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PNBE – NÃO PODE HAVER RETROCESSO

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O Programa Nacional de Biblioteca na Escola – PNBE está, aparentemente, em risco de não existir este ano. A frase vai no condicional pois, como disse Ana Maria Machado em artigo recente n’O Globo, a falta de transparência e indefinição obscurecem a situação.

Os programas de aquisição de livros do Governo Federal – que remontam à década de 60 – abrangem hoje uma gama bastante variada de livros para diferentes públicos. O maior e mais conhecido é o PNLD – Programa Nacional do Livro Didático. Além desses, temos o PNLEM – Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio, o programa para aquisição de livros para os cursos de jovens adultos (o antigo madureza), e várias versões do PNBE: geral, temática, para professores. O PNLD é o menos ameaçado, ao que se comenta, até porque, como é cíclico, este ano haverá aquisição apenas para reposição para novos alunos.

Esses programas todos tiveram uma ampla evolução desde seu início. O PNLD começou com a aquisição de coleções escolhidas por “comissões” e, nesse período, os escândalos se sucederam. Os livros não eram aceitos pelos professores, chegavam atrasados nas escolas (quando chegavam) e a escolha sofria “influências” as mais escusas.

O PNBE, iniciado na gestão Paulo Renato no MEC, também começou mal. Uma primeira coleção, também selecionada por “sábios” de várias áreas, incluiu as obras completas do Pe. Vieira, edições do Uraguai, do Basílio da Gama e outras pérolas da erudição que fazem bonito nas bibliotecas de eruditos, mas que são rigorosamente inúteis nas escolas de ensino fundamental. Daí passou para umas coleções formatadas homogeneamente que seriam entregues aos alunos. Até hoje se encontram dessas coleções nas bancas de usados e sebos das cidades.

A última versão do programa escolhia títulos variados, mantendo seus formatos e ilustrações originais. Na minha opinião, é melhor que as anteriores, mas podia melhorar ainda mais, com uma ampliação da variedade dos títulos enviados, de modo a formar uma verdadeira biblioteca na escola.

Dito seja de passagem, existe legislação prevendo a necessidade de que todas as escolas de ensino fundamental e de ensino médio do país tenham bibliotecas escolares. Como não se prevê nenhuma sanção para os prefeitos e secretários que não cumprem essa exigência, a lei é mais um exemplo dessas que são feitas “para inglês ver”.

De qualquer maneira, é crescente a consciência de que o ensino de qualidade depende da oferta de livros de literatura – ficção e não ficção – para além do currículo escolar, superando o desenho utilitarista dos currículos e deixando claro que, para haver um domínio correto do idioma, é preciso ler, ler muito e títulos variados. É lendo que se aprende a escrever, e que se desenvolvem as habilidades cognitivas para a absorção de todas as outras matérias.

Só que esse esforço de aperfeiçoamento parece correr o risco de ir para o ralo, a pretexto das dificuldades orçamentárias e do ajuste fiscal.

Não vou discutir aqui a importância e a necessidade do ajuste. A continuidade da crise internacional provocada pela rapacidade e irresponsabilidade da banca internacional vem assumindo novas formas. Medidas que foram eficazes em um primeiro momento precisam ser reformuladas, e sem dúvida o equilíbrio das contas públicas é necessário.

A questão, como sempre é: quem paga a conta?

Para além das proposições genéricas de quem pariu mateus que o embale – ou seja, os banqueiros especulativos é que devem pagar a conta de sua rapacidade – é importante ter em mente a seletividade dos cortes nos gastos públicos.

O dilema dos administradores das finanças nacionais é sempre grande, pois sempre falta dinheiro para alguma coisa, e todo mundo defende suas prioridades.
No caso da educação, duas grandes questões se colocam: a remuneração decente dos professores e as condições de ensino.

Ora, os meninos que não lerem agora os livros de literatura, não os lerão depois. Não há como “reconquistar” essa perda na qualidade do ensino. E as consequências disso serão certamente trágicas. Vão desde as questões mais concretas da qualificação dos trabalhadores até questões mais profundas e decisivas para a criação de um estado democrático e de uma sociedade que seja menos injusta. O acesso ao livro e a qualidade da educação não são recuperáveis para as crianças que estão em idade escolar. Essa será, portanto, uma perda irreversível.

