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As feiras de livros regionais e sua importância – a Bienal do Ceará

Tenho estima especial pela Bienal do Livro do Ceará, que promove sua X Edição nestes dias, e onde estive semana passada. Ainda trabalhava na CBL quando a instituição foi procurada pela Câmara Cearense do Livro para que ajudasse na organização da primeira Bienal, lá por 1994. Desde então a visitei várias vezes e este ano participei da programação da “Padaria Espiritual: o pão do espírito para o mundo” com uma palestra: “Como achar o pão espiritual de cada dia: Buscando os livros no meio do caos digital”.

A “Padaria Espiritual” foi um movimento de intelectuais cearenses para conversar sobre livros e literaturas, que completaria 120 anos. Parecia um pouco com as futuras academias de letras (a ABL seria fundada em 1897), e tinha um pouco de sociedade secreta, ainda que jocosa, pois seus membros só se tratavam por pseudônimos. Era coisa da elite local ilustrada, expressão de inquietações que acometiam seus confrades em vários estados na recém-inaugurada república.

Mas quero falar mesmo é da Bienal.

Nesses vinte anos mudou muita coisa. Este ano a Bienal do Livro do Ceará mudou para novo lugar, o impressionante Centro de Eventos do Ceará, que se apresenta como o maior do gênero da América Latina. A primeira Bienal aconteceu no antigo centro de convenções, que na época não tinha nem ar condicionado. Em termos de equipamento, um avanço fantástico.

A Bienal do Ceará inaugurou – creio que em sua segunda edição – um sistema de distribuição de uma espécie de “cheque livro” para estudantes e professores, que continua até hoje. Este ano havia reclamações pelo atraso do repasse dos recursos, que são geridos por um órgão da Secretaria de Educação do Estado. Mas, de qualquer maneira, acontecerá novamente, dando um esperado e ansiado retorno financeiro para os expositores.
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LITERATURA INFANTO-JUVENIL BRASILEIRA NO EXTERIOR – UMA JANELA QUE SE ABRE


O número 3 da Revista Machado de Assis – Literatura Brasileira em Tradução, editado pela FBN e coeditado pelo Instituto Itaú Cultural será dedicado à produção nacional de livros destinados ao público infantil e juvenil, com vistas à participação do Brasil na Feira de Bolonha – a maior do setor – que em 2013 acontecerá em março. Em 2014 o Brasil será o país convidado do evento.

A Revista Machado de Assis está aceitando o envio de propostas de trechos de livros já publicados no país – que devem estar traduzidos para o inglês ou espanhol – até o dia 20 de novembro. Esse número da Revista Machado de Assis terá duas novidades importantes: A primeira é que a edição será totalmente digital, online, embora editoras e agentes possam fazer o download dos textos e das ilustrações. A segunda é que, precisamente por ser digital, a edição da Revista Machado de Assis aceitará proposta que envolvam livros ilustrados, inclusive a cores.

A literatura infanto-juvenil brasileira á uma das forças do mercado editorial. E só bem recentemente tem sido objeto de programas sistemáticos de aquisição de acervos por programas do Governo Federal, através do PNBE, embora anteriormente tenha se beneficiado de programas como o das “Salas de Leitura”. Governos estaduais e municipais também compram livros do segmento, ainda que de forma muitas vezes não sistemática.

Monteiro Lobato é considerado como o grande mestre da literatura para jovens no Brasil, ainda que recentemente tenha sido alvo de percepções, no meu entender, equivocadas e a-históricas sobre o conteúdo de alguns de seus livros, acusados de racistas.
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IPA REVISA ÚLTIMAS AÇÕES ANTI-PIRATARIA


A IPA – International Publishers Association divulgou, através de sua Secretaria Geral, apresentações feitas na reunião de seu Comitê Anti-Pirataria, durante a última Feira do livro de Frankfurt.

São três apresentações, duas em power point e uma em pdf, podem ser vistas abaixo. As apresentações originais podem ser solicitadas gratuitamente à secretaria da IPA através do e-mail secretariat@internationalpublishers.org. Informações adicionais sobre o assunto podem ser encontradas no site da IPA.

