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SARAIVA, CULTURA, AMAZON E AS LIVRARIAS INDEPENDENTES

Um dos temas mais permanentes nas discussões do mercado editorial e livreiro – aqui e alhures – é o papel e destino das livrarias independentes e das grandes cadeias. Essa discussão se intensificou com o surgimento da Amazon (e olhem que a varejista foi fundada em 1994, com início das atividades de comércio eletrônico em 1995 – já são 22 anos).

Naquele momento era observado o auge do crescimento das grandes cadeias de livrarias nos EUA. As livrarias independentes as tinham como inimigo principal, e as notícias contabilizavam o fechamento de inúmeras lojas nas grandes e médias cidades.

É bom lembrar que, por aqui, a cadeia dominante era a Siciliano (que provocou polêmicas, discussões e gritos ao exigir maiores descontos, na voz de seu controlador, exatamente depois do Plano Real, com a sincera alegação de que ganhava dinheiro com a inflação e que agora as editoras tinham que ajuda-los a recuperar suas margens…). Hoje, comprada a preço de xepa de feira pela Saraiva, o nome da rede é história.

História como nos EUA é o nome da Borders e outras cadeias menores, que não conseguiram concorrer com a Amazon. A própria Barnes&Noble anda mal das pernas há anos, embora seu controlador jure que resistirá. E as livrarias independentes voltaram a florescer na gringolândia, graças a estratégias empresariais e institucionais, através da ABA – American Booksellers Association, como já mencionei várias vezes por aqui.

Na Europa, por sua vez, a Amazon enfrenta problemas, com um severo escrutínio das autoridades reguladoras do continente. E, surpreendentemente, a W. H. Smith, uma cadeia de livros que andou tropeçando, mostrou lucros no ano passado.

Na França e outros países do continente, a lei do preço fixo demonstra sua força e mantém vivas as livrarias independentes. Mas, também como já mostrei aqui, por trás da lei existe um sólido aparato que reúne editores, livreiros, e as “grandes superfícies”, em um comitê que supervisiona a aplicação da lei. Um dos aspectos importantes dessa legislação é que parte dos descontos concedidos pelas editoras às livrarias está condicionado a ações de promoção da leitura.

No entanto, a Amazon continua lépida e fagueira em seu crescimento. Já abriu algumas lojas físicas (modo de dizer, já que as lojas aplicam uma tecnologia muito mais avançada que a disponível em outros varejistas). Além da loja inicial em Seattle, a varejista tem outras em Boston, San Diego, Portland e New York – onde já são várias. E essas são livrarias – a Amazon já experimenta com verduras e alimentos, e agora saiu a notícia que fará o mesmo com eletrodomésticos e roupas. Mike Shatzkin, aqui  levanta a possibilidade de que a Amazon se torne a maior varejista – de tudo – nos EUA, e a prazo relativamente curto. Veremos.

Uma das características das lojas da Amazon é a seleção de livros em exibição. De onde veio essa seleção? Bidu: do histórico de compras acumulados pelo site naquela região. Nada de livreiros que “conhecem” seus clientes e mantêm uma seleção de acordo com os gostos dos seus frequentadores. Bezos não se dá a esse luxo, e tudo é definido por algoritmos. Para ele, os dados são mais preciosos que qualquer subjetividade, e definem cada passo a ser dado.

Dito seja de passagem e fora do tema imediato: Amazon já é a maior editora de livros traduzidos dos EUA, e há muito o KDP é o dominante na autopublicação, embora aí ainda tenha concorrentes sérios, tanto de propriedade de outras editoras como independentes.

Voltando à nossa questão inicial.

Todo essa aparente cabeça de cera para voltar à questão inicial. O que acontece por aqui e será que se abre uma janela de oportunidade para as livrarias independentes do Bananão?

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AS MUDANÇAS NO PAPEL DE EDITORES E LIVREIROS

O começo do ano é sempre oportunidade para pensar perspetivas e tendências em cada ramo de atividades, e o mercado editorial não escapa disso. Foram vários artigos e posts publicados em janeiro tentando dar conta do que anda acontecendo no mercado editorial e livreiro.

Como quase tudo, o foco principal se situa ao redor do mercado editorial dos EUA. É o maior mercado do mundo e o que acontece por lá, em maior ou menor medida, acaba se refletindo por aqui também. Como meu estoque de pensamentos originais anda baixo, procurei refletir a partir de alguns dos que li.