Perda que o país não pode suportar, não deve suportar. E que a cabeça dos tecnocratas não percebe. É preciso contrapor à frias matemática financeira uma visão humanista e estratégica das necessidades do país. Que vão além da crise momentânea. E que exigem a melhoria da educação.

Triste é constatar que editores só estão vendo o assunto desde o ponto de vista da perda de renda e instabilidade das editoras. Isso é certo, evidentemente. Mas é desvalorizar o papel social das editoras, dos escritores e do livro nas escolas pensar exclusivamente dessa maneira.

Professores, escritores, ilustradores e editores precisam se mobilizar para evitar que essa tragédia se concretize. Só dessa maneira é que pode haver esperança de evitar a desgraça que é representada pela ausência de livros nas escolas.

DOM QUIXOTE CONTINUA VIAJANDO E AGORA PODE SER LIDO EM QUÉCHUA

capa quijote quechua
“Huh kiti, La Mancha llahta sutiyuhpin, mana yuyarina markapi”

Não se espante, prezado leitor. Trata-se apenas da primeira frase do famoso livro Yachay sapa wiraqucha dun Qvixote Manchamantan. Não conhece? Não sacou o Quixote aí no meio?

Pois é mesmo O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de la Mancha, traduzido para a língua que os contemporâneos de D. Miguel de Cervantes massacraram e escravizaram lá nos cocorutos de uma cordilheira tão longe das planícies manchegas que ao engenhoso Dom Quixote pareceriam ser obras dos gigantes, ou talvez um sonho da garbosa senhora Dulcineia del Toboso. Pois agora o quéchua ganhou uma tradução do grande romance.

Don Demétrio Túpac Yupanqui, o tradutor
Don Demétrio Túpac Yupanqui, o tradutor

O senhor Demétrio Túpac Yupanqui, com 91 anos de idade, completou a tradução do romance de Cervantes. É professor de quéchua em Lima. Zevallos-2 A edição é enriquecida com ilustrações de um artesão de San Juan de Sarhua, povoado de Ayacucho conhecido pela produção de retablos e com uma tradição de ilustradores muito forte.

Conta dom Demétrio que fez a tradução a instâncias de um jornalista basco que o visitou no Cuzco, há alguns anos, e lançou o desafio. Para enfrentar a tarefa, consultou dicionários antigos de castelhano, catecismos e sermonários.

O romance de Cervantes viajou para a América logo depois de publicado. Na Apresentação da edição comemorativa do IV Centenário de sua publicação, a Real Academia de la Lengua informa que “fresca todavía la tinta de la impresión del Quijote, en la primera mitad de 1605 salieron para America cientos de ejemplares de la novela. Irving Leonard cuenta como doscientos sessenta y dos fueron, a bordo del Espíritu Santo, a México, y que un librero de Alcalá, Juan de Sarriá, remitió a um socio de Lima sessenta bultos de mercancia que viajaron en el Nuestra Señora del Rosario a Cartagena de Indias y de ali a Portobello, Panamá y El Callao hasta legar a su destino”.

Já comentei a importância das traduções para que o livro “viaje”. Traduções que acompanham o trabalho dos editores, aqui.

Com a tradução para o quéchua, a viagem do
Engenhoso Fidalgo cumpre mais uma etapa de seu reconhecimento mundial.

Veja aqui a notícia publicada em um jornal limenho e aqui, via YouTube, uma entrevista com o tradutor para o quéchua.

O curioso é que, pesquisando para redigir este post, acabei achando outra versão em quéchua da obra de Cervantes. O quéchua possui várias vertentes dialetais, algumas já bastante distantes do original cusquenho, frutos da dispersão geográfica que já era promovida pelos próprios Incas. Com a extinção do império e o isolamento de algumas dessas comunidades, essas versões foram surgindo à tona e apresentando dificuldades várias para o estabelecimento de um alfabeto e gramática unificados. É uma polêmica que continua viva entre linguistas. Os que falam quéchua, falam o seu e pronto.

quixiote santiago Aqui, por exemplo, temos uma tradução para a versão de Santiago del Estero, no noroeste argentino.

Agradeço a meu amigo José Bessa o envio do recorte do jornal peruano com a notícia.

RAUL WASSERMANN, EDITOR E DIRIGENTE VISIONÁRIO DO SETOR

Raul Wassermann é editor, fundados da Summus (onde publiquei meu livro O Brasil Pode Ser um País de Leitores? – Políticas para a Cultura, Políticas para o Livro) e foi presidente da CBL por duas gestões.

