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OITAVO ENCONTRO DO CONEXÕES ITAÚ CULTURAL EM SÃO PAULO

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Nos dias 19 e 20 – quinta e sexta-feira próximos – acontecerá em S. Paulo o 8º encontro do Conexões Itaú Cultural – Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira. O tema do evento é O olhar do outro: a recepção da literatura brasileira, que reúne alguns dos nossos escritores contemporâneos – Milton Hatoum, Daniel Galera, Ana Paula Maia e Ricardo Lísias – para conversar com tradutores e pesquisadores brasileiros e do exterior, sobre como suas obras são recebidas pelo público estrangeiro.

Entre os convidados para essas conversas estão Consuelo Rodríguez Muñoz, Anélia Montechiari Pietrani, Gonzalo Aguilar, José Luiz Passos, Petra Bös e Karl Erik Schøllhammer, além da Alison Entrekin, uma das mais requisitadas tradutoras de nossa literatura para o inglês. O professor João Cézar de Castro Rocha e eu, como curadores, participaremos, assim como as pesquisadoras Rita Palmeira e Fernanda Guimarães. Além dos autores, são convidados também outros pesquisadores que trabalham no Brasil.

Como o nome indica, o Conexões Itaú Cultural tem como objetivo constituir um banco de dados com informações sobre professores, pesquisadores e tradutores de literatura brasileira que trabalham no exterior. Esses pesquisadores, levantados pela Internet, nos congressos e encontros internacionais de literatura brasileira e por indicações dos já mapeados, preenchem um questionário no qual detalham seus interesses de pesquisa, os autores que estudam e que influenciaram sua formação.

Todas as informações quantificáveis são colocadas em um banco de dados, de acesso público e gratuito.  A íntegra dos questionários, que inclui observações não quantificáveis, é acessível apenas para pesquisadores autorizados pela coordenação do projeto, e já rendeu vários estudos. Alguns desses foram publicados no número 17 da Revista do Observatório também com acesso gratuito em PDF e em outros formatos eletrônicos.

Ainda nesse encontro, na mesa final do dia 20, serão anunciados os nomes dos autores que participam do número 7 da Machado de Assis Magazine – Revista Brasileira de Tradução, que será lançada oficialmente durante a Feira de Guadalajara, no final do mês.

A Machado de Assis Magazine, uma publicação conjunta da Fundação Biblioteca Nacional e do Itaú Cultural, completará com esse número a publicação de 143 excertos de livros de autores brasileiros, traduzidos para o inglês, espanhol, francês e alemão.

O site da Machado de Assis Magazine já recebeu mais de 840.000 visitas desde que está no ar, e já foram feitos cerca de 53.000 downloads de trechos traduzidos ou do conteúdo total da revista.

Esses trechos de romances, contos, livros para crianças e jovens, e poesias vão se constituindo em um repertório que pode ser consultado por editores e agentes literários de todo o mundo. Dessa maneira, é também um importante meio de apoio para o Programa de Bolsas de Tradução da FBN, que já concedeu 601 bolsas de tradução de autores brasileiros, em trinta e sete idiomas, desde 2012.

Um dos traços mais relevantes do Conexões Itaú Cultural é sua continuidade. Sabemos o quanto é difícil manter em execução por longo prazo os programas culturais. O oitavo Encontro do Conexões Itaú Cultural mostra que já se constroem programas com perspectiva de longa duração, acesso gratuito e com informações relevantes para a construção de políticas públicas para a cultura em nosso país.

O 8º Encontro do Conexões Itaú Cultural acontecerá na sede da instituição, na Av. Paulista 149, das 15 às 21:00 na quinta, e das 15 às 19 horas na sexta-feira. A entrada é gratuita.

PERU DIVULGA PESQUISA SOBRE HÁBITOS DE LEITURA

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peru encuesta 4 O jornal limeño La República divulgou, em sua edição de domingo, 7 de novembro, uma Encuesta nacional sobre hábitos de lectura de los peruanos  . A pesquisa foi feita pelo Instituto de Opinión Pública da Pontifícia Universidad Católica del Perú que disponibiliza o acesso aos dados de suas pesquisas mediante registo. Assim, a partir da notícia de jornal, fui buscar a íntegra do trabalho.

