Todos os posts de Felipe Lindoso

Felipe Lindoso é jornalista, tradutor, editor e consultor de políticas públicas para o livro e leitura. Foi sócio da Editora Marco Zero, Diretor da Câmara Brasileira do Livro e consultor do CERLALC – Centro Regional para o Livro na América Latina e Caribe, órgão da UNESCO. Publicou, em 2004, O Brasil Pode Ser um País de Leitores? Política para a Cultura, Política para o Livro, pela Summus Editorial.

BIBLIOTECAS NO MEIO DE DUAS POLÊMICAS

As bibliotecas estiveram presentes em duas polêmicas que correram na Internet semana passada.

A primeira foi provocada por um artigo do jornalista Luís Antônio Giron, publicado em seu blog da Revista Época no qual relatava uma experiência que considerou desastrosa ao visitar a biblioteca pública de seu bairro (não disse qual era), onde não encontrou o que buscava. O trecho que provocou dezenas de comentários, muitos irados, de bibliotecárias, foi o seguinte:

“Cheguei de mansinho, talvez pensando em reencontrar nas prateleiras os livros que mais me influenciaram e emocionaram. Topei com prateleiras de metal com volumes empoeirados à espera de um leitor que nunca mais apareceu. O lugar estava oco. A bibliotecária me atendeu com aquela suave descortesia típica dessa categoria profissional, como se o visitante fosse um intruso a ser tolerado, mas não absolvido. Eu sei que as bibliotecárias, entre suas muitas funções hoje em dia, sentem-se na obrigação de ocultar os volumes mais raros de suas respectivas bibliotecas. Bibliotecas mais escondem do que mostram. Há depósitos ou estantes secretas vedadas aos visitantes. São as melhores – e, graças às bibliotecárias, você jamais chegará a elas.”

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Falências e concordatas no mercado editorial


A notícia de que a Houghton Mifflin Harcourt entrou com um pedido de concordata preventiva (que pode virar falência) é mais um ato (talvez o final), de uma história importante do mundo editorial dos EUA.

A Houghton Mifflin traça suas origens em 1832, quando William Ticknor e James Fields fundiram seus respectivos empreendimentos para fundar uma nova editora, a Ticknor & Fields. Por volta de meados do século XIX essa editora já havia publicado alguns dos mais renomados nomes da literatura americana, como Longfellow, Emerson, Nathaniel Hawthorne, Harriet Beecher Stowe, Mark Twain e Henry Thoreau. Em 1880 essa editora se fundiu com a The Riverside Press, uma impressora de propriedade de Henry Houghton e George Mifflin, daí resultando a Houghton, Mifflin & Co. A nova editora acrescentou em seu catálogo nomes como Willa Cather, Carson McCullers, Philip Roth, Paul Theroux, Robert Stone e Jonathan Safran Foer.
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Planeta controla a Tusquets – de novo

Beatriz de Moura em priscas eras. Foto de Isabel Steva i Hernández
Beatris de Moura e Antonio Lopez Lamadrid, da Tusquets

Beatriz de Moura, fundadora e controladora da Tusquets, uma das editoras literárias independentes da Espanha, anunciou que vendeu pelo menos 50% da empresa para o conglomerado da Planeta.

Beatriz de Moura, cuja beleza e inteligência foram celebrados pela intelectualidade espanhola desde os anos sessenta, era filha de um diplomata brasileiro, estudou tradução literária, história e ciências sociais em Genebra. Em 1968, casada com Oscar Tusquets, fundou a editora, que logo se tornou uma referência no mundo intelectual espanhol nesse período do franquismo tardio e início da redemocratização.

Em 2009 morre seu segundo marido e sócio, Antonio Lopez. O casal já havia tentado uma associação com a Planeta em 1995. Três anos depois o casal comprou de volta os 40% que Planeta detinha na Tusquets. Desta vez, Beatriz de Moura declarou que “tirou um peso” das costas e que a editora precisava garantir sua continuidade nessa época de transformações, com as publicações digitais e as dificuldades dos novos tempos. Ela se disse preocupada com o emprego de seus 24 colaboradores e pensou nisso ao se associar à Planeta.

Os projetos tramitam no Congresso

A Câmara dos Deputados tem um sistema “push” de avisar a movimentação de projetos de lei em tramitação na casa. De vez em quando seleciono alguns para ver como caminham as coisas,

Hoje recebi o e-mail avisando que o PL 1508/2003 (ou seja, apresentado em 2003), do Deputado José Mendonça Bezerra (do então PFL/CE), recebeu designação de relator na Comissão de Educação e Cultura. É o Deputado Chico Alencar, do PSOL/RJ.

O projeto do deputado pernambucano pretende estabelecer prazo mínimo de uso dos livros didáticos na rede de ensino fundamental e médio. Quer que os livros sejam usado no mínimo por dois anos.

Estão apensados a esse projeto cinco outros. Todos tratando mais ou menos do mesmo tema: prazos para adoção do livro. Alguns pretendem que a lei obrigue inclusive as escolas particulares a adotar o mesmo livro por anos consecutivos. O que varia é o prazo. O PL 4922/2009, da Deputada Alice Portugal (PCdoB/BA), é um desses exemplos de projeto que chove no molhado: obriga a prévia avaliação do MEC para aquisição dos livros com recursos do FUNDEB. Percebe-se que a combativa deputada baiana não tem a menor ideia do processo de seleção e compra dos livros por parte do FNDE.

