Estarei hoje às sete da noite, no Livros & Cia, espaço com curadoria do Quartim de Moraes, conversando com Breno Lerner e Isa pessoa sobre os impasses e dilemas do mercado editorial brasileiro.
Para mim, será o teste de algumas ideias que pretendo desenvolver para o próximo livro.
Quem estiver por lá, bem vindo.
Todos os posts de Felipe Lindoso
Acervo para Bibliotecas Públicas: Programa da FBN em pleno funcionamento
A Fundação Biblioteca Nacional divulgou nos últimos dias os números da primeira etapa do programa de aquisição de acervos para as bibliotecas públicas e comunitárias a partir do programa de livros de baixo preço.
Os números são muito significativos e foram amplamente divulgados: 2.114 bibliotecas atendidas, em todos os estados da federação, receberam um total de 1.900.574 exemplares de 10.859 títulos, de 274 editoras, das 510 editoras cadastradas. O orçamento da primeira etapa do programa foi de 21 milhões de reais, dos quais foram executados aproximadamente 17 milhões. As sobras dessa etapa serão usada na segunda etapa do programa, que já tem assegurado mais 16 milhões de reais.
É uma das maiores alocações de recursos para aquisição de acervos para bibliotecas públicas que já houve.
Mas outras características qualitativas do programa merecem nota.
O primeiro e mais importante, sem dúvida, foi a eliminação do paradigma anterior de escolha de listas de livros feitas por comissões nomeadas. Essas comissões, formadas por professores e especialistas de leitura, eram compostas por pessoas altamente qualificadas e com as melhores intenções possíveis.
Esse é que era o problema.
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Políticas públicas – continuidade, avaliação e coragem para mudar
Participei de uma mesa na 22ª. Convenção de Livrarias, sobre políticas públicas para o livro e leitura. Estava com a prof. Antonieta Cunha, que é a Diretora de Livro e Leitura da FBN, Tuchaua Rodrigues e Gerson Ramos, que se ocupam do programa do Livro Popular e da Livraria Popular, da Biblioteca Nacional. Presto uma consultoria ao programa, mas não ocupo nele nenhuma posição executiva.
O Programa do Livro Popular, que mudou o paradigma de compras de acervos para bibliotecas públicas, abrindo espaço para que as própias bibliotecas escolham o que desejam e recebam os recursos para adquirir os acervos através das redes de livrarias, já apresenta números muito interessantes, e a Ministra da Cultura, Ana de Holanda, e o Presidente da FBN, Galeno Amorim, anunciarão nesta quinta-feira, dia 9, na Bienal do Livro de S. Paulo, sua segunda etapa.
Como todo programa inovador, que rompe com paradigmas anteriores, o Programa do Livro Popular, ou livro de baixo custo, apresentou vários problemas em sua execução. Era inevitável. É impossível prever todas as contingências. O importante é manter os canais de comunicação abertos, avaliar o desempenho a cada momento e corrigir os rumos. Isso está sendo feito e a resposta de bibliotecas e livrarias é muito boa.
Mas não falei especificamente sobre o assunto naquela mesa. Outro dia comentarei os números e o desempenho do programa.
O que tentei abordar na minha intervenção foram algumas características de políticas públicas que dessem à plateia de livreiros e editores um marco em torno do qual pudesse ser feita uma discussão produtiva sobre o tema.
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BIENAL DO LIVRO DE SÃO PAULO 2012 – DE ONDE VEIO, PARA ONDE VAI?
Inaugura-se esta semana mais uma Bienal Internacional do Livro de S. Paulo, no Pavilhão do Anhembi. Participo das Bienais do Livro desde os anos 1980, como visitante, expositor e, a certas alturas, como membro da organização. Desde 2004 voltei a ser apenas visitante.
Como a Bienal do Livro é um evento de grande importância, quero aproveitar a oportunidade para comentar alguns dos problemas, sintomas que vêm sendo sentidos desde pelo menos o início do século XXI. E que, aparentemente, vêm se agravando.
Este ano já se podem fazer algumas constatações. Desistências de participações – algumas simbólicas e outras de peso –, uma programação divulgada com atraso e sem nomes internacionais de peso, reclamações sobre o preço dos estandes (raíz de algumas desistências). Por outro lado, a CBL, detentora da Bienal e a Reed Exhibitions Alcântara Machado, a organizadora, informam que a área do evento aumentou e que o aumento real no custo do metro quadrado de estandes foi “apenas” 6,81 %, considerando-se os aumentos havidos de 2008 a 2012. Na época da inflação esse era um índice baixo. Hoje…
Mas, antes de comentar isso, volvemos à origens.
