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PROJEÇÃO INTERNACIONAL DA CULTURA BRASILEIRA

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A política cultural do Estado brasileiro – responsabilidade basicamente do Itamaraty – é, para usar um adjetivo caridoso, simplesmente insuficiente. Os números, a estrutura disponível para suas ações demonstram isso, e a comparação com outros países chega a ser humilhante. A pretensão de assumir um papel mais relevante através de mecanismos de “soft-power” – entre os quais a cultura é muito importante – fica assim comprometida.

Comecemos por uma breve análise descritiva dos instrumentos institucionais disponíveis na estrutura do Itamaraty.

A estrutura do Departamento Cultural do Itamaraty, o órgão da Chancelaria encarregado de administrar as ações de política externa na área, revela alguns pontos interessantes.

A estrutura do DC está conformada por cinco divisões e uma Coordenação de Divulgação. As Divisões são: 1) Promoção do Audiovisual (DAV); 2) Acordos e Assuntos Multilaterais Culturais (DAMC); 3) Operações de Difusão Cultural (DODC); 4) Temas Educacionais (DCE) e 5) Promoção da Língua Portuguesa (DPLP).

A própria estrutura evidencia que, no âmbito operacional, os instrumentos de ação são setorizados e incluem ações institucionalizadas (acordos culturais, organismos internacionais multilaterais, cooperação na área de educação, programa de estudantes-convênio, negociação e administração da execução dos acordos culturais bilaterais, etc.), sob a responsabilidade de duas divisões, a DAMC e a DCE, além de incluir parte das ações da DPLP.
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UMA PROPOSTA MODESTA

Em recente painel na Câmara dos Deputados para discutir a questão da extensão da desoneração tributária constitucionalmente outorgada aos livros e ao papel de sua impressão (assim como ao papel para periódicos), delineou-se outra frente de discussão sobre a extensão da desoneração também para os leitores de livros eletrônicos.

Leitor Kobo. Todos os leitores baseados em e-ink têm praticamen.er as mesmas funcionalidades
Leitor Kobo. Todos os leitores baseados em e-ink têm praticamen.er as mesmas funcionalidades

Uma boa parte da discussão se deu em torno do projeto de lei do Senador Acir Gurgacz que, além de propor a desoneração do conteúdo (os livros eletrônicos), deseja estendê-la para os leitores digitais, em particular o Kindle e o Kobo, que enviaram representantes para a discussão.
As entidades do livro presentes no evento se declararam, todas, contrárias a essa extensão. A representante do SNEL, Amarylis Manole, declarou que a posição de sua entidade não era ser contra a desoneração, mas que não desejava misturar a desoneração do conteúdo com a dos leitores. Posição semelhante à manifestada pela presidente da CBL, Karine Pansa, “Não existe dúvida em relação à isenção do conteúdo, mas existe preocupação no que se refere ao suporte, que deve ser discutido de maneira mais ampla e menos rápida, em outro momento, de forma mais profunda”.

Kindl evolui, mas o rteclado, o e-touch e a iluminação. As funcionalidades são sempre as mesmas
Kindl evolui, mas o rteclado, o e-touch e a iluminação. As funcionalidades são sempre as mesmas

Ednilson Xavier, presidente da ANL, foi mais contundente: “Estamos dando um passo maior que a perna ao aceitar esta avalanche do livro digital”, afirmou. E terminou sua fala de forma objetiva, contra a desoneração do leitor digital e criticando especialmente os modelos proprietários como aqueles da Amazon e Apple. “A ANL concorda com o conteúdo digital isento, mas no que se refere aos aparelhos de leitura ela se preocupa com dois riscos: o arquivo digital ser refém de quem possui o software e o aparato tecnológico acabar por limitar o acesso ao conteúdo”.
São bem baratos, Muitos com tecnologia e-reader.  http://www.ebookbr.com/2011/11/e-os-e-readers-chineses.html
São bem baratos, Muitos com tecnologia e-reader.
http://www.ebookbr.com/2011/11/e-os-e-readers-chineses.html

Ou seja, todos a favor da desoneração do conteúdo e, salvo os representantes dos fabricantes e vendedores dos leitores, todos contra a extensão da desoneração para estes.

Ednilson Xavier foi quem mais se aproximou o cerne da questão, que se resume, simplesmente, na questão de tecnologias proprietárias.
Tentarei examinar mais de perto esses pontos antes de falar da minha modesta proposta.

