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Mais um retrocesso da política cultural em Portugal

Sempre admirei a política – que supunha ser de Estado, e não dos eventuais governos – para a difusão cultural de Portugal e da Espanha. O Instituto Camões e o Instituto Cervantes, o Instituto Português do Livro e da Biblioteca como instituições autônomas, desenvolviam – e até certo ponto ainda desenvolvem – um trabalho importantíssimo de difusão da cultura desses dois países ibéricos. O Instituto Camões mantem leitorados e cátedras em dezenas de países, centros de ensino do português como língua estrangeira, centros culturais, apoio a publicações e projetos de pesquisa. O mesmo faz o Instituto Cervantes.

Durante alguns anos a ação do Ministério da Cultura de Portugal foi apoiada pelo ICEP, uma versão lusa da Apex, agência de promoção de exportações. A presença portuguesa nas bienais de livros de São Paulo e do Rio, com delegações de escritores, era financiada pelo ICEP. Há coisa de dez anos isso deixou de ser feito, e os estandes portugueses minguaram substancialmente nesses eventos.
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Informatização das Bibliotecas de S. Paulo


A Coordenadoria do Sistema Municipal de Bibliotecas Públicas da Secretaria de Cultura do Município de S. Paulo dá nesta segunda feira, dia 19, um importante passo na democratização do acesso ao acervo de livros do sistema de bibliotecas da cidade, anunciando a conclusão da informatização da catalogação retrospectiva do acervo das suas bibliotecas. A cerimônia acontecerá na Biblioteca Alceu Amoroso Lima, na Av. Henrique Schaumann,777, do bairro de Pinheiros, na Capital. A partir das 10:30 hs.

Essa informatização permite a qualquer cidadão saber que títulos, quantos exemplares existem em todo o sistema e em que biblioteca está cada exemplar. E também se o livro está disponível para empréstimo e em que unidade.

O sistema de gerenciamento de bibliotecas da SMC é o Alexandria Online, um dos mais fortes e eficientes programas do gênero, que desde 2005 fez a catalogação retrospectiva do acervo de 82 unidades do sistema – 55 bibliotecas de bairro, o acervo circulante da Biblioteca Mário de Andrade, da Biblioteca Monteiro Lobato, das quatro bibliotecas do Centro Cultural São Paulo, dos dez ônibus-biblioteca, da biblioteca do Centro Cultural da Juventude e de treze pontos de cultura. Nesse processo foram catalogados e cadastrados um milhão e meio de exemplares.
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Quem representa quem no mundo editorial?

Uma evidente constatação do meio editorial brasileiro é a da multiplicidade de instituições “representativas” do mundo editorial e livreiro. Temos a CBL – Câmara Brasileira do livro, que reúne editores, distribuidores, livreiros; o SNEL – Sindicato Nacional de Editores de Livros, a entidade sindical oficial da estrutura corporativista do Estado brasileiro; a ABRELIVROS – Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares, nascidas de uma dissidência da CBL quando os editores de didáticos não se sentiram convenientemente representados; a LIBRE – Liga Brasileira de Editoras, que pretende representar as editoras independentes e de menor porte; a ABDL – Associação Brasileira de Difusão do Livro, que reúne editores e distribuidores de livros de coleções, os vendidos de “porta-a-porta”; a ANL – Associação Nacional de Livrarias, que reivindica a representação dos livreiros. Além desses, uma miríade de câmaras, associações e entidades de âmbito estadual, entre as quais se destacam a Câmara Riograndense do Livro, que organiza a feira de livros mais antiga do país, a de Porto Alegre; a Câmara Mineira do Livro; o Sindicato dos Livreiros do Ceará, e vou parando por aqui porque a coisa vai se multiplicando numa sopa de letrinhas.
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“Preço médio” dos livros: uma ficção aritmética

Além das divergências das duas “versões” de dados de 2009, os últimos relatórios da pesquisa “Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro”, encomendada pela CBL e pelo SNEL e executada pela FIPE, apresentam uma novidade: tabelas de “preços médios” dos livros no Brasil.

A aparência é sofisticada: as tabelas estão divididas entre vários tipos de “preço médio”: por subsetor editorial (no “preço médio” de mercado) e pelos diferentes programas governamentais, nas vendas para o governo.

Em 2005, quando da desoneração do setor editorial, quando o Presidente Lula assinou lei isentando as editoras do pagamento do PIS/PASEP-COFINS, as entidades do setor haviam assumido um compromisso: em troca da isenção, que significava um alívio de mais de 4% sobre o faturamento das empresas, assumiam o compromisso de contribuir para um fundo de promoção do livro e da leitura, no valor de 1% do faturamento.
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Os números torturados do Relatório de Produção Editorial de 2010

Alguns dias atrás um amigo, sócio da CBL, enviou um e-mail pedindo que eu lhe mandasse o relatório da Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro de 2010. Respondi-lhe que não tinha. Não sou sócio da CBL e são os sócios que recebem regularmente o material, assim como os do SNEL. Eu, como pesquisador do setor, consigo cópias precisamente através de amigos editores.

Mas eu havia solicitado uma cópia para a administração da CBL, há coisa de dois meses. Na ocasião, a administração me respondeu que “ainda não havia recebido o relatório integral da pesquisa enviado pela FIPE”, e que logo que recebesse me enviaria. O tempo passou e me apareceu esse pedido do meu amigo. Entro no site da CBL e lá só aparece o relatório da pesquisa de 2009.