A primeira apresentação é sobre a anti-pirataria no Egito. É, digamos assim, a mais clássica: as dificuldades de distribuição e as convulsões decorrentes da mudança de regime abriram amplo espaço para a pirataria, tanto de livros impressos quanto digitais. Acrescente-se, no caso do Egito, as dificuldades de formato para leitura em caracteres de árabe. Segundo a Associação Egípcia de Editores, os e-readers da Amazon, da Apple e da Barnes&Noble não suportam esses caracteres. Isso faz que o escaneio dos livros, no formato PDF seja amplamente disseminado. Os editores egípcios estão buscando desenvolver uma plataforma proprietária, mas encontram dificuldades de custos e tecnologia. Veja aqui: Antipiracy in Egypt
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FRANKFURT 2012 – PRÉ-ESTREIA DE 2013?


A participação do Brasil na Feira de Livros de Frankfurt este ano serviu como uma pré-estreia para o ano que vem, quando o país será o Convidado de Honra da Feira, pela segunda vez. É importante avaliar alguns aspectos dessa participação, no sentido de contribuir para o sucesso do ano que vem.

É bom destacar, entretanto, que a presença da Nova Zelândia este ano foi fraca. O Pavilhão Central, onde os neozelandeses montaram sua principal apresentação, não deixou de ter um lado poético. Bem escuro, como se no meio de um oceano surgisse uma ilha, com uma lua cheia a brilhar no céu. A ideia central era a de mostrar o que faziam enquanto o resto do mundo – ou seja, as Américas e a Europa – dormia. A cada meia hora uma performance, com um ator surgindo no meio do “oceano”, recitando versos em maori e depois circulando pela “ilha”, que vai mostrando filmagens da própria performance e de paisagens do país. Isso, juntamente com os discursos pífios dos escritores que representaram o país, Bill Manhire e Joy Cowley, deram um tom de autocondescendência para a presença dos neozelandeses. Os discursos tentavam ser bem humoradamente depreciativos: somos um país pequeno, etc., etc. com frases em maori de vez em quando enfiadas no meio – e os textos do convite para a cerimônia não estavam em inglês, e sim em maori. Na verdade, o discurso mais impactante e que deu notícias na imprensa no dia seguinte foi o do Ministro de Relações Exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle, reafirmando a predominância do seu país na União Europeia. Bem significativamente arrogante…

Bom, há um lado comovente no tributo às tradições dos povos que foram conquistados pelos imigrantes ingleses e quase exterminados. Mas, vamos convir, exceto os maoris, e uma minoria deles, são poucos os falantes do idioma. Mas, enfim, saudemos o respeito pela população minoritária e quase dizimada. Isso é importante.

O tom dos discursos na abertura, no entanto, é um alerta ao Brasil. Em 1994, um dos aspectos criticados pelos alemães acerca de nossa participação, foi o discurso de Josué Montello. Montello foi escolhido para evitar maiores disputas, pois era presidente da ABL na ocasião. Foi um erro. O romancista maranhense fez uma xaropada louvaminhas da sua admiração por Goethe. Isso é algo que não interessa absolutamente nem aos alemães nem ao público internacional presente na Feira.
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Direitos autorais: perigos adiante


Por ocasião da posse de Marta Suplicy no Ministério da Cultura, tanto a nova ministra como a Presidenta Dilma, nos respectivos discursos, manifestaram a importância do respeito ao direitos autoral e à justa remuneração dos criadores por seu trabalho intelectual.

Isso deve ter deixado autores e editores terem bons sonhos. Pelas manifestação iniciais, os exageros e incongruências da proposta da finada administração Gil/Ferreira de modificação da Lei de Direito Autoral, e que haviam sido limados na proposta da Ministra Ana de Hollanda, pareciam estar definitivamente sepultados.

Mas, na mesma ocasião, tanto a Presidenta quanto a Ministra declararam a disposição de promover e ampliar os meios de expressão da chamada cultura digital, ponto importante para o desenvolvimento da criatividade e, também de acesso de amplas camadas aos bens culturais.

Os editores e escritores só prestaram atenção na parte dos discursos que lhes interessava. Os ativistas do digital – aqui entendido como acesso grátis ao conteúdo digital – trataram de se mobilizar e pressionar a nova ministra em torno de sua agenda.

Aqui preciso deixar bem claro algumas coisas.