Não conhecia outros estudos do gênero no Peru. Pelo que consegui apurar, esta seria pelo menos a segunda. No site do IOP-PUCPE essa pesquisa divulgada agora ainda não está com os dados integrais na biblioteca da instituição. Aparece ali apenas uma pesquisa feita no âmbito de Lima Metropolitana, em 2007.

É importante destacar, desde logo, que a simples existência dessas pesquisas é indicativa do crescimento do interesse pelo assunto nos países da América Latina. Na medida em que possam adotar uma metodologia mais uniforme, teremos instrumentos de comparação da situação nos vários países. Isso seria muito útil para verificar a eficácia de políticas públicas na área, já que a ausência ou presença delas em cada país teria indicadores de eficiência.

A pesquisa peruana também foi feita com as técnicas tradicionais de amostragem estratificada. Só que, no caso peruano, deixou-se de lado uma variável crucial para seu objeto: a estratificação por escolaridade. Levaram-se em consideração as estratificações por idade (começando aos dezoito anos) e os níveis socioeconômicos (as famosas “classes” A, B, C, D e E).

Como vivi e estudei no Peru, conheço também os imensos contrastes entre as três grandes áreas ecológicas do país, a costa, a serra (Andes) e a Amazônia. São muito mais significativas e profundas que as encontradas no Brasil. Os resultados divulgados no La República dividem os grupos apenas em três componentes: Lima/Callao (Callao é a cidade porto vizinha de Lima, com a qual constitui a maior região metropolitana do país), Interior Urbano e Interior Rural. É muito pouco para abarcar a diversidade do país, mas essa observação deve ficar em aberto até a divulgação mais completa do estudo.

A pesquisa também é bem menos completa do que a que fazemos no Brasil.

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#AgoraÉQueSãoElas

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A coluna de hoje vai escrita pela Maria José Silveira, com quem vivo a quase cinquenta anos. Vidas ricas, militantes, com as alegrias e tropeços da vida de todo mundo. A nossa, então, que atravessa militância, a minha prisão política e a clandestinidade dela, exílio, a antropologia e o mercado editorial! Por iniciativa dela fomos recrutados, eu e o Márcio Souza, para a maravilhosa aventura da Editora Marco Zero, frustrada depois de dezoito anos de vida.

Maria José tem seu espaço, como escritora, cronista e como pessoa que reflete sobre o ofício de escrever nesse nosso Brasil. Nem precisaria de ocupar esse pedaço em que trato das questões do mercado editorial. O convite foi feito para que os leitores conheçam uma reflexão que eu não posso fazer, embora a conheça muito bem. A voz de uma editora e escritora, simplesmente.

Mulheres no mercado editorial

Maria José Silveira

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Estava eu aqui, sentada no meu canto de escritora, quando comecei a ver nas redes sociais um tsunami de posts das hashtags #meuprimeiroassédio e #AgoraÉQueSãoelas, ao mesmo tempo em que via também as fotos e vídeos das marchas das mulheres com o #ForaCunha e #Abaixo o PL5069.

Achei extremamente animador ver esse movimento pelos direitos e liberdade de escolha das mulheres avançar nas ruas e nas redes com tanta força e emoção. Quem tem a minha idade viveu, nos anos 60, movimentos muito fortes em torno dos direitos das mulheres, que deixaram conquistas importantíssimas – as principais, talvez, a chegada da pílula, e a conquista de espaços de trabalho e da democratização do país – mas o nauseabundo preconceito contra nós e o direito de usarmos nossos corpos como queremos jamais foi de fato derrotado. E é terrível ver, de um momento para o outro, como a regressão tomou conta de vários segmentos que antes pareciam pelo menos neutralizados; é como se agora tivessem readquirido coragem para aparecer outra vez. Nós que pensávamos que certas questões já deveriam estar há muito ultrapassadas, com espanto nos vemos regredindo aos estágios iniciais da luta das mulheres.

