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“THEMA” A Nova Ferramenta de Metadados

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Os leitores de “O Nome da Rosa”, do Umberto Eco, podem lembrar que os crimes no mosteiro acontecem, no final das contas, em torno de um assunto aparentemente prosaico: a classificação a ser dada ao suposto manuscrito de Aristóteles achado na biblioteca do convento. O suposto tratado sobre o riso seria obra filosófica (no sentido dado à palavra pela escolástica), ou um texto demoníaco que negava o cristianismo? Dessa classificação dependeria o acesso ao manuscrito ou sua condenação ao “inferno” dos livros proibidos. Da disputa, surge a razão dos assassinatos.

Por isso é que às vezes eu brinco, conversando com bibliotecários, que eles são capazes de assassinar em disputas sobre a classificação. O estruturado sistema decimal usado nas bibliotecas abre espaços para esse tipo de disputas (felizmente, rara vez resultando em assassinatos, mas muitas vezes em disputas acerbas entre os bibliotecários).

O sistema decima serve muito bem aos sistemas de bibliotecas. Mas, para a indústria editorial e para o comércio de livros resulta demasiadamente complicado. O assunto foi progressivamente sendo enfrentado pela indústria. Primeiro veio o ISBN, um identificador unívoco de cada título e edição, Mas, se não se sabe qual o ISBN, as buscas devem utilizar algum outro metadado. Os mais comuns, certamente, são o título e o nome do autor. Durante várias décadas isso funcionou bem para o mercado e foi incorporado nos sistemas de bibliotecas. Mecanismos com o protocolo Z.39.5 permitem que os computadores de diferentes bibliotecas “conversem” entre si a partir de fragmentos como esses, e importem/exportem dados de classificação cooperativa (nossa BN, infelizmente, não abre esse mecanismo. O sistema de bibliotecas das universidades paulistas abre, em parte).
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MARCO ZERO – LADEIRA DA MEMÓRIA II

O fato de Lutas Camponesas no Brasil ter sido nosso primeiro livro editado é indicador de outro componente de nosso projeto. A Marco Zero foi fundada como uma editora da esquerda. Não como editora “de partido” (como na tipificação do livro do Flamarion Maués, que já comentei no final do ano passado), mas sim como uma que pretendia publicar livros que fossem também uma intervenção na vida política brasileira naquele momento.

Não vou aqui fazer autobiografia política, até porque acho isso cabotino. Mas éramos todos militantes. O Márcio já mais afastado, mas Maria José e eu tínhamos uma longa história com a Ala Vermelha, que me levou à prisão (e também o Márcio) e os dois ao exílio.

Isso se refletia não apenas na linha editorial. Também aparece na contratação de dois de nossos primeiros colaboradores. Daniel Aarão Reis e Vladimir Palmeira haviam recém-chegados do exílio e acabaram trabalhando conosco. Imaginem. Nenhum dos dois entendia coisa nenhuma de administração ou comércio, mas eram oficialmente encarregados disso na jovem Marco Zero. Meio período, que os dois estavam tratando de se encaminhar para o que sabiam mesmo fazer. Daniel para retomar uma carreira acadêmica e o Vladimir louco para fazer política, sempre. E era muito divertido e produtivo trabalharmos juntos, discutindo sobre os lançamentos, o que fazer e como lançar os livros.
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Uma ideia do Vladimir foi fazer o lançamento de O Papalagui na praia, com farta distribuição de caipirinhas. Esse livro relata as supostas memórias de um chefe de uma tribo da polinésia que visita a Europa e faz um relato antropológico do que viu ao relatar espantado para seu povo os estranhíssimos hábitos dos brancos, os papalagui. O livro foi um long-seller da editora, mas no lançamento, em plena praia de Ipanema, não vendeu nada. O povo liquidou em pouquíssimo tempo com a cachaça que levamos.
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MARCO ZERO – LADEIRA DA MEMÓRIA

No Caderno 2 do Estadão de sábado, (25/1/14), Sérgio Augusto publicou uma de suas belas crônicas sobre o cinema, citando amplamente um livro editado pela Marco Zero – Suspeitos, de David Thomson – trad. José Eduardo Mendonça – 1992. Não é a primeira vez que Sérgio Augusto escreve sobre o livro, que certamente é um dos que ele curte bastante.
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Diz o cronista que Suspeitos é “um misto de dicionário biográfico e ensaio ficcional (labirinticamente borgeano) sobre a realidade paralela do cinema”, e que o autor “inventou a metahistória do cinema”.