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Logística em pauta. Fedex aumenta participação no Brasil
O Estadão do dia 30 de julho publicou uma matéria no Caderno Negócios que me chamou atenção. Na página 3 estava lá: “A FedEx depois da aquisição”. A matéria dava conta de que a empresa norteamericana havia adquirido o controle completo do Rapidão Cometa, uma das maiores transportadoras e operadoras de logística do país, mudando de patamar na sua atuação no Brasil, inclusive no número de funcionários (de 600 para 9,6 mil).
A matéria relata que, nos úiltimos anos, a FedEx desenvolveu uma estratégia de ocupar maiores espaços nos mercados locais, em países como a China, Índia, México, França e no Brasil. Juan Cento, presidente da divisão da empresa para América Latina e Caribe, declara que “depois de dominar o transporte internacional, a aposta é crescer nos mercados domésticos, o que tem sido feito por meio de aquisições”.
O Rapidão Cometa faturou mais de um bilhão de reais ano passado, atuando no transporte de carga fracionada (um mesmo veículo leva encomenda de vários clientes para diferentes pontos de entrega). O processo de integração das duas empresas deve durar entre um ano e meio e dois anos. A chave do processo é manter a família proprietária do Rapidão no comando da empresa brasileira e desenvolver e integrar os processos e métodos que a FedEx construiu como uma das maiores transportadoras do gênero nos Estados Unidos.
E o que isso tem a ver com o livro?
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Autopublicação: campo de teste de prova das editoras?
Semana passada escrevi um post sobre a impressão digital sob demanda (POD), no qual assinalava que um dos principais usos dessa ferramente estava sendo feito pelas empresas de autopublicação. São empresas como lulu.com nos EUA e Scortecci, Clube de Autores e PerSe no Brasil, dentre outras.
No decorrer da semana deparei com matéria publicada no site Digital Book World, assinada por Jeremy Greenfeld, diretor editorial do site, que informava sobre a aquisição, pela Penguin, de uma plataforma de autopublicação, a Author Solutions por 116 milhões de dólares. O curioso é que a Penguin já tem uma plataforma de autopublicação, chamada Book Country o que, aliás, não foi mencionado pela Penguin no comunicado de lançamento.
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Biblioteca Nacional e Itaú Cultural lançarão em Frankfurt revistas com trechos traduzidos de literatura brasileira
O Instituto Itaú Cultural atendeu ao chamamento do edital de co-edição de publicações feito pela Fundação Biblioteca Nacional e propôs a edição de revista com excertos de obras literárias traduzidos para o inglês ou espanhol, dentro do programa de incentivo à tradução de autores brasileiros. A iniciativa do Itaú Cultural combina com o programa que a instituição já vem desenvolvendo há anos, o Conexões Itaú Cultural – Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira, que recolhe informações sobre professores, pesquisadores e tradutores da nossa literatura no exterior.
A Biblioteca Nacional já iniciou a convocação, ontem, para o envio de excertos de romances, contos ou obras poéticas traduzidas ao inglês ou espanhol, para publicação nessa revista, destinada especificamente a despertar o interesse de editoras internacionais para os autores brasileiros. O primeiro número será lançado na Feira do Livro de Frankfurt deste ano e terá periodicidade trimestral. A convocatória pode ser lida aqui.
A revista ficará disponível em site específico e autores, editoras e agentes internacionais poderão publicar por conta própria separatas dos títulos que lhes interessarem. O Itamaraty, também parceiro da iniciativa, cuidará da difusão internacional através das representações brasileiras. A publicação também será distribuída nas feiras de livros nas quais o Brasil participe.
A ideia da revista vem sendo gestada há tempos e pode ser viabilizada com a publicação do edital para as co-edições, por parte da Biblioteca Nacional, e se insere no esforço que resultou na criação do Centro Internacional do Livro, dos programas de bolsas de tradução, da residência para tradutores do português e de incentivo à publicação de autores brasileiros nos países lusófonos.
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As vendas de livros nos EUA – os dados do ano, sem embromações
A Publisher’s Weekly noticiou ontem as informações gerais sobre o desempenho do mercado editorial nos EUA. Conforme o interesse de quem reproduziu a notícia por aqui, variou a ênfase sobre os diferentes pontos da notícia.