Por isso foi muito bom ver essa reação quase instantânea das mulheres, esse novo movimento acontecendo. E acatando a campanha #AgoraÉQueSãoElas que convida os colunistas homens a chamarem uma mulher para escrever em seu lugar, Felipe me convidou para escrever sua coluna esta semana: aceitei. É uma campanha importante, e quero fazer parte dela falando do mercado editorial, onde esse preconceito é camuflado e negado, mas existe.

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São Luis, mais uma feira e palestra. E os problemas recorrentes

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Estou em S. Luis, capital do Maranhão e Patrimônio Cultural da Humanidade por seu centro histórico. Vim convidado pela professora Mary Ferreira, da Biblioteconomia da UFMA, para conversar com as bibliotecárias na abertura do Simpósio que organizam em paralelo à FELIS – Feira de Livro de S. Luis.

Conversei, é claro, sobre os temas que venho tratando aqui e alhures há anos: bibliotecas públicas, acesso ao livro, programas de leitura. Enfim, políticas públicas. Apesar da greve da UFMA – os professores universitários devem realmente repensar suas formas de luta pois essas greves só prejudicam os alunos – havia um razoável número de alunos do curso, além das bibliotecárias já na ativa.

Para minha supresa, uma professora – não bibliotecária, mas que cuida da biblioteca que existe em uma escola de ensino básico da cidade – levou uma turma de estudantes. Adolescentes e pré-adolescentes que prestaram atenção na conversa (ou pelo menos fingiram bem, não vi ninguém cabeceando), e alguns depois até fizeram perguntas.

Não vou repetir aqui os temas sobre os quais falei, que são, como disse, constantemente tratados neste espaço. “O Livro e a Leitura na Construção de uma Cidade Livre”- título da palestra – foi campo aberto para compartilhar minhas reflexões.

No final, a profa. Mary Ferreira resolveu fazer uma gincana entre os meninos para distribuir as sacolas disponíveis, com perguntas sobre autores maranhenses (vivos e mortos, mas sem ex-presidentes…) e os mais conhecidos no repertório dos livros sempre enviados aos colégios.

Para minha surpresa (a manhã foi cheia de surpresas…), responderam perguntas sobre Artur Azevedo (maranhense), Josué Montello, e sobre o indefectível poeta do “Poema Sujo”. Mas nenhum deles se lembrou de um título do Machado de Assis. Realmente fiquei surpreso. Sempre pensei que nosso Bruxo, de tanto ser enviado para as bibliotecas escolares, suscitaria pelo menos uma lembrança. Ledo engano. Parece que, finalmente, os professores estão usando mais títulos de autores locais e, certamente, desses outros livros que a meninada anda devorando. Um citou o nome da autora do Harry Potter – corretamente – e outro do autor da série dos Bananas. Foi uma surpresa divertida.

O simpósio sobre bibliotecas acontece paralelo à Feira. Nessa, como sempre – a começar pelas Bienais – os estandes com saldos dominam, acaparando a atenção dos frequentadores. Já discuti isso em outros lugares e não vou voltar aqui. Algumas editoras – certamente apoiando-se em seus representantes locais – tinham estandes próprios: L&PM, Cia. Das Letras, Moderna, Vozes. E lá estava o Belé, diretor da Expressão Popular, editora que é um braço do MST e tem editado livros de pensamento de esquerda, inclusive resgatando e publicando a preços populares alguns dos clássicos. A Expressão Popular foi quem publicou a primeira edição do “K”, o premiado romance do Kucinsky.

Belé cumpria ali a última etapa de uma maratona de feiras: Palmas, Recife e São Luis. Queixando-se, naturalmente, dos saldões e das livrarias evangélicas vendendo saldos de Bíblias.

Quero deixar claro, desde logo, que sou altamente favorável a essas feiras regionais e locais. Sempre representam uma oportunidade de contato entre autores e leitores. É também pretexto e mote para atividades como o simpósio organizado pelas bibliotecárias, que se transforma também em um foro de reinvindicações em torno das bibliotecas e programa de leitura, cumprimento da lei que obriga a existência de bibliotecas escolares e ações similares.

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CADERNOS DE LIVROS – MAIS UM QUE SE FOI

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A vítima mais recente Desde a semana passada o caderno Prosa & Verso, d’O Globo, foi reduzido a duas páginas dentro do Segundo Caderno do jornal. Não sabemos quanto tempo isso irá durar até que seja definitivamente extinto.

