Todos os posts de Felipe Lindoso

Felipe Lindoso é jornalista, tradutor, editor e consultor de políticas públicas para o livro e leitura. Foi sócio da Editora Marco Zero, Diretor da Câmara Brasileira do Livro e consultor do CERLALC – Centro Regional para o Livro na América Latina e Caribe, órgão da UNESCO. Publicou, em 2004, O Brasil Pode Ser um País de Leitores? Política para a Cultura, Política para o Livro, pela Summus Editorial.

Amazon no Brasil. Perguntas pendentes


A chegada da Amazon – êta parto dolorido que foi esse, coincidente com a venda do Kobo em parceria com a Cultura e a chegada da loja da Google – ainda exige algumas respostas.

Ao entrar no site www.amazon.com.br, se já se for cliente da Amazon, o login é redirecionado para a loja brasileira, com a pergunta se o cliente deseja mudar a localização da conta. Nas explicações, fica claro que as subscrições de revistas serão terminadas, com o reembolso proporcional da assinatura, e que os serviços de música e vídeo não serão oferecidos no Brasil. Até aí, sem novidades, pois mesmo quem tem conta kindle nos EUA só consegue baixar música e vídeo se estiver lá ou usar um proxy. Para Internautas experientes isso é possível, mas o usuário comum está bloqueado de conteúdos específicos.

A loja brasileira tem o mesmo jeitão da matriz, inclusive com “mais vendidos”. Cáspite: como a Amazon já tem “mais vendidos” na estreia?

A Apple também não disponibiliza todos os produtos da iTunes americana na versão brasileira, de modo que isso não é novidade. A justificativa, sempre, é que os contratos de distribuição sempre incluem – ou não – clausulas de territorialidade.

Essa política já me causou problemas com a Amazon. Passei meses usando um celular com Windows 7.5 e o app do kindle não estava disponível para o Brasil, embora estivesse para outros países. Mandei vários e-mails reclamando uma solução para isso, tanto para o Widman aqui no Brasil quanto para Seattle. As respostas – quando as houve – desmentiam essa história da Amazon ser assim tão “consumer centric”. Não me deram bola. Mas, aí por agosto/setembro, o app foi disponibilizado para o Brasil.

No site Amazon.com.br, entretanto, fiquei com algumas dúvidas:

1 – O cartão de crédito será faturado no Brasil ou nos EUA. Isso de dizer que a venda será em reais não significa nada. Quando o cartão é faturado nos EUA, tudo é transformado em US$ e depois cobrado nos eu cartão de crédito brasileiro. Com o acréscimo do IOF. É o caso das compras no iBook da Apple. Carlo Carrenho, do PublishNews, já fez gozação dizendo que a Apple conseguiu reinstaurar a cobrança de impostos na venda de livros no Brasil… É de morrer de rir. A Amazon não esclarece esse ponto.

2 – Também não esclarece o que acontece se o cliente for subscritor do programa Prime, que dá algumas vantagens de frete nos EUA. O Prime continuará vigente? Será cancelado e a diferença reembolsada?

Seguindo sua prática habitual, a Amazon joga oferecendo o Kindle touch básico por R$ 299,00 (com ou sem IOF?), contra o aparelho da Kobo vendido a R$ 399,00. O curioso é que o anúncio fala de “preço sugerido” para o Kindle. O que isso significa, não se sabe, pelo menos por enquanto.

Sem saber os detalhes do faturamento no cartão, fica difícil também comparar os preços de livros vendidos através de ePub(Kobo e similares) e os do ecossistema Amazon.

Bom, já mandei e-mail com minhas perguntas para o suporte da Amazon (e com cópia para o Widman). Vamos ver quando respondem…

FIL NIÑOS – OUTRO PLANETA


Todos que frequentamos as Bienais do Livro – do Rio e de S. Paulo – enfrentamos a balbúrdia e a barulheira da chamada “visitação escolar”. Assim são chamados os programas que promovem a visita de alunos, de escolas públicas e particulares, às feiras. Além das bienais mais antigas, essa prática vem se expandindo na maioria das iniciativas de feiras de livros.

A razão e justificativa dessas visitas é sempre a de colocar as crianças em contato com os livros, com a diversidade de oferta que se apresenta nos grandes eventos.

