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ÔNIBUS BIBLIOTECA – 80 ANOS DE UMA EXPERIÊNCIA SEMPRE RENOVADA

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Mário de Andrade, cuja morte há setenta anos está sendo lembrada, criou o projeto do Ônibus Biblioteca em 1935, quando diretor do então Departamento de Cultura do Município de S. Paulo, embrião da atual Secretaria Municipal de Cultura. A preocupação de Mário com o acesso da população à cultura é ainda mais antiga, com o estímulo da criação da biblioteca municipal que hoje leva seu nome, ainda na década de 1920, e da Discoteca Municipal, que hoje homenageia Oneida Alvarenga, musicóloga que trabalhou com o autor de “Pauliceia Desvairada”.

O ônibus biblioteca partia de uma premissa simples: “Em vez de esperar em casa pelo seu público, vai em busca do seu público onde ele estiver”. A frase é uma declaração de princípio de uma política cultural voltada para abertura ao público, de proporcionar a todos os cidadãos a oportunidade de ter acesso à leitura, o que muitas vezes lhe é negado por condições econômicas, e também pela situação de intimidação social que as pessoas muitas vezes sentem diante dos grandes prédios de bibliotecas e museus, e também das livrarias.

Como toda iniciativa de política pública, passou por muitos vaivéns nesses oitenta anos. Interrompida em 1942 pela restrição ao combustível na II Guerra Mundial, volta e desaparece mais algumas vezes nesses oitenta anos. Mas, enquadrada dentro do sistema de extensão das bibliotecas, nunca desaparece e renasce de suas cinzas cada vez mais forte.

Ano passado, os doze ônibus biblioteca, que cumprem 72 roteiros mensais, tiveram mais de 600.000 acessos, entre consultas e empréstimos, e matricularam mais de 21.000 novos usuários no sistema municipal de bibliotecas públicas, que agora podem acessar qualquer uma das unidades do sistema. Este ano, até abril, os dados compilados mostram já quase duzentos mil acessos, entre consultas e empréstimos, com quase noventa mil frequentadores.

 

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Os dados foram compilados pelo bibliotecário João Batista de Assis Neto, coordenador do serviço de extensão do SMBP, que inclui o Ônibus Biblioteca e que funciona junto à biblioteca Affonso Taunay, na Mooca (Rua Taquari, 549).

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PASSO FUNDO – O CANCELAMENTO É UMA TRAGÉDIA

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O anúncio do cancelamento da Jornada de Literatura de Passo Fundo, que deveria acontecer este ano, é um fato muito grave, tanto pelo que significa de prejuízo para um projeto vitorioso, como pelas implicações que decorrem dos mecanismos de financiamento da cultura em nosso país.

A Jornada de Passo Fundo é (esperamos que o uso do presente continue válido) um empreendimento de uma universidade particular. A Universidade de Passo Fundo não faz parte nem do sistema estadual nem do sistema federal de universidades públicas. Reconheço que não tenho detalhes sobre o conjunto de suas atividades, nem sobre a avaliação geral de seus cursos.

A Jornada, por sua vez, é uma iniciativa da Tânia Rösing – que acho que já está até aposentada – que a criou há quase três décadas. Muito modesta no início, foi arrebanhando admiradores e apoiadores entre alguns dos principais escritores do país, que colaboram e colaboraram para a organização do evento. Cito, de memória, alguns que já prestaram sua contribuição ao evento, como o Ignácio de Loyola Brandão, o Josué Guimarães e o Deonísio da Silva.

A principal característica da Jornada de Passo Fundo, que a torna única, é que não se trata simplesmente de um evento. Os dias da jornada propriamente dita são precedidos e sucedidos por um trabalho sistemático junto ao conjunto das escolas de ensino fundamental da região, com a leitura dos romances, contos e novelas dos autores convidados (e mesmo dos que não são). O resultado disso, pelo que já tomei conhecimento, é um efetivo aumento da qualidade dos resultados das avaliações pedagógicas na região. Não apenas no domínio do português, como também de outras áreas. Afinal, quem sabe ler e escrever corretamente com certeza tem condições de mostrar desempenho melhor nas várias áreas do conhecimento.

As notícias sobre o cancelamento da Jornada não deram conta da suspensão ou da continuidade desse trabalho junto à rede escolar. Se o cancelamento se refletir também nessa área, seu prejuízo será incomensurável para os jovens da campanha gaúcha.