O texto do Sérgio Augusto me jogou na ladeira da memória, para a época em que vivemos um belo sonho de editora. A Marco Zero começou, lá pelo final dos anos 1970 com a Maria José Silveira, com quem sou casado. Acabamos reunindo alguns caraminguás, ajuda da família, muito especialmente do Otávio Silveira, irmão da Zezé, que generosamente fez uma contribuição fundamental para que o projeto pudesse existir.
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OS TEMAS DE 2013 CONTINUAM EM 2014

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“Com mais de trinta anos de vivência no mercado editorial, busco mais aprender a fazer as perguntas certas do que qualquer outra coisa. Fazer as perguntas certas para as várias personas sociais, e procurar verificar se os paradigmas (no conceito de Thomas Kuhn) se sustentam ou não. Até porque, ao contrário das ciências físicas, a sociedade muda ao mesmo tempo em que são feitas as perguntas e se elaboram os discursos. E, nessa situação de mudanças e incertezas, sobra pouco espaço para afirmações taxativas, e necessidade de muito empenho para começar a vislumbrar o que se deseja compreender.”

14 de maio – Um mercado opaco

Entre esta coluna no PublishNews e as que saíram no blog O Xis do Problema publiquei ano passado cerca de setenta posts sobre questões do mercado editorial.

Os temas foram bem variados. Os livros têm essa característica de servir de “meio” para se falar de qualquer coisa. São, de certa maneira, um reflexo do mundo real. E as complexidades do mercado editorial acompanham essa variedade: autores, editores, distribuidores, livreiros, leitores. Para se realizar, o livro precisa ser lido, chegar a seu destinatário final, o leitor. Sem isso, perde sentido. O esforço de todos os envolvidos, portanto, se unifica nesse objetivo comum: chegar ao leitor.

E como o livro é, ao mesmo tempo, produto, objeto de consumo e um bem cultural ou educacional, a mescla dessas características torna as atividades de todos dessa cadeia sujeitas a inúmeros condicionantes.
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Laura passou no vestibular para a UnB.

PM e Exército Invadem a UnB em 1968
PM e Exército Invadem a UnB em 1968

Este blog é sobre o mercado editorial.

Mas hoje, no primeiro post do ano, trago a notícia de que minha neta, Laura Fraiz-Grijalba Lindoso, passou no vestibular para a Faculdade de Artes da UnB. Universidade que faz parte também da minha história.

Eu e Maria José estudamos lá e lá nos conhecemos. Ainda estudantes, já trabalhávamos como jornalistas, ela na sucursal do JB, sob a batuta do Castellinho, e eu na sucursal do Estadão, dirigida então pelo Evandro Carlos de Andrade. Ela se formou em comunicação e eu tive a honra de estar na primeira leva de alunos expulsos das universidades federais pelo famigerado decreto 477 – outro que vai na conta dos “escrúpulos ao lixo” do Jarbas Passarinho.

Estávamos na UnB em um período em que, embora já abalada pelas intervenções da ditadura, a universidade ainda refletia muito do espírito do Darcy Ribeiro. Em 68 estávamos lá, nesse que foi o período mais criativo e ativo da história moderna brasileira. Participamos da efervescência do movimento estudantil – a porrada do cassetete da PM na invasão do campus em 68 ainda dói até hoje. E nos divertimos, namoramos, cantamos e vivemos com muita intensidade.

O ambiente daquela Brasília e daquela UnB estão retratados de forma emocionante no primeiro capítulo de “O Fantasma de Luís Buñuel”, da Maria José.

Da nova geração, a Galiana foi a primeira a passar por lá, fazendo o mestrado em ecologia (e como ficamos orgulhosos com sua aprovação com louvor). Depois meus sobrinhos Alex(que estudou filosofia, mas eu nem sei que filosofia ensinam hoje na UnB) e Maria Cris, que agita o Centro Acadêmico de Direito, aporrinhando os sabichões que ostentam o títulos de professores da UnB e não aparecem para dar aulas ou chegam sistematicamente atrasados. Na boa tradição dos tios. Outros sobrinhos também passaram por lá: Ana Amélia na psicologia, e Serginho experimentou fazer economia (como o pai) e desistiu. Acabou fazendo direito.

Agora a Laura. Quarenta e tantos anos depois daquela época maravilhosa, depois da nossa militância, da prisão, do exílio e da volta e da vida.