Só que, na realidade, o que se vê é uma balbúrdia absolutamente desorganizada. A garotada para nos estandes de algumas editoras que apresentam “atrações”: mocinhas que pintam tatuagens laváveis, contadores de histórias (a melhor das opções), palhaços e mímicos… e por aí vai. Quando não põem para tocar nos estandes músicas em uma altura que se equipara à inanição das letras.
Nenhum adulto de bom senso se atreve a ir às feiras nos “horários escolares”. A meninada correndo, o barulho, a confusão, nada contribui para quem queira procurar um livro.
Por outro lado, as editoras de livros infantis e juvenis – que muitas vezes convocam, através de seus divulgadores, os alunos de algumas escolas para que visitem seus estandes – argumentam que esse é um dos aspectos mais importantes e positivos das feiras. Afinal, em boa parte delas, os governos municipais ou estaduais desenvolvem programas de cheques-livros ou similares, que permitem que os alunos adquiram algum exemplar do que queiram.

Quem observa as bienais já constatou, à farta, que os livros adquiridos são os que estão nos estandes de saldos. Estandes que não têm o menos pudor em colocar os preços precisamente no valor desses cheques ou vales dados pelas secretarias de educação. No que, obviamente, atuam apenas como comerciantes que tentam recuperar seu investimento.
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Que o GIE comece a aparecer

Boris Fangiola, da Câmara Uruguaia do Livro, foi eleito presidente do GIE – Grupo Interamericano de Editores no Congresso de Editores que se reuniu na cidade do México e em Guadalajara nesta semana.

“Ninguém sabe o que é o GIE e para que serve”, ele diz. “No entanto, pretendo mudar essa situação, enfatizando alguns pontos da missão da instituição, como a luta pela livre circulação de livros, a defesa do direito autoral, o combate à pirataria e a adaptação de nosso mercado às transformações provocadas pelos livros digitais.”

Boris Fangiola é livreiro, começou a trabalhar em livrarias aos quinze anos, “fazendo o que todos os rapazolas fazem nessa situação: preparando pacotes, arrumando estoque, levando recados”. Hoje tem sua empresa e leva quarenta anos de experiência no mercado de livros.

Boris foi particularmente enfático quanto aos problemas provocados pelo governo Argentino. Segundo ele, ainda que formalmente a legislação não proíba a importação de livros naquele país, a exigência de que se exporte um dólar para cada dólar de importação coloca as livrarias em uma situação muito precária. Nem todas são exportadoras, e por isso se vêem impedidas de trabalhar. Na porção hispânica da América Latina, o comércio com a Espanha é um componente muito forte, e o protecionismo argentino prejudica livreiros e a indústria gráfica uruguaia, além de outros setores produtivos daquele país.De fato,as restrições para-alfandegárias são muitas vezes os meios usados pelos governos para dificultar a circulação dos livros.

Fangiola assinalou também as diferenças nos sistemas tributários dos países da região. As alíquotas dos impostos de vendas, o IVA (similar ao ICMS brasileiro) variam muito, e há países onde a alíquota para importação de livros é bem pesada, como no Chile.

A pirataria é outra das preocupações do novo presidente do GIE. Ele distingue a “pirataria industrial”, a cópia impressa de edições inteiras, da cópia de trechos pequenos, seja pela fotocópia, seja pelo escaneamento de trechos de livros. Essa primeira situação é particularmente grave na Bolívia e no Equador. “Na Bolívia existe uma feira de livros piratas a um quarteirão da Feira de Livros. Isso não é possível”. A pirataria já foi forte também no Peru, mas por lá a situação já está mais controlada.

Outra coisa é a cópia fotostatica. Boris critica a situação em que se chegou em alguns países, onde editores e livreiros acabaram acusados de ser contra a educação.

“Não podemos ser qualificados como inimigos da educação, como aconteceu e acontece em alguns países.”(Crítica semivelada à ABDR?). “ A proteção contra as copias ilegais deve ser entendida como uma defesa também dos direitos do autor, e seu combate depende muito de ações governamentais, inclusive no desenvolvimento de bibliotecas, particularmente as das escolas de ensino médio, e das universidades, onde o fenômeno é mais comum.”

Boris Fangiola pretende solicitar o apoio do Cerlalc para as ações do GIE. Segundo ele, o GIE só pode atuar através das câmaras de livros locais, e como o Cerlalc é um organismo multigovernamental, poderá ser muito útil. “Conversei aqui em Guadalajara com Fernando Salazar, o diretor do Cerlalc, e lhe disse que pretendo acionar muito sua equipe”, diz ele. “O GIE só atua através das câmaras, nossos recursos são exclusivamente os provenientes das contribuições das câmaras sócias. Por isso mesmo se torna muito difícil atuar diretamente.”