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POLÍTICAS PÚBLICAS DE LEITURA – 2

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No artigo publicado na semana passada, ainda sobre políticas públicas de leitura, abordei questões relacionadas ao direito ao acesso à cultura e ao PNLL – Plano Nacional do Livro e Leitura. Quero acrescentar apenas mais algumas observações sobre a questão do direito ao acesso. Desta vez, no âmbito das bibliotecas, da mediação da leitura e de sua importância.
Existe uma multiplicidade de correntes e teorias sobre cada um desses aspectos. Os ferrenhos defensores da “contação de história” se unem – ou não – aos que destacam o “papel transformador” do livro. Algo, porém, existe em comum a todos esses que eu chamo de “leiturólogos”: a ênfase na importância de que se leiam os “bons livros”, os “livros transformadores” e qualquer outro adjetivo que se escolha.
Que bom! Mas o grande problema da diversidade de experiências se resume em alguns aspectos: a) ausência de avaliações OBJETIVAS sobre sua eficácia, até porque não se sabe bem o que buscam; 2) ausência quase absoluta de difusão das que sejam efetivamente avaliadas como “boas práticas”, principalmente dos métodos usados, de modo a que possam ser replicados. O Prêmio VivaLeitura procura, de certo modo, suprir essa deficiência. Entretanto, está profundamente marcado pela subjetividade da avaliação dos programas apresentados, na minha opinião.

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POLÍTICAS PÚBLICAS DE LEITURA: PNLL, ESTADO E O DIREITO À CULTURA LETRADA

O texto a seguir é parte do que falei em encontro com alunos da USP, “O Direito à Cultura Letrada”, organizado pelo prof. Edmir Perrotti, que me convidou para ser o primeiro palestrante de uma série que acontecerá até junho, na ECA-USP.

O PNLL está estruturado em quatro grandes eixos, a saber: 1. Democratização do acesso ao livro; 2. Formação de mediadores para o incentivo à leitura; 3.Valorização institucional da leitura e o incremento de seu valor simbólico; 4. Desenvolvimento da economia do livro como estímulo à produção intelectual e ao desenvolvimento da economia nacional.

Na verdade, o PNLL não fala especificamente do “direito” à cultura letrada. Nem mesmo de direito do acesso ao livro. O eixo se refere à “democratização do acesso ao livro”, “incentivo à leitura e o incremento do seu valor simbólico”.

Hoje, repensando os já onze anos decorridos desde as discussões que fundamentaram a elaboração do PNLL, considero que realmente falta a menção explícita à questão, que definiria como “direito ao acesso à cultura letrada”. Não apenas “democratização do acesso” – que, sem dúvida é fundamental – mas ao direito de acesso ao livro e à leitura.

Essa formulação, entretanto, precisa da famosa “mediação”. Como a entendo?

Em primeiro lugar, o conceito de direito ao acesso remete imediatamente ao direito de receber uma boa educação fundamental. Direito a um processo decente, eficiente de letramento. As evidências estão aí: o processo educacional em nosso país lembra um tanto as tarefas de Sísifo. O mal letramento leva a mal compreensão dos conteúdos, às questões do analfabetismo funcional e às dificuldades de apreensão das operações fundamentais da aritmética e ao retraso geral no processo educativo. O mal letramento está na raiz das classes de reforço, nas eternas discussões sobre a progressão continuada. Reflete-se também na qualidade da formação profissional, seja no nível mais básico da leitura de manuais de instrução até o ensino médio e o superior. Meu amigo Márcio Souza, anos atrás, em uma entrevista ao antigo Pasquim (por aí vocês podem perceber há quanto tempo…) dizia que a Universidade do Amazonas devia se chamar Grupo Escolar Universidade do Amazonas. O nível de compreensão dos alunos que ingressavam exigia praticamente que fossem “realfabetizados” para poder acompanhar as aulas e apreender os conteúdos.

Mudou muito essa situação, não apenas na pobre UFA, ou o problema continua o mesmo, em toda extensão do ensino médio e universitário?

Essa situação remete a duas outras questões.

A primeira é a questão de classe.

