Todos os posts de Felipe Lindoso

Felipe Lindoso é jornalista, tradutor, editor e consultor de políticas públicas para o livro e leitura. Foi sócio da Editora Marco Zero, Diretor da Câmara Brasileira do Livro e consultor do CERLALC – Centro Regional para o Livro na América Latina e Caribe, órgão da UNESCO. Publicou, em 2004, O Brasil Pode Ser um País de Leitores? Política para a Cultura, Política para o Livro, pela Summus Editorial.

CRIME FICTION ACADEMY – Escrever livros policiais na moda das oficinas literárias

Artigo originalmente escrito por Jonathan Santlofer – Publishing Perpectives


A Crime Fiction Academy começou como uma ideia, uma reflexão sobre o fato de que não havia lugar para estudar seriamente a ficção sobre crime. Noreen Tomassi, diretora do Manhattan’s Center for Fiction, colocou a questão: por que não existe um lugar onde aprender a história do gênero, um lugar onde as pessoas possam terminar um romance policial, um lugar permanentemente dedicado à ficção detetivesca em todas suas formas? Minha resposta: porque o assunto não é levado a sério no meio cultural atual, a despeito do fato de alguns dos melhores romances “literários” de todos os tempos serem realmente novelas sobre crime, Lolita, Crime e Castigo, Uma Tragédia Americana, para citar apenas algumas.

Noreen disse, “Então, porque não fazemos isso?”, e foi precisamente o que fizemos.
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IPA REVISA ÚLTIMAS AÇÕES ANTI-PIRATARIA


A IPA – International Publishers Association divulgou, através de sua Secretaria Geral, apresentações feitas na reunião de seu Comitê Anti-Pirataria, durante a última Feira do livro de Frankfurt.

São três apresentações, duas em power point e uma em pdf, podem ser vistas abaixo. As apresentações originais podem ser solicitadas gratuitamente à secretaria da IPA através do e-mail secretariat@internationalpublishers.org. Informações adicionais sobre o assunto podem ser encontradas no site da IPA.

A primeira apresentação é sobre a anti-pirataria no Egito. É, digamos assim, a mais clássica: as dificuldades de distribuição e as convulsões decorrentes da mudança de regime abriram amplo espaço para a pirataria, tanto de livros impressos quanto digitais. Acrescente-se, no caso do Egito, as dificuldades de formato para leitura em caracteres de árabe. Segundo a Associação Egípcia de Editores, os e-readers da Amazon, da Apple e da Barnes&Noble não suportam esses caracteres. Isso faz que o escaneio dos livros, no formato PDF seja amplamente disseminado. Os editores egípcios estão buscando desenvolver uma plataforma proprietária, mas encontram dificuldades de custos e tecnologia. Veja aqui: Antipiracy in Egypt
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CALLIS – UMA EDITORA QUE ABRE CAMINHOS NO MERCADO INTERNACIONAL


A Callis Editora, de São Paulo, que já tem vinte e cinco anos de vida, abre caminhos para venda de livros e direitos autorais no mercado internacional desde 2001, quando, pela primeira vez, vendeu livros para o programa da SEP – Secretaría de Educación Pública do México. Desde então já fez negócios com a Itália, os EUA, Coreia, Japão, Chile, Itália, China, Argentina, Taiwan, França, Reino Unido e Canadá.

Encontrei Míriam Gabbai, sua fundadora e diretora, em Frankfurt, no lançamento da Machado de Assis Magazine. Para minha surpresa, Míriam me convidou para visitar seu estande no Pavilhão 8. É lá que se abrigam as editoras de língua inglesa. Surpreso, perguntei a Míriam o que significava aquilo.

– Vá lá nos visitar que eu explico.

Fui, claro. Era um estande pequeno – não dos minúsculos, porém mais ou menos do tamanho de um estande padrão das bienais do Rio ou de S. Paulo – e a plaquinha indicava “Callis – N.Y.”.
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FRANKFURT 2012 – PRÉ-ESTREIA DE 2013?


A participação do Brasil na Feira de Livros de Frankfurt este ano serviu como uma pré-estreia para o ano que vem, quando o país será o Convidado de Honra da Feira, pela segunda vez. É importante avaliar alguns aspectos dessa participação, no sentido de contribuir para o sucesso do ano que vem.