Mike Shatzkin, conhecido consultor do mercado editorial internacional, publicou recentemente em seu blog Idealog um post no qual afirma que “a indústria editorial vive em um ambiente moldado por forças mais amplas, e sempre foi assim”. No fundo, é uma observação de senso comum: nenhum segmento econômico vive exclusivamente a partir de sua própria dinâmica. Como fenômeno social, sempre está sujeito a forças sociais e econômicas mais amplas. Na verdade, o que Shatzkin queria enfatizar era o contexto histórico da evolução da indústria editorial dos EUA, e como isso foi moldando a situação atual.

Para tanto, lembra de alguns marcos importantes. O papel de Andrew Carnegie no estabelecimento de um amplo sistema de bibliotecas públicas; a introdução do sistema de devoluções, pela Simon&Schuster e a Putnan, por conta da depressão; a entrada dos distribuidores de revistas no negócio, que originou a revolução dos livros de bolso; finalmente, o interesse de Wall Street nas superlojas em shopping centers e a inflexão das editoras para a busca dos grandes bestsellers. Em todo esse período, assinala Shatzkin, as editoras se dedicavam a um modelo de negócios business-to-business. A questão era vender para as livrarias, para as cadeias de livrarias, para as grandes superfícies. Para apoiar isso, a promoção nos jornais, resenhas, entrevistas de autores no rádio e na TV.

Até 1995. Até a Amazon. E, concomitantemente, com o fortalecimento dos “Quatro Cavaleiros do Apocalipse”: Amazon, Apple, Facebook e Google.

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O modelo de negócios da Amazon, como todos sabem, começou com os livros. Mas a venda de livros foi só o início do projeto Bezos de construir sua loja que vende de tudo, a partir do conhecimento extenso do que os clientes compram (e capacidade de transformar isso em desejo).

Mas, como assinala Shatzkin, o projeto da Amazon ia muito além disso. “Amazon operava em um ambiente sem restrições geográficas; suas vendas não eram restringidas ao local, como as livrarias físicas. Podiam efetivamente prestar serviço para clientes de qualquer lugar. Assim, mesmo no início, quanto tomavam apenas pequenas parcelas do mercado das lojas, tão pouco que estes mal notavam, a Amazon construía uma substancial base de clientes para si própria”.

Era como a história do sapo na panela: a água vai esquentando pouco a pouco, até que…

Shatzkin nota um aspecto interessante da operação da Amazon, no seu início. A empresa usava um banco de dados (de livros) da Baker & Taylor muito “sujo”, com muitos títulos fora de catálogo. A Amazon reverteu isso a seu favor: se o cliente procurava um livro em uma loja e não encontrava, podia procurar em outra, e outra. A Amazon dizia de cara: fora do catálogo, o que induzia eventualmente à busca de outro título. E um dos primeiros grupos de clientes influentes que passaram a usar a Amazon foi o pessoal da academia. E assim a Amazon se transformou no local primário de busca de títulos – posição que era anteriormente ocupada pelas superlojas.

E vai por aí.

Mas a ênfase que Shatzkin quer dar é que, com isso, a Amazon multiplicou a força dos clientes na escolha dos livros. O seu esforço de prestar o melhor serviço e indicar alternativas modificou radicalmente o escopo do negócio. Para as editoras, não se tratava mais de decidir o que publicar, mas sim como fazer que o livro chamasse a atenção do leitor. Isso, no modelo anterior, era secundário: na medida em que convencesse as livrarias a expor os livros que decidiam publicar, os leitores eram induzidos a comprá-los.

Nesse novo cenário, o leitor/cliente passa a ter um papel muito mais relevante. E a Amazon está posicionada para atendê-lo. Certamente a Apple também se esforça nesse sentido – e tentou tirar as editoras das garras de um dos “Cavaleiros do Apocalipse” para que gentilmente se entregassem em suas mãos. Não teve o sucesso que esperava, mas continua no jogo.

E os outros dois “Cavaleiros”, Google e Facebook? Bom, a Google – que tem um papel muito menos na venda de produtos – tem, no entanto, um papel crucial no fortalecimento da Amazon, já que seu mecanismo de buscas aponta, de forma dominante, o banco de dados da empresa como fonte de informação sobre autores e títulos procurados na Internet. Com o Google + também atua, subsidiariamente com o Facebook, no papel de criar presença e “descobertabilidade” para títulos e autores.