Da minha parte, assinalo em primeiro lugar o seguinte: a manchete anunciava uma queda de 2,5% em 2011. Mas, queda do quê? Do faturamento.
No entanto, ainda no primeiro parágrafo, é anunciado um aumento do número de exemplares vendidos, de 3,4%, “com a discrepância devido a vendas mais elevadas de e-books de preço baixo”.

Uma diferença fundamental no modo de divulgar os dados de produção editorial aqui e lá. Aqui, mais uma vez, deu-se ênfase no mito embromatório do “preço médio”, em queda quase vertiginosa. Lá, simplesmente se assinala que houve aumento dos exemplares vendidos e se indica simplesmente a razão da queda no faturamento: e-books mais baratos.
Nada de “preço médio” e embromações semelhantes.
Já escrevi sobre essa falácia do preço médio e não voltarei mais ao assunto. Quem quiser saber do meu raciocínio pode ler o post “Preço médio “ dos livros: uma ficção aritmética.
Mas, voltando aos EUA e à notícia da PW.
A revista assinala que o ponto mais importante a ser destacado foi o incremento da venda de e-books. No segmento de livros gerais, “trade” no linguajar de lá, as vendas de e-books aumentaram de 2,7 bilhão de dólares em 2011, enquanto em 2010 havia sido de 860 milhões de dólares. Um aumento de 210%, que representa ademais um aumento de 15% no total das vendas do segmento.
Em exemplares vedidos, as vendas de e-books na ficção para adultos já representa 30% de todas as vendas, fazendo dos e-books o formato que mais vende no segmento, deixando atrás os hardovers, “trade paperback” e “mass market paperback”.
O segmento de maior crescimento no ano foi o da literatura infantil e juvenil, no qual as vendas aumentaram 12% em relação ao ano anterior.
O aumento no comércio de e-books se reflete obviamente no local onde as pessoas compram livro. Os varejistas on-line tiveram um aumento de 35% em suas vendas, enquanto as livrarias tradicionais (incluindo as redes), caíram em 12,6%.
Outro dado importantíssimo é o das vendas “institucionais” – bibliotecas, empresas, governo e escolas -, que alcançaram 20% do total. Note-se que não existe programas governamentais de compra de livros didáticos nos EUA.
O relatório é preparado pela BookStats, a pesquisa anual coordenada pela AAP – Associação dos Editores Americanos, e pelo BISG – Grupo de Estudos da Indústria Editorial. Do total de 27,2 bilhões de dólares nas vendas, mais de 16 bilhões foram coletados diretamente dos editores. O relatório completo pode ser adquirido através da AAP e do BISG.
Esse eu queria poder comprar para comparar com a peça produzida pela FIPE.
Banco Mundial pune Oxford University Press por corrupção
A Publishing Perspectives publicou hoje matéria, assinada por Dennis Abrams, relatando que duas subsidiárias africanas (da propriedade exclusiva da matriz inglesa) da Oxford University Press foram proibidas pelo Banco Mundial de participar de licitações nos programas de aquisição de livros para as escolas. São elas: Oxford University Press East Africa Limited (OUPEA) e a Oxford University Press Tanzania Limited (OUPT).
As acusações de corrupção feitas pelo Banco Mundial incluem o pagamento de propinas a funcionários públicos do Quênia e da Tanzânia. A notícia ademais informa que, como resultado dessa ação do Banco Mundial, as duas editoras também serão excluídas de licitações feitas por outros organismos multinacionais em países africanos.
Como proprietária exclusiva das duas editoras banidas, a Oxford University Press também foi ameaçada com a mesma proibição. Teve que negociar com o Banco Mundial o pagamento de uma multa de US$ 500.000 (quinhentos mil dólares), a serem empregados no financiamento de projetos que lutem contra a corrupção.
Vale a pena alguns comentários.
1. Quem diria! Editoras universitárias de prestígio internacional, afiliadas a uma das mais importantes universidades do mundo serem flagradas comprando funcionários públicos! Se fosse aqui, já dava CPI contra o reitor, o chanceler e se o primeiro-ministro inglês fosse do PT, também entrava na dança, com certeza. Mas como é da direita, lá ele escapa.
2. As editoras inglesas da área universitária – Oxford e Cambridge – têm posição fortíssima no mercado internacional de ensino de idiomas, em particular do inglês, claro. Língua que é a mais usada internacionalmente e que rende muita grana às duas. Mas as editoras inglesas de didáticos continuam com uma posição fortíssima na produção e venda de livros didáticos para as ex-colônias do falecido British Empire. Na maior parte dos casos, esses países seguem currículos e sistemas de ensino remanescentes dos usados na metrópole, o que facilita muitíssimo a ação dessas multinacionais britânicas.