Em primeiro lugar, sou totalmente favorável à ampliação de todos os acessos aos bens culturais através dos meios digitais. Considero os livros eletrônicos – que não farão desaparecer os livros impressos – um avanço na difusão da leitura.
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Bibliotecas Públicas Estaduais – a reforma dos prédios históricos não basta

Estive em Manaus há alguns dias para assistir à estreia de “Isabel do Brasil”, monólogo da Maria José Silveira, encenado pelo TESC – Teatro Experimental do SESC, com Carla Menezes como a Princesa Isabel e direção do Márcio Souza.

Ficamos hospedados em um hotel do centro, perto de onde morei na infância e juventude, e bem em frante da Biblioteca Pública do Amazonas.

O prédio da Biblioteca está fechado já há alguns anos. Foi restaurado e quando a inauguração estava marcada o IPHAN vetou a entrega da obra porque o telhado não havia sido reformado com telhas idênticas às originais.

O atraso na inaguração gerou protestos, organizados por bibliotecários, que abraçaram o prédio, em protesto por uma reforma que já demorava tanto tempo. Quando fui a Manaus tinha em mente essa informação e concordava que era inconcebível uma reforma durar tanto tempo. Robério Braga, que é o Secretário de Cultura do Estado, consegue fundos para o Festival de Ópera, fez intervenções importantes no patrimônio urbanístico do centro da cidade, em particular da Praça São Sebastião (onde está o Teatro Amazonas). Conheço-o há muito e já lhe disse que lamentava que não desse ao livro e à leitura a atenção que dedica à música, às artes cênicas e ao patrimônio urbano, embora exista um projeto grande de digitalização de documentos e acervos bibliográficos em curso, com equipamentos modernos. Estava, portanto, ressabiado quanto a essa história da Biblioteca Pública.
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Máquinas de fazer livros, distribuição e impressão sob demanda

Quando a Xerox lançou a Docutech, há quase vinte anos, anunciou a nova máquina como uma “fábrica de livros”. Ainda não era: a capa tinha que ser impressa em máquinas planas e o acabamento exigia complementos ou devia ser feito por métodos tradicionais. Não era uma “fábrica de livros”, mas era o início de um caminho que parece estar chegando a uma etapa de amadurecimento definitivo.

Da Docutech em diante muitos outros modelos apareceram, inclusive para a produção de capas a cores em papel com gramatura adequada. Os sistemas POD – impressão sob demanda em inglês – tornaram-se componente da cadeia produtiva do livro, eliminando em grande medida a formação de onerosos estoques. Tanto a Amazon quanto as cadeias de livrarias e distribuidores dos EUA também usam esse sistema para oferecer a seus clientes, em tempo recorde, livros que, em outras eras, já estariam esgotados há muito tempo.

Na época do lançamento da Docutech, alguns futuristas imaginavam máquinas semelhantes instaladas em livrarias, produzindo os livros recebidos em formato eletrônico para atendimento de seus fregueses. Pois bem, essa realidade se aproxima com celeridade.
Semana passada a Publisher’s Weekly – a revista da indústria editorial dos EUA – anunciou que a empresa On Demand Books estava desenvolvendo parcerias com outras duas: a Reader’s Link e a Kodak Pictures Kiosk. O objetivo: levar verdadeiras fábricas de livros, produzidas pela On Demand para cerca de 24.000 pontos de vendas espalhados nos EUA. Sim, leram bem: vinte e quatro mil pontos de venda fabricando livros na hora para seus clientes.
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Defesa do consumidor, livros e mercado editorial

Acompanho com a maior atenção o desenvolvimento da ação que o Departamento de Justiça dos EUA promoveu contra a Apple e mais cinco editoras americanas, para obrigá-las a abandonar o chamado “modelo de agenciamento”. Para resumir a questão: tradicionalmente o sistema de mercado de livros norte-americanos funciona de modo bem parecido com o brasileiro. As editoras estabelecem um preço de capa e, a partir dele, vendem com desconto para a cadeia de mediação, distribuidores e livrarias. Lá, como aqui, as cadeias sempre obtiveram mais vantagens que as livrarias independentes, dentro de algumas limitações da legislação que obriga a oferta das mesmas condições para compras idênticas. Como as cadeias compram em quantidades muito maiores, se justificava por aí o oferecimento de vantagens adicionais a elas.

