NATAL DE LIVROS DA COOPERIFA

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Domingo, dia 15 de dezembro participei da festa do Natal de Livros da Cooperifa – Cooperativa Cultural da Periferia. Iniciativa do poeta Sérgio Vaz, a instituição fez seu terceiro Natal de Livros no Largo do Piraporinha, no Jardim São Luís, na Zona Sul de S. Paulo. Das dez da manhã à uma da tarde foram distribuídos milhares de livros para quem passava por ali, indo ou vindo da feira do bairro. Quem passava nos ônibus ou estava nas lojas do comércio popular da região era também abordado por quase cinquenta voluntários que ofereciam gratuitamente exemplares de livros novos e de todos os gêneros: ficção, ensaios, livros para crianças e jovens.

Foi uma experiência emocionante que me fez lembrar anos de militância cultural nos subúrbios do Rio de Janeiro, em Parada de Lucas, quando, com um grupo de amigos e militantes de várias organizações de esquerda e da igreja progressista fundamos o Centro Cultural dos Trabalhadores, o CECUT, e o “Jornal da Baixada”, lá pelos anos 70/80.

Mas a Cooperifa tem um caráter diferente. É uma iniciativa local, liderada pelo Sérgio Vaz, que faz um trabalho de valorização da produção cultural da periferia paulistana. Desde o ano 2.000, o exemplo da Cooperifa já frutificou em quase duas dezenas de iniciativas semelhantes em outros bairros da metrópole.

Às quartas-feiras, no Bar do Zé Batidão, acontece o Sarau da Cooperifa. Dezenas de poetas recitam suas produções diante do público, ou leem poemas de autores conhecidos. Invariavelmente aplaudidos e encorajados. Na laje do bar também acontece o festival Cinema na Laje, no qual são projetadas produções independentes e filmes nacionais. Em março sempre acontece o “Ajoelhaço”: os homens pedem desculpas às mulheres pelo machismo da sociedade. Eventualmente acontecem outras “Chuvas de Livros” no decorrer do ano, na medida em que conseguem doações de editoras e amigos.

A Cooperifa é liderada pelo Sérgio Vaz, poeta que já alcançou um nível de reconhecimento no mundo editorial e literário mais amplo, com livros publicados pela Global. Mas o verbo liderar é enganador. A conjugação que se escuta nos saraus e outras atividades da Cooperifa é a da primeira pessoal do plural. Nós.

O “nós” é composto por trabalhadores de todas as áreas. Filhos de famílias humildes: operários, trabalhadores de serviços, domésticas; bancários e funcionários públicos de baixo escalão, professores de escolas públicas, estudantes; filhos de pipoqueiros, talvez pipoqueiros até hoje.

E os versos recitados se referem à “nossa cultura”, “nossa vida”, “nossa luta”, “nossa história”.

Certamente se escutam versos toscos e de rima pobre. Mas todos são escutados com respeito. E quem escuta, aprende. E evolui. Dalí já saíram compositores de rap, outros que já participam de antologias e outros continuam indo aos saraus das quartas-feiras para se expressar. E esses saraus são uma experiência muito interessante. Aparece de tudo, de velhinhas a gays, mulheres, homens, jovens, tudo junto e misturado. Quem chega se inscreve e espera a vez para falar para uma média de 150 a 200 pessoas por noite. Já aconteceu de aparecerem mais de quinhentas.

O caso dos escritores da periferia de S. Paulo tem aspectos curiosos. Ainda que busquem o reconhecimento do campo literário mais amplo, escritores como Sérgio Vaz, Sacolinha, Ferréz e uma quantidade de autores de rap e do movimento hip-hop, permanecem diretamente ligados aos seus meio sociais de origem. Parece, para um observador externo como eu, que os processos de ascensão social derivados do reconhecimento literário fazem sentido para eles na medida em que continuam ligados às comunidades de origem. Talvez isso derive do fato de estarem na periferia de S. Paulo. Ainda que periferia, fazem parte do círculo concêntrico da gigantesca metrópole. Isso faz diferença quando se pensa em escritores com a mesma origem que nascem e vivem nas cidades afastadas de um centro magnético de cultura como é Sampa.

Esse Natal de Livros foi o terceiro promovido pela Cooperifa. No lançamento do último livro do Marcelino Freire, Sérgio Vaz me pediu que ajudasse a conseguir livros. Apelei para Sérgio Machado e Sônia Jardim, os donos da Record. Para a comemoração, mandaram 5.000 livros para a festa, dentro do espírito de celebração dos 70 anos do Grupo Record. Muito obrigado Sérgio e Sonia, por ajudarem no evento. Além dos livros da Record, Sérgio Vaz conseguiu mais uma quantidade de livros através de outros amigos e também exemplares dos livros infantis das coleções distribuídas pelo Banco Itaú. Agradeço também ao Itaú Cultural que ajudou a pagar o frete dos livros.

O Sarau da Cooperifa, que acontece às quartas-feiras, está suspenso até o início de 2014. Quem mora em Sampa ou passar por aqui numa quarta-feira pode ir assistir e participar. Bar do Zé Batidão, Rua Bartolomeu dos Santos, 797 Chácara Santana. Aqui o mapa. Várias linhas de ônibus passam por perto, na Av. M Boi Mirim.
O churrascão na laje do bar do Zé Batidão, depois da distribuição, foi ótimo. A cerveja do bar é geladíssima e a carne estava no capricho. Comemoração e confraternização depois de uma atividade porreta.

Algumas fotografias do Natal de Livros.

Barraca de feira com livros
Barraca de feira com livros

Açougue literário
Açougue literário
Mamão e livros na feira
Mamão e livros na feira
Queriam mais...
Queriam mais…

2 comentários em “NATAL DE LIVROS DA COOPERIFA”

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