Não é o primeiro – nem será o último. Por aí ainda restam alguns poucos suplementos de livros nos jornais diários. De memória, lembro dos óbitos pranteados abundamente em cada ocasião, do Ideias (do Jornal do Brasil – esse foi o mais radical, pois o jornal também só existe online como uma pálida sombra do que foi), o Folhetim, e o Sabático, do Estadão (que já era a undécima encarnação do antigo Suplemento Literário). Isso sem falar na longínqua extinção dos “rodapés”, que até a década de sessenta sobreviviam aqui e ali, e que começaram como misto de coluna de opinião e crítica literária, em épocas remotas, quando os jornais se sustentavam no prestígio de quem os escrevia (além de serem claramente jornais de facções políticas).

Em quase todos os casos, certamente, as extinções se deram no bojo de visitas do famoso passaralho, essa ave de rapina que dizima redações. E o passaralho está trepado no alto do morro, já assuntanto suas próximas vítimas.

É fácil jogar a culpa genericamente na ganância e cegueira dos barões da imprensa.

Evidentemente eles têm culpa – principalmente pela cegueira – embora a responsabilidade pelos infaustos óbitos não seja exclusiva deles. Mas, sem dúvida, é deles a parcela principal.

Suplemento Literário Uma parte da “culpa” é frequentemente jogada nas próprias editoras e livrarias, que não publicam anuncios que justificariam a existência dos cadernos. E citam como exemplo os que aparecem nas revistas das redes de livrarias.

Então, vamos com calma.

O preço de anúncios nos jornais é praticamente impossível de ser coberto pela venda de livros. Quando muito, pelos best-sellers.

A conta é fácil de fazer. Pelas tabelas atuais, sem descontos nem negociações, um anúncio de dez centímetros por duas colunas sai assim:

Estadão – R$ 22.940,00 (Caderno 2)

Folha de S. Paulo – R$ 22.580,00 (Ilustrada)

O Globo – R$ 10.380,00 – (Segundo Caderno)

Se tivermos um livro com o preço de capa de R$ 80,00, podemos, generosamente, supor que a verba para marketing equivalha a R$ 4,00 (correspondente a 5% do preço de capa. Para o editor sai, no mínimo, a 10% do líquido recebido).

Ideias do JB A conta é simples. A editora teria que vender 5.735 exemplares no Estadão, 5.645 na Folha de S. Paulo e (incrível!) apenas… 2.595 n’O Globo. Isso apenas para empatar no custo. E, obviamente, não é o suficiente.

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PESQUISANDO HÁBITOS DE LEITURA – MUDANÇAS NAS METODOLOGIAS

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No dia 8 de julho passado publiquei o post “Vivendo e Aprendendo – Lições na FLIP “ no qual comentei o fato das pesquisas sobre hábitos de leitura não capturarem novas tendências de leitura e produção de literatura. Minha atenção havia sido despertada pelo fenômeno dos saraus literários, pois participei de uma mesa com Marcelino Freire, na qual ele discorreu sobre seu projeto Quebras, com o qual visitou vários estados e constatou uma enorme vitalidade dessas manifestações.

Em outra mesa, também na FLIP, promovida pelo Instituto C&A sobre programas de incentivo à leitura, o tema voltou à baila, e houve um alerta sobre o “fascínio dos números” na análise dos fenômenos sociais, inclusive a avaliação da extensão e o impacto da leitura.

Alguns dias depois recebi um e-mail do Bernardo Jaramillo, Subdiretor de Produção e Circulação do Livro do CERLALC-UNESCO, comentando o post e informando que o assunto estava no radar da instituição. E me enviou o link para o texto que era o resultado de discussões e reflexões surgidas na mesa de especialistas sobre “Indicadores de leitura, livro e desenvolvimento”, que teve lugar na Cidade do México, com o apoio do Conselho Nacional para a Cultura e as Artes (Conaculta), nos dias 8, 9 e 10 de setembro de 2014. O link para o texto está aqui.

