Jessica Lamb-Shapiro
Publicada originalmente no Publishing Perspectives
A autoajuda anda por aqui há milhares de anos, amada e odiada por todo esse tempo. O mais antigo progenitor de livros de autoajuda foi um gênero egípcio chamado “Sebayt”, uma literatura de instruções sobre a vida (“Sebayt” quer dizer “ensinar”). Uma carta de um pai para o filho com conselhos. “As Máximas de Ptahotep”, escrita certa de 2.800 a.C., propugnava um comportamento moral e autocontrole. Antigos textos gregos ofereciam meditações, aforismos e máximas sobre a melhor maneira de viver.
Durante a Alta Idade Média, na Idade Média e no Renascimento, livros do tipo “Espelho dos Príncipes” contavam histórias de reis cujo comportamento devia ser imitado ou evitado. Eram semelhantes às histórias inspiracionais de hoje, como a série “Canja de Galinha para a Alma”, só que também incluíam contos de advertência. A literatura de aperfeiçoamentos pessoal deu um grande salto depois de 1455, quando Gutemberg barateou a impressão e tornou esses livros disponíveis para uma distribuição mais ampla. De repente, qualquer um podia escrever suas receitas sobre a melhor maneira de viver.
No decorrer dos anos 1600 e 1700, livros de comportamento ensinavam aos homens como se comportar polidamente em sociedade, e foram populares na Itália, França e Inglaterra. Na França, eram conhecidos como livros de “savoir vivre”. O historiador Jacques Carre argumenta que “seu espírito se perdeu, e apenas aplicações mecânicas de algumas recomendações isoladas, supostamente destinadas a proporcionar refinamento imediato, era apresentadas aos leitores insuspeitos”. Os tópicos abordados incluíam, “Coisas Odiosas e Imundas”, “Assoando o Nariz”, “Cabelos Cortados como uma Tigela”, e “Barbas de Comprimento Assustador”.
Pode haver muito desprezo pelos livros de autoajuda de hoje, mas estes fazem parte de um mercado de melhoria pessoal em crescente expansão que não mostra nenhum sinal de esquecimento. A autoajuda é tão popular agora quanto foi no tempo de Chesterton, e como indústria, cresceu exponencialmente.
Muitos dos textos mais antigos de autoajuda ainda estão no mercado. “A Arte da Guerra”, de SunTzu, um antigo tratado militar chinês, é popular entre os homens de negócio dos Estados Unidos; as “Meditações”, de Marco Aurélio é um best-seller na China contemporânea. Livros de autoajuda criados em uma cultura podem ser muito populares em outras: Wayne Dyer (“Seus pontos fracos”, entre outros) é popular na Holanda. “O Segredo”, de Rhonda Byrne, autora australiana, é best-seller no Irã.
A despeito de sua ubiquidade, é difícil dizer se os livros de autoajuda ajudam ou não alguém. Há pouquíssima pesquisa acadêmica sobre o assunto. As estatísticas do mercado editorial alegam que 80% dos leitores de livros de autoajuda são compradores que repetem suas compras, o que poderia indicar que os livros não estão ajudando. Alguns sugerem que os leitores de livros de autoajuda não leem mais que as primeiras vinte páginas, se é que chegam a abrir o livro. O simples ato de comprar um livro de autoajuda é relatado como algo que fez alguém sentir-se melhor.
Aristóteles acreditava que a leitura tinha capacidades curativas. Ao mesmo tempo em que os compradores de livros de autoajuda talvez não curem o que os aflige, sentir-se melhor não é algo a ser inteiramente descartado. As pessoas odeiam seus trabalhos, se apaixonam, temem envelhecer e se preocupam com o peso, e os livros de autoajuda tratam e tentam atenuar esses problemas. A vida machuca, e a promessa feita pelos livros de autoajuda é um alívio dessa dor.
O colapso de outros sistemas de crenças, sistemas que, em algum momento, proporcionaram direção e significado, permitiram que a autoajuda a se tornasse ainda mais valiosa. A autoajuda proporciona um sentido de comunidade para os solitários; mas também pode isolá-los ainda mais. A autoajuda proporciona uma linguagem com a qual discutir problemas particulares e difíceis; mas às vezes essa linguagem desliza para um discurso sem sentido. É um mundo cheio de charlatões e boas pessoas, e um no qual nem sempre é fácil separar a escumalha do ouro.
Um anúncio no metrô de New York para a Marble Colegiate Church, onde o autor de autoajuda, Norman Vincent Peale já foi pregador, explica a ansiedade básica que alimenta essa indústria mamute: “A vida não vem com um manual de instrução”. Nossos seres racionais sabem que esse manual de instrução não existe, mas nossos seres ansiosos continuarão tentando comprar um.
Parabéns pela postagem !
Bastante enriquecedor.
Sucesso Sempre …