há anos, fazendo vários tipos de pesquisa para diferentes segmentos da indústria nacional. Inclusive pesquisas online sobre o consumo de bens. A Nielsen, por exemplo, oferece Serviços de Mensuração de Varejo, linha de produtos da qual a BookScan faz parte. A BfK tem a Shopper Inteligence, produto do mesmo tipo do oferecido pela concorrente. Todas trabalham com informações recolhidas diretamente nos PDVs – pontos de venda – através do registro de códigos de barra.
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