É bom destacar, entretanto, que a presença da Nova Zelândia este ano foi fraca. O Pavilhão Central, onde os neozelandeses montaram sua principal apresentação, não deixou de ter um lado poético. Bem escuro, como se no meio de um oceano surgisse uma ilha, com uma lua cheia a brilhar no céu. A ideia central era a de mostrar o que faziam enquanto o resto do mundo – ou seja, as Américas e a Europa – dormia. A cada meia hora uma performance, com um ator surgindo no meio do “oceano”, recitando versos em maori e depois circulando pela “ilha”, que vai mostrando filmagens da própria performance e de paisagens do país. Isso, juntamente com os discursos pífios dos escritores que representaram o país, Bill Manhire e Joy Cowley, deram um tom de autocondescendência para a presença dos neozelandeses. Os discursos tentavam ser bem humoradamente depreciativos: somos um país pequeno, etc., etc. com frases em maori de vez em quando enfiadas no meio – e os textos do convite para a cerimônia não estavam em inglês, e sim em maori. Na verdade, o discurso mais impactante e que deu notícias na imprensa no dia seguinte foi o do Ministro de Relações Exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle, reafirmando a predominância do seu país na União Europeia. Bem significativamente arrogante…

Bom, há um lado comovente no tributo às tradições dos povos que foram conquistados pelos imigrantes ingleses e quase exterminados. Mas, vamos convir, exceto os maoris, e uma minoria deles, são poucos os falantes do idioma. Mas, enfim, saudemos o respeito pela população minoritária e quase dizimada. Isso é importante.

O tom dos discursos na abertura, no entanto, é um alerta ao Brasil. Em 1994, um dos aspectos criticados pelos alemães acerca de nossa participação, foi o discurso de Josué Montello. Montello foi escolhido para evitar maiores disputas, pois era presidente da ABL na ocasião. Foi um erro. O romancista maranhense fez uma xaropada louvaminhas da sua admiração por Goethe. Isso é algo que não interessa absolutamente nem aos alemães nem ao público internacional presente na Feira.
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Scouts and Agents Centre – O coração da Feira de Frankfurt


Lembro bem do momento em que foi criado o local especifico para que agentes literários e “scouts” – os profissionais que fazem prospecção de livros para as editoras – foi criado, lá pelos anos noventa. Era uma novidade, pois esses profissionais que se espalhavam pela feira, com seus estandes, passaram a ter um local próprio, padronizado. Era um espaço de uns vinte por vinte metros, com divisórias para uma mesa e duas ou três cadeiras. Na foto aqui publicada pode se ver a dimensão atual desse centro, que ocupa dois terços de um andar do pavilhão sete. A área total do pavilhão só é compartilhada com a feira de vendedores de livros raros – belíssimos e em muitos idiomas – que ocupa hoje área semelhante à que o centro dos autores ocupava há mais de uma década.

Revista Machado de Assis convoca participantes para seus números dois e três

O lançamento dia 10 do primeiro número da “Machado de Assis Magazine”, com textos traduzidos de autores brasileiros para que sejam apresentados a editores e agentes internacionais, foi acompanhado pelo anúncio do chamamento público de autores intessados em participar dos próximos dois números.

As inscrições para essas duas edições poderão ser feitas até o dia 10 de novembro. A segunda edição será dedicada a trechos de obras de ficção brasileira (como a primeira) e a terceira será inteiramente voltada para a literatura infantil e juvenil. O Brasil já começa a se preparar para a homenagem que receberá em 2014 na Feira de Livros para Crianças e Jovens em Bolonha. Para a segunda edição, além de textos em inglês e espanhol, serão analisadas propostas para textos apresentados em alemão de dez obras de ficção brasileira, desde que já tenham sido publicadas em livro no Brasil.

Os interessados devem se dirigir ao Centro Internacional do Livro – CIL, da Biblioteca Nacional, para conhecer os detalhes do chamamento e apresentar suas propostas, pelo email cil@bn.br.

Brasil apresenta em Frankfurt seus planos para 2013

Galeno Amorim, presidente da Fundação Biblioteca Nacional anunciou nesta quinta-feira, em entrevista coletiva para a imprensa internacional, as linhas gerais dos planos para a participação do Brasil como país convidado de honra da Feira do Livro de Frankfurt no próximo ano. Linhas gerais, pois ficou evidente que ainda há muito trabalho a ser feito no detalhamento das idéias, fechamento de parcerias e desenho do pavilhão central, que estará a cargo de Daniela Thomas e Felipe Tassara.

Galeno, que estava acompanhado pelo Cônsul Geral do Brasil em FKF, pelo chefe do Departamento Cultural do Itamaraty, pelo Diretor Geral da Feira, Jurger Boos, pela vice diretora da Feira, Marifé Boix, pela presidente da CBL, Karine Pansa e pelo escritor Milton Hatoum, anunciou o investimento de dez milhões de dólares na organização do evento do próximo ano, acompanhado de mais trinta e cinco milhões de dólares em diversos programas de apoio à tradução e difusao da literatura brasileira no âmbito internacional.

O mote da participação brasileira será “Brazil in every word”, que pretende destacar a diversidade das abordagens da literatura brasileira por seus autores.

A apresentação foi marcada por um belo vídeo montado a partir de frases de autores brasileiros, justamente mostrando essas diferentes abordagens “antropofágicas” da cultura brasileira, que tudo transforma e recria, devolvendo ao mundo sua visão própria. Já me prometeram enviar o link desse vídeo, para que todos possam vê-lo.
A apresentação terminou com um bom discurso de Milton Hatoum, que destacava também essa diversidade de vozes e advertia para que se evitassem tanto as aproximações estereotipadas quanto os ufanismos, assinalando também as vozes dissonantes que sempre devem estar presentes na literatura. Milton também prometeu enviar o texto da sua fala, para publicação aqui.