cerlalc

A reunião contou com um alentado grupo de especialistas convidados pelo CERLALC: Alberto Mayol Miranda, Alejandra Pellicer, Daniel Goldin, Didier Álvarez Zapata, Gemma Lluch Crespo, Germán Rey, Luis González Martín, Néstor García Canclini. Em representação da Conaculta, estiveram presentes Ricardo Cayuela Gally, Diretor Geral de Publicações, Angélica Vázquez del Mercado, Diretora Geral Adjunta de Fomento à Leitura e ao Livro, e Carlos César Ávalos Franco, Coordenador Nacional de Desenvolvimento Institucional. Pelo Cerlalc, participaram Fernando Zapata López, Diretor, e Bernardo Jaramillo Hoyos, Subdiretor de Produção e Circulação do Livro. Compareceram também representantes do Instituto Nacional de Estatística e Geografia do México (Inegi): Félix Vélez Fernández Várela, Subdiretor; Arcelia Breceda Solis, Chefe do Departamento de Desenho de Questionários de Pesquisas Especiais; Laura Josefina Quiroz Beatriz, Chefe do Departamento de Manuais de Capacitação de Pesquisas; Ricardo Alejandro Lascencia Salceda, pessoa de contato em Desenho de Instrumentos de Captação e Material de Apoio. Participaram também José Ángel Quintanilla D´Acosta e Lorenzo Gómez Morín Fuentes, Presidente do Conselho de Administração e Diretor Executivo de Funlectura, respectivamente. Esteve encarregado da elaboração do documento Roberto Igarza, com doutorado em Comunicação Social e especialização em Educação, e Lenin Monak Salinas, Coordenador de Estudos e Estatísticas do Cerlalc.
Fiz questão de transcrever a lista para ressaltar a eminente ausência de um representante brasileiro. Parece que depois que o Galeno Amorim deixou a FBN, a articulação com o CERLALC passou para um remoto pano de fundo.

Mas, enfim, trata-se de um documento muito interessante, que espero seja levado em consideração nas próximas versões do Retrato da Leitura no Brasil (caso aconteçam).
Entretanto, nem todas as questões que eu havia levantado estão consideradas no documento – o que, na verdade, não é nenhum problema, já que este ainda é um documento de trabalho.
Ressalto alguns pontos do documento do Cerlalc, na última seção analítica, precisamente intitulada “Desafios”, que deverão ser consideradas na formatação das novas pesquisas sobre índices de leitura.

 

“A visão livro-determinista que deixa um lugar secundário para a leitura de outros meios e em outros suportes que não seja o impresso”. Ponto muito importante, inclusive porque a ênfase na leitura de livros – e em certo tipo de livros, como o documento ressalta mais adiante – obscurece práticas leitoras – e de produção de textos, digo eu – que fogem da percepção elitista dos literatos e, principalmente, dos “leiturólogos”.

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MACHADO DE ASSIS MAGAZINE PRORROGA INSCRIÇÕES

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As inscrições de trechos de traduções de autores brasileiros para publicação no número 7 da Machado de Assis Magazine – Revista Brasileira de Tradução, foram prorrogadas até o dia 14 de setembro. As informações e formulários para a inscrição estão no site da revista.

O sétimo número da revista será divulgado por ocasião da Feira do Livro de Guadalajara, que acontece entre os dias 28 de novembro e 6 de dezembro na cidade mexicana.

A prorrogação foi decidida para permitir que o Conselho Editorial tenha um espectro mais amplo de textos para escolher os 20 selecionados, em traduções para o inglês ou espanhol, que serão publicados na revista.

Como editor da revista, posso informar que já recebemos propostas em número superior ao necessário para a edição do número sete, mas em decisão conjunta com a Biblioteca Nacional e o Itaú Cultural – que coedita a publicação – foi considerado que a ampliação das ofertas para escolha do Conselho Editorial valorizaria mais a importância da Feira de Guadalajara, principalmente depois que a Fundação Biblioteca Nacional  anunciou que levará vinte pessoas, através de edital já disponível no site do Ministério da Cultura. Esta ação será feita em colaboração com a APEX – Agência Brasileira de Promoção de Exportações, e está destinada a um público integrado por representantes de editoras, associações e grupos, fóruns, núcleos, coletivos literários, livreiros, curadores e agentes literários.