3. A mesma coisa acontece nas ex-colônias do avozinho Portugal. As editoras de didáticos portuguesas têm um quase monopólio do material didático nas ex-colônias, todas atuais membros da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. São países pobres e as aquisições de material didático são praticamente todas financiadas com recursos da Comunidade Europeia ou do Bando Mundial. Os recursos da Comunidade Europeia são carimbados: só editoras dasmetrópoles podem participar. Mas as verbas do Banco Mundial são objeto de concorrência internacional. As editoras brasileiras nunca se interessaram por isso, acredito que por uma conjunção de fatores: a) teriam que produzir livros de acordo com o currículo e as especificações de ensino daqueles países. Ou seja, teriam que fazer investimentos para adaptar seus produtos às realidades daqueles países; b) O Itamaraty e o MEC nunca visualizaram essas concorrências de livros didáticos como uma oportunidade prática de melhorar a posição do Brasil na CPLP. Por isso, o governo brasileiro jamais pensou em desenvolver um programa de apoio para que essa atuação fosse possível. Afinal, conseguir negócios para as empreiteiras é mais rentável, lá como aqui, ao contrário da educação e da cultura.
Impressão digital, impressão sob demanda. Perspectivas e impasses
Assisti mês passado à II Conferência Internacional de Impressão Digital, promovida pelo Grupo Empresarial de Impressão Digital – GEDIGI, da ABIGRAF, para entender um pouco mais dessas questões, que há muito me chamam atenção.
E me chamam atenção por várias razões. A impressão sob demanda (POD, na sigla em inglês) vem sendo utilizada já há tempos pela indústria editorial dos EUA, como meio de reduzir estoques e melhorar as condições de logística. Os processos de editoração eletrônica permitem que a transição entre a impressão tradicional e a impressão digital sejam extremamente facilitados. E mais, esses processos de editoração são fundamentais para o aumento rápido da oferta de e-books naquele mercado.
A Amazon, por sua vez, impulsionou ainda mais esse processo com sua parceria com a Lightning Source, divisão da Ingram, que é uma das mnaiores distribuidoras de livros impressos dos EUA. Quando se faz um pedido à Amazon, o sistema informatizado automaticamente busca o livro no estoque da livraria, no estoque da Ingram e no estoque da editora e como POD, se o livro estiver disponível nesse sistema. O meio mais rápido é o usado para garantir a entrega do livro ao cliente no prazo mais curto.
Por sua vez, a impressão digital – combinada com o livro eletrônico – deu um extraordinário impulso à auto-publicação. Editoras como a Lulu permitiram a autopublicação de simplesmente centenas de milhares de títulos, com tiragens entre alguns exemplares a vários milhares. Alguns autores viraram sucesso e foram contratados pelas editoras mainstream (evidentemente esses são divulgados, os que não conseguem sucesso permanecem no anonimato de sempre).
No Brasil, entretanto, percebo que esse processo se dá a uma velocidade muito menor. A minha ida ao congresso, portanto, era a busca de algumas respostas para a razão pela qual isso acontece aqui.
Não consegui todas as respostas que queria. Mas algumas foram proporcionadas pela palestra do Hamilton Terni Costa, que reproduzo integralmente aqui. Hamilton é um dos profissionais mais qualificados do setor gráfico, com uma carreira que inclui experiências com a Melhoramentos (gráfica), com a Donelly e outras importantes empresas da área. Hoje é sócio de uma consultoria. Depois do Congresso troquei alguns e-mails com o Hamilton, complementando informações.
Hamilton informou, em sua palestra, que a impressão de livros é a que teve maior expansão entre as dez maiores aplicações de impressão digital nos EUA, com mais de 48,8 bilhões de páginas impressas a mais entre 2010 e 2011, alcançando um total de perto de cem bilhões de páginas impressas. Como aplicação da impressão digital, só perde para a mala direta, que passa dos cem bilhões. O segmento “conteúdo” – majoritariamente livros, do mercado de impressão digital brasileiro – corresponde a 19% de um total de R$ 1,7 bilhões, ou aproximadamente R$ 323 milhões em 2010. Nada insignificante, mas bem longe do que poderia ser.
