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IMPRESSÃO DIGITAL – PARA O MERCADO TRADE

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A utilização de processos de impressão digital para o setor educacional foi objeto de uma sessão de apresentações feitas pela HP, em S. Paulo, no último dia 15 de agosto. Algumas das consequências e possibilidades disso foram abordadas na coluna do dia 20 passado.

Mas as questões que me interessavam mais de perto não haviam sido abordadas na ocasião, pois diziam respeito ao mercado trade, o dos livros de obras gerais. E continuava curioso para entender como essa equação de imprimir em S. Paulo e no Rio para distribuir pelo Brasil inteiro não era substituída pela impressão digital descentralizada, sob demanda, para entrega nas livrarias e distribuidoras dos outros estados, assim economizando tanto os custos de frete quanto os de armazenamento.

Consegui algumas das respostas que precisava – e entendi muito melhor o problema – depois de uma conversa com Maurício Ferreira, gerente do segmento HP Índigo & Inkjet Web Press da multinacional.

Não basta supor, é preciso deixar claro que a conversa mostra perspectivas da HP no Brasil. Certamente as concorrentes – Xerox, Ricoh, Canon, Océ e outras – terão visões diferenciadas sobre o mercado brasileiro e sobre a questão da impressão sob demanda, principalmente para o segmento dos livros gerais, com impressão de miolo em p&b e capa a cores. Como Maurício salientou, a estratégia da HP no Brasil se dirigiu primeiramente para o mercado de ponta – o educacional – no qual as tiragens são altas e a praticidade e a versatilidade da impressão digital são mais relevantes (ou menos cruciais) que o custo unitário.
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EDIÇÃO DIGITAL – OUTROS LADOS DE VÁRIAS MOEDAS

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Normalmente se associa a questão da edição digital aos e-books e e-readers. Mas a coisa não é tão simples. Já mencionei que o uso de formatos digitais pelas editoras do segmento técnico-científico está próxima de comemorar seu vigésimo aniversário.

Mas o mundo digital afeta o mundo editorial não apenas dessa forma. Na área dos tradicionais livros impressos, os processos gráficos passaram, nos últimos anos, por transformações igualmente grandes e significativas. Aliás, as transformações técnicas dos processos de impressão têm impactos diretos na quantidade e na qualidade dos livros tradicionais ofertados. A mais recente dessas transformações é a da impressão digital.

A eletrofotografia (reprodução por meios eletrostáticos de um original, foto ou texto), desenvolvida pela Xerox no final nos anos 1950, foi onde a coisa começou. Anos depois a Xerox fundou o PARC – Palo Alto Research Center, matriz de inúmeras inovações tecnológicas na área da reprodução (impressoras a jato de tinta e laser), e dos computadores pessoais.

A chamada “xerografia”, como ficou popularmente conhecida, com máquinas cada vez mais complexas, desembocou, nos anos 1990, na DocuTech, uma máquina apresentada como a primeira “fábrica de livros”, que imprimia página por página um original, compaginava e apresentava na ponta o miolo do livro, pronto para ser encadernado. A DocuTech foi o primeiro sistema integrado de impressão sob demanda.
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Consolidação de logística nos EUA

A imprensa noticiou hoje que a HarperCollins construiu um acordo com a R.R. Donnley para que a gráfica sirva também como centro de distribuição e logística para todos seus selos editoriais. A HC fechará o centro de distribuição de seu selo Thomas Nelson, em Nashville, e deixará também de usar outros centros de distribuição. O grupo editorial administrará os serviços para consumidores, administração de crédito, cobrança, IT e, obviamente, a administração de vendas.

Essa movimentação de vendas faz avançar nos EUA a consolidação e integração dos processos de impressão e distribuição. A Ingram, que é a maior distribuidora dos EUA, também oferece um serviço de printing-on-demand que abastece muitas editoras e está bem integrado com os sistemas da Amazon, como já mencionei em outro post.