Além desse grupo a Biblioteca Nacional levará também autores – em número ainda não definido – para a programação estabelecida em conjunto com a organização da FIL – Guadalajara.

logo MachadoEste ano o país homenageado na Feira é o Reino Unido, que enviará uma delegação substancial de autores, editores e agentes literários à Guadalajara. A FIL-Guadlajara está em sua 29ª. versão. O Brasil foi homenageado em 2001, e dois autores brasileiros já ganharam o Prêmio FIL de Literatura em Línguas Romances: Nélida Piñón, em 1995, e Rubem Fonseca, em 2003.

Capa domais recente número da Machado de Assis Magazine, lançado em Paris. Agora será em Guadalajara.
Capa domais recente número da Machado de Assis Magazine, lançado em Paris. Agora será em Guadalajara.

A FIL-Guadalajara se destaca não apenas por ser o mais importante evento de negociação de direitos autorais em língua espanhola depois de Frankfurt, como também por ser a porta para penetração no crescente mercado hispânico nos EUA. Anualmente a FIL-Guadalajara convida centenas de bibliotecários norte-americanos para visitá-la, e esses profissionais adquirem acervos para suas instituições, inclusive de livros em português para atendimento nas cidades onde a presença de migrantes brasileiros é significativa.

Outro aspecto importante da feira é o contato com os representantes da Secretaria de Educación, o Ministério da Educação mexicano, que também mantém um programa de publicação de autores latino-americanos para distribuição nas escolas daquele país.

O próximo número da Machado de Assis Magazine, a ser lançado na FIL-Guadalajara representa, portanto, uma oportunidade excepcional para que os autores brasileiros se apresentem para esses mercados. Note-se que, até o momento, o site da Machado de Assis Magazine já teve 1.644.503 acessos únicos e fez o download de 60.274 arquivos de textos, seja do conteúdo completo dos números anteriores, seja dos trechos de autores individuais.

MO YAN, CHINA E INDÚSTRIA EDITORIAL CHINESA

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No ano 2000, quando era Diretor de Relações Institucionais da CBL, a instituição recebeu um convite para visitar a Feira de Livros de Beijing, naquele ano. Os chineses pagavam tudo – hotel, transportes internos, refeições, passeios – mas era preciso comprar a passagem até Shanghai. Ninguém da diretoria topou ir. Eu reuni milhagem, fiz as contas e fui.

Foram quase quinze dias muito interessantes. Muito turismo, comidas exóticas (sem chegar aos exageros de cobras, cachorros e lagartos), reuniões com editores, tanto em Shanghai como em Beijing, e a visita à Feira.

O esforço que os chineses faziam no momento era mostrar que estavam combatendo a pirataria a sério. Era uma queixa, principalmente dos editores dos EUA e do Reino Unido, e muito focada na área técnico científica. Mereci até foto na primeira página do China Daily… identificado como visitante cubano! Pelo que fui devidamente gozado pelo pessoal da Embaixada do Brasil, no dia seguinte.

Havíamos publicado, na Marco Zero, as memórias de Pu Yi, o último imperador chinês, traduzidas por Li Junbao, que estava fazendo um curso na USP e que, durante a Revolução Cultural, passou meses trancado em um hotel como parte da equipe que traduzia as Obras Escolhidas do Presidente Mao para o português. E eu havia pensado em traduzir (do espanhol) “Meia-Noite”, romance da década de trinta, de Mao Dun, escritor que, juntamente com Lu Xun (contista), eram os representantes da literatura engajada, comunista. Não deu.

Eu não conhecia nada de literatura chinesa contemporânea. Aliás, coisa raríssima era algo além de alguns clássicos, como “A Viagem ao Oeste”, ser traduzido.

Passaram-se os anos e começaram a aparecer obras chinesas por aqui. Principalmente filmes. “O Sorgo Vermelho”, de Zhang Yimou, foi um filme impactante, tanto pela beleza como pela descrição das condições de vida na China pré-revolucionária. O filme era baseado em um romance do Mo Yan.