Boris, entretanto, pretende superar um período em que o GIE praticamente não fez sentir sua presença. O presidente anterior era Oswaldo Siciliano, ex-proprietário da rede de livrarias que hoje é da Saraiva e que foi presidente da CBL.

Só resta desejar ao novo presidente boa sorte na execução de seus propósitos.

A Feira de Guadalajara

Depois de uma cansativa viagem de vinte e oito horas, que incluiu uma decolagem abortada em um avião da Embraer, cheguei a Guadalajara para participar de uma mesa no evento “La Otra Mirada”, no fórum Internacional de Editoras. O tema foi o desafio digital: seria possível criar uma rede de distribuição de conteúdos digitais fora das “redes dominantes” e das grandes corporações?

Eu estava na companhia de Javier Sepúlveda, da Ebooks Patagônia, Blanca Rosa Roca, da Roca Editorial e da Barcelona Ebooks, e de Buenaventura Porcel, do grupo Trevenque, mediados pelo colega colunista do PublishNews, Octávio Kulesz.

A conclusão geral foi a de que sim, é possível, mas com muitas dificuldades.

Gostei muito da apresentação de Blanca Rosa Roca, que põe a mão na massa e procura distribuir por todos os canais possíveis, incluindo também as grandes corporações. Seus livros estão na Amazon, Apple e são distribuídos no México pela Random House Mondadori (a mesma que se associou recentemente à Penguin e que, portanto, passa a ser sócia da Cia. das Letras).

Na minha perspectiva, acredito que as livrarias poderão sobreviver no meio digital, se:

a) Junto, os editores levarem a sério as questões dos metadados. Ser descoberto é o maior desafio do mundo digital, para editores e livreiros, e nisso eles serão parceiros ou cúmplices. Como já comentei várias vezes, a situação no Brasil no que diz respeito a isso é simplesmente catastrófica. Se editores e livreiros nacionais não se derem conta disso e começarem a levar o assunto a sério, a Amazon – e a Kobo – vão forçá-los a isso, e para sua vantagem, não das pequenas livrarias ou das editoras.

b) Quanto às livrarias, acredito ser imprescindível que organizem uma plataforma de vendas comum, nem que seja com um dos e-readers já existentes, como a ABA fez com a Kobo. Mas, sobretudo, é fundamental que criem um “ecossistema” onde os clientes/leitores possam navegar com a mesma fluidez como navegam na Amazon. Ou seja, precisam aprender a ser interdependentes para manter sua independência.

As condições para que isso aconteça não são impossíveis, mas certamente muito difíceis. As livrarias não conseguem se organizar para melhorar sua logística em comum, têm serias deficiências de gestão, seus sistemas de informática não facilitam a busca de livros – já comentei sobre isso e não o farei novamente aqui – e enfrentam, no caso do Brasil, as facilidades abusivas que as editoras concedem às cadeias nas condições de venda dos best-sellers em descontos, por exemplo.

Mas o campo das possibilidades está em aberto.

A Feira de Guadalajara é um caso à parte. Conseguiu se colocar (bem abaixo de Frankfurt, evidentemente), como polo de negociações de direitos, tal como Bolonha e Londres.

Com é controlada pela Universidad de Guadalajara, os eventos de ordem acadêmica e profissional são muito intensos e significativos. Um detalhe importante: os horários de visitas para o público em geral e para os profissionais são diferenciados, o que permite a estes efetivamente encarar a feira como participantes de uma comunidade de negócios e não apenas como administradores dos estandes. Desse modo, a presença dos diretores das empresas é muito mais significativa que nas nossas Bienais, por exemplo.

As atividades para crianças e escolares se desenvolvem principalmente em um pavilhão separado, o que diminui muito a balbúrdia da molecada circulando entre os estandes. Devo dizer, entretanto, que como estou aqui nos dias profissionais, talvez essa minha percepção possa ser equivocada.

Outro grande achado de Guadalajara foi a de convidar e pagar passagens e hospedagens para bibliotecários americanos, que para cá vêm com recursos para aquisição de acervos. Infelizmente a crise por lá fez diminuir muito essa fonte de recursos, mas a iniciativa continua, inclusive com encontros profissionais para bibliotecários.
Enfim, Guadalajara pode proporcionar vários exemplos de alternativas para a organização das nossas duas grandes e polêmicas Bienais do livro, a do Rio e a de São Paulo. Resta saber se os responsáveis pela organização delas estão atentos e dispostos a aprender e melhorar.