Esse processo de consolidação, cada vez mais acelerado nos EUA, acontece também na Europa. Para citar um exemplo, o grupo Hachette atua fortemente nos serviços de logística e distribuição não apenas para os selos do grupo, mas também para terceiros. Seu gigantesco centro de distribuição em Maurepas, nos subúrbios de Paris, atende a cerca de oitenta editoras francesas. A Hachette também concluiu um acordo com a Lighting Source, o braço de POD da Ingram, para a impressão sob demanda. O grupo francês também atua na distribuição de livros na Austrália, Reino Unido e Espanha.

Os problemas de logística assumem papel cada vez mais relevante nos procedimentos do mercado editorial internacional, e quase sempre estão unidos com serviços de impressão sob demanda. Aqui no Brasil é que se insiste em mandar caminhões todos os dias para o Nordeste e para o Sul, e cargas aéreas para o Norte, encarecendo sobremaneira a operação das editoras, distribuidoras e livrarias. Até que todos sejam forçados a aprender…

Impressão digital, impressão sob demanda. Perspectivas e impasses

Assisti mês passado à II Conferência Internacional de Impressão Digital, promovida pelo Grupo Empresarial de Impressão Digital – GEDIGI, da ABIGRAF, para entender um pouco mais dessas questões, que há muito me chamam atenção.

E me chamam atenção por várias razões. A impressão sob demanda (POD, na sigla em inglês) vem sendo utilizada já há tempos pela indústria editorial dos EUA, como meio de reduzir estoques e melhorar as condições de logística. Os processos de editoração eletrônica permitem que a transição entre a impressão tradicional e a impressão digital sejam extremamente facilitados. E mais, esses processos de editoração são fundamentais para o aumento rápido da oferta de e-books naquele mercado.

A Amazon, por sua vez, impulsionou ainda mais esse processo com sua parceria com a Lightning Source, divisão da Ingram, que é uma das mnaiores distribuidoras de livros impressos dos EUA. Quando se faz um pedido à Amazon, o sistema informatizado automaticamente busca o livro no estoque da livraria, no estoque da Ingram e no estoque da editora e como POD, se o livro estiver disponível nesse sistema. O meio mais rápido é o usado para garantir a entrega do livro ao cliente no prazo mais curto.

Por sua vez, a impressão digital – combinada com o livro eletrônico – deu um extraordinário impulso à auto-publicação. Editoras como a Lulu permitiram a autopublicação de simplesmente centenas de milhares de títulos, com tiragens entre alguns exemplares a vários milhares. Alguns autores viraram sucesso e foram contratados pelas editoras mainstream (evidentemente esses são divulgados, os que não conseguem sucesso permanecem no anonimato de sempre).

No Brasil, entretanto, percebo que esse processo se dá a uma velocidade muito menor. A minha ida ao congresso, portanto, era a busca de algumas respostas para a razão pela qual isso acontece aqui.

Não consegui todas as respostas que queria. Mas algumas foram proporcionadas pela palestra do Hamilton Terni Costa, que reproduzo integralmente aqui. Hamilton é um dos profissionais mais qualificados do setor gráfico, com uma carreira que inclui experiências com a Melhoramentos (gráfica), com a Donelly e outras importantes empresas da área. Hoje é sócio de uma consultoria. Depois do Congresso troquei alguns e-mails com o Hamilton, complementando informações.

Hamilton informou, em sua palestra, que a impressão de livros é a que teve maior expansão entre as dez maiores aplicações de impressão digital nos EUA, com mais de 48,8 bilhões de páginas impressas a mais entre 2010 e 2011, alcançando um total de perto de cem bilhões de páginas impressas. Como aplicação da impressão digital, só perde para a mala direta, que passa dos cem bilhões. O segmento “conteúdo” – majoritariamente livros, do mercado de impressão digital brasileiro – corresponde a 19% de um total de R$ 1,7 bilhões, ou aproximadamente R$ 323 milhões em 2010. Nada insignificante, mas bem longe do que poderia ser.

Uma parcela bem significativa da produção de livros POD no Brasil (assim como nos EUA), é proveniente da autopublicação. As grandes gráficas já incorporaram equipamentos de impressão digital em suas linhas de produção, mas o uso desses equipamentos para produtos editoriais ainda é relativamente pequeno.