A ANL, apesar de centrar nas tecnologias proprietárias, tem no fundo o receio de que os livros eletrônicos (e o comércio eletrônico em geral), acabem por colocar as livrarias físicas para fora do mercado.
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AMAZON PÕE AS MANGUINHAS PRA FORAII

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Faz meses que a Amazon vem pressionando a Hachette, a menor dos grandes grupos editoriais dos EUA (mas que faz parte do Hachette Livres, do grupo Lagardère, que faturou mais de dois bilhões de euros em 2012), com o objetivo de conseguir melhores condições comerciais.

A tática da Amazon é simples. Dá menos descontos para os livros do HBG e avisa que só há disponibilidade para entrega semanas após o pedido ser feito. Todos os outros sites de comércio eletrônico estão dando descontos maiores e entregando mais rapidamente os títulos de autores como James Patterson, Michael Connelly e outros também muito conhecidos.

A Amazon alegou inicialmente que a HBG estava atrasando as entregas, o que foi peremptoriamente negado pela editora (e confirmado pelos competidores da Amazon).

Não é a primeira vez que a Amazon emprega táticas intimidatórias contra editoras que não aceitam melhorar os termos comerciais. A McMillam aguentou pouco mais de uma semana quando o gigante varejista retirou de seus livros a opção “Compre com um clique”, e acabou cedendo. Despois, a McMillam liderou o movimento para modificar os termos gerais de venda, com o “modelo de agenciamento” (a editora fixa o preço e paga à Amazon uma comissão sobre isso, impedindo descontos), graças à providencial ajuda do Departamento de Justiça dos EUA, que acusou as editoras e a Apple de atentar contra a livre concorrência (que está ajudando a Amazon a consolidar sua posição semi-monopolista no mercado de livros). E a McMillam perdeu novamente.

Algumas peculiaridades da situação devem ser anotadas:
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SOBRE ADAPTAÇÕES, INCENTIVOS FISCAIS, DEBATE E CENSURA

Nos últimos dias uma polêmica correu na Internet acerca da publicação de uma “versão simplificada” de O Alienista, do Machado de Assis, pela escritora Patrícia Secco, e patrocinada pelo Instituto Brasil Leitor. O projeto foi incentivado pela Lei Rouanet, e terá uma edição de 600.000 exemplares, a ser distribuída por essa instituição em seus vários programas.

Já escrevi no FaceBook e repito aqui. Acho esse tipo de “simplificação” uma bobagem. Se fosse reconto, ou recriação em outro gênero (peça de teatro, roteiro, série televisiva, história em quadrinho), nada a objetar. Ou, como fizeram os Lamb com Shakespeare – escrevendo versões em prosa das peças, em um trabalho autoral, que não pretendia “simplificar” o Bardo – também tudo bem.

Mas as “simplificações” já têm uma história complicada. A mais notória foi a que um professor dos EUA fez com o Mark Twain. Tirou do “Tom Sawyer” e do “Huckleberry Finn”, por que considerava ofensivo para os negros americanos do Século XXI ler palavras típicas do vocabulário do Século XIX, como “nigger”, e resolveu fazer as versões politicamente corretas. Fez, vendeu e continua vendendo, já que encontra apoio em várias áreas da sociedade dos EUA para isso. O autor da proeza foi Alan Gribben, professor de inglês da Auburn University, que escreveu, em um artigo no New York Times, “que promoveu o projeto como meio de tornar o texto modificado mais acessível aos leitores mais jovens e ao público em geral”. Uma discussão sobre o assunto está no The Harvard Crimson.
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AS LIVRARIAS QUEREM SE ATUALIZAR?

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Matéria publicada nesta segunda-feira no Estado de S. Paulo relata que as grandes livrarias (no caso, as paulistanas Cultura, Saraiva e Livraria da Vila) estão desenvolvendo um esforço especial para a melhoria de suas operações na internet, em detrimento da expansão da rede física.

Vamos tentar ver isso mais de perto.

Quando a Amazon foi lançada, anunciava-se como a maior livraria do mundo, disponibilizando mais de um milhão de títulos. Certamente não tinha nada disso em seu estoque. Jeff Bezos constatou o óbvio: as livrarias podem trabalhar com o estoque das editoras, que lhes dão prazo e o desconto que proporciona a margem.