Isso, porém, tal como a sobrevivência das livrarias no meio digital, só o tempo dirá.

Carta aberta da ANL sobre o comércio de livros digitais – e comentários.

A ASSOCIÇÃO NACIONAL DE LIVRARIAS – ANL, enviou à imprensa uma carta aberta sobre o livro digital, aqui transcrita, com comentários meus no final.

CARTA ABERTA DA ANL SOBRE O LIVRO DIGITAL NO BRASIL

Diante de novos desafios, assim como diante da chegada iminente do maior varejista mundial do comércio eletrônico, bem como da paulatina porém inexorável difusão da leitura sobre suportes digitais, a ANL – Associação Nacional de Livrarias apresenta sua posição, acompanhada de sugestões para todos os integrantes da cadeia produtiva do livro.

Diferentemente do que ocorre no campo dos meios de comunicação, em que existem leis que disciplinam o mercado, regulando e limitando a participação de empresas multinacionais, no mercado livreiro e editorial brasileiro predomina quase que exclusivamente a livre iniciativa, com um claro déficit de proteção para a produção nacional. Quem tem poder maior de compra dita as regras, sem levar em conta a necessidade de preservação da bibliodiversidade, nem a importância de manter o vigor dos distintos canais de comercialização. Enquanto se mantém há várias décadas a praxe de se cobrar o mesmo preço para jornais e revistas numa mesma região geográfica, independente do tipo de ponto de venda, o que torna viável a existência de uma vasta rede de distribuição para estes produtos, até hoje não se chegou a um acordo semelhante para a comercialização de livros.

Sofremos hoje com baixíssimos índices de leitura e pequena presença de livrarias espalhadas pelo país. Segundo dados do IBGE, menos de um terço dos municípios brasileiros possui ao menos uma livraria. Este número, que por si é preocupante, vem diminuindo ao longo dos anos, tendo havido aumento da concentração nas regiões Sul e Sudeste e maior peso de grandes empresas varejistas.

Preocupada com essas questões, e mirando-se na experiência acumulada pela indústria cinematográfica que soube preservar, apesar de todas as turbulências e transformações recentes, sua cadeia de distribuição, a ANL, principal entidade em defesa dos livreiros brasileiros, através de sua diretoria, se manifesta e compartilha as seguintes orientações:

Recomendamos estabelecer um intervalo de 120 dias entre

o lançamento dos livros impressos no formato de papel no mercado brasileiro e sua liberação nas plataformas digitais.

 Solicitamos que o desconto para revenda do livro digital para todas as livrarias e para as demais plataformas seja uniforme, possibilitando igualdade de condições para todos os canais de comercialização nesse novo suporte de leitura.

 Sugerimos que a diferença de preço a menor do livro digital para o formato impresso seja no máximo igual a 30%.

 Na hipótese de a editora ou distribuidora vender diretamente ao consumidor final, o desconto nos livros digitais não poderá exceder 5%.

Ednilson Xavier

Presidente da Associação Nacional de Livrarias

Comentários:

A ANL procura reagir bravamente à situação provocada pela concentração que acontece também na rede de livrarias, e pela chegada da Amazon no Brasil.

Vejpo na iniciativa o mérito de fazer propostas. Mas aís e encerra o caso: são propostas que, para quem conhece o mercado editorial brasileiro, tem chances remotíssimas de prosperar.

As maiores editoras brasileiras do segmento obras gerais, reunidas em uma ditribuidora para produtos digitais, a DLD, se esforçam para tentar colocar limites no apetite monopolista da Amazon. Como não conheço os termos da negociação aparentemente terminada, só poderei opinar sobre isso depois que o assunto vier a público.

Os rumores de negociações entre a Amazon e a proprietária da Submarino/Americanas persistem e ressurgem volta e meia. A Saraiva voltou à baila também, com a possibilidade de venda somente do segmento de vendas digitais. Como tanto eu como o Carlo Carrenho já comentamos, não interessa à Amazon adquirrie e administrar uma rede de livrarias físicas. Aparentemente não interessava à Saraiva a venda da operação online, mas, ao que se diz, essa situação mudou.

