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ANÁLISE DE PREÇOS DE LIVROS – NOVIDADES IMPORTANTES E UM ERRO PERSISTENTE

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O SNEL – Sindicato Nacional de Editores de Livros e a Nielsen Bookscan apresentaram seu primeiro Painel das Vendas de Livros no Brasil. Trata-se de uma iniciativa importante e significativa. O Painel da Nielsen Bookscan tem como principal vantagem a medição direta, na boca do caixa, das vendas feitas pelas empresas que instalaram o programa em seus sistemas. Isso elimina a chamada expansão dos dados, mecanismo estatístico que permite inferir o resultado total a partir de uma amostra significativa.

Nesse sentido, temos dados de venda de livros com um grau de confiabilidade muito superior ao da pesquisa antiga feita agora pela FIPE, a partir de iniciativa que começou lá nos anos 1990. Nessa pesquisa – que até agora era iniciativa conjunta da CBL e do SNEL – as editoras preenchem formulários com as informações pertinentes, que são então processadas. São dados, portanto, provenientes dos produtores (editoras), que declaram suas vendas para o governo (em vários níveis) e para o mercado, seja diretamente para as livrarias ou para os distribuidores. Além das vendas, essa pesquisa produz resultados sobre a produção (títulos e exemplares). As vendas para o Governo Federal são precisas – é o FNDE que informa, detalhadamente, a quantidade de exemplares adquiridos e o valor pago.

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Estatísticas e precisões meia-boca

Recebi vários e-mails perguntando se eu não iria comentar a pesquisa de produção editorial feita pela FIPE para a CBL e o SNEL.

Respondi que não. Já escrevi sobre o assunto anteriormente, expressando várias vezes minhas reservas quanto à atual qualidade dessa pesquisa. Além disso, a matéria do Carrenho no PublishNews cobre muito bem vários tópicos do assunto.

Mas a matéria do Carrenho tem um trecho que quero comentar rapidamente. Na entrevista coletiva, ele questionou o economista da pesquisa, Leonardo Müller, sobre a história do preço médio, que teria aumentado de 2011 para 2012. Respondeu Müller ao questionamento:

“A FIPE reconhece a fragilidade do preço médio do livro como um dado estatístico. ‘Não se trata de um índice de preços ou de inflação, é apenas o faturamento dividido pelo número de livros vendidos’, enfatizou o pesquisador Leonardo Müller, coordenador do projeto. ‘O que dá para dizer é que as editoras estão oferecendo livros mais baratos, tivemos os pocket books, por exemplo’, complementou referindo-se aos últimos anos. ‘Não é possível inferir que o preço ao consumidor tenha caído com este dado, embora isto seja bastante possível’, ainda declarou o economista”.

Concordo, em princípio, com as observações do Carrenho sobre o assunto na referida matéria.

Mas acrescento: a resposta lembra um velho ditado, que diz que a estatística é a forma científica de contar lorotas. É mas não é. Não é, mas pode ser.

Não é. Esse “preço médio” inventado pela FIPE é uma invenção sem sentido. Feita a pedido dos editores, que não querem cumprir o negociado e contribuir para o fundo que foi acordado quando da desoneração do PIS/PASEP-COFINS. E a declaração do economista não passa de uma justificativa que não significa rigorosamente nada.

Quem quiser, leia aqui e aqui meus dois posts. O primeiro sobre a tortura que os números sofreram. E o outro exatamente sobre o tal “preço médio”.

As pesquisas e a inércia dos editores brasileiros

No último post apresentei o resumo de uma pesquisa online feita pelo BISG – Books Industry Study Group sobre o comportamento dos consumidores de e-books.

Quero chamar atenção para alguns pontos.

O primeiro é que a pesquisa custa caro. Para ter acesso aos dados cada editor tem que desembolsar mais de seis mil dólares pela assinatura.

O segundo é que é preciso “fazer perguntas” à pesquisa. Qualquer pesquisa não responde automaticamente as questões do objeto pesquisado. Quem tem interesse precisa fazer as perguntas para ver como os dados apresentados respondem à suas inquietações.
Assim, as pesquisas valem a pena. Permitem a formulação de estratégias para as empresas, já que cada uma faz as perguntas que lhe interessam e de modo distinto.

Ora, estamos aqui no Brasil em uma situação estranha.

A Câmara Brasileira do Livro – CBL e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros – SNEL mandaram circulares para os respectivos associados recomendando que preencham o novo questionário da pesquisa de produção e vendas do setor editorial, atualmente feita pela FIPE.

Há meses fiz um post manifestando minha surpresa e inconformidade pelo fato da pesquisa de 2011, que apresentava os dados de produção de 2010, ter modificado as cifras apresentadas anteriormente relativas a 2009.

Sinceramente, esperei que me explicassem as razões dessa atitude. A única explicação que apareceu foi a de que teria havido um “censo” entre as editoras do universo, e que a partir daí modificaram os dados de 2009. Todos os estatísticos com quem conversei concordam comigo que esse não é o procedimento correto, por duas razões:

– Essa atualização do universo de pesquisas deveria ser uma tarefa constante, anualmente se revisando as editoras que o integram, para detectar que novas editoras eventualmente ingressaram no mercado e quais as que fecharam. Assim era feito até 2002 e, aparentemente, negligenciado depois.

– Se constatado uma modificação realmente significativa no universo, o que se deveria fazer era iniciar uma nova série histórica. Isso de “atualizar” um ano que ficou para trás não funciona: e os outros anos? Onde isso iria acabar? O IBGE, por exemplo, que faz pesquisas por amostragem, não “revisa” os dados das PNADs anteriores em função da nova amostragem.

Eu gostaria de estar errado, e que uma instituição como a FIPE fosse capaz de explicar racional e detalhadamente seu procedimento e o justificasse.

Ao contrário, o que aconteceu foi simplesmente a não divulgação do relatório completo dessa pesquisa. Pelo menos, nenhum dos sócios das duas entidades que eu conheço e aos quais perguntei se haviam recebido o relatório completo me disse tê-lo recebido.

E, ao que conste, ninguém reclamou disso nas assembleias ordinárias realizadas nas duas instituições, em janeiro/fevereiro.
Isso fala por si só sobre a importância que os editores dão à pesquisa. Bem, quem não pergunta não consegue respostas. E quem não liga para o que é dito pode comer gato por lebre. É uma pena.