Uma parcela bem significativa da produção de livros POD no Brasil (assim como nos EUA), é proveniente da autopublicação. As grandes gráficas já incorporaram equipamentos de impressão digital em suas linhas de produção, mas o uso desses equipamentos para produtos editoriais ainda é relativamente pequeno.
O aumento da autopublicação é medido principalmente pelo número de ISBNs solicitados. A Bowker, que administra o ISBN dos EUA, registrou quase 1,2 milhão de solicitações para ISBN de títulos autopublicados nos EUA em 2011. Isso corresponde a quase quatro vezes o número de registros para publicações “tradicionais”, incluindo reedições.
Esse é um mercado em rápido crescimento também aqui no Brasil. A Alpha Graphics, uma multinacional do setor, através da AGBook em associação com uma empresa chamada Clube de Autores já tem um catálogo de quase vinte mil títulos publicados, com esquema de comercialização através dos dois sites (têm conteúdo praticamente idênticos). O Clube dos Autores é uma iniciativa do i-Group, especializada em planejamento estratégico digital e com a A2C, uma agência de publicidade. É um modelo idêntico ao da Lulu.com e similares.
A Scortecci, uma editora de publicação de autores independentes, já editou cerca de sete mil títulos em primeira edição e mostra um catálogo de 2.750 títulos em seus vários selos, e sua Fábrica de Livros este ano já publicou 316 títulos, projetando 632 títulos até o final do ano. Ao contrário do Clube de Autores, a Scortecci define tiragens mínimas com preços preestabelecidos de produção e preço de capa.
Esses são apenas dois exemplos de empresas que atuam no mercado brasileiro. Existem muitas outras editoras que produzem livros pelo sistema POD, acoplados ou não a versões digitais (epub, mobi ou pdf), como se pode comprovar pelo Google. A maioria absoluta, entretanto, está localizada nos estados do sudeste e sul.
O que me intrigava e continua intrigando, entretanto, é o baixo índice de aproveitamento de impressões por demanda como modo de diminuir as questões de logística da distribuição. Como mencionei no começo do artigo, esse sistema já é amplamente usado nos EUA, não apenas para atender à demanda da Amazon, mas também para suprir o mercado de livrarias tradicionais. Não é à toa que a Ingram e o Lightning Source se expandem com rapidez, assim como outros sistemas gráficos. E sabemos que os custos e a infraestrutura de transporte são muitíssimo mais eficientes por lá do que aqui.
Entretanto, é mais fácil ver algumas editoras de grande porte (especialmente as do setor didático) anunciando a criação de centros de distribuição no nordeste que notícias sobre o uso de POD para ajudar nesse processo.
Note-se que nos principais modelos de aquisição de livros pelo governo (PNLD, PNLEM, PNBE), o custo maior de logística fica por conta do governo. As editoras entregam em bloco para os Correios, em lotes devidamente etiquetados e separados por um programa desenvolvido pelo FNDE, e é essa instituição que negocia e paga os custos do transporte para todas as escolas públicas do país. Talvez por aí se encontre um indício de explicação: o maior custo, que seria o da distribuição de livros escolares para a rede pública, não afeta as editoras. E esse é uma parcela muito grande do negócio dessas editoras.
Na troca de e-mails com Hamilton, depois do Congresso de Impressão Digital, ele me informou que, depois de sua palestra, foi procurado por uma empresa que estava interessada na formação de uma rede de gráficas em nível nacional para fazer esse atendimento. “Achei interessante encontrar empresários já pensando nessa viabilização, algo essencial em um país continental como o nosso”, disse Hamilton.
“A questão da responsabilidade de baixar o custo da distribuição do livro sob demanda é tanto do editor quanto da gráfica, mas primordialmente das gráficas. E nisso reside uma excelente oportunidade de mercado para elas”, afirmou Hamilton, em outro trecho.
A próxima chegada da Amazon ao mercado brasileiro, e a possibilidade de que entre também no negócio da venda de livros impressos, pode ser um fator que provoque uma evolução rápida desse quadro. Com sua experiência, a gigante americana pode se esforçar para induzir editoras e gráficas a usarem de modo mais amplo a impressão sob demanda.
O fato da maior produção e o maior consumo de livros do Brasil se concentrar principalmente nas regiões sudeste e sul ajuda também a explicar essa situação. Mas, ao desconsiderar a possibilidade de diminuir os custos de logística, as editoras desprezam meios para efetivamente reduzir custos e, consequentemente, diminuir o preço dos livros ou melhorar sua rentabilidade.


