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Plágio, mentiras e o programa do Livro Popular

A Fundação Biblioteca Nacional divulgou, esta semana, resolução embasada no parecer da Comissão composta por membros do Conselho Interdisciplinar de Pesquisa e Editoração (CIPE), instituída para averiguar a reclamação da tradutora Denise Bottman sobre plágios e apropriação indébita do trabalho intelectual, praticada pela Editora Martin Claret ao inscrever vários títulos do seu catálogo no Cadastro Nacional de Títulos de Baixo Preço.

O parecer opinou pela “exclusão preventiva” das obras questionadas até que o assunto fosse julgado pelas instâncias judiciais pertinentes. O conselheiro Ivan Teixeira, em voto em separado, pediu a exclusão da Editora Martin Claret do cadastro, mas foi voto vencido.

A decisão da presidência da FBN, argumentando que a exclusão só pode ser feita “pela autoridade judicial competente”, optou por remeter o problema para o Ministério Público, sem suspender o cadastro das obras questionadas.

O imbróglio merece uma análise mais detalhada.
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Entrevista para matéria na Carta Capital – 3


A seguir a terceira e última parte das respostas por escrito que dei ao repórter Lucas Callegari, da Carta Capital para matéria que foi publicada na última edição da revista. Devido a extensão das respostas, estas obviamente não poderia ser usadas integralmente na revista.

– Como está a evolução do segmento de livros digitais no Brasil, quais as perspectivas? Em que estágio está o País em comparação com Europa e Estados Unidos?

É preciso esclarecer algumas coisas. Os livros digitais já são usados há muito tempo. Hoje, praticamente todas as revistas técnico-científicas só existem em versões digitais. Tanto o CNPq quanto a FAPESP, por exemplo, tem dispêndios enormes com a assinatura dessas publicações para as universidades. E a “Biblioteca Virtual”, liderada pela Pearson também indica que as universidades particulares estão indo pelo mesmo caminho, e ampliando o uso do livro texto eletrônico, além das revistas.
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Mais um retrocesso da política cultural em Portugal

Sempre admirei a política – que supunha ser de Estado, e não dos eventuais governos – para a difusão cultural de Portugal e da Espanha. O Instituto Camões e o Instituto Cervantes, o Instituto Português do Livro e da Biblioteca como instituições autônomas, desenvolviam – e até certo ponto ainda desenvolvem – um trabalho importantíssimo de difusão da cultura desses dois países ibéricos. O Instituto Camões mantem leitorados e cátedras em dezenas de países, centros de ensino do português como língua estrangeira, centros culturais, apoio a publicações e projetos de pesquisa. O mesmo faz o Instituto Cervantes.

Durante alguns anos a ação do Ministério da Cultura de Portugal foi apoiada pelo ICEP, uma versão lusa da Apex, agência de promoção de exportações. A presença portuguesa nas bienais de livros de São Paulo e do Rio, com delegações de escritores, era financiada pelo ICEP. Há coisa de dez anos isso deixou de ser feito, e os estandes portugueses minguaram substancialmente nesses eventos.
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Ano Novo: Vida Nova?

Ano novo, vida nova, diz o senso comum. Na verdade, essa marca canônica do tempo serve mesmo como marco arbitrário para marcar processos continuados e que às vezes têm ritmos bem diferenciados. Um exemplo bem claro disso, desconhecido para o público geral mas seguido atentamente pelas editoras, é o dos calendários para pré-inscrição, seleção, contratação e entrega dos livros dos diferentes programas de livros para as escolas, gerenciados pelo FNDE, órgão do Ministério da Educação. Nestes dias está terminando a entrega, pelos correios, dos livros didáticos que serão usados em 2012 e, ao mesmo tempo, a pré-inscrição para o PNLD para 2014.

O Edital para o PNLD 2014 vinha sendo discutido entre o FNDE e as editoras, principalmente através da Abrelivro, desde meados do ano passado, por incluir uma inovação importante: serão consideradas coleções com materiais multimídia, que deverão estar em CD-ROMs e, ao mesmo tempo, abrigados em portais das editoras acessados através do portal do livro didático do MEC. Até maio essas coleções deverão ser entregues para avaliação, com conteúdo e formatação física tal como serão eventualmente adquiridas pelo MEC mais adiante. Ou seja, as editoras didáticas têm que fazer edições completas do material que será vendido em 2013 e usado pelos alunos em 2014, e esse processo já vem sendo executado há pelo menos um ano.
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Como o jornalista Jotabê Medeiros não colocou corretamente o link para seu blog no comentário ao meu post de ontem sobre sua matéria a propósito do programa de tradução da BN, transcrevo sua lição de jornalismo aqui, poupando aos meus poucos leitores o trabalho de descobrir onde ele faz suas publicações “do B”. No final, meus comentários.

