As pesquisas e a inércia dos editores brasileiros

No último post apresentei o resumo de uma pesquisa online feita pelo BISG – Books Industry Study Group sobre o comportamento dos consumidores de e-books.

Quero chamar atenção para alguns pontos.

O primeiro é que a pesquisa custa caro. Para ter acesso aos dados cada editor tem que desembolsar mais de seis mil dólares pela assinatura.

O segundo é que é preciso “fazer perguntas” à pesquisa. Qualquer pesquisa não responde automaticamente as questões do objeto pesquisado. Quem tem interesse precisa fazer as perguntas para ver como os dados apresentados respondem à suas inquietações.
Assim, as pesquisas valem a pena. Permitem a formulação de estratégias para as empresas, já que cada uma faz as perguntas que lhe interessam e de modo distinto.

Ora, estamos aqui no Brasil em uma situação estranha.

A Câmara Brasileira do Livro – CBL e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros – SNEL mandaram circulares para os respectivos associados recomendando que preencham o novo questionário da pesquisa de produção e vendas do setor editorial, atualmente feita pela FIPE.

Há meses fiz um post manifestando minha surpresa e inconformidade pelo fato da pesquisa de 2011, que apresentava os dados de produção de 2010, ter modificado as cifras apresentadas anteriormente relativas a 2009.

Sinceramente, esperei que me explicassem as razões dessa atitude. A única explicação que apareceu foi a de que teria havido um “censo” entre as editoras do universo, e que a partir daí modificaram os dados de 2009. Todos os estatísticos com quem conversei concordam comigo que esse não é o procedimento correto, por duas razões:

– Essa atualização do universo de pesquisas deveria ser uma tarefa constante, anualmente se revisando as editoras que o integram, para detectar que novas editoras eventualmente ingressaram no mercado e quais as que fecharam. Assim era feito até 2002 e, aparentemente, negligenciado depois.

– Se constatado uma modificação realmente significativa no universo, o que se deveria fazer era iniciar uma nova série histórica. Isso de “atualizar” um ano que ficou para trás não funciona: e os outros anos? Onde isso iria acabar? O IBGE, por exemplo, que faz pesquisas por amostragem, não “revisa” os dados das PNADs anteriores em função da nova amostragem.

Eu gostaria de estar errado, e que uma instituição como a FIPE fosse capaz de explicar racional e detalhadamente seu procedimento e o justificasse.

Ao contrário, o que aconteceu foi simplesmente a não divulgação do relatório completo dessa pesquisa. Pelo menos, nenhum dos sócios das duas entidades que eu conheço e aos quais perguntei se haviam recebido o relatório completo me disse tê-lo recebido.

E, ao que conste, ninguém reclamou disso nas assembleias ordinárias realizadas nas duas instituições, em janeiro/fevereiro.
Isso fala por si só sobre a importância que os editores dão à pesquisa. Bem, quem não pergunta não consegue respostas. E quem não liga para o que é dito pode comer gato por lebre. É uma pena.

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