Espero que ela encontre a participe da retomada da UnB como um foco de diálogo, de pensamento crítico e criativo.
E viva seu período na UnB tão bem quanto nós vivemos.

NATAL DE LIVROS DA COOPERIFA

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natal cooperifa
Domingo, dia 15 de dezembro participei da festa do Natal de Livros da Cooperifa – Cooperativa Cultural da Periferia. Iniciativa do poeta Sérgio Vaz, a instituição fez seu terceiro Natal de Livros no Largo do Piraporinha, no Jardim São Luís, na Zona Sul de S. Paulo. Das dez da manhã à uma da tarde foram distribuídos milhares de livros para quem passava por ali, indo ou vindo da feira do bairro. Quem passava nos ônibus ou estava nas lojas do comércio popular da região era também abordado por quase cinquenta voluntários que ofereciam gratuitamente exemplares de livros novos e de todos os gêneros: ficção, ensaios, livros para crianças e jovens.

Foi uma experiência emocionante que me fez lembrar anos de militância cultural nos subúrbios do Rio de Janeiro, em Parada de Lucas, quando, com um grupo de amigos e militantes de várias organizações de esquerda e da igreja progressista fundamos o Centro Cultural dos Trabalhadores, o CECUT, e o “Jornal da Baixada”, lá pelos anos 70/80.

Mas a Cooperifa tem um caráter diferente. É uma iniciativa local, liderada pelo Sérgio Vaz, que faz um trabalho de valorização da produção cultural da periferia paulistana. Desde o ano 2.000, o exemplo da Cooperifa já frutificou em quase duas dezenas de iniciativas semelhantes em outros bairros da metrópole.
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BREVE HISTÓRIA DA AUTOAJUDA, O GÊNERO MAIS VENDIDO NO MUNDO

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Jessica Lamb-Shapiro

Publicada originalmente no Publishing Perspectives

A autoajuda anda por aqui há milhares de anos, amada e odiada por todo esse tempo. O mais antigo progenitor de livros de autoajuda foi um gênero egípcio chamado “Sebayt”, uma literatura de instruções sobre a vida (“Sebayt” quer dizer “ensinar”). Uma carta de um pai para o filho com conselhos. “As Máximas de Ptahotep”, escrita certa de 2.800 a.C., propugnava um comportamento moral e autocontrole. Antigos textos gregos ofereciam meditações, aforismos e máximas sobre a melhor maneira de viver.

Durante a Alta Idade Média, na Idade Média e no Renascimento, livros do tipo “Espelho dos Príncipes” contavam histórias de reis cujo comportamento devia ser imitado ou evitado. Eram semelhantes às histórias inspiracionais de hoje, como a série “Canja de Galinha para a Alma”, só que também incluíam contos de advertência. A literatura de aperfeiçoamentos pessoal deu um grande salto depois de 1455, quando Gutemberg barateou a impressão e tornou esses livros disponíveis para uma distribuição mais ampla. De repente, qualquer um podia escrever suas receitas sobre a melhor maneira de viver.
Jessica-Lamb-Shapiro No decorrer dos anos 1600 e 1700, livros de comportamento ensinavam aos homens como se comportar polidamente em sociedade, e foram populares na Itália, França e Inglaterra. Na França, eram conhecidos como livros de “savoir vivre”. O historiador Jacques Carre argumenta que “seu espírito se perdeu, e apenas aplicações mecânicas de algumas recomendações isoladas, supostamente destinadas a proporcionar refinamento imediato, era apresentadas aos leitores insuspeitos”. Os tópicos abordados incluíam, “Coisas Odiosas e Imundas”, “Assoando o Nariz”, “Cabelos Cortados como uma Tigela”, e “Barbas de Comprimento Assustador”.

Pode haver muito desprezo pelos livros de autoajuda de hoje, mas estes fazem parte de um mercado de melhoria pessoal em crescente expansão que não mostra nenhum sinal de esquecimento. A autoajuda é tão popular agora quanto foi no tempo de Chesterton, e como indústria, cresceu exponencialmente.

Muitos dos textos mais antigos de autoajuda ainda estão no mercado. “A Arte da Guerra”, de SunTzu, um antigo tratado militar chinês, é popular entre os homens de negócio dos Estados Unidos; as “Meditações”, de Marco Aurélio é um best-seller na China contemporânea. Livros de autoajuda criados em uma cultura podem ser muito populares em outras: Wayne Dyer (“Seus pontos fracos”, entre outros) é popular na Holanda. “O Segredo”, de Rhonda Byrne, autora australiana, é best-seller no Irã.