Ao final dessas gestões, com a posse de Oswaldo Siciliano, encerrei minha participação na entidade, depois de mais de uma década.

A matéria de Ivani Cardoso, publicada n’A Tribuna, de Santos, atualiza as opiniões do Raul sobre sua trajetória e o mercado editorial.

Raul Wassermann é meu amigo.

Raul Wassermann fala sobre o mercado literário

Ivani Cardoso – A Tribuna – 04/05/2015

Sempre gostei muito de conversar com o editor Raul Wassermann, do Grupo Summus, de São Paulo, uma editora criada há 40 anos, com sete selos e mais de 1500 livros publicados, vários há décadas no catálogo. Raul tem a universalidade do pensamento para falar sobre qualquer assunto com interlocutores de diferentes idades e ideias. E um conhecimento grande do mercado editorial que vem passando por grandes transformações.

Raul nasceu em Santos, mas com 17 anos mudou-se para São Paulo e só raramente volta à Cidade. Foi presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), realizou duas bienais de grande sucesso (2000 e 2002) e diariamente está na editora, embora nesses últimos tempos com horários menos rígidos. “Sempre gostei do que faço, mas agora estou um pouco cansado. Peguei o fim de uma época de implantação da indústria editorial no Brasil, a grande profissionalização. Havia menos editoras, mais livrarias, mais leitores, menos concorrência de outras mídias. O dia continua tendo 24 horas e você tem Internet, televisão, não dá tempo para se atualizar”.

Mas atualizado Raul sempre foi. Quando começou com a Summus, não teve medo de se arriscar. Lançou títulos inusitados e de retorno financeiro duvidoso para atender a leitores que buscavam informações sobre novos campos do conhecimento em ciências e humanidades. Desde o início quis ter uma editora com perfil multidisciplinar. “Não ia atrás de livros de sucesso, mas de livros que tivessem leitores interessados”. Casado há 25 anos com Edith Elek Wassermann, jornalista e tradutora, Raul hoje em dia quer mais tempo para atividades que possam trazer prazer.

O perfil da Sumus mudou nos últimos tempos?

Continua o mesmo, mas muita coisa mudou no editorial atual. Aumenta o número de alunos nas faculdades, mas as tiragens continuam as mesmas. Todo mundo continua dizendo que o livro é caro, eu também acho, mas o Brasil é caro. Na Espanha, as livrarias tradicionais também estão diminuindo, é um fenômeno mundial. O mercado está sendo tomado pelas grandes redes e elas são administradas com a filosofia do supermercado: girou fica, não girou sai da prateleira.

Com 15 a 20 mil livros novos por mês, como você consegue manter uma editora? Para se adequar a esse ano considerado difícil, prevê mudanças?

No ano passado, publicamos cerca de seis livros por mês, e em 2015 vamos chegar à metade, três por mês. Talvez em alguns meses um a mais que, na verdade, será reedição de obras mais antigas totalmente revistas. Nossa sorte é que aí a Internet veio para ajudar. Nossos maiores clientes são operações de e-commerce. Nosso leitor sabe buscar na Internet o que quer. Nas grandes redes você se perde e não acha o que deseja. Dos dez maiores clientes nossos, dois são grandes redes e dois são grandes operadoras de e-commerce.
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MARCO ZERO – APROPRIAÇÕES SEM RECONHECIMENTO

Perder o controle da Marco Zero, editora que fundamos – Maria José Silveira, Márcio Souza e eu – é um trauma de difícil recuperação. Fomos obrigados a sair da sociedade pelos sócios majoritários que conseguimos no meio do caminho e que, depois de sairmos, enterraram a editora. Hoje, o selo só existe para publicar alguns títulos de aluguel e alguns dos livros de cozinha que havíamos lançado.

É da vida. Paciência.

Mas quando alguém passa informações erradas sobre títulos que publicamos, aí eu fervo.

No PublishNews de hoje havia uma nota sobre o lançamento de um novo romance do Peter Schneider, “Berlim, agora – a cidade depois do muro”, dizendo que seu primeiro romance, “Os Saltadores do Muro”, nunca havia sido publicado em português.

Bem, mandei um e-mail para o PN, alertando para o equívoco, e o editor retirou essa última observação

Mas, no site da Rocco, a editora, é o que está:

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Dupla desinformação. O título original do romance, em alemão é Der Mauerspringer. Se é para colocar informações sobre o título original, é sempre bom ir além da edição em inglês da Wikipedia… Dizer que o original do romance é “The Wall Jumper” não é legal.