Esse tipo de projeto pode terminar com aprovação definitiva no âmbito das comissões. Como já escrevi antes, muitos deles acabam parando na Comissão de Constituição e Justiça. Mas o fato é que o processo legislativo, ainda que lento, vai avançando. E se não prestarem atenção…

Aí está o link de acompanhamento da tramitação: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=125315

Brasil e Índia no caminho da rápida adoção dos livros eletrônicos

O 3º. Congresso do Livro Digital, organizado pela CBL, revelou-se melhor que os dois primeiros em um ponto fundamental: um número menor de vendedores de apps e programinhas, que compareciam menos para demonstrar tendências e mais para propor a venda de serviços para os tupiniquins embasbacados pelas novidades, o que geralmente não conseguiam, porque o pessoal daqui é desconfiado e muquirana.

Ainda assim, a mesa “Inovando suas publicações com aplicativos” foi um exemplo lamentável desse tipo de coisa. O único interessante, que apresentou a “Nuvem de Livros”, poderia ter servido de pano de fundo para um debate importante: o interesse por “conteúdo grátis”, que é turbinado pelas telefônicas e pelos provedores de serviços da Internet, para os quais quanto mais tráfego provocado pelo “grátis” ou pelo menos “baratinho” é importantíssimo. Eles cobram pelo tráfego de informação através de seus sistemas, e quanto mais nós contribuirmos com conteúdo grátis, melhor para eles. Isso merecia uma discussão. Mas os outros dois “palestrantes” dessa mesa, que foi o ponto mais baixo do evento, eram apenas patéticos vendedores que pareciam nem saber que tipo de pessoas compunha a plateia.
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Como editoras e livrarias andam [mal]tratando seus [meta]dados por aqui

Na apresentação que Richard Stark fez em Bogotá sobre a questão dos metadados, há uma lista de elementos mínimos que deveriam ser disponibilizados pelos editores para os elos seguintes da cadeia do livro. Para distribuidores e livreiros terem conhecimento de algumas das condições de comercialização do produto. Para o público leitor – e isso é ainda mais importante – de modo a que o livro possa ser facilmente encontrado pelos mecanismos de busca eletrônicos e para que o eventual comprador saiba qual é seu conteúdo.

Alguns desses componentes são ocultos, pois dizem respeito somente à relação editor/distribuidor-livreiro. Outros devem ser necessariamente complementados com informações próprias do distribuidor/livreiro. Na lista apresentada no post anterior, seriam esses: preço (o livreiro tem que especificar seu(s) preços e condições, que são eventualmente diferentes dos do editor); código de desconto proprietário do editor, que tem que ser complementado pelos eventuais descontos dados pelo livreiro; código de disponibilidade do produto, que deve ser complementado pelos códigos do livreiro (disponibilidade de entrega, prazos, etc.); código de devolução (ou das condições de consignação, que são elementos da relação comercial editor/livreiro). Ou seja, de uma lista de trinta, podemos considerar que quatro dizem respeito à relação entre editor-livreiro e que devem ser acrescidos pelas informações das próprias das relações livreiro-comprador final.
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Metadados para principiantes – aproveitando os ensinamentos de um mestre

A minha viagem à Colômbia para participar da Feira de Livros de Bogotá (que termina hoje, 1 de maio) incluiu a participação em um seminário organizado pelo CERLALC – Centro Regional para o Livro na América Latina e Caribe, intitulado “Todo Comienza em um Libro”. A mesa-redonda da qual fiz parte foi antecedida por uma conferência de Richard Stark, intitulada “Libros, marketing y metadatos: estrategias de posicionamiento y aumento de ventas. Los nuevos entornos en la promoción y distribución de libros, en un mundo conectado”. Stark é diretor de “Product Data” – Dados sobre produtos – da cadeia Barnes & Noble, e também coordena o Comitê de Metadados do BISG – Book Industry Study Group. Nessa condição é um dos responsáveis pela manutenção do BISAC – Book Industry Standards and Communication que, como o nome indica, estabelece padrões para a indústria editorial americana, largamente seguidos também pelos ingleses. O BISG também é o responsável pelo ONIX – Online Information Exchange, sobre o qual falarei amplamente mais adiante, e pelo X12 e-commerce transactions.

Fundado em 1976 por editores e gráficos, o BISG atualmente se destaca em ações de formação e no estabelecimento de padrões de informação estatística para a indústria editorial, buscando unificar os resultados de várias fontes de informação que permitam uma análise compreensiva dos dados de produção e comércio de livros.
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Colômbia – uma visita esclarecedora

Convidado pela FBN e pelo CERLALC – Centro Regional para o Livro na América Latina e no Caribe, estive semana passada em Bogotá para os dias profissionais da Feira de Livros daquela cidade, que este ano homenageia o Brasil como “País Invitado de Honor”, pela segunda vez. Fui participar de um painel, depois de uma conferência feita por Richard Stark. Cconversamos sobre Libros, marketing y metadatos: estrategias de posicionamiento y aumento de ventas. Los nuevos entornos en la promoción y distribución de libros, en un mundo conectado. Stark é diretor da Barnes & Noble e Coordenador do Comitê de Metadados do BISG – Book Industry Study Group. Do painel participamos Camila Cabete, também colunista do PublishNews, Ednei Procópio, que coordena a futura implantação do CANAL – Cadastro Nacional de Livros, da CBL, e Juan Manoel Rozo, da Colômbia e eu.

Mas hoje não vou escrever sobre isso.

O que quero apresentar agora são alguns aspectos da política nacional para livros, leitura e biblioteca daquele país, que são muito interessantes para nós, brasileiros.
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