A despeito de sua ubiquidade, é difícil dizer se os livros de autoajuda ajudam ou não alguém. Há pouquíssima pesquisa acadêmica sobre o assunto. As estatísticas do mercado editorial alegam que 80% dos leitores de livros de autoajuda são compradores que repetem suas compras, o que poderia indicar que os livros não estão ajudando. Alguns sugerem que os leitores de livros de autoajuda não leem mais que as primeiras vinte páginas, se é que chegam a abrir o livro. O simples ato de comprar um livro de autoajuda é relatado como algo que fez alguém sentir-se melhor.

Aristóteles acreditava que a leitura tinha capacidades curativas. Ao mesmo tempo em que os compradores de livros de autoajuda talvez não curem o que os aflige, sentir-se melhor não é algo a ser inteiramente descartado. As pessoas odeiam seus trabalhos, se apaixonam, temem envelhecer e se preocupam com o peso, e os livros de autoajuda tratam e tentam atenuar esses problemas. A vida machuca, e a promessa feita pelos livros de autoajuda é um alívio dessa dor.

O colapso de outros sistemas de crenças, sistemas que, em algum momento, proporcionaram direção e significado, permitiram que a autoajuda a se tornasse ainda mais valiosa. A autoajuda proporciona um sentido de comunidade para os solitários; mas também pode isolá-los ainda mais. A autoajuda proporciona uma linguagem com a qual discutir problemas particulares e difíceis; mas às vezes essa linguagem desliza para um discurso sem sentido. É um mundo cheio de charlatões e boas pessoas, e um no qual nem sempre é fácil separar a escumalha do ouro.

Um anúncio no metrô de New York para a Marble Colegiate Church, onde o autor de autoajuda, Norman Vincent Peale já foi pregador, explica a ansiedade básica que alimenta essa indústria mamute: “A vida não vem com um manual de instrução”. Nossos seres racionais sabem que esse manual de instrução não existe, mas nossos seres ansiosos continuarão tentando comprar um.

Vargas Llosa e David Grossman em Guadalajara: a literatura e o mundo ao redor.

llosa e grossman em Guadalajara
Vargas Llosa não é santo da minha devoção. Admiro muitos de seus romances, mas na maioria das vezes detesto suas opiniões políticas. E, na literatura, ele é autor de algumas barbaridades, como o tratamento de desprezo que deu para a obra de seu conterrâneo José Maria Arguedas, que é um escritor muito mais importante e seminal que ele. Coisa de inveja e despeito.

Mas, sem maniqueísmos, devo reconhecer quando ele fala bem e diz coisa com coisa.

fil logotipo Llosa e David Grossman debateram juntos na abertura da Feira de Guadalajara. Segundo a matéria do Publishing Perspectives falaram coisas muito interessantes, com as quais concordo. Acho extremamente importante o posicionamento contra o que eu gosto de chamar de “literatura de olhar o próprio umbigo”. Infelizmente, anda muito na moda falar do seu euzinho sem olhar o mundo ao redor. Esteticismo e politicamente correto são coisas que andam me aporrinhando cada vez mais. Passo.

David Grossman, na Feira de Guadalajara: “Os Palestinos têm o direito natural de ter um estado e uma sociedade, uma pátria, e gostaria que tivessem uma vida normal sem o peso da ocupação. Não posso tolerar o pensamento de que Israel intervém em suas vidas, e isso lança uma sombra. A paz é essencial para a futura sobrevivência de Israel. E neste momento não temos confiança em um futuro.”

Vargas Llosa: “A literatura não é simplesmente uma busca gratuita. As apalavras deixam uma marca e provocam mudança, e portanto o escritor tem uma grande responsabilidade, não apenas de criar uma bela obra de arte, mas também de influenciar a realidade. Qualquer jovem latino-americana dos anos 1950 teria pensado qual a razão de se importar em escrever, com tanta pobreza e analfabetismo, mas também escrevemos ara os analfabetos, na esperança que, ao fazer isso, possamos influenciar uma mudança na sociedade.”

Mais na Internet

Ainda no Publishing Perspectives, uma longa lista de comentários sobre a presença de Jeff Bezos em um programa de entrevistas no qual exibiu um filmete com um futuro drone de entregas da Amazon. Gozações e preocupações. E assinalam o desprezo total do Bezos para com as livrarias independentes: “Queixar-se não é estratégia”. Como quem diz, vão se catar, loosers!