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ANÁLISE DE PREÇOS DE LIVROS – NOVIDADES IMPORTANTES E UM ERRO PERSISTENTE

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O SNEL – Sindicato Nacional de Editores de Livros e a Nielsen Bookscan apresentaram seu primeiro Painel das Vendas de Livros no Brasil. Trata-se de uma iniciativa importante e significativa. O Painel da Nielsen Bookscan tem como principal vantagem a medição direta, na boca do caixa, das vendas feitas pelas empresas que instalaram o programa em seus sistemas. Isso elimina a chamada expansão dos dados, mecanismo estatístico que permite inferir o resultado total a partir de uma amostra significativa.

Nesse sentido, temos dados de venda de livros com um grau de confiabilidade muito superior ao da pesquisa antiga feita agora pela FIPE, a partir de iniciativa que começou lá nos anos 1990. Nessa pesquisa – que até agora era iniciativa conjunta da CBL e do SNEL – as editoras preenchem formulários com as informações pertinentes, que são então processadas. São dados, portanto, provenientes dos produtores (editoras), que declaram suas vendas para o governo (em vários níveis) e para o mercado, seja diretamente para as livrarias ou para os distribuidores. Além das vendas, essa pesquisa produz resultados sobre a produção (títulos e exemplares). As vendas para o Governo Federal são precisas – é o FNDE que informa, detalhadamente, a quantidade de exemplares adquiridos e o valor pago.

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DISTRIBUIÇÃO E “DESCOBERTABILIDADE”* DE LIVROS – A TRAGÉDIA VIROU FARSA

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A Professora Rita Olivieri-Godet ensina na Université de Rennes 2, na França. É mapeada no projeto Conexões Itaú Cultural – Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira,  e a conheci pessoalmente no Fórum das Letras, em Ouro Preto. Ela esteve há poucas semanas no Brasil, lançando seu livro “Viva o Povo Brasileiro: a ficção de uma nação plural”.

Pois bem, no último dia 8 de março, recebi o seguinte e-mail da professora Rita Olivieri-Godet:

“Estou lhe escrevendo porque fiquei sabendo que você virá para o Salon du livre agora em março.
Quando estive no Brasil recentemente, eu procurei mas não consegui comprar o romance de Maria José Silveira, “Guerra no coração do cerrado”. Como venho trabalhando sobre a representação dos índios na literatura contemporânea este romance me interessa muito. Encomendei na Livraria Cultura de Salvador e até agora nada, embora eles tenham garantido que vão me enviar e eu já tenha pago a encomenda e o envio inclusive.

Então, se houver alguma possibilidade de você me trazer um exemplar eu o comprarei e quando o meu chegar colocarei na biblioteca da Université Rennes 2. Se não for possível, continuo aguardando (im)pacientemente o exemplar que encomendei na Cultura, não tem problema, não se sinta obrigado, estou apenas tentando ver se recebo o livro o mais cedo possível”.

O livro, lançado pela Record em 2006, recebeu excelentes resenhas, e seguiu seu destino.

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JOSÉ MAURO DE VASCONCELOS – O SUBESTIMADO MUITO TRADUZIDO

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meu pé capa hoje Na minha adolescência, dois autores eram extremamente populares, e muito lidos. O poeta J. G. de Araújo Jorge, autor de copiosas poesias sentimentais que confortavam os corações das mocinhas, e José Mauro de Vasconcelos, com o “Meu Pé de Laranja Lima”.  A crítica sempre descascou os dois, e adolescente pretensioso que era, recusei ler esses livros (o que não quer dizer absolutamente nada, já que também detestei “Senhor Embaixador”, do Érico Veríssimo, ao mesmo tempo que sempre gostei da trilogia do “Tempo e o Vento”, de “Clarissa” e das “Aventuras de Tibicuera”, o que dá conta de sei lá o que na minha formação literária).

A percepção da crítica em relação ao autor mudou, como atesta a apreciação de Nelly Novaes Coelho, em seu “Dicionário Crítico da Literatura Infantil e Juvenil Brasileira”, no qual faz duas observações. A primeira, mais geral, sobre o autor, considera que sua obra consiste em “romances de um realismo duro (na maior parte registros quase diretos das experiências vividas pelo autor, [que] compõem uma obra muito irregular quanto ao valor de transfiguração estética. Todos eles permeados por uma visão de mundo pessimista e desesperançada, embora perpassada por um enorme anseio de humanidade e ternura”. Já quanto ao “Meu Pé de Laranja Lima”, a avaliação é mais simpática: “Verdadeiro poema de exaltação da vida e da paciência exigida pelo viver, este romance tem muito a oferecer em emoções e lições de vida ao jovem leitor” (p. 387).