O Kobo, que é a alternativa ao leitor Kindle da Amazon, fechou acordo com a Livraria Cultura para que esta seja o canal de venda dos e-readers. Não sabemos que movimentações possam estar acontecendo em relação a cadeias de livrarias regionais, menores que a Saraiva e sem tanta visibilidade mediática quanto a Cultura, mas que são importantes em regiões específicas, como é o caso das Livrarias Curitiba e da Leitura. Note-se que a Kobo fechou um agordo com a ABA – American Booksellers Association, para que o sistema Kobo seja adotado pelas livrarias independentes como seu canal para venda de produtos digitais.

Mas a grande questão é que, para as autoridades brasileiras de regulamentação da concorrência, amparadas pela legislação brasileira, que é muito calcada na dos Estados Unidos nesse aspecto, as possibilidades de regulamentação de descontos e da instituição do preço fixo são muito remotas aqui. A argumentação sobre o preço fixo dos jornais é absolutamente correta. Mas o PIG, como sabemos, manda muito no país, e mexer com seus interesses é muito difícil. Penso que, na perpectiva dos jornalões, eles não vão querer estender esse guarda-chuva do preço fixo para mais ninguém. É deles e pronto.

Amanhã viajo ao México, convidado pela Feira de Guadalajara para participar de uma mesa redonda que se propõe a discutir precisamente o tema de se as livrarias independentes podem resistir e sobreviver à pressão das grandes cadeias e dos mega-varejistas online.

Até acho que podem, sim. Mas, para isso, as livrarias independentes brasileiras têm que ir muito mais adiante, em termos de organização, modernização administrativa e tecnológica e estratégias bem definidas para uma resistência que vá mais além da “recomendação”, da “solicitação” e da “sugestão”.

É significativo que a Kobo tenha buscado um acordo com a ABA nos EUA. A ABA tem capacidade de organização e aglutinação que vêm se fortalecendo há anos, com a organização de canais cooperativos de vendas online entre seus associados. Situação muito diferente da nossa ANL.

Depois da mesa em Guadalajara conto para vocês o que apareceu lá e quais as análises feitas.

Conexões Itaú Cultural – Cinco anos de garimpo da nossa literatura no exterior

Começa hoje na sede do Itaú Cultural (Av. Paulista, 149), o V Encontro Conexões Itaú Cultural – Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira. Veja aqui a programação completa.

O Conexões Itaú Cultural nasceu de uma pergunta simples: quem são as pessoas envolvidas com a literatura brasileira no exterior? Onde estão, o que fazem, onde trabalham? A pergunta foi feita por Claudiney Ferreira, responsável pela área de literatura – e muito mais – do Itaú Cultural, ao prof. João Cezar de Castro Rocha, que havia comentado o aumento do número de professores e pesquisadores de literatura brasileira no exterior.

Mas a pergunta do Claudiney não nasceu de uma curiosidade súbita. Há anos ele trabalhava sobre o assunto, ainda que de forma indireta. Um dos marcos da difusão da nossa literatura foi o programa de rádio “Certas Palavras”, que ele e Jorge Vasconcellos produziram por muitos anos em várias emissoras de rádio. Claudiney e Jorge entrevistaram centenas de escritores, de todos os gêneros. Algumas dessas entrevistas foram furos sobre atividades e novidades de autores que foram se firmando no cenário do livro e da leitura em nosso país. Uma parte dessas entrevistas é reproduzida no livro Certas Palavras, organizado pelos dois e editado pela Estação Liberdade em 1990, hoje só disponível em sebos.

Em 1994 o programa foi transmitido direto de Frankfurt, do estande das editoras brasileiras, quando o Brasil participava como País Tema daquela feira pela primeira vez (haverá algum programa transmitido com entrevistas ano que vem?).
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As feiras de livros regionais e sua importância – a Bienal do Ceará

Tenho estima especial pela Bienal do Livro do Ceará, que promove sua X Edição nestes dias, e onde estive semana passada. Ainda trabalhava na CBL quando a instituição foi procurada pela Câmara Cearense do Livro para que ajudasse na organização da primeira Bienal, lá por 1994. Desde então a visitei várias vezes e este ano participei da programação da “Padaria Espiritual: o pão do espírito para o mundo” com uma palestra: “Como achar o pão espiritual de cada dia: Buscando os livros no meio do caos digital”.

A “Padaria Espiritual” foi um movimento de intelectuais cearenses para conversar sobre livros e literaturas, que completaria 120 anos. Parecia um pouco com as futuras academias de letras (a ABL seria fundada em 1897), e tinha um pouco de sociedade secreta, ainda que jocosa, pois seus membros só se tratavam por pseudônimos. Era coisa da elite local ilustrada, expressão de inquietações que acometiam seus confrades em vários estados na recém-inaugurada república.