A tradução é parte integral da vida literária na Índia, diz o artigo de Dennis Abrams sobre a importância dos livros traduzidos na construção de uma identidade literária em um país com dúzias de idiomas e dialetos.
Não apenas na Índia, digo eu. A tradução é o que garante a existência de uma República Mundial das Letras.

Google ganha a parada contra os autores e outros temas na Internet hoje

Alguns links de matérias sobre livros e leituras na Internet. Manhã de feriado aqui. Mas o resto do mundo não dá nem tchuns para nossa combalida república.

Amazon esmaga a competição

Dados do Book Industry Study Group sobre o mercado de e-books nos EUA mostra que a parcela da Amazon é ainda maior do que se supunha: 67%. Com a ajuda do Departamento de Justiça e da juíza Denise Coote, é Claro. Isso ainda vai dar chabu.

Livrarias independentes se movimentam no mundo inteiro: IndieBound nos EUA e uma grande campanha na Europa.

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O crescimento das grandes redes e das vendas online (no caso, principalmente pela Amazon) é uma preocupação que se espalha pelo mundo. O IndieBound é uma iniciativa da ABA – American Booksellers Association. Este fim de semana na Europa uma grande campanha para que as pessoas comprem pelo menos um livro físico nas livrarias (lá vale qualquer livraria, não apenas as independentes).

Mas a ABA funciona. Outros por aqui só fazem cartas chorando as pitangas…

Na Argentina, livrarias seguem firmes e fortes

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Não é verdade que Buenos Aires tem mais livrarias que o Brasil todo. Isso é um mito. Mas tem belas livrarias (como a Ateneo Splendid) e os livreiros de lá conseguiram uma lei do preço fixo para se defender da febre de descontos das cadeias (que conta com a cumplicidade das editoras, é claro).

Revista sobre livros, literatura. Texturas

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Uma publicação espanhola online, muito interessante. Pode ser recebida por email.

E o Google ganhou a parada

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O juiz Denny Chin nem levou para o júri. Decidiu que o Google presta um grande serviço ao escanear os livros do mundo inteiro. Depois de seis anos, o processo recebeu ontem a sentença em primeira instância em New York. Os autores que promoveram e a Author’s Guild dizem que vão recorrer, mas há dúvidas se um tribunal superior aceitará a apelação.

Distribuição – Impasses e perspectivas

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A distribuição sempre foi um dos grandes entraves para a circulação de livros no Brasil. A enorme extensão territorial e a precariedade da logística encarecem de modo evidente a circulação dos livros (não apenas deles, é claro), e a rarefação e concentração da rede de livrarias contribui para não dar densidade nem permitir maiores investimentos na área.

Some-se a isso a política de aquisição de livros do Governo Federal. As compras do MEC, chegam perto de um quarto de todas as vendas de livros no Brasil, com especial ênfase para o livro escolar. O MEC compra diretamente das editoras e o transporte fica por conta dos Correios. A alegação de que esse procedimento diminui os custos da aquisição dos livros é contestável em vários aspectos: a) o MEC não contabiliza os custos de desenvolvimento editorial, que são portanto transferidos para os demais segmentos destinados ao mercado das escolas particulares e, dessa forma provocam a constituição de uma espécie de subsídio cruzado; b) também não se contabiliza os custos todo o aparato burocrático do FNDE, dedicado ao sofisticado sistema de seleção dos títulos, avaliação da execução do programa, etc c) e não se leva em conta o custo social da destruição da rede de livrarias, processo para o qual as escolas particulares também contribuem ao adquirir e revender diretamente para seus alunos os livros adotados.

Tudo isso é custo real que jamais é claramente explicitado pelo governo. E há modelos alternativos para todo esse processo que não são sequer considerados, como os aplicados em vários países europeus.

O curioso é que o MEC, através do mesmo FNDE, executa políticas diferentes para outros produtos e serviços oferecidos às escolas, como o Programa de Merenda Escolar, além do Dinheiro Direto na Escola.

Some-se a isso as deficiências das próprias livrarias, incapazes de cooperar entre si para minimizar alguns desses custos, desenvolver o mercado, participar do e-commerce. Também não faltam exemplos, como as ações da American Booksellers Association – ABA e seu programa Indie Commerce, ou as várias iniciativas dos Groupements de Libraires franceses.
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