O aumento da autopublicação é medido principalmente pelo número de ISBNs solicitados. A Bowker, que administra o ISBN dos EUA, registrou quase 1,2 milhão de solicitações para ISBN de títulos autopublicados nos EUA em 2011. Isso corresponde a quase quatro vezes o número de registros para publicações “tradicionais”, incluindo reedições.

Esse é um mercado em rápido crescimento também aqui no Brasil. A Alpha Graphics, uma multinacional do setor, através da AGBook em associação com uma empresa chamada Clube de Autores já tem um catálogo de quase vinte mil títulos publicados, com esquema de comercialização através dos dois sites (têm conteúdo praticamente idênticos). O Clube dos Autores é uma iniciativa do i-Group, especializada em planejamento estratégico digital e com a A2C, uma agência de publicidade. É um modelo idêntico ao da Lulu.com e similares.

A Scortecci, uma editora de publicação de autores independentes, já editou cerca de sete mil títulos em primeira edição e mostra um catálogo de 2.750 títulos em seus vários selos, e sua Fábrica de Livros este ano já publicou 316 títulos, projetando 632 títulos até o final do ano. Ao contrário do Clube de Autores, a Scortecci define tiragens mínimas com preços preestabelecidos de produção e preço de capa.

Esses são apenas dois exemplos de empresas que atuam no mercado brasileiro. Existem muitas outras editoras que produzem livros pelo sistema POD, acoplados ou não a versões digitais (epub, mobi ou pdf), como se pode comprovar pelo Google. A maioria absoluta, entretanto, está localizada nos estados do sudeste e sul.

O que me intrigava e continua intrigando, entretanto, é o baixo índice de aproveitamento de impressões por demanda como modo de diminuir as questões de logística da distribuição. Como mencionei no começo do artigo, esse sistema já é amplamente usado nos EUA, não apenas para atender à demanda da Amazon, mas também para suprir o mercado de livrarias tradicionais. Não é à toa que a Ingram e o Lightning Source se expandem com rapidez, assim como outros sistemas gráficos. E sabemos que os custos e a infraestrutura de transporte são muitíssimo mais eficientes por lá do que aqui.

Entretanto, é mais fácil ver algumas editoras de grande porte (especialmente as do setor didático) anunciando a criação de centros de distribuição no nordeste que notícias sobre o uso de POD para ajudar nesse processo.

Note-se que nos principais modelos de aquisição de livros pelo governo (PNLD, PNLEM, PNBE), o custo maior de logística fica por conta do governo. As editoras entregam em bloco para os Correios, em lotes devidamente etiquetados e separados por um programa desenvolvido pelo FNDE, e é essa instituição que negocia e paga os custos do transporte para todas as escolas públicas do país. Talvez por aí se encontre um indício de explicação: o maior custo, que seria o da distribuição de livros escolares para a rede pública, não afeta as editoras. E esse é uma parcela muito grande do negócio dessas editoras.

Na troca de e-mails com Hamilton, depois do Congresso de Impressão Digital, ele me informou que, depois de sua palestra, foi procurado por uma empresa que estava interessada na formação de uma rede de gráficas em nível nacional para fazer esse atendimento. “Achei interessante encontrar empresários já pensando nessa viabilização, algo essencial em um país continental como o nosso”, disse Hamilton.

“A questão da responsabilidade de baixar o custo da distribuição do livro sob demanda é tanto do editor quanto da gráfica, mas primordialmente das gráficas. E nisso reside uma excelente oportunidade de mercado para elas”, afirmou Hamilton, em outro trecho.

A próxima chegada da Amazon ao mercado brasileiro, e a possibilidade de que entre também no negócio da venda de livros impressos, pode ser um fator que provoque uma evolução rápida desse quadro. Com sua experiência, a gigante americana pode se esforçar para induzir editoras e gráficas a usarem de modo mais amplo a impressão sob demanda.

O fato da maior produção e o maior consumo de livros do Brasil se concentrar principalmente nas regiões sudeste e sul ajuda também a explicar essa situação. Mas, ao desconsiderar a possibilidade de diminuir os custos de logística, as editoras desprezam meios para efetivamente reduzir custos e, consequentemente, diminuir o preço dos livros ou melhorar sua rentabilidade.