Do José Mauro de Vasconcelos acabei lendo “Barro Blanco”, romance sobre as salinas do Rio Grande do Norte, certamente influenciado pela obra de Jorge Amado. E nada mais.

scan0192.pdf_page_3 Mais recentemente, entretanto, na busca de informações sobre traduções de autores brasileiros, encontrei o site do Index Translationum da UNESCO, um banco de dados formado a partir de informações enviadas pelas bibliotecas nacionais dos países membros. O Index relaciona as publicações de traduções a partir dessas informações, cruzando depois por autores. Dessa maneira, obtém tabelas de traduções publicadas por países, pelo idioma de origem e outros cruzamentos. Não é um banco de dados perfeito, porque as bibliotecas nacionais atrasam o envio das informações, enviam dados incompletos, etc. etc. Aqui da nossa Pindorama, os últimos dados enviados pela Biblioteca Nacional foram de 2007.

Ainda assim, o Index é um trabalho formidável, e uma das poucas fontes confiáveis de dados internacionais sobre traduções – desde que se tenha em mente as já mencionadas deficiências dos informantes. Algumas estatísticas são coligidas por países. Outras, por idioma de origem. Por isso, não existe uma distinção, nos publicados originalmente em português, entre brasileiros e lusos.

A tabela mais recente de autores traduzidos do português é a seguinte:

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autores traduzidos do português 2015 É uma lista surpreendente – não pela presença avassaladoras de traduções do Paulo Coelho, e sim pela presença do Leonardo Boff e do José Mauro de Vasconcellos. Mas não vou comentar o conjunto desses dados. Já o fiz em um post anterior, LITERATURA BRASILEIRA NO EXTERIOR: PROBLEMA DOS EDITORES?

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OS VIVOS, OS MORTOS E OS MUITO VIVOS

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Uma das notícias da semana passada foi a de que os herdeiros (há outro além de d. Pilar?) dispensaram a agência Literária Mertin

Ray-Güde Mertin fundou a agêrncia e lançou Saramago. Nicole Witt, filha e sucessora, perdeu o autor para o "Chacal" Wylie.
Ray-Güde Mertin fundou a agêrncia e lançou Saramago. Nicole Witt, filha e sucessora, perdeu o autor para o “Chacal” Wylie.

de administrar os direitos autorais do falecido, transferindo-os para a agência de Andrew Wilye. Wylie é um agente poderoso, briga com muita gente – inclusive com a Amazon – e é conhecido, entre outros epítetos, como “Chacal”. Razão: costuma roubar clientes de outras agências sem dó nem piedade. Wylie costuma enfrentar inimigos poderosos. Definitivamente não gosta da Amazon e tentou lançar uma editora de e-books com os títulos de seus autores para ficar fora da varejista. Não deu certo.

Erudito, literato e... "Chacal". Andrew Wylie.
Erudito, literato e… “Chacal”. Andrew Wylie.

É poeta (pelo menos publicou uma coletânea de poesias, e filho de um antigo editor-chefe da Houghton-Mifflin. Quem já visitou seu escritório em Nova York diz que parece mais o saguão do departamento de letras de uma universidade que um escritório comercial. E Wylie se gaba de ser um agente dedicado à qualidade literária, embora quem entre no site da agência possa se perguntar se isso de aplica ao Rei Abdulah II, da Jordânia (cuja única obra conhecida é um ensaio intitulado “Our Best Last Chance – The Pursuit of Peace  in a Time of Peril). O rei está acompanhado de mais um bom bocado de políticos e homens de negócio (Al Gore, Bill Gates, Kissinger, etc). E, sem dúvida alguma, de uma seleção estelar de escritores vivos e mortos. Alas, diriam os franceses.

Carmen Balcells, "la dueña del boom", agora é socia de Wylie.
Carmen Balcells, “la dueña del boom”, agora é socia de Wylie.