Só que, no caso das livrarias físicas, o livreiro deve sempre fazer o balanço entre os títulos que vendem com mais rapidez, os best-sellers, e uma seleção, dentro do milhão de títulos disponíveis nos catálogos das editoras, daqueles que acham que pode dar a “cara” da loja. E aí, sim, montar o sortimento da livraria, seu estoque.

A Amazon não precisava disso. O investimento foi dirigido basicamente para permitir que os clientes achassem os livros que desejavam no meio da cornucópia de títulos oferecidos. O resto é história. Até hoje a Amazon só mantem em seus centros de distribuição a quantidade de títulos que seus cálculos determinam que podem ser vendidos no período que vai entre o pedido do comprador e a entrega do exemplar pela distribuidora ou pela editora.

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AMAZON – Abominada, detestada e amplamente usada

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Esta semana a Amazon anunciou (nos EUA) o lançamento de um acessório de streaming de programas de televisão, para competir com a Apple e outros fabricantes desse tipo de coisas. Mais barato. E soube-se também, extraoficialmente, que a loja brasileira vai começar a vender livros físicos nas próximas semanas. A empresa nem confirmou nem comentou a notícia sobre a filial brasileira, como é seu hábito. Jamais faz isso e sempre parte para os fatos consumados.

Já escrevi por aqui alguns posts comentando determinados aspectos da operação “amazoniana”. Depois de ler, em inglês, The Everything Store- Jeff Bezos and the Age of Amazon, do Brad Stone, soube também que a tradução brasileira acabou de ser lançada, pela Intrínseca (olhem só, a edição brasileira é mais barata que a original na loja Kindle, o que não é algo muito frequente), e resolvi consolidar algumas observações.

No discurso inaugural da London Book Fair, esta semana , o autor Anthony Horowitz (autor de uma série infanto-juvenil muito popular em inglês, com alguns títulos em português, e de um romance em que faz renascer Sherlock Holmes), disse em seu discurso que eles são “realmente uns cretinos do mal, que eu abomino e temo, mas que, é claro, uso o tempo todo”. Talvez tenha dado, com a frase, uma definição sucinta do sentimento de muita gente que trabalha e pensa sobre a indústria editorial. Os clientes que não são dessas categorias simplesmente “usam o tempo todo” a Amazon.
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Um abril para não esquecer

Essa coisa dos anos “redondos” às vezes é muito chata. Mas há momentos em que se torna importantíssimo lembrar de coisas, principalmente por aqui na Pindorama, com essa história de que se esquece tudo.

Outro dia, na academia, meu instrutor, que é um jovem aí dos trinta e poucos anos, acabou puxando pelo assunto da Ditadura. Acontece que eu tenho a coluna detonada, já operei uma hérnia de disco e agora apareceu outra. Uma nutricionista iridóloga, Célia Mara Melo Garcia, depois de me examinar, perguntou se, aí pelos meus vinte anos, eu havia sofrido uma queda, um “trauma forte”. Respondi que sim, mas que não havia sido queda. Foi tortura, por eu ter sido preso político precisamente entre os 21 e os 23 anos. Isso aparece na minha íris, segundo ela, como um achatamento.

Bom, contei essa história para o instrutor, e comentei que achava que pelo menos uma parte dos problemas da minha postura e de má articulação corporal vinham dessa época. Para que ele entendesse o que, talvez, fosse parte do meu problema e das dores que eventualmente aparecem. Bom, a aula inteira seguiu nessa toada, ele querendo saber detalhes não sobre minha vida, mas sobre a Ditadura. Claro que falei o que pude naquele tempo, e tenho certeza de que o assunto vai voltar.

É um exemplo da importância da Comissão da Verdade e, a propósito, do tanto que o assunto apareceu na imprensa nesses dias. A maior parte da população do país não viveu aqueles anos, ou era criança na época. Ótimo para eles não terem passado pelo que minha geração sofreu.

Foi bom não terem passado pelos sofrimentos, pelo medo, pela alienação brutal do “milagre econômico” e as ilusões do Brasil Grande. Mas pena que também não tenham vivido a efervescência cultural, principalmente de 1968. Isso também merece ser lembrado, até para se entender o nojo que provocaram as atitudes de algumas pessoas que foram fantásticas naquela época, e ano passado se uniram ao obscurantismo lavignesco. Mas isso, deixa pra lá.
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O MUNDO GIRA

Duas notícias sacudiram o mercado editorial brasileiro nos últimos dias.
logo amazon.br
A mais importante, no meu entender, foi o convênio entre o MEC e a Amazon para que essa última converta e coloque o conteúdo digital na plataforma Kindle de mais de 200 livros didáticos. O acordo não é exclusivo, de modo que, em tese, outras empresas podem fazer o mesmo trabalho. De qualquer maneira, essa conversão e distribuição saem gratuitas para o MEC.