De tempos em tempos, me acostumei a ver um personagem sair das sombras para pedir “controle de qualidade” na minha atuação como repórter.
Geralmente, é o próprio protagonista da reportagem que pede intervenção no ato jornalístico.
Tempos atrás, devido a uma reportagem sobre uma espécie de “salário-aposentadoria” que inventavam somente para ele, um ex-chefão de uma conhecida rede de TV pública pediu minha interdição ao jornal para o qual trabalho. Não conseguindo, mandou colocar meu nome numa lista negra (sei disso porque os produtores dos programas me contaram).

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O MIASMA DO DENUNCISMO E A DIFUSÃO DA LITERATURA BRASILEIRA

Em 1992, publicamos, na falecida Marco Zero, o livro A Culpa é da Imprensa? Ensaio sobre a Fabricação da Informação, de Yves Mamou, jornalista francês, editor de economia do Le Monde. O livro tratava de análise de notícias, sua difusão, ações de assessoria de imprensa e controle de danos de imagem de empresas e manipulação da informação.

O noticiário recente sobre o programa de bolsas de tradução da Fundação Biblioteca Nacional me fez lembrar desse livro, especialmente de um caso ali relatado. Uma matéria publicada n’O Estado de S. Paulo, assinada por Jotabê Medeiros, insinuava que a concessão de bolsa de tradução para a publicação de O Leite Derramado, do Chico Buarque, para a Gallimard, prestigiosa editora francesa, era consequência de nepotismo. O tradutor do romance do cantor, compositor e romancista teria ganho a bolsa pelo fato dele ser irmão da Ministra da Cultura, Ana de Hollanda.
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Fórum das Letras de Ouro Preto – um encontro literário para a cidade

O Fórum das Letras, da Universidade Federal de Ouro Preto, é um encontro literário com algumas características que me parecem particularmente interessantes. A principal delas é o fato de ser pensado e planejado para a participação e desfrute da cidade e de seus moradores, e não para um público externo que chega de fora para participar do evento. Isso lhe dá uma dinâmica ao mesmo tempo mais tranquila e, de certa maneira, mais intensa. Não existe o clima de estrelismo que prevalece em outros eventos do tipo, e a plateia, muitos estudantes e moradores da cidade, tem uma participação atenta.

O prefeito de Ouro Preto, Angelo Oswaldo, é um personagem singular. Intelectual bem preparado, conhece a história da cidade e está ligado aos problemas relacionados com meio ambiente, preservação do patrimônio histórico e cultural.
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Autores e Leitores – a interação necessária

O que completa e dá sentido a um livro é sua leitura, como sabemos. Somente a absorção a fruição do conteúdo pelos leitores é que dá a este significado. Por isso mesmo, a busca pelos leitores é, de certa forma, um complemento da atividade do escritor. Busca que se perpetua mesmo depois da morte do autor, quando seu texto se incorpora ao imaginário social e continua sendo objeto de leitura. O escritor que diz que não precisa de leitores, que diz que “escreve para si mesmo”, não é mais que um autista da palavra.

Muitas vezes se confunde a busca do leitor com a busca do consumidor, do comprador de livros. Na sociedade capitalista, o sucesso se mede pela quantidade de livros vendidos, tomadas como sinônimo de livros lidos.

Essa é uma verdade parcial. Quantos livros são comprados e não lidos? E os lidos em bibliotecas, emprestados, furtados (esporte a que se dedicam estudantes pobres e loucos por leitura com pouco dinheiro, para lamento dos livreiros!) e que não há como computar nesse índice de leitores de um determinado título?
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As traduções no mundo – A UNESCO tem levantamento

A UNESCO, o órgão das Nações Unidas dedicado à ciência e à cultura, mantem um levantamento das traduções no mundo inteiro. O Index Translationum, com informações fornecidas pelas bibliotecas nacionais dos países membros, organiza as informações. A Biblioteca Nacional do Brasil deixou de enviar as informações desde 1977.
Veja aqui informações sobre o assunto.

O IDIOMA PORTUGUÊS NO MUNDO E A TRADUÇÃO DA LITERATURA BRASILEIRA

Já escutei muitos discursos sobre a “importância” do idioma português no mundo.

Os doze idiomas que, além do inglês, conformam o maior número de falantes são, além do português, o coreano, o japonês, o alemão, o bengali, o hindu, o russo, o mandarim, o espanhol, o árabe e o francês. O inglês não é nem mesmo o que tem maior número de falantes (11% da população mundial, contra 33% do mandarim, por exemplo).

De qualquer forma, se considerarmos que existe hoje, do ponto de vista internacional, um idioma hipercentral, a língua franca moderna, o inglês, temos que reconhecer também a existência de várias outras línguas “super-centrais”, que expandiram sua predominância territorial para muito além do seu local de nascimento. São os outros onze idiomas (cf. Calvet, L, S – Carnets d’Atelier de Sociolinguistique, 2007).

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