Frankfurt – dia 1

Depois de mais de dez anos de ausência, este ano voltei à Feira do Livro de Frankfurt. Ontem, terça feira, foi a abertura oficial, com a apresentação da Nova Zelandia como convidado de honra deste ano.

Na análise que fez da presença do Brasil em 1994, Peter Weidhaas, então diretor da feira, mencionou como um dos problemas dessa apresentação do Brasil foi o discurso de abertura, feiro na época por Josué Montello, que era presidente da ABL. Montello divagou sobre seu amor pela Alemanha e por Goethe, citando uma senhora que, emocionada, havia lhe dado uma estatueta do poeta alemão que herdara de seu marido, colecionador das obras de Goethe. E foi por aí.

Weidhaas dizia que, para os alemães, isso nao interessava nada. Eles esperavam um autor que falasse sobre os problemas universais, a perspectiva do país e de como promover a literatura,etc. A falta de impacto do discurso do Montello prejudicou em muito a presença do Brasil.

Eis que os neozelandeses fazem discursos centrados em duas coisas: como gostavam de Goethe e como a Nova Zelandia é pequena, etc. etc. Parecia coisa se menino que fez alguma travessura e já vai pedindo desculpas.

Decepcionante.

O pavilhão com a exposição central da Nova Zelandia partiu de uma coisa parecida: olhem, estamos do outro lado do mundo, enquanto vocês dormem nós estamos acordados… Um pavilhão escuro, com água em redor de uma ilha obvia, iluminada de longe, com belas fotografias de paisagens (foi outro ponto assinalado nos discursos, o de quão bonito o pais é).

Enfim, considero que essa cerimonia de abertura foi exemplo de como o Brasil nao deve fazer ano que vem.

Direitos autorais: perigos adiante


Por ocasião da posse de Marta Suplicy no Ministério da Cultura, tanto a nova ministra como a Presidenta Dilma, nos respectivos discursos, manifestaram a importância do respeito ao direitos autoral e à justa remuneração dos criadores por seu trabalho intelectual.

Isso deve ter deixado autores e editores terem bons sonhos. Pelas manifestação iniciais, os exageros e incongruências da proposta da finada administração Gil/Ferreira de modificação da Lei de Direito Autoral, e que haviam sido limados na proposta da Ministra Ana de Hollanda, pareciam estar definitivamente sepultados.

Mas, na mesma ocasião, tanto a Presidenta quanto a Ministra declararam a disposição de promover e ampliar os meios de expressão da chamada cultura digital, ponto importante para o desenvolvimento da criatividade e, também de acesso de amplas camadas aos bens culturais.

Os editores e escritores só prestaram atenção na parte dos discursos que lhes interessava. Os ativistas do digital – aqui entendido como acesso grátis ao conteúdo digital – trataram de se mobilizar e pressionar a nova ministra em torno de sua agenda.

Aqui preciso deixar bem claro algumas coisas.

Em primeiro lugar, sou totalmente favorável à ampliação de todos os acessos aos bens culturais através dos meios digitais. Considero os livros eletrônicos – que não farão desaparecer os livros impressos – um avanço na difusão da leitura.
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Bibliotecas Públicas Estaduais – a reforma dos prédios históricos não basta

Estive em Manaus há alguns dias para assistir à estreia de “Isabel do Brasil”, monólogo da Maria José Silveira, encenado pelo TESC – Teatro Experimental do SESC, com Carla Menezes como a Princesa Isabel e direção do Márcio Souza.

Ficamos hospedados em um hotel do centro, perto de onde morei na infância e juventude, e bem em frante da Biblioteca Pública do Amazonas.

O prédio da Biblioteca está fechado já há alguns anos. Foi restaurado e quando a inauguração estava marcada o IPHAN vetou a entrega da obra porque o telhado não havia sido reformado com telhas idênticas às originais.

O atraso na inaguração gerou protestos, organizados por bibliotecários, que abraçaram o prédio, em protesto por uma reforma que já demorava tanto tempo. Quando fui a Manaus tinha em mente essa informação e concordava que era inconcebível uma reforma durar tanto tempo. Robério Braga, que é o Secretário de Cultura do Estado, consegue fundos para o Festival de Ópera, fez intervenções importantes no patrimônio urbanístico do centro da cidade, em particular da Praça São Sebastião (onde está o Teatro Amazonas). Conheço-o há muito e já lhe disse que lamentava que não desse ao livro e à leitura a atenção que dedica à música, às artes cênicas e ao patrimônio urbano, embora exista um projeto grande de digitalização de documentos e acervos bibliográficos em curso, com equipamentos modernos. Estava, portanto, ressabiado quanto a essa história da Biblioteca Pública.
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