Greenlight Bookstore - as independentes  ganham mais espaço nos EUA, com tecnologia e apoio da comunidade
Greenlight Bookstore – as independentes ganham mais espaço nos EUA, com tecnologia e apoio da comunidade

A disputa final – e aí ainda estão no jogo tanto as cadeias quanto as livrarias independentes – é para que os leitores/clientes se acostumem a usar um dos canais de venda disponíveis: online (dominantemente Amazon, com presença de outros concorrentes similares que variam de país a país), as superlojas e as livrarias independentes.

O jogo, assim, muda de configuração.

Mesmo quem parecia descartado em um determinado momento – as livrarias independentes – passaram a usar instrumentos tecnológicos para melhorar seu desempenho, e não apenas subsistir, como voltar a crescer.

Um recente post escrito por Erin Cox, na Publishing Perspectives, assinala isso de modo claro. No post, que entrevista vários livreiros independentes e também Oren Teicher, que é o executivo da ABA – American Booksellers Association, este declara que “Na medida em que o custo da tecnologia diminui, as pequenas empresas podem ter acesso à mesma tecnologia que as grandes corporações”. Não apenas para promoção em websites, mídias sociais e campanhas de email, mas também na tecnologia usada para operar o negócio, como sistemas de pontos de venda, administração de estoque, contabilidade e web design. “Somos agora capazes de conduzir os negócios de modo mais eficiente, a um custo suportável”, conclui Teicher.

No caso das independentes, outro fator importante é o da ligação com a comunidade. A tecnologia permite que as mensagens sejam bem desenhadas para o público local, de uma maneira como não é possível para as grandes lojas – nem para a Amazon. No caso, o apelo é comunitário, enquanto o da Amazon é completamente individualizado.

Cabe notar que a disponibilização de instrumentos tecnológicos avançados, no caso das livrarias independentes, conta com um apoio de infraestrutura enorme proporcionado pela própria ABA, como relatei aqui.

O interessante é que, em todos os casos, o foco passa a ser uma autonomia muito maior do leitor na escolha do que deseja ler/comprar, com mecanismos de busca que ultrapassam de longe o que se podia escolher nas grandes lojas. A disputa se concentra em tornar os livros “acháveis” – não adianta simplesmente lotar as vitrines das lojas – e levar o cliente a fidelizar as compras, mesmo que use mecanismos de busca externos, como o Google ou o Bing.

Cabe notar, finalmente, que para as independentes terem condições de crescer nesse ambiente, tiveram que fortalecer a ABA e fazer discussões a sério, como a que acontece nesses dias em Denver, no “Winter Institute”. Essa é uma reunião anual (não é uma convenção), com pautas quentíssimas, e tem uma lotação de quinhentos participantes (máximo dois por empresa). Oren Teicher até me convidou para assistir, o que farei algum dia, talvez…

 

PREÇO FIXO, LIVRARIAS E EDITORAS INDEPENDENTES – UM DEBATE ESPANHOL

O sistema de preço fixo existe na Espanha há muito tempo. E, como em outros lugares, sempre foi considerado como algo que protege as livrarias independentes dos grandes descontos oferecidos pelas cadeias.

Por ocasião da última FLIP, quando a Senadora Fátima Bezerra expôs as linhas gerais de seu projeto de preço fixo, já chamei atenção aqui para o fato disso não ser nenhuma panaceia, e muito menos constituir uma política nacional do livro.

Um dos contrastes que citei naquele post era o das medidas de proteção do comércio adotadas nos Estados Unidos – Lei Robinson-Patman – que regula as relações dos fabricantes (no nosso caso, os editores) com os vários canais de distribuição. Essa lei exige que as condições de comercialização (descontos, prazos, etc.) sejam idênticas para todos os que fazem parte do mesmo segmento. Ou seja, distribuidores, atacadistas e livreiros devem ter, cada um em seu segmento, as mesmas condições de venda que os demais. Descontos para o consumidor final, portanto, se dão a partir da melhor rentabilidade, administração e condução dos negócios de cada um (chamei atenção também sobre como outros mecanismos continuam favorecendo as grandes redes).

Enfim, o preço fixo não é uma panaceia, mesmo.