Um padrão comum nos relatórios desse tipo é colocar os dados do ano anterior junto com os dados do ano. Facilita uma pesquisa rápida da evolução dos números do mercado.

Por força de hábito, abro minha cópia do relatório anterior, relativo a 2009 que, esse sim, eu já tinha. Aí teria pelo menos mais um ano para examinar os números e tecer meus eventuais comentários.

Minha surpresa: OS DADOS DE 2009 APRESENTADOS NO RELATÓRIO DE 2010 ERAM DIFERENTES DOS QUE HAVIAM SIDO APRESENTADOS NO RELATÓRIO ANTERIOR, DE 2009.
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A MEMÓRIA QUE SE PERDE

Há alguns dias o jornal El País publicou uma série de reportagens sobre Carmen Balcells, a mega agente literária. O pretexto era a entrega do arquivo da agente literária para o Archivo General de la Administración (AGA) de Alcalá de Henares, órgão do Ministério da Cultura da Espanha. O atual governo socialista pretendia que o destino final desse acervo fosse um centro nacional de memória da criação literária, edição e industrial editorial, com base nesse fundo. Com o PP no poder, provavelmente o fundo ficará mesmo no Archivo Nacional.

São mais de 2.000 caixas (2,5 quilômetros de documentos alinhados), com a correspondência da agente com autores e editores, cópias de contratos e prestações de conta. Enfim, o “subterrâneo” da vida literária espanhola dos últimos cinquenta anos.
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Como o jornalista Jotabê Medeiros não colocou corretamente o link para seu blog no comentário ao meu post de ontem sobre sua matéria a propósito do programa de tradução da BN, transcrevo sua lição de jornalismo aqui, poupando aos meus poucos leitores o trabalho de descobrir onde ele faz suas publicações “do B”. No final, meus comentários.

De tempos em tempos, me acostumei a ver um personagem sair das sombras para pedir “controle de qualidade” na minha atuação como repórter.
Geralmente, é o próprio protagonista da reportagem que pede intervenção no ato jornalístico.
Tempos atrás, devido a uma reportagem sobre uma espécie de “salário-aposentadoria” que inventavam somente para ele, um ex-chefão de uma conhecida rede de TV pública pediu minha interdição ao jornal para o qual trabalho. Não conseguindo, mandou colocar meu nome numa lista negra (sei disso porque os produtores dos programas me contaram).

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O MIASMA DO DENUNCISMO E A DIFUSÃO DA LITERATURA BRASILEIRA

Em 1992, publicamos, na falecida Marco Zero, o livro A Culpa é da Imprensa? Ensaio sobre a Fabricação da Informação, de Yves Mamou, jornalista francês, editor de economia do Le Monde. O livro tratava de análise de notícias, sua difusão, ações de assessoria de imprensa e controle de danos de imagem de empresas e manipulação da informação.

O noticiário recente sobre o programa de bolsas de tradução da Fundação Biblioteca Nacional me fez lembrar desse livro, especialmente de um caso ali relatado. Uma matéria publicada n’O Estado de S. Paulo, assinada por Jotabê Medeiros, insinuava que a concessão de bolsa de tradução para a publicação de O Leite Derramado, do Chico Buarque, para a Gallimard, prestigiosa editora francesa, era consequência de nepotismo. O tradutor do romance do cantor, compositor e romancista teria ganho a bolsa pelo fato dele ser irmão da Ministra da Cultura, Ana de Hollanda.
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Memória, História e Narrativa a partir do ponto de vista de uma ficcionista

O texto é da Maria José Silveira e foi sua participação no Fórum das Letras de Ouro Preto.

A Maria José não gosta de improvisar quando participa de mesas-redondas. A vantagem é produzir textos reflexivos e importantes sobre sua vida de escritora.

Então, lá vai:

O tema que nos coube hoje é grandioso, já que vamos tratar – nada mais nada menos – da tríade fundamental para a literatura. Uma tríade tão entrelaçada que é quase impossível dizer qual das partes é , digamos, seu fundamento. Qual o ovo, qual a galinha.

Mesmo assim, aqui, como uma proposta para começar nossa conversa, terei a ousadia de dizer que o fundamento do trio, a base desse triângulo equilátero, é a narrativa, pois sem a narrativa não teríamos memória e não conheceríamos a história. Tenho bons acompanhantes nessa escolha, inclusive aquele famoso comecinho que diz “No princípio era o verbo”, pois o que é a narrativa senão o verbo? E também Roland Barthes, estudioso do tema, quando afirma que “a narrativa está presente em todos os tempos, em todos os lugares, em todas as sociedades, começa com a própria história da humanidade.”
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Concorrência, Internet e a falência da Border’s

A edição eletrônica do Publisher’s Weekly, a revista da indústria editorial americana, publicou hoje uma matéria com Mike Edwards, que era o principal executivo da cadeia de livrarias Border’s quando de sua falência, há alguns meses. Edwards fez uma palestra na Conferência Anual do Varejo da Associação do Crescimento Corporativo, em New York.

A matéria relata diferentes aspectos do desenvolvimento dos problemas da Border’s, dos quais destacamos aqui alguns:

1 – A companhia começou a “crescer por crescer”, no final dos anos 90, segundo Edwards, com um esforço de expansão internacional que drenou os recursos e “distraiu” seus executivos do foco no seu principal mercado, o dos EUA. Recompra de ações em 2005 aumentou essa drenagem, deixando a companhia com problemas de cash-flow que foram piorando progressivamente;
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