Ainda naquele ano 2000 (depois que voltei da China), foi anunciado como vencedor do Nobel o escritor Gao Xingjian, exilado, dissidente e morando em Paris. Em 2002, creio, li em espanhol “A Montanha da Alma”. Romance metafísico, chatíssimo, que não me comoveu absolutamente nada. Em 2010, Liu Xiaobo ganhou o Nobel da Paz. Os dois prêmios foram violentamente criticados pelo governo chinês, que acusou o Nobel de provocação.

Chega 2012 e outro chinês ganha o Nobel. Dessa vez, Mo Yan. E tome crítica ao Nobel e a ele, apresentado como “escritor oficial”, conivente com o regime. Enfim, como alguém não merecedor de ganhar prêmio nenhum, ainda que no ano anterior já houvesse recebido o Newman, reputadíssima premiação dos EUA e bom indicador dos possíveis candidatos ao galardão sueco. Além do mais, Mo Yan era dirigente da Associação dos Escritores da China e havia começado sua carreira produzindo peças de propaganda para o exército.

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VIVENDO E APRENDENDO –LIÇÕES NA FLIP

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Participei de duas mesas na recente Flip (quer dizer, nada na Tenda dos Autores, é claro). A primeira foi a apresentação dos programas do Itaú Cultural, onde sou consultor do Conexões – Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira  que  mapeia a presença internacional da literatura brasileira, com um banco de dados de professores, pesquisadores e tradutores da nossa literatura que trabalham no exterior.

A segunda mesa foi sobre a sustentabilidade de programas de leitura, promovido pelo Instituto C&A.

Nessa mesa, composta por Christine Fonteles, do Instituto Ecofuturo, Pilar Lacerda, da Fundação SM, Patrícia Lacerda, do Instituto C&A e por mim, mediados por Cláudia Santa Rosa, do Instituto de Desenvolvimento da Educação de Natal, se mencionou algo sobre estarmos falando para conversos, já que todos os presentes evidentemente eram interessados no assunto.

Quando chegou minha vez, fiz uma brincadeira, dizendo que, apesar de falarmos para conversos, essa nossa igreja admitia muitas discussões internas, e que sempre estávamos aprendendo algo. Mencionei que, na mesa anterior, um assunto havia despertado minha atenção: será que as várias pesquisas sobre hábitos de leitura estavam dando conta da diversidade de leituras e manifestações literárias, ou captavam apenas as “leituras canônicas”, as que eram feitas nos livros convencionais?

O comentário provocou uma risada do Volnei Canônica, diretor do Instituto C&A, e que foi nomeado como novo diretor da DLLLB, do MinC.

Na verdade, eu me referia ao que havia chamado minha atenção na mesa do Itaú Cultural, na qual havia participado na véspera.

Explico.

A mesa tinha a presença, além de mim, do Marcelino Freire, em função do programa “Quebras” que ele desenvolve, com Jorge Filholini, como selecionado no Programa Rumos, do IC, e da Tania Rösing, das Jornadas de Passo Fundo. Minha presença na mesa se devia particularmente a uma pesquisa sobre feiras, festivais e outros eventos em torno da literatura que vêm aumentando exponencialmente nos últimos anos. Quando preparava minha intervenção, dei-me conta que um fenômeno mais recente crescia diante de nossos olhos sem ser muito bem entendido: os saraus literários.

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PNBE – NÃO PODE HAVER RETROCESSO

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O Programa Nacional de Biblioteca na Escola – PNBE está, aparentemente, em risco de não existir este ano. A frase vai no condicional pois, como disse Ana Maria Machado em artigo recente n’O Globo, a falta de transparência e indefinição obscurecem a situação.

Os programas de aquisição de livros do Governo Federal – que remontam à década de 60 – abrangem hoje uma gama bastante variada de livros para diferentes públicos. O maior e mais conhecido é o PNLD – Programa Nacional do Livro Didático. Além desses, temos o PNLEM – Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio, o programa para aquisição de livros para os cursos de jovens adultos (o antigo madureza), e várias versões do PNBE: geral, temática, para professores. O PNLD é o menos ameaçado, ao que se comenta, até porque, como é cíclico, este ano haverá aquisição apenas para reposição para novos alunos.