Pois bem, nos últimos dias achei, através da newsletter da Revista Textura dois posts publicados em um site da Catalunha chamado Verba volant, scripta manent (não acredito que o autor seja amigo do vice-presidente, nem de seu ghost-writer. Apenas faz questão de deixar suas opiniões por escrito, segundo o mote latino: “As palavras voam, a escrita permanece”). Os dois tratam da questão do preço fixo, desde a perspetiva de editores independentes (e livrarias idem), na Espanha. São curiosos, por abordar uma perspectiva que é contrária ao preço fixo, que foi pensado exatamente para defender as pequenas livrarias.

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No primeiro Por qué hoy el precio fijo de los libros es una mala idea, o autor tenta desmontar a argumentação a favor do preço fixo. No segundo, Más allá del precio fijo: vender libros ya no es vender libros  oferece algumas alternativas.

O autor, Bernat Ruiz Domènech, é um catalão, designer e publicitário, que já foi editor e professor de edições digitais, e atualmente assessora o Grémio de Libreros de Catalunya.

Vamos dar uma olhadinha nos argumentos do Bernat Ruiz.

A principal queixa dele no primeiro artigo é precisamente sobre as condições de comercialização dos editores para os livreiros. A minha ideia de que, com o preço fixo, haveria uma tendência para a equalização dos descontos parece ser, pelo menos na Espanha, falsa. As grandes cadeias continuam recebendo condições melhores das editoras grandes, e aumentam sua margem. As grandes editoras, que publicam os bestsellers da vida, têm condições de aguentar o rojão. O outro aspecto nocivo, diz ele, é que o preço fixo “trouxe junto” a consignação, por conta da “inelasticidade de preços”, e que isso prejudica muito exatamente os pequenos editores. Pode ser que na Espanha a consignação (que ele chama de “sistema de depósito”) tenha surgido como consequência da lei do preço fixo. Aqui, como sabemos, a consignação (ou direito à devolução) existe há tempos, e as vendas fixas são cada vez mais raras.

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Acho a argumentação complicada. De fato, as editoras há muito financiam as livrarias, com os prazos e os descontos. E tem que ter capital de giro para pagar as contas – que não esperam – enquanto os livros não vendem. A consignação aumentou o grau de incerteza do negócio, mas não criou o problema.
De qualquer maneira, o problema da gestão de estoques se complica ainda mais com a consignação. Os livros podem estar “colocados” – entregues às livrarias – mas isso não significa nem que estejam expostos e muito menos que sejam vendidos.

Resumindo o tango: tudo isso resulta em um excesso de oferta (títulos) e inelasticidade de preços. O resultado, segundo ele, é que as grandes (editoras e livrarias) continuam crescendo, mas o mercado em seu conjunto caminha para uma situação cada vez mais precária.

Segundo Ruiz Domènech, o problema é que o mercado de livros mudou substancialmente nos quarenta anos de vigência do preço fixo. “Há quarenta anos se caracterizava por uma taxa de inflação alta, uma produção moderada, uma rotação de estoques discreta, preços relativamente baixos e um mercado interno protegido por custos industriais muito competitivos em comparação com os países vizinhos”. E, na época, por estar fora da Comunidade Econômica Europeia.

E compara com a situação atual: “Quatro décadas mais tarde a inflação está baixa, a produção está exagerada já há a um par de lustros, o faturamento do setor caiu um bilhão de euros desde o início da crise, os preços dos livros não baixaram apesar da mesma crise, os custos industriais são altos se comparados com os chineses – a grande impressora da Europa – e, põe que a Espanha faz parte da União Europeia, não pode mais haver manejo das taxas de importação, e o livros (de papel) enfrentam a concorrência de outros suportes de conteúdos”.

Tudo isso resulta em um mercado disfuncional e sem estímulos para aumentar a demanda. E isso é o resultado do esgotamento de um modelo: o de preço fixo.

Domènech elabora, no segundo post, algumas alternativas a essa situação.

Emprega algumas analogias curiosas. A da Internet com a rede de abastecimento de águas, por exemplo. “Hoje já somos muitos [do primeiro mundo] a dispor de uma rede de abastecimento de águas da qual emana um volume inesgotável de água (ele não mora em S. Paulo, claro). Abrimos a torneira da Internet e recebemos conteúdos à mãos cheias. Há um par de décadas, o único modo de ter acesso a quantidades apreciáveis de informação era ir à livraria ou à biblioteca”.

Ora, prossegue, se há disponibilidade de água tratada nas torneiras, por que alguém ainda compra água mineral nos supermercados? E responde: “Que você compra água não significa que lhe estejam vendendo água. Estão lhe vendendo uma soma de conceitos que podem se resumir em uma única palavra: saúde”.

