O texto a seguir é parte do que falei em encontro com alunos da USP, “O Direito à Cultura Letrada”, organizado pelo prof. Edmir Perrotti, que me convidou para ser o primeiro palestrante de uma série que acontecerá até junho, na ECA-USP.
O PNLL está estruturado em quatro grandes eixos, a saber: 1. Democratização do acesso ao livro; 2. Formação de mediadores para o incentivo à leitura; 3.Valorização institucional da leitura e o incremento de seu valor simbólico; 4. Desenvolvimento da economia do livro como estímulo à produção intelectual e ao desenvolvimento da economia nacional.
Na verdade, o PNLL não fala especificamente do “direito” à cultura letrada. Nem mesmo de direito do acesso ao livro. O eixo se refere à “democratização do acesso ao livro”, “incentivo à leitura e o incremento do seu valor simbólico”.
Hoje, repensando os já onze anos decorridos desde as discussões que fundamentaram a elaboração do PNLL, considero que realmente falta a menção explícita à questão, que definiria como “direito ao acesso à cultura letrada”. Não apenas “democratização do acesso” – que, sem dúvida é fundamental – mas ao direito de acesso ao livro e à leitura.
Essa formulação, entretanto, precisa da famosa “mediação”. Como a entendo?
Em primeiro lugar, o conceito de direito ao acesso remete imediatamente ao direito de receber uma boa educação fundamental. Direito a um processo decente, eficiente de letramento. As evidências estão aí: o processo educacional em nosso país lembra um tanto as tarefas de Sísifo. O mal letramento leva a mal compreensão dos conteúdos, às questões do analfabetismo funcional e às dificuldades de apreensão das operações fundamentais da aritmética e ao retraso geral no processo educativo. O mal letramento está na raiz das classes de reforço, nas eternas discussões sobre a progressão continuada. Reflete-se também na qualidade da formação profissional, seja no nível mais básico da leitura de manuais de instrução até o ensino médio e o superior. Meu amigo Márcio Souza, anos atrás, em uma entrevista ao antigo Pasquim (por aí vocês podem perceber há quanto tempo…) dizia que a Universidade do Amazonas devia se chamar Grupo Escolar Universidade do Amazonas. O nível de compreensão dos alunos que ingressavam exigia praticamente que fossem “realfabetizados” para poder acompanhar as aulas e apreender os conteúdos.
Mudou muito essa situação, não apenas na pobre UFA, ou o problema continua o mesmo, em toda extensão do ensino médio e universitário?
Essa situação remete a duas outras questões.
A primeira é a questão de classe.
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