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DISTRIBUIÇÃO E “DESCOBERTABILIDADE”* DE LIVROS – A TRAGÉDIA VIROU FARSA

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A Professora Rita Olivieri-Godet ensina na Université de Rennes 2, na França. É mapeada no projeto Conexões Itaú Cultural – Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira,  e a conheci pessoalmente no Fórum das Letras, em Ouro Preto. Ela esteve há poucas semanas no Brasil, lançando seu livro “Viva o Povo Brasileiro: a ficção de uma nação plural”.

Pois bem, no último dia 8 de março, recebi o seguinte e-mail da professora Rita Olivieri-Godet:

“Estou lhe escrevendo porque fiquei sabendo que você virá para o Salon du livre agora em março.
Quando estive no Brasil recentemente, eu procurei mas não consegui comprar o romance de Maria José Silveira, “Guerra no coração do cerrado”. Como venho trabalhando sobre a representação dos índios na literatura contemporânea este romance me interessa muito. Encomendei na Livraria Cultura de Salvador e até agora nada, embora eles tenham garantido que vão me enviar e eu já tenha pago a encomenda e o envio inclusive.

Então, se houver alguma possibilidade de você me trazer um exemplar eu o comprarei e quando o meu chegar colocarei na biblioteca da Université Rennes 2. Se não for possível, continuo aguardando (im)pacientemente o exemplar que encomendei na Cultura, não tem problema, não se sinta obrigado, estou apenas tentando ver se recebo o livro o mais cedo possível”.

O livro, lançado pela Record em 2006, recebeu excelentes resenhas, e seguiu seu destino.

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Distribuição – Impasses e perspectivas

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A distribuição sempre foi um dos grandes entraves para a circulação de livros no Brasil. A enorme extensão territorial e a precariedade da logística encarecem de modo evidente a circulação dos livros (não apenas deles, é claro), e a rarefação e concentração da rede de livrarias contribui para não dar densidade nem permitir maiores investimentos na área.

Some-se a isso a política de aquisição de livros do Governo Federal. As compras do MEC, chegam perto de um quarto de todas as vendas de livros no Brasil, com especial ênfase para o livro escolar. O MEC compra diretamente das editoras e o transporte fica por conta dos Correios. A alegação de que esse procedimento diminui os custos da aquisição dos livros é contestável em vários aspectos: a) o MEC não contabiliza os custos de desenvolvimento editorial, que são portanto transferidos para os demais segmentos destinados ao mercado das escolas particulares e, dessa forma provocam a constituição de uma espécie de subsídio cruzado; b) também não se contabiliza os custos todo o aparato burocrático do FNDE, dedicado ao sofisticado sistema de seleção dos títulos, avaliação da execução do programa, etc c) e não se leva em conta o custo social da destruição da rede de livrarias, processo para o qual as escolas particulares também contribuem ao adquirir e revender diretamente para seus alunos os livros adotados.

Tudo isso é custo real que jamais é claramente explicitado pelo governo. E há modelos alternativos para todo esse processo que não são sequer considerados, como os aplicados em vários países europeus.

O curioso é que o MEC, através do mesmo FNDE, executa políticas diferentes para outros produtos e serviços oferecidos às escolas, como o Programa de Merenda Escolar, além do Dinheiro Direto na Escola.

Some-se a isso as deficiências das próprias livrarias, incapazes de cooperar entre si para minimizar alguns desses custos, desenvolver o mercado, participar do e-commerce. Também não faltam exemplos, como as ações da American Booksellers Association – ABA e seu programa Indie Commerce, ou as várias iniciativas dos Groupements de Libraires franceses.
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