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MO YAN, CHINA E INDÚSTRIA EDITORIAL CHINESA

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No ano 2000, quando era Diretor de Relações Institucionais da CBL, a instituição recebeu um convite para visitar a Feira de Livros de Beijing, naquele ano. Os chineses pagavam tudo – hotel, transportes internos, refeições, passeios – mas era preciso comprar a passagem até Shanghai. Ninguém da diretoria topou ir. Eu reuni milhagem, fiz as contas e fui.

Foram quase quinze dias muito interessantes. Muito turismo, comidas exóticas (sem chegar aos exageros de cobras, cachorros e lagartos), reuniões com editores, tanto em Shanghai como em Beijing, e a visita à Feira.

O esforço que os chineses faziam no momento era mostrar que estavam combatendo a pirataria a sério. Era uma queixa, principalmente dos editores dos EUA e do Reino Unido, e muito focada na área técnico científica. Mereci até foto na primeira página do China Daily… identificado como visitante cubano! Pelo que fui devidamente gozado pelo pessoal da Embaixada do Brasil, no dia seguinte.

Havíamos publicado, na Marco Zero, as memórias de Pu Yi, o último imperador chinês, traduzidas por Li Junbao, que estava fazendo um curso na USP e que, durante a Revolução Cultural, passou meses trancado em um hotel como parte da equipe que traduzia as Obras Escolhidas do Presidente Mao para o português. E eu havia pensado em traduzir (do espanhol) “Meia-Noite”, romance da década de trinta, de Mao Dun, escritor que, juntamente com Lu Xun (contista), eram os representantes da literatura engajada, comunista. Não deu.

Eu não conhecia nada de literatura chinesa contemporânea. Aliás, coisa raríssima era algo além de alguns clássicos, como “A Viagem ao Oeste”, ser traduzido.

Passaram-se os anos e começaram a aparecer obras chinesas por aqui. Principalmente filmes. “O Sorgo Vermelho”, de Zhang Yimou, foi um filme impactante, tanto pela beleza como pela descrição das condições de vida na China pré-revolucionária. O filme era baseado em um romance do Mo Yan.

Ainda naquele ano 2000 (depois que voltei da China), foi anunciado como vencedor do Nobel o escritor Gao Xingjian, exilado, dissidente e morando em Paris. Em 2002, creio, li em espanhol “A Montanha da Alma”. Romance metafísico, chatíssimo, que não me comoveu absolutamente nada. Em 2010, Liu Xiaobo ganhou o Nobel da Paz. Os dois prêmios foram violentamente criticados pelo governo chinês, que acusou o Nobel de provocação.

Chega 2012 e outro chinês ganha o Nobel. Dessa vez, Mo Yan. E tome crítica ao Nobel e a ele, apresentado como “escritor oficial”, conivente com o regime. Enfim, como alguém não merecedor de ganhar prêmio nenhum, ainda que no ano anterior já houvesse recebido o Newman, reputadíssima premiação dos EUA e bom indicador dos possíveis candidatos ao galardão sueco. Além do mais, Mo Yan era dirigente da Associação dos Escritores da China e havia começado sua carreira produzindo peças de propaganda para o exército.

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China X Brasil – Gastos per capita com bibliotecas

Será que chegaremos lá?

No post de ontem o artigo de Roger Tagholm publicado informava que o programa de “Salas de Leitura” chinês já havia alcançado a marca de 500.000 salas instaladas em aldeias chineses, a um custo equivalente a R$ 5.222.000.000,00 (cinco bilhões e duzentos milhões de reais).

A conta é simples. São 1.336.718.000 chineses em 2011. Dividindo os cinco bilhões e caqueirada por isso, o investimento per capita do governo chinês, apenas nesse programa, é de R$ 3,90.

Multiplicados pelos 192.379.287 brasileiros que o IBGE informou sermos em 2011, o investimento per capita por aqui deveria ser da ordem de R$ 751.257.840,00 (setecentos cinquenta e um milhões, duzentos e cinquenta e sete mil e oitocentos e quarenta reais).

A questão é simples. Se queremos pelo menos ficar no nível dos BRICS (não vou falar das mais de dez libras per capita/ano da Inglaterra!), esse deveria ser nosso investimento.

Sei que existem programas em execução da Rússia “putinesca” e vou tentar descobrir na Índia e na África do Sul. Espero que não fiquemos em último lugar no investimento em bibliotecas per capita.

China – Políticas para o livro na visão de um inglês

Roger Tagholm visitou recentemente a China no contexto da organização do Market Focus Program, da Feira de Livros de Londres, que colocará o país asiático no centro das perspectivas do mercado naquele evento internacional. Tagholm publicou o artigo abaixo no Publishing Perspectives, que autorizou sua reprodução aqui.

CHINA, UMA HISTÓRIA LITERÁRIA QUE SE DESENROLA

Existe uma grande ênfase hoje na China no enorme projeto governamental de Salas de Leitura Rurais, uma ambiciosa iniciativa que tem como alvo colocar uma “sala de leitura” – de fato uma biblioteca – em cada uma das 630.000 aldeias da nação. Até agora cerca de 500.000 já foram instaladas e quando o projeto terminar, o investimento do governo chinês deverá ficar por volta de 18,5 bilhões de yuan (aproximadamente US$ 2,9 bilhões, ou R$ 5,22 bilhões).

Esse esquema, orgulhosamente apresentado por Wu Shuilin, vice-ministro da Administração Geral de Imprensa e Publicações da China (AGIPC), o órgão governamental que dirige toda a mídia do país, está entre a grande quantidade de ideias e informações absorvidas pela mídia do Reino Unido durante a recente visita ao país, organizada pelo British Council e ligadas ao papel da China como Market Focus na Feira de Livros de Londres, este mês. Como a maioria de meus colegas jornalistas, jamais havia estado antes na China e o programa apertado, cobrindo três cidades, foi cheio de descobertas.
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Como a auto-publicação especial de ficção está conquistando a China

Helen Sun – Publishing Technology China
Com permissão de Publishing Perspectives

Aqui na China, quase 195 milhões de pessoas estão ligadas em um tipo de literatura virtualmente desconhecida no Ocidente, mas que rapidamente transforma seus autores e um novo tipo de editoras online em estrelas do mercado editorial do futuro. A literatura na Web, ou “ficção original”, como é chamada na China, é uma nova forma de literatura serializada que em teoria permite a qualquer um se transformar em autor best-seller.

O sistema funciona através de um número crescente de websites de auto-publicação que hospedam milhares de histórias, com livre acesso e em constante evolução, postadas nos sites dos autores. Esses websites são incrivelmente populares junto aos consumidores, atraindo mais de 40% dos usuários da Internet na China a cada mês, que leem essas histórias serializadas que podem tratar de qualquer coisa, desde romances históricos realistas, quadrinhos, ficção científica e fantasia.
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