A segunda notícia foi a venda, pela PRISA espanhola, de todos os selos não didáticos da Santillana para a Penguin Random House, a gigante que resultou da fusão de negócios entre a Pearson inglesa e a Bertelsmann alemã. Assim, todos os selos da Santillana no Brasil, inclusive a Objetiva (Roberto Feith vendeu sua participação minoritária para os novos donos). Mas o negócio não inclui somente o Brasil. São todos os selos da Santillana na Espanha e no resto do mundo.

Primeiro, o caso MEC/Amazon.
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LISTAS RELÂMPAGOS E LISTAS PENSADAS

anúncio fantasma Digital

Na Internet de vez em quando começam umas brincadeiras de listas. Uma das últimas que apareceu foi de “lista relâmpago” de livros preferidos. Já havia feito até algumas anotações, pois quem pediu foi a Maria José, que pode pedir mandando.
Mas depois fiquei pensando – o que é sempre coisa perigosa – que era melhor fazer uma lista “pensada”. Afinal, já tenho certa quilometragem de leituras. E mais, pensei. Se eu fizesse essa lista vinte anos atrás, o que eu incluiria? E o que ainda posso incluir daqui pra frente? Ainda não entrei nessa de reler o que gosto (embora de vez em quando faça isso).
Assim, cada lista é um exercício de lembranças de diferentes momentos da vida, e às vezes é bom lembrar. Além do mais, lista pensada (e comentada) permite o truquesinho de acrescentar mais alguns títulos.

Então, vamos lá.

1 – Monteiro Lobato. Claro. Acho que não há leitor da minha geração que não tenha Lobato entre os autores preferidos da infância e início da adolescência. Mas, qual Lobato? É claro que gosto das Reinações de Narizinho. Mas a verdade é que eu curtia mesmo eram os livros “paradidáticos” do Lobato. Todos: Aritmética da Emília, Emília no País da Gramática, Geografia de Dona Benta (lembro de uma impagável conversa de D. Benta e sua turma com o então presidente Roosevelt, no qual este menciona as “34 universidades americanas” e D. Benta lamenta não haver nenhuma no Brasil; queria ver como ficou a visita às colônias portuguesas na China e na Índia, e pensar como os politicamente corretos ainda não caíram de pau nisso). O Poço do Visconde é uma misturada danada: o Pó de Pirlimpimpim faz os dólares caírem na cabeça do fornecedor gringo para pagar os equipamentos, o Visconde dá um quinau no geólogo gringo… Há também a Reforma da Natureza e A Chave do Tamanho. Taí, Lobato inventou a literatura fantástica brasileira com aquelas maluquices. Do que me lembro mais são Os Doze trabalhos de Hércules. Como gostei daquele livro. Então, pronto, o primeiro título é Os Doze Trabalhos de Hércules. Os demais ficam de apêndice, e podem por O Minotauro de contrapeso.
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Bibliotecas virtuais: iniciativas, perspectivas e problemas

No última quinta-feira, dia 13 de fevereiro, fui assistir à apresentação do modelo de Biblioteca Pública virtual que está sendo lançado pela Xeriph. Há duas semanas, Galeno Amorim anunciou o próximo lançamento de um projeto de bibliotecas virtuais para bibliotecas escolares, e nos últimos dias a joint-venture da Saraiva, GEN, Atlas e Grupo A anunciou nova versão do modelo de seu programa Minha Biblioteca, que já está com três anos de vida.

Por outro lado, pipocam notícias sobre várias alternativas de aluguel e empréstimo de livros eletrônicos. A Amazon tem um serviço que funciona entre proprietários do Kindle e startups como a Oyster e outros almejam se tornar a “Netflix” dos livros. Como se sabe, a Netflix é um sistema de assinatura que permite o streaming de uma seleção já bastante extensa de filmes, séries de TV e congêneres.

Todas essas iniciativas possuem algo em comum, e imensas diferenças entre si.
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