Lá como aqui, o varejista também pode vender os livros a um preço menor que o oficial, de capa. E as cadeias, com mais vantagens, oferecem sempre descontos maiores. Tal como aqui, esse proceso foi forçando o fechamento de centenas de livrarias independentes. E as editoras pouco se lixavam com isso. Administravam menos contas e o volume de vendas aumentava sempre, inclusive depois da Internet.
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Literatura Brasileira em Tradução – a Revista

A Fundação Biblioteca Nacional anunciou os nomes dos autores que terão excertos de traduções publicados no primeiro número da Revista que será editada em parceria com o Instituto Itaú Cultural. Sou o editor da revista e quero comentar alguns aspectos dessa iniciativa.

A Literatura Brasileira em Tradução se destina a mostrar excertos de livros de autores brasileiros, já publicados, com vistas à negociação de direitos autorais no mercado internacional. Os textos foram enviados à FBN, que recebeu 102 propostas, das quais foram selecionadas vinte, quinze em inglês e cinco em espanhol, para o primeiro número. Esse número terá edição online e uma edição impressa pela Imprensa Oficial do Estado de S. Paulo, também parceira do projeto, assim como o Itamaraty.

A escolha final dos textos foi feita por um Conselho Editorial composto pelos professores Italo Moriconi, Charles Perrone, Berthold Zilly, Laura Hosiasson, e por Aníbal Bragança (BN), Joaquim Pedro Penna (MRE), Carlos Sodré (IMESP), Claudiney Ferreira (Itaú Cultural). Rachel Bertol, do Centro Internacional do Livro da BN é a coordenadora, e eu, editor, e os dois fazemos também parte do Conselho.

Diante da grande quantidade de envios, optamos por estabelecer alguns critérios que ajudassem na escolha dos vinte autores que entrariam no primeiro número. Procuramos dar preferência à produção atual dos escritores, levando em conta diversidade de idades, estilos e temáticas. Também foi dada preferência às traduções ainda não publicadas em livro. Ou seja, no caso de autores que enviaram trechos em inglês, deu-se preferência a obras ainda inéditas em países de língua inglesa; o mesmo valeu para o espanhol.
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A Bienal Internacional do Livro de S. Paulo – pelo retrovisor

A 22ª. Bienal Internacional do Livro de S. Paulo terminou domingo, com a CBL divulgando, mais uma vez, números significativos: mais de 750.000 visitantes, dos quais 120 mil estudantes vindos da capital e do interior, e que receberam vales para compra de livros em um total de R$ 750.000,00, incluído nessa soma os vales para professores.

A profusão de lançamentos anunciados e atividades manteve o padrão superlativo desse tipo de eventos. Eu mesmo acabei participando de cinco mesas no espaço Livros & Cia., organizado com a curadoria do editor e jornalista Quartim de Moraes: no painel de autores do livro “Retratos da Leitura no Brasil 3”, organizado por Zoara Falla, e para o qual escrevi um dos ensaios; na mesa redonda “Dilemas e Conflitos do Mercado Editorial”, com Breno Lerner e Isa Pessoa (mediada pelo Quartim), e fui mediador em mais três mesas: “Os Bastidores dos Prêmios Literários”, com Selma Caetano, José Luis Goldfard e Adriana Ferrari; “A Experiência da auto-publicação”, com o escritor Eduardo Spohr, e na mesa de encerramento, “A Literatura Brasileira Pede Passagem”, com o próprio Quartim, Manuel da Costa Pinto e Jorge da Cunha Lima. Todas por convocação do meu amigo Quartim e todas com o fabuloso pagamento de R$ 0,00. Tudo por amor ao livro, e para contribuir com a Bienal.

Destaco também o conjunto de mesas organizadas nos dois primeiros dias pelo Carlo Carrenho, e que trataram das questões do livro eletrônico e do ingresso do mercado editorial no mundo digital. Teve gente muito importante, como Russ Grandinetti, VP da Amazon, que aproveitou uma visita ao Brasil para louvar a empresa, oferecendo belos gráficos e nenhum dado concreto, mas derramando simpatia. E outros expositores que mostraram bem a integração do Carrenho com o mundo da edição digital, com exposições dignas de presença em um evento mais estruturado, como o Congresso do Livro Digital.
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