Mas o pior é que “Os Saltadores do Muro” já foi publicado aqui no Brasil, pela Marco Zero, ainda nos anos 1980. Só para informação:

saltadores do muro058 (2015_01_15 01_29_24 UTC)

Até na Estante Virtual existem exemplares à venda:

estante saltadores

Para os que desejarem saber mais um pouco sobre a editora, já publiquei dois posts aqui no O Xis do Problema: Marco Zero – Ladeira da Memória  e Marco Zero – Ladeira da Memória II.

SALON DU LIVRE – IGUAL AOS OUTROS, MAS DIFERENTE

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O Salon du Livre de Paris, que este ano homenageou o Brasil e serviu de palco para apresentação de dezenas de autores brasileiros, mesas redondas, apresentações várias – e permitiu que vários autores viajassem para outras cidades, como extensão da programação – é uma feira que, sob muitos aspectos, é bem parecida com nossas bienais. Mas com algumas diferenças marcantes.

Estive ali para participar de dois eventos. O primeiro foi uma mesa redonda para apresentação do programa Conexões Itaú Cultural – Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira,  do qual sou um dos curadores, juntamente com o Professor João Cezar de Castro Rocha, que também estava presente em Paris. A segunda atividade foi a mesa redonda de apresentação do número 6 da Machado de Assis Magazine,   publicação co-editada pela Biblioteca Nacional e o Itaú Cultura, da qual sou o editor.

Foram duas mesas interessantes. Na primeira, além do Prof. João Cezar e de mim, contamos com a presença do Professor Pierre Rivas, da Université Paris X – Nanterre. A surpresa foi verificar a sala – dentro do estande brasileiro – completamente lotada. Eram quase oitenta pessoas, entre brasileiros que moram na França e franceses estudiosos ou interessados na cultura brasileira, inclusive vários dos mapeados do programa, como Rita Olivieri- Godet, Saulo Neiva, François Weigel e Michel Riaudet, além de outros que se prontificaram a responder ao questionário online do programa. Francamente, em eventos no Brasil, a presença nesses tipos de apresentação é geralmente bem menor.

Apresentamos aspectos gerais do programa, e das atividades do Itaú Cultural na promoção da literatura e da cultura brasileira no exterior, além de dados já extraídos de informações do banco de dados online.

Na segunda mesa, depois da abertura oficial feita pelo Ministro Juca Ferreira, apresentamos o número 6 da Machado de Assis Magazine. Além de textos em inglês e espanhol, esse número apresentou excertos de autores brasileiros também em francês. A mesa contou com a presença do Presidente da FBN, Renato Lessa, de Jefferson Assumpção, Diretor da área de Livros, Leitura, Literatura e Bibliotecas do MinC, e do escritor Fernando Morais, que já teve excerto publicado em um número anterior da Machado de Assis Magazine.

Depois de participar das duas mesas, ainda na sexta-feira e no sábado, percorri o Salon para observar as presenças e suas características.

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INDEX TRANSLATIONUM – UMA LACUNA QUE PODE SER IRREPARÁVEL

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Quando confirmei minha ida a Paris para o Salon do Livre, onde participaria de uma mesa-redonda sobre o Conexões Itaú Cultural – Mapeamento Internacional da literatura Brasileira,  e do lançamento do número 6 da Machado de Assis Magazine, imediatamente pensei em fazer uma visita à sede da UNESCO para conhecer melhor o Index Translationum,  o local onde se armazena a bibliografia mundial da tradução. É um instrumento que tenho usado com certa frequência.

A Index Translationum é uma compilação, fornecida pelas bibliotecas nacionais dos países membros da UNESCO, das traduções publicadas anualmente nos respectivos países. A Biblioteca Nacional do Brasil informa os títulos traduzidos e publicados aqui, de autores de todo o mundo, em todos os gêneros, e assim respectivamente. O Index completou oitenta anos em 2012. Como tal, é mais antigo que a própria UNESCO, e durante décadas foi impresso anualmente em papel.

Em uma das minhas últimas consultas, verifiquei que a Biblioteca Nacional estava atrasada no envio de dados. Durante reunião no Rio de Janeiro relacionada com a Machado de Assis Magazine, mencionei o fato à Moema Salgado, Diretora do Centro de Cooperação e Disseminação, que entrou em contato com Liana Amadeo, Diretora do Centro de Processamento e Preservação, que providenciou o envio da atualização.