Mais adiante afirma um pressuposto essencial para seu raciocínio. Ele não fala do mercado editorial em geral, que para ele (o das grandes editoras e redes), vai bem e feliz com o preço fixo, e sim dos “nuevos libreros”: os independentes, com estoque selecionado pela qualidade e especialização. E se pergunta: “Em que se parecem um ensaio de Carl Sagan e as memórias de Belén Esteban” (apresentadora de TV espanhola, de um programa qualificado como “telebasura”, e autora de um livro, “Ambiciones y Reflexiones”, publicado pela Planeta, com a qualidade que se pode imaginar). E responde: “No fato de estarem embalados usando o mesmo processo industrial. Nada mais. O mesmo acontece com um Marqués de Riscal e uma garrafa de Coca-Cola. Cada produto é adequado a seu contexto”.

Conclui: “Os novos livreiros (independentes) já não vendem livros, vendem cultura, e de outra maneira não poderiam competir com as grande cadeias e supermercados, nem com a venda de livros de papel pela Internet. […]. Centram sua ação nos catálogos de editoras médias e pequenas. Apenas as grandes cadeias continuam tratando os livros pela embalagem, e por isso apostam nas altas rotações, volumes e margens”.

Assinala que as livrarias tradicionais médias apostavam na mesma receita, e estão acabando. As cadeias vendem Coca-Cola (e às vezes até um bom vinho), mas as livrarias independentes vendem conteúdo, e a questão do preço “será determinada pela sensibilidade do público à qualidade do produto”.

Ou seja, a alternativa para as livrarias pequenas e independentes não seria depender do “preço fixo”, pois isso as levaria a concorrer em desigualdade com as grandes cadeias, e sim apostar na curadoria de seus acervos, nos serviços culturais que acrescentam em seus espaços. Enfim, que vendam cultura.

Mas, para tanto, precisam de instrumentos comerciais para fidelizar seus clientes (o que entra um tanto em contradição com a premissa anterior…). Ou seja, que as livrarias independentes se libertem das cadeias de livrarias e dos supermercados e também tenham liberdade de preços… para fazer suas promoções.

Precisam se organizar de forma diferenciada para conseguir reformas no sistema de distribuição – incluindo as consignações e o direito à devolução – de modo a construir seus próprios públicos, com novas estratégias e ferramentas de venda.

E propõe um processo de eliminação do preço fixo, pelo qual, ano a ano, seriam permitidos descontos maiores, até a liberação completa.

O mote final é “Que cada livro encontre seu leitor e cada leitor seu livro”, que me lembra o ensaio do Gabriel Zaid, Livros Demais, que traduzi e foi editado pela
Summus.

Os dois posts constituem uma leitura interessante e intrigante (Domènech escreve muito bem), mas o raciocínio me parece subestimar a capacidade das grandes editoras (que não editam apenas as “Belén Esteban”, dito seja) e das grandes cadeias para se adaptar a uma nova situação como a que ele propõe. Aliás, me parece, teriam enorme capacidade de rapidamente incluir “livrarias de conteúdo” em seu esquema de negócios, tal como as redes de supermercado têm hipermercados, lojas de bairro e marcas diferenciadas.

Por enquanto, ainda acho o preço fixo uma solução melhor. Sem ser panaceia.

Google ganha a parada contra os autores e outros temas na Internet hoje

Alguns links de matérias sobre livros e leituras na Internet. Manhã de feriado aqui. Mas o resto do mundo não dá nem tchuns para nossa combalida república.

Amazon esmaga a competição

Dados do Book Industry Study Group sobre o mercado de e-books nos EUA mostra que a parcela da Amazon é ainda maior do que se supunha: 67%. Com a ajuda do Departamento de Justiça e da juíza Denise Coote, é Claro. Isso ainda vai dar chabu.

Livrarias independentes se movimentam no mundo inteiro: IndieBound nos EUA e uma grande campanha na Europa.

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O crescimento das grandes redes e das vendas online (no caso, principalmente pela Amazon) é uma preocupação que se espalha pelo mundo. O IndieBound é uma iniciativa da ABA – American Booksellers Association. Este fim de semana na Europa uma grande campanha para que as pessoas comprem pelo menos um livro físico nas livrarias (lá vale qualquer livraria, não apenas as independentes).

