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ESTATÍSTICA… QUE PROBLEMÃO

Já se disse que a estatística é uma forma pseudocientífica de contar mentiras. Outros a idolatram, como se os números refletissem “fatos” de forma mais precisa que qualquer outra coisa. E as evidências abundam sobre as manipulações estatísticas que realmente existem, ainda que a ciência, ou “arte” continue florescente e muito utilizada. O que seria da física quântica e das tecnologias “fuzzy” se não fossem as probabilidades, filhas diletas da estatística?

O terreno mais pantanoso, sem dúvida mora na área das humanidades. Usam-se estatísticas para “provar” qualquer coisa, tratando de modo ligeiro conceitos e definições bem estabelecidas. É o caso, por exemplo da utilização do conceito de censo (análise do conjunto de uma população) com o de survey, que procura retratar uma amostra, – constituída a partir de várias técnicas -, que possa “representar” o conjunto da população, ou pelo menos uma parcela bem definida dessa população. O censo estatístico por excelência é o demográfico, no qual os recenseadores efetivamente contam a população, casa por casa, cobrindo o país inteiro, recolhendo um conjunto de observações que, trabalhadas estatisticamente, permitem estabelecer conjuntos de dados específicos para cada segmento delimitado.

Quando a pesquisa estatística recolhe dados bem definidos em um universo igualmente bem definido, revela-se um valioso instrumento de análise para aquilo que foi perguntado.

A GfK, uma empresa internacional de pesquisa de mercado divulgou em 2017 uma pesquisa que recolheu dados, no verão de 2016 (verão do hemisfério norte), de (1) consumidores, com (2) idade acima de 15 anos que preencheram dados online sobre (3) seus hábitos de leitura, em 17 países, reduzidos a uma mostra estruturada que refletia a (4) composição demográfica dessa população online. Os interessados podem acessar a pesquisa e fazer o download aqui.

A tabela apresentada pela GfK foi a seguinte:

Ou seja, a empresa definiu cuidadosamente o momento da pesquisa, a população objeto da pesquisa (referência aos censos demográficos nacionais), estruturando sua amostra segundo cada um deles e dando o número “n” de entrevistados, e o tipo de pesquisados. Ou seja, uma amostra da população acima de 15 anos de idade, online, que eram consumidores, e responderam a um conjunto predeterminado de perguntas. Restringiu, portanto, de modo inequívoco, o que estava pesquisando, quando e como. O resultado apresentado como “Frequency of reading books – Global GfK survey” pretendia retratar os hábitos de leitura (definidos bem precisamente) de uma população específica.

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PERU DIVULGA PESQUISA SOBRE HÁBITOS DE LEITURA

peru encuesta 1
peru encuesta 2
peru encuesta 3
peru encuesta 4 O jornal limeño La República divulgou, em sua edição de domingo, 7 de novembro, uma Encuesta nacional sobre hábitos de lectura de los peruanos  . A pesquisa foi feita pelo Instituto de Opinión Pública da Pontifícia Universidad Católica del Perú que disponibiliza o acesso aos dados de suas pesquisas mediante registo. Assim, a partir da notícia de jornal, fui buscar a íntegra do trabalho.

Não conhecia outros estudos do gênero no Peru. Pelo que consegui apurar, esta seria pelo menos a segunda. No site do IOP-PUCPE essa pesquisa divulgada agora ainda não está com os dados integrais na biblioteca da instituição. Aparece ali apenas uma pesquisa feita no âmbito de Lima Metropolitana, em 2007.

É importante destacar, desde logo, que a simples existência dessas pesquisas é indicativa do crescimento do interesse pelo assunto nos países da América Latina. Na medida em que possam adotar uma metodologia mais uniforme, teremos instrumentos de comparação da situação nos vários países. Isso seria muito útil para verificar a eficácia de políticas públicas na área, já que a ausência ou presença delas em cada país teria indicadores de eficiência.

A pesquisa peruana também foi feita com as técnicas tradicionais de amostragem estratificada. Só que, no caso peruano, deixou-se de lado uma variável crucial para seu objeto: a estratificação por escolaridade. Levaram-se em consideração as estratificações por idade (começando aos dezoito anos) e os níveis socioeconômicos (as famosas “classes” A, B, C, D e E).

Como vivi e estudei no Peru, conheço também os imensos contrastes entre as três grandes áreas ecológicas do país, a costa, a serra (Andes) e a Amazônia. São muito mais significativas e profundas que as encontradas no Brasil. Os resultados divulgados no La República dividem os grupos apenas em três componentes: Lima/Callao (Callao é a cidade porto vizinha de Lima, com a qual constitui a maior região metropolitana do país), Interior Urbano e Interior Rural. É muito pouco para abarcar a diversidade do país, mas essa observação deve ficar em aberto até a divulgação mais completa do estudo.

A pesquisa também é bem menos completa do que a que fazemos no Brasil.

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