Quando minha viagem foi marcada, consegui agendar um encontro com Marius Tucaj, o responsável pelo Index, através de nossa representação junto à UNESCO. O Sr. Tucaj me respondeu com presteza, informando que o Index estava desativado, mas se prontificando em me receber. Desse modo, quando recebi o e-mail da Liana Amadeo me informando da suspensão, informada pela resposta recebida do Sr. Tucaj, já sabia da desgraça, mas estava com a reunião marcada e ciente do fato.

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A Fundação Biblioteca Nacional anuncia seleção de autores para o número 6 da Machado de Assis Magazine a ser lançada em Paris.

O conselho editorial acaba de selecionar os trechos de livros dos 22 autores que compõem o sexto número desta publicação, realizada em coedição com o Itaú Cultural, a ser apresentada ao público na abertura do 35º Salão do Livro de Paris, onde o Brasil é o país homenageado.

machado 6 capa Na sexta-feira 20 de março, das 12h às 13h, a Machado de Assis Magazine – Literatura Brasileira em Tradução nº 6 será apresentada no estande do Brasil no 35º Salão do Livro de Paris, com uma mesa formada pelo presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Renato Lessa; o diretor de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (DLLLB) do Ministério da Cultura, Jefferson Assumpção, e o escritor Fernando Morais, com mediação do editor da revista, Felipe Lindoso.
Eis a lista dos 22 textos de autores selecionados para o número 6 da Machado de Assis Magazine:

 

Alexandre Staut  Jazz Band na Sala da Gente

 

 Une bande de Jazz dans Notre Salon Romance Francês
Antonio Vieira  Sermão da Quinta Quarta-Feira de Quaresma  Sermon du Cinquième Mercredi de Quarême Clássico Francês
Bernardo Ajzenberg  Minha Vida sem Banho

 

 MaViesansDouche Romance Francês
Carlos Henrique Schroeder  As Fantasias Eletivas

 

 LasfantasíasElectivas Romance Espanhol
Christiane Tassis

 

 Sobre a Neblina  Throughthe Fog Romance Inglês
Eliana Cardoso

 

 Bonecas Russas

 

 PoupéesRusses Romance Francês
Estevão Azevedo  Tempo de Espalhar Pedras

 

 Time To Cast Away Stones Romance Inglês
Eugenia Zerbini

 

 As Netas da Ema

 

 LesPetites-filles d’Emma

 

Romance Francês
Flávio Cafiero

 

 Dez Centímetros Acima do Chão

 

 Ten Centimeters Above the Ground Conto Inglês
Helena Gomes

 

 Assassinato na Biblioteca

 

 Murder in the Library Infanto-juvenil Inglês
Henriqueta Lisboa

 

 O Menino Poeta  The Poet Boy Poesia Inglês
João Alphonsus

 

 Foguetes ao Longe

 

 Skyrockets in the

Distance

Conto Inglês
João Anzanello Carrascoza

 

 Aos 7 e aos 40

 

 A los 7 y a los 40 Romance Espanhol
José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta

 

 Chapeuzinhos Coloridos  Little Ridinghoods Infanto-juvenil Inglês
Luciana Hidalgo  O Passeador

 

Extrait d’O passeador Romance Francês
Mércia Maria Leitão e Neide Duarte

 

 Formas e Cores da África

 

 Formes et Couleurs de l’Afrique Infanto-juvenil Francês
Miguel Sanches Neto

 

 A Máquina de Madeira

 

 The WoodenMachine Romance Inglês
Noemi Jaffe  O que os Cegos Estão Sonhando?

 

 What are the Blind Dreaming of? Romance Inglês
Rodrigo Garcia Lopes

 

 O Trovador  The Troubadour Romance Inglês
Sérgio Tavares  Queda da Própria Altura Conto: Se Desvanecen los Barcos Conto Espanhol
Silviano Santiago  Mil Rosas Roubadas  Prospector Romance Inglês
Veronica Stigger  Opisanieświata  Opisanieświata Romance Inglês

A revista estará online no dia 20 de março, no site www.machadodeassismagazine.bn.br onde poderá ser feito o download dos arquivos e da revista completa.