Mas quero falar mesmo é da Bienal.

Nesses vinte anos mudou muita coisa. Este ano a Bienal do Livro do Ceará mudou para novo lugar, o impressionante Centro de Eventos do Ceará, que se apresenta como o maior do gênero da América Latina. A primeira Bienal aconteceu no antigo centro de convenções, que na época não tinha nem ar condicionado. Em termos de equipamento, um avanço fantástico.

A Bienal do Ceará inaugurou – creio que em sua segunda edição – um sistema de distribuição de uma espécie de “cheque livro” para estudantes e professores, que continua até hoje. Este ano havia reclamações pelo atraso do repasse dos recursos, que são geridos por um órgão da Secretaria de Educação do Estado. Mas, de qualquer maneira, acontecerá novamente, dando um esperado e ansiado retorno financeiro para os expositores.
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Consolidação de logística nos EUA

A imprensa noticiou hoje que a HarperCollins construiu um acordo com a R.R. Donnley para que a gráfica sirva também como centro de distribuição e logística para todos seus selos editoriais. A HC fechará o centro de distribuição de seu selo Thomas Nelson, em Nashville, e deixará também de usar outros centros de distribuição. O grupo editorial administrará os serviços para consumidores, administração de crédito, cobrança, IT e, obviamente, a administração de vendas.

Essa movimentação de vendas faz avançar nos EUA a consolidação e integração dos processos de impressão e distribuição. A Ingram, que é a maior distribuidora dos EUA, também oferece um serviço de printing-on-demand que abastece muitas editoras e está bem integrado com os sistemas da Amazon, como já mencionei em outro post.

Esse processo de consolidação, cada vez mais acelerado nos EUA, acontece também na Europa. Para citar um exemplo, o grupo Hachette atua fortemente nos serviços de logística e distribuição não apenas para os selos do grupo, mas também para terceiros. Seu gigantesco centro de distribuição em Maurepas, nos subúrbios de Paris, atende a cerca de oitenta editoras francesas. A Hachette também concluiu um acordo com a Lighting Source, o braço de POD da Ingram, para a impressão sob demanda. O grupo francês também atua na distribuição de livros na Austrália, Reino Unido e Espanha.

Os problemas de logística assumem papel cada vez mais relevante nos procedimentos do mercado editorial internacional, e quase sempre estão unidos com serviços de impressão sob demanda. Aqui no Brasil é que se insiste em mandar caminhões todos os dias para o Nordeste e para o Sul, e cargas aéreas para o Norte, encarecendo sobremaneira a operação das editoras, distribuidoras e livrarias. Até que todos sejam forçados a aprender…

LITERATURA INFANTO-JUVENIL BRASILEIRA NO EXTERIOR – UMA JANELA QUE SE ABRE


O número 3 da Revista Machado de Assis – Literatura Brasileira em Tradução, editado pela FBN e coeditado pelo Instituto Itaú Cultural será dedicado à produção nacional de livros destinados ao público infantil e juvenil, com vistas à participação do Brasil na Feira de Bolonha – a maior do setor – que em 2013 acontecerá em março. Em 2014 o Brasil será o país convidado do evento.

A Revista Machado de Assis está aceitando o envio de propostas de trechos de livros já publicados no país – que devem estar traduzidos para o inglês ou espanhol – até o dia 20 de novembro. Esse número da Revista Machado de Assis terá duas novidades importantes: A primeira é que a edição será totalmente digital, online, embora editoras e agentes possam fazer o download dos textos e das ilustrações. A segunda é que, precisamente por ser digital, a edição da Revista Machado de Assis aceitará proposta que envolvam livros ilustrados, inclusive a cores.

A literatura infanto-juvenil brasileira á uma das forças do mercado editorial. E só bem recentemente tem sido objeto de programas sistemáticos de aquisição de acervos por programas do Governo Federal, através do PNBE, embora anteriormente tenha se beneficiado de programas como o das “Salas de Leitura”. Governos estaduais e municipais também compram livros do segmento, ainda que de forma muitas vezes não sistemática.

Monteiro Lobato é considerado como o grande mestre da literatura para jovens no Brasil, ainda que recentemente tenha sido alvo de percepções, no meu entender, equivocadas e a-históricas sobre o conteúdo de alguns de seus livros, acusados de racistas.
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