A Callis Editora, de São Paulo, que já tem vinte e cinco anos de vida, abre caminhos para venda de livros e direitos autorais no mercado internacional desde 2001, quando, pela primeira vez, vendeu livros para o programa da SEP – Secretaría de Educación Pública do México. Desde então já fez negócios com a Itália, os EUA, Coreia, Japão, Chile, Itália, China, Argentina, Taiwan, França, Reino Unido e Canadá.
Encontrei Míriam Gabbai, sua fundadora e diretora, em Frankfurt, no lançamento da Machado de Assis Magazine. Para minha surpresa, Míriam me convidou para visitar seu estande no Pavilhão 8. É lá que se abrigam as editoras de língua inglesa. Surpreso, perguntei a Míriam o que significava aquilo.
– Vá lá nos visitar que eu explico.
Fui, claro. Era um estande pequeno – não dos minúsculos, porém mais ou menos do tamanho de um estande padrão das bienais do Rio ou de S. Paulo – e a plaquinha indicava “Callis – N.Y.”.
Míriam explicou que era o segundo ano em que tinha estande no Pavilhão 8. Abriu uma empresa registrada em Nova York (onde mora uma de suas filhas) para poder adquirir o estande.
“Nos anos anteriores sempre que conversava com outras editoras, a resposta mais comum é que haviam passado o dia no Pavilhão 8. Então decidi experimentar”.
“A verdade é que muda completamente a percepção dos clientes sobre a editora. Há preconceito contra as editoras que não estão lá e, inversamente, confiança por ser uma “empresa de NY”.
A Callis também tem um estande próprio na Feira de Bolonha, embora ao lado do estande coletivo brasileiro. Míriam acredita que assim atrai melhor a atenção dos agentes e editoras especializados que visitam a feira, a maior do segmento infantil e juvenil.
Míriam reconhece que não é uma estratégia viável para todo mundo, mas foi a que escolheu por força de sua determinação em abrir espaço para a Callis no mercado internacional.
“Não conto o número de títulos vendidos porque isso dá azar. Mas a venda de direitos – e livros – para o exterior não se conta só em livros. O que importa também é abrir uma brecha para determinados idiomas, principalmente o inglês.”
Míriam participa sistematicamente de outras feiras internacionais, além de Frankfurt e Bolonha. Guadalajara foi uma das primeiras, e hoje ela visita as feiras do Japão, da Coreia e da China. Montou uma linha de livros bilingues para venda no Japão, com versões em português/japonês e inglês/japonês. Já tem sete títulos, que são impressos no Japão em pequenas tiragens para testar o mercado, e mantém um website em japonês.
As pequenas tiragens – impressão sob demanda – é que permitem isso. Às vezes os clientes chamam atenção para detalhes significativos para a cultura local, seja o emprego de palavras ou detalhes de diagramação e ilustração. “Se eu tivesse impresso mil ou dois mil exemplares teria que jogar tudo fora. Como imprimo sob demanda, fica fácil mudar e atender às expectativas dos interesses locais.”
A construção de um relacionamento de confiança com os clientes, segundo Míriam, repousa em dois pilares: continuidade e atendimento pós-feira. Não basta ir uma vez, é preciso estar sempre lá. Da segunda vez em diante, os clientes percebem sua presença e começam a prestar atenção.
E é fundamental despachar os livros, atender rapidamente ao que foi combinado nas feiras. Isso também aumenta a confiança.
Segundo Míriam Gabbai, os estrangeiros gostam das cores das ilustrações dos nossos livros, mas é importante também manter os preços alinhados com os mais competitivos do mercado internacional.
O catálogo da Callis atende principalmente ao mercado juvenil e através das escolas, com diferentes coleções desenhadas para faixas etárias e áreas de interesse diferenciadas. O site – nesse caso com as versões em português e em inglês – pode ser acessado aqui.
A Callis também mantem uma coleção de livros digitais sob assinatura. Inicialmente a coleção havia sido pensada para assinaturas corporativas – escolas -, mas agora está focada mais em assinantes individuais.
A Callis, e Míriam Gabbai, gostam de experimentar. Mas as experiências são são aleatórias. Como no caso das feiras, é preciso continuidade e avaliação dos resultados até se chegar a conclusões positivas ou negativas.
As variações de tendências do mercado internacional são uma preocupação constante. Houve momentos, por exemplo, em que o mercado internacional para livros juvenis não estava aceitando o tipo de livros relativamente com poucas páginas que são habituais no Brasil. O fenômeno Harry Potter, com os livros com grande número de páginas, influenciou. É importante, portanto, estar atento a esses fenômenos.
A próxima feira internacional do calendário é a de Guadalajara. Como estarei lá como convidado para uma mesa-redonda, certamente visitarei com prazer o estande da Callis.