DISTRIBUIÇÃO E “DESCOBERTABILIDADE”* DE LIVROS – A TRAGÉDIA VIROU FARSA

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A Professora Rita Olivieri-Godet ensina na Université de Rennes 2, na França. É mapeada no projeto Conexões Itaú Cultural – Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira,  e a conheci pessoalmente no Fórum das Letras, em Ouro Preto. Ela esteve há poucas semanas no Brasil, lançando seu livro “Viva o Povo Brasileiro: a ficção de uma nação plural”.

Pois bem, no último dia 8 de março, recebi o seguinte e-mail da professora Rita Olivieri-Godet:

“Estou lhe escrevendo porque fiquei sabendo que você virá para o Salon du livre agora em março.
Quando estive no Brasil recentemente, eu procurei mas não consegui comprar o romance de Maria José Silveira, “Guerra no coração do cerrado”. Como venho trabalhando sobre a representação dos índios na literatura contemporânea este romance me interessa muito. Encomendei na Livraria Cultura de Salvador e até agora nada, embora eles tenham garantido que vão me enviar e eu já tenha pago a encomenda e o envio inclusive.

Então, se houver alguma possibilidade de você me trazer um exemplar eu o comprarei e quando o meu chegar colocarei na biblioteca da Université Rennes 2. Se não for possível, continuo aguardando (im)pacientemente o exemplar que encomendei na Cultura, não tem problema, não se sinta obrigado, estou apenas tentando ver se recebo o livro o mais cedo possível”.

O livro, lançado pela Record em 2006, recebeu excelentes resenhas, e seguiu seu destino.

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TORELLI – A CBL IRÁ BUSCAR UM MAIOR PROTAGONISMO

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O editor Luís Antonio Torelli, da Trilha Educacional, será eleito presidente da CBL na eleição para o Biênio 2015-2017, por chapa única, que acontece amanhã. Torelli, que já tem uma longa carreira no mercado editorial e foi presidente da ABDL – Associação Brasileira de Difusão do Livro, já participou das últimas diretorias da entidade que reúne editores, livreiros e distribuidores.

Depois da confirmação da inscrição de sua chapa “Mais livros em todos os sentidos”, entrevistei o novo presidente da CBL. Abaixo, suas principais declarações. Eventuais comentários meus aparecem em itálico.

Torelli é uma pessoa afável – como é necessário em sua vida de bom vendedor de livros – e vem construindo seu pensamento sobre os problemas da entidade já há vários anos, inclusive como representante da CBL no Conselho Nacional de Política Cultural e na CNIC. Declarou-se como uma pessoa de diálogo, disposto a conversar para alcançar consensos nas ações que pretende desenvolver à cabeça da entidade.

Tanto a afabilidade quanto o diálogo reforçam sua posição, muito clara: a necessidade de aumentar o protagonismo da entidade não apenas nas discussões, mas nas propostas e nas ações relacionadas com as políticas para o livro e a leitura no Brasil.

Quando perguntado sobre um dos pontos chaves de sua plataforma, a de que a administração do PNLL poderia ser feita “por uma ou mais organizações sociais”, Torelli elaborou a resposta a partir das discussões sobre a criação do fundo para o desenvolvimento das bibliotecas e programas de leitura, que havia sido acordada quando da promulgação da desoneração das editoras, já lá em 2003.

“Há uns dois ou três anos chegou a ser feita uma proposta para arrecadar esses recursos, em um mecanismo parecido com os do Sistema S. O Ministério da Fazenda argumentou que o custo que teria para arrecadar seria maior que o resultado. Isso colocou uma pá de cal no assunto, e a partir daí não aconteceu mais nada. O Instituto Pro-Livro não arrecada mais nada, também está parado. A proposta de usar uma OS para gerir recursos para o PNLL vem um pouco daí.

Você sabe que as mudanças na administração dos órgãos relacionados com o livro no governo federal paralisaram as discussões sobre qualquer coisa por mais de um ano, inclusive no CNPC. Quando coloco a necessidade e a importância da CBL ser mais protagonista nas questões das políticas para o livro e da leitura, isso vem um pouco daí. Nosso setor não pode mais ficar dependente de que essas coisas aconteçam no ritmo da administração pública, que é determinado por circunstâncias que dizem respeito a todo país. Então, temos que tomar iniciativas. Pois, quando fazemos isso, as coisas podem começar a acontecer. Existem coisas que a CBL pode fazer e não dependem do governo. E outras, quando se leva uma proposta com começo, meio e fim, podem romper impasses. O que não dá é para ficar só na plateia, assistindo as coisas. Temos que encontrar os caminhos e apontar soluções, através do diálogo e do consenso.”