Ano passado Wylie conseguiu uma associação com a mais conhecida agente literária do mundo hispânico, Carmen Balcells,  a grande responsável pelo estouro da literatura latino-americana em espanhol na década de 60. A associação Wylie-Carmen Balcells prevê a incorporação total da segunda pela primeira. Carmen Balcells já demonstrou, em várias ocasiões, um certo cansaço e vontade de se retirar. Seu plantel de autores é uma aquisição de estrelas latinoamericanas e espanholas por atacado, e abre longas avenidas para o crescimento de Wylie.

E agora, Saramago.

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UM TRADUTOR MEDIEVAL

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Aos tradutores brasileiros, que tornam acessíveis a nós os livros do resto do mundo.

Estátua do tradutor na cidade onde morou, Wissenbourg, na Alsácia
Estátua do tradutor na cidade onde morou, Wissenbourg, na Alsácia

Os tradutores conhecem – ou, pelo menos, ouviram falar de S. Jerônimo – considerado como seu padroeiro na tradição católica. Jerônimo, ao que conta, traduziu a Bíblia do grego e do hebraico para o latim, consolidando a versão que ficou conhecida como a Vulgata, o texto básico da Igreja Católica para a Bíblia.

Recentemente tomei conhecimento de um sucessor de Jerônimo. Ou, melhor dizendo, de um antecessor de Lutero na tradução da Vulgata para uma língua vernacular.

No último encontro do Conexões Itaú Cultural – Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira,  que aconteceu em novembro, convidamos (sou um dos curadores do programa), o tradutor François Weigel, que verte para o francês obras originais em português.

O Conexões é um programa que já está em seu sexto ano e constrói um banco de dados com informações sobre quem pesquisa, estuda, ensina e traduz literatura brasileira no exterior. Esse banco de dados http://conexoesitaucultural.org.br/parceiros/ de acesso público, já registra informações de mais de trezentos “mapeados”, como dizemos. Nos Encontros, que acontecem anualmente, reúnem-se para discussões e trocas de ideias convidados internacionais e nacionais, que estabelecem redes – conexões – e trocam ideias e experiências sobre o que fazem.

Ilustração no manuscrito dos Evangelhos de Otfried
Ilustração no manuscrito dos Evangelhos de Otfried

François Weigel é francês da Alsácia-Lorena, essa região que já trocou de mãos entre a França e a Alemanha várias vezes no decorrer dos séculos. A região fala dois dialetos de origem alemã, o alsaciano e o frâncico, que na prática não se distinguem, conhecidos ambos como alsaciano.
Na sua apresentação, Weigel começou com uma introdução apresentando o monge franco Otfried, que morou em Wissembourg, na Alsácia, onde traduziu os evangelhos, a partir da Vulgata, para o mittelalthochdeutsch, ou seja, para o “alto-alemão médio”, antecessor do moderno alemão, e que é mais próximo do alsaciano moderno que do alemão moderno. Por essa razão, o texto medieval pode até ser compreendido, em grande medida, pelos modernos alsacianos. Na época, uma língua ainda sem regras, simplesmente falada pelo povo. Otfried trabalhou nessa tradução por volta do ano 870. Ou seja, mais de quatrocentos anos depois que S. Jerônimo estabeleceu a Vulgata.

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AH, ESSES ECONOMISTAS!

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Entre os materiais compilados e distribuídos pelo SNEL – Sindicato Nacional dos Editores de Livros – no Seminário Internacional Sobre o Preço Fixo do Livro, que aconteceu no Rio de Janeiro no dia 17 de novembro, está o artigo escrito por Frederick Van Der Ploeg intitulado “Beyond the Dogma of the Fixed Book Agreement”.   O paper pretende ser uma avaliação objetiva – do ponto de vista da “ciência” econômica – daquilo que o autor já começa qualificando: dogma do acordo do preço fixo.

Não fosse de certa forma trágico, poderia achar muito engraçada uma discussão “objetiva” que começa qualificando o objeto do trabalho como dogma.

Como um bom dicionário define, objetividade dispensa um pré-juízo ou pré-conceito para poder ser exercitada. Como define o Aurélio: objetividade. [De objetivo + -(i)dade.] Substantivo feminino. 1.Qualidade do que é objetivo. 2.Caráter da atitude, ou do procedimento, que é, ou pretende ser, estritamente adequado às circunstâncias.

Começar afirmando que o preço fixo é um “dogma”, portanto, exclui qualquer objetividade de análise. Questão de lógica e semântica, o que não parece ser objeto de atenção desse economista.

Mas, vamos em frente.

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