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O capitalismo selvagem no mercado editorial?

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos seguiu o exemplo dos órgãos da Comissão Europeia e recentemente abriu investigação sobre o sistema de “agenciamento” praticado pelas principais editoras americanas depois que a Apple, com o lançamento do iPad, permitiu uma alternativa real à política de preços praticada pela Amazon.

Recapitulando brevemente.

Nos EUA o sistema de fixação do preço dos livros tinha características muito parecidas com o que é praticado no Brasil. As editoras estabelecem um “preço de capa” que, na verdade, é mais uma referência para os contratos que fazem com os autores para determinar os direitos autorais pagos, que são uma porcentagem sobre isso. Vendem para livrarias e distribuidoras com um “desconto” negociável entre as partes, e as livrarias e distribuidoras, daí para diante, praticam o preço que desejarem, transferindo parte desse desconto para os consumidores finais. Ou, visto de baixo para cima, os varejistas praticam o “mark up” que desejam a partir do preço líquido que pagaram às editoras.

Na Europa, há até alguns anos atrás, prevalecia o chamado sistema do “preço fixo”, no qual o preço de capa estabelecido pelas editoras deveria ser obedecido pelo varejo, com limitações de descontos, durante um certo período considerado como de lançamento. Descontos maiores só eram permitidos depois de terminado esse interregno. O sistema de “preço fixo”, tradicional, transformou-se em lei na França com o objetivo de proteger as livrarias independentes dos descontos oferecidos pelas “grandes superfícies” principalmente sobre os títulos best-sellers. A Comissão Europeia combateu muito o sistema, conseguindo sua eliminação em vários países, com a exceção da zona de fala alemã (Alemanha, Suíça e Áustria), e na própria França.
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Waterstones: os problemas dos ingleses são parecidos com os nossos?

Waterstones é a principal cadeia de livrarias do Reino Unido, fundada em 1981. As lojas (aproximadamente trezentas) estão basicamente localizadas em ruas de comércio, com algumas lojas de grande porte em cidades importantes – alega que a loja londrina de Piccadilly é a maior livraria da Europa – e em universidades. A cadeia é propriedade de um magnata russo, Alexander Mamut, de quem o atual diretor geral, James Daunt, diz que é “um filantropo intelectual” e ao mesmo tempo um oligarca proprietário de iates.

James Daunt, o atual executivo, veio de uma família de diplomatas e era proprietário de uma mini cadeia de livrarias, a Daunt Books, com seis lojas e cuja característica principal é servir a uma clientela rica e sofisticada em alguns dos bairros mais chiques de Londres. Há sei meses foi contratado pelo Mamut para dirigir a grande cadeia e aceitou o desafio sem vender suas lojas.
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Ritmo de expansão dos e-books: aqui será como lá?

Recente artigo publicado por Philip Jones, no site The Bookseller comentou os dados divulgados pela Hachette sobre o mercado de e-books no Reino Unido. Segundo Jones, a editora anunciou vendas de e-books no valor de £ 21 milhões e que isso equivalia a uma participação de 20% no total do mercado de e-books no Reino Unido ano passado, e que tivera um incremento de 500% sobre suas próprias vendas entre 2010 e 2011. A Hachette não explicitou se esse número equivalia ao preço faturado ou preço de mercado (o preço faturado, obviamente, é o líquido recebido pela editora, depois dos descontos aos distribuidores e livrarias).
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Será a Amazon mesmo uma empresa “Consumer Centric”?

Mentirinha....

As disputas entre a Amazon e a Apple pelos “corações e mentes” dos consumidores são intensas. As duas empresas têm, entretanto, uma característica comum: a extrema opacidade na divulgação dos dados. Até hoje, por exemplo, ninguém sabe com certeza a quantidade dos respectivos aparelhos vendidos por uma e outra. Os números do Kindle e do iPad são quase segredos de Estado.
A Apple virou religião para alguns de seus clientes, para os quais tudo que a empresa faz tem um toque divino. E a Amazon se gaba do atendimento ao consumidor, e do êxito de seus programas de fidelização.

A Amazon faz questão de se anunciar como uma empresa “consumer centric”. Ou, no vulgar, centrada no consumidor. E é verdade que, na maioria das vezes, o atendimento segue um processamento impecável. Os livros chegam no Kindle em segundos e, até hoje, nunca perdi algo físico comprado na Amazon.

Mas, recentemente, uma experiência pessoal me deixou com as orelhas em pé e revelou um lado arrogante da gigante de Seattle.
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Concorrência, Internet e a falência da Border’s

A edição eletrônica do Publisher’s Weekly, a revista da indústria editorial americana, publicou hoje uma matéria com Mike Edwards, que era o principal executivo da cadeia de livrarias Border’s quando de sua falência, há alguns meses. Edwards fez uma palestra na Conferência Anual do Varejo da Associação do Crescimento Corporativo, em New York.

A matéria relata diferentes aspectos do desenvolvimento dos problemas da Border’s, dos quais destacamos aqui alguns:

1 – A companhia começou a “crescer por crescer”, no final dos anos 90, segundo Edwards, com um esforço de expansão internacional que drenou os recursos e “distraiu” seus executivos do foco no seu principal mercado, o dos EUA. Recompra de ações em 2005 aumentou essa drenagem, deixando a companhia com problemas de cash-flow que foram piorando progressivamente;
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