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Novos modos de publicar traduções

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Rebecca Carter

Rebecca Carter é agente na Janklow & Nesbit e publicou este artigo no portal Publishing Perspectives, no dia 5 de janeiro de 2015.

Quando me pediram para escrever este artigo, havia recém-chegado do Harrogate Crime Writing Festival, onde assisti a um painel sobre auto publicação. Um grupo de escritores de romances policiais havia auto publicado com sucesso seus livros e debatia os prós e os contra. Havia muitos prós. Eles tinham um relacionamento muito direto com seus leitores, que alimentavam com cuidado. Alguns deles realmente haviam ganho bastante dinheiro. De fato, um deles, depois de haver sido selecionado pela HarperCollins depois do sucesso de sua auto publicação, estava tão desiludido com a experiência (e muito endividado) que voltou para auto publicação. Todos compartilhavam três coisas em comum: passaram anos tentando ser editados pelo caminho convencional; acreditavam profundamente na importância central de um relacionamento editorial (se havia algo que os levaria de volta para a edição tradicional, seria isso); o sucesso deles devia-se totalmente à ferramenta de auto publicação do Kindle, da Amazon. Era como se não existisse qualquer outra forma de auto publicação. A maior parte deles havia começado auto publicar por volta de 2011, pouco depois do lançamento do Kindle no Reino Unido, que levou a um aumento da fome por e-books. O que haviam descoberto era que, manipulando o preço dos seus e-books para torná-los extremamente baratos (ou até mesmo gratuitos), podiam atrair uma grande quantidade de downloads, melhorando assim sua posição nas quantificações do Kindle e atraindo a atenção dos leitores. Isso então se transformou em auto sustentação.

Rebecca Carter é agente literária.
Rebecca Carter é agente literária.

Para todos apaixonados por ter livros estrangeiros em inglês – seja seus vendedores de direitos, tradutores ou autores – existe a tentação, quando encontram resistência dos editores, de tomar as coisas em suas próprias mãos. De alguma maneira, isso vem acontecendo já faz algum tempo. Os tradutores fazem muito lobby junto aos editores sobre livros em particular; autores e detentores de direitos encomendam longos excertos de tradução para convencer os editores a assumir os riscos; pequenas editoras independentes surgiram especializadas em tradução. Entretanto, nos últimos anos, aumentaram as oportunidades para o “faça você mesmo”. Em uma era na qual a editoração está se redefinindo, isso é tão excitante quanto desafiador.

A Amazon muda o jogo?

Voltemos a auto publicação da Amazon. Uma das muitas razões pelas quais me tornei agente literária (depois de quinze anos como editora na Random House) foi para ser capaz de experimentar novos meios de publicação – algo que era relativamente difícil como uma pequena engrenagem dentro de uma grande máquina corporativa. Um dos grandes problemas enfrentados pelos agentes literários hoje é em que medida eles se tornam “editores”, ou mesmo se devem fazer isso. Apesar de que, como agente, estar trabalhando com uma quantidade muito menor de autores que não escrevem em inglês do que quando era editora (meu foco principal agora é representar o que melhor se escreve em inglês), no entanto tenho alguns autores que precisam ser traduzidos. E este ano fiquei frustrada por não ter sido capaz de achar uma editora para um romance francês. O entusiasmo pela Amazon desses escritores em Harrogate era tentador. Eu tinha um bom relacionamento com o autor, o tradutor e o editor original desse romance francês. O que me impediria de sugerir uma experiência de auto publicação? Na verdade, naquele mesmo ano eu já tivera uma reunião com um representante do programa “White Glove” da Amazon – esquema com um nome sinistro para agentes ajudarem seus autores a auto publicar e comercializar seus livros na Amazon. Andei brincando com a ideia de tentar isso. Mas havia muitos impedimentos. Auto publicar romances policiais é uma coisa; ficção literária, outra. Aqueles autores de livros policiais confiavam em preços baixos e na popularidade do gênero para lhes oferecer uma plataforma online na qual pudessem começar a criar uma comunidade de fãs; mas eu não conseguia ver leitores de Kindle fazendo fila para, digamos, baixar a tradução de um romance chinês só porque tinha preço baixo ou era grátis. Seria muito mais difícil adquirir visibilidade. E isso antes de qualquer objeção ética ao potencial monopólio da Amazon.

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