Mas a ABA funciona. Outros por aqui só fazem cartas chorando as pitangas…

Na Argentina, livrarias seguem firmes e fortes

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Não é verdade que Buenos Aires tem mais livrarias que o Brasil todo. Isso é um mito. Mas tem belas livrarias (como a Ateneo Splendid) e os livreiros de lá conseguiram uma lei do preço fixo para se defender da febre de descontos das cadeias (que conta com a cumplicidade das editoras, é claro).

Revista sobre livros, literatura. Texturas

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Uma publicação espanhola online, muito interessante. Pode ser recebida por email.

E o Google ganhou a parada

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O juiz Denny Chin nem levou para o júri. Decidiu que o Google presta um grande serviço ao escanear os livros do mundo inteiro. Depois de seis anos, o processo recebeu ontem a sentença em primeira instância em New York. Os autores que promoveram e a Author’s Guild dizem que vão recorrer, mas há dúvidas se um tribunal superior aceitará a apelação.

AMAZON TENTA ATRAIR LIVRARIAS INDEPENDENTES – VENDENDO GUILHOTINAS?

A Amazon lançou dia 6 de novembro passado o programa Amazon Source, através do qual livrarias e outras lojas de varejo podem vender toda a linha Kindle (e-readers e tablets), além de acessórios, e em troca recebem 10% das vendas de livros feitas através desses aparelhos por um período de dois anos.

Na verdade o programa tem dois formatos: encomendar Kindles com 9% der desconto do preço oficial e 35% dos acessórios, ou receber 6% de desconto nos aparelhos e 30% nos acessórios e ganhar os tais 10% sobre as vendas de livros. Não conheço os porcentuais, mas essa segunda opção parece ser a existente aqui no Brasil, onde os leitores Kindle podem ser adquiridos na Livraria da Vila e no Ponto Frio.

Segundo Russ Grandinetti, Vice-Presidente da Amazon para o Kindle, citado pelo Publishers Weekly, o programa resulta do sucesso da experiência com a rede Waterstones, do Reino Unido, iniciado há dois anos. O Amazon Source foi testado com duas livrarias localizadas perto de sua sede em Seattle – a livraria do campus da University of Puget Sound, e uma livraria independente, JJ Books. Ambas, é claro, afirmaram no press release da Amazon que estavam felicíssimas com o acordo.

Mas a reação dos livreiros independentes do resto do país foi majoritariamente negativa. A newsletter da Publishers Weekly, a revista do mercado editorial dos EUA, diz que “centenas de livrarias já se apresentaram para participar do programa”, mas não cita nenhuma declaração destas.
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Entrevista para matéria na Carta Capital – 2


Continuação do texto completo da entrevista que dei, por escrito, ao repórter Lucas Callegari, da Carta Capital. A entrevista ajudou na redação da matéria, mas por sua extensão não podia, evidentemente, ser usada integralmente pela revista. Por isso, continuo aqui a transcrevê-la:

– Alguns atores do setor são a favor da adoção de um preço fixo para livros lançados no mercado. Qual a sua opinião?

O “preço fixo” na verdade é a limitação de descontos dados pelas grandes cadeias de livrarias, permitindo que as livrarias independentes possam competir em serviço e na oferta mais ampla de títulos. Já foi um sistema mais amplamente usado na Europa. Continua em vigor na França e na Alemanha, mas foi abandonado no Reino Unido e sofre ataques constantes por parte da Comissão Europeia.
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Livrarias Independentes e preço do livro

John Le Carré, o conhecido romancista, recentemente fez um discurso como convidado de honra dos festejos do 50º. aniversário de sua editora alemã, a Ullstein. Além dos elogios de praxe para quem o publica, David Cornwell (seu nome real), fez uma declaração que surpreendeu a muitas pessoas:

“Há alguns anos impensadamente ofereci meu apoio à retirada de todas as restrições para a definição do preço de varejo dos livros [na Inglaterra]. Em retrospectiva vejo que isso foi um erro terrível. Em um só golpe a indústria editorial britânica se entregou nas mãos dos marqueteiros de massa – e um golpe mortal nos já ameaçados livreiros independentes”.

Le Carré faz menção ao abandono, na Inglaterra, do “Net Price Agreement”, o acordo que obrigava livreiros a manter o preço de capa nas livrarias, com descontos mínimos durante um certo período. Atualmente o “preço fixo” europeu está mantido somente na Alemanha e na França, acho.

Bem, vamos por partes.

Primeiro é preciso esclarecer o que se entendo por “preço fixo”.
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