Esses programas todos tiveram uma ampla evolução desde seu início. O PNLD começou com a aquisição de coleções escolhidas por “comissões” e, nesse período, os escândalos se sucederam. Os livros não eram aceitos pelos professores, chegavam atrasados nas escolas (quando chegavam) e a escolha sofria “influências” as mais escusas.

O PNBE, iniciado na gestão Paulo Renato no MEC, também começou mal. Uma primeira coleção, também selecionada por “sábios” de várias áreas, incluiu as obras completas do Pe. Vieira, edições do Uraguai, do Basílio da Gama e outras pérolas da erudição que fazem bonito nas bibliotecas de eruditos, mas que são rigorosamente inúteis nas escolas de ensino fundamental. Daí passou para umas coleções formatadas homogeneamente que seriam entregues aos alunos. Até hoje se encontram dessas coleções nas bancas de usados e sebos das cidades.

A última versão do programa escolhia títulos variados, mantendo seus formatos e ilustrações originais. Na minha opinião, é melhor que as anteriores, mas podia melhorar ainda mais, com uma ampliação da variedade dos títulos enviados, de modo a formar uma verdadeira biblioteca na escola.

Dito seja de passagem, existe legislação prevendo a necessidade de que todas as escolas de ensino fundamental e de ensino médio do país tenham bibliotecas escolares. Como não se prevê nenhuma sanção para os prefeitos e secretários que não cumprem essa exigência, a lei é mais um exemplo dessas que são feitas “para inglês ver”.

De qualquer maneira, é crescente a consciência de que o ensino de qualidade depende da oferta de livros de literatura – ficção e não ficção – para além do currículo escolar, superando o desenho utilitarista dos currículos e deixando claro que, para haver um domínio correto do idioma, é preciso ler, ler muito e títulos variados. É lendo que se aprende a escrever, e que se desenvolvem as habilidades cognitivas para a absorção de todas as outras matérias.

Só que esse esforço de aperfeiçoamento parece correr o risco de ir para o ralo, a pretexto das dificuldades orçamentárias e do ajuste fiscal.

Não vou discutir aqui a importância e a necessidade do ajuste. A continuidade da crise internacional provocada pela rapacidade e irresponsabilidade da banca internacional vem assumindo novas formas. Medidas que foram eficazes em um primeiro momento precisam ser reformuladas, e sem dúvida o equilíbrio das contas públicas é necessário.

A questão, como sempre é: quem paga a conta?

Para além das proposições genéricas de quem pariu mateus que o embale – ou seja, os banqueiros especulativos é que devem pagar a conta de sua rapacidade – é importante ter em mente a seletividade dos cortes nos gastos públicos.

O dilema dos administradores das finanças nacionais é sempre grande, pois sempre falta dinheiro para alguma coisa, e todo mundo defende suas prioridades.
No caso da educação, duas grandes questões se colocam: a remuneração decente dos professores e as condições de ensino.

Ora, os meninos que não lerem agora os livros de literatura, não os lerão depois. Não há como “reconquistar” essa perda na qualidade do ensino. E as consequências disso serão certamente trágicas. Vão desde as questões mais concretas da qualificação dos trabalhadores até questões mais profundas e decisivas para a criação de um estado democrático e de uma sociedade que seja menos injusta. O acesso ao livro e a qualidade da educação não são recuperáveis para as crianças que estão em idade escolar. Essa será, portanto, uma perda irreversível.

Perda que o país não pode suportar, não deve suportar. E que a cabeça dos tecnocratas não percebe. É preciso contrapor à frias matemática financeira uma visão humanista e estratégica das necessidades do país. Que vão além da crise momentânea. E que exigem a melhoria da educação.

Triste é constatar que editores só estão vendo o assunto desde o ponto de vista da perda de renda e instabilidade das editoras. Isso é certo, evidentemente. Mas é desvalorizar o papel social das editoras, dos escritores e do livro nas escolas pensar exclusivamente dessa maneira.

Professores, escritores, ilustradores e editores precisam se mobilizar para evitar que essa tragédia se concretize. Só dessa maneira é que pode haver esperança de evitar a desgraça que é representada pela ausência de livros nas escolas.