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Falências e concordatas no mercado editorial


A notícia de que a Houghton Mifflin Harcourt entrou com um pedido de concordata preventiva (que pode virar falência) é mais um ato (talvez o final), de uma história importante do mundo editorial dos EUA.

A Houghton Mifflin traça suas origens em 1832, quando William Ticknor e James Fields fundiram seus respectivos empreendimentos para fundar uma nova editora, a Ticknor & Fields. Por volta de meados do século XIX essa editora já havia publicado alguns dos mais renomados nomes da literatura americana, como Longfellow, Emerson, Nathaniel Hawthorne, Harriet Beecher Stowe, Mark Twain e Henry Thoreau. Em 1880 essa editora se fundiu com a The Riverside Press, uma impressora de propriedade de Henry Houghton e George Mifflin, daí resultando a Houghton, Mifflin & Co. A nova editora acrescentou em seu catálogo nomes como Willa Cather, Carson McCullers, Philip Roth, Paul Theroux, Robert Stone e Jonathan Safran Foer.
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Planeta controla a Tusquets – de novo

Beatriz de Moura em priscas eras. Foto de Isabel Steva i Hernández
Beatris de Moura e Antonio Lopez Lamadrid, da Tusquets

Beatriz de Moura, fundadora e controladora da Tusquets, uma das editoras literárias independentes da Espanha, anunciou que vendeu pelo menos 50% da empresa para o conglomerado da Planeta.

Beatriz de Moura, cuja beleza e inteligência foram celebrados pela intelectualidade espanhola desde os anos sessenta, era filha de um diplomata brasileiro, estudou tradução literária, história e ciências sociais em Genebra. Em 1968, casada com Oscar Tusquets, fundou a editora, que logo se tornou uma referência no mundo intelectual espanhol nesse período do franquismo tardio e início da redemocratização.

Em 2009 morre seu segundo marido e sócio, Antonio Lopez. O casal já havia tentado uma associação com a Planeta em 1995. Três anos depois o casal comprou de volta os 40% que Planeta detinha na Tusquets. Desta vez, Beatriz de Moura declarou que “tirou um peso” das costas e que a editora precisava garantir sua continuidade nessa época de transformações, com as publicações digitais e as dificuldades dos novos tempos. Ela se disse preocupada com o emprego de seus 24 colaboradores e pensou nisso ao se associar à Planeta.

Os projetos tramitam no Congresso

A Câmara dos Deputados tem um sistema “push” de avisar a movimentação de projetos de lei em tramitação na casa. De vez em quando seleciono alguns para ver como caminham as coisas,

Hoje recebi o e-mail avisando que o PL 1508/2003 (ou seja, apresentado em 2003), do Deputado José Mendonça Bezerra (do então PFL/CE), recebeu designação de relator na Comissão de Educação e Cultura. É o Deputado Chico Alencar, do PSOL/RJ.

O projeto do deputado pernambucano pretende estabelecer prazo mínimo de uso dos livros didáticos na rede de ensino fundamental e médio. Quer que os livros sejam usado no mínimo por dois anos.

Estão apensados a esse projeto cinco outros. Todos tratando mais ou menos do mesmo tema: prazos para adoção do livro. Alguns pretendem que a lei obrigue inclusive as escolas particulares a adotar o mesmo livro por anos consecutivos. O que varia é o prazo. O PL 4922/2009, da Deputada Alice Portugal (PCdoB/BA), é um desses exemplos de projeto que chove no molhado: obriga a prévia avaliação do MEC para aquisição dos livros com recursos do FUNDEB. Percebe-se que a combativa deputada baiana não tem a menor ideia do processo de seleção e compra dos livros por parte do FNDE.

Esse tipo de projeto pode terminar com aprovação definitiva no âmbito das comissões. Como já escrevi antes, muitos deles acabam parando na Comissão de Constituição e Justiça. Mas o fato é que o processo legislativo, ainda que lento, vai avançando. E se não prestarem atenção…

Aí está o link de acompanhamento da tramitação: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=125315

Como editoras e livrarias andam [mal]tratando seus [meta]dados por aqui

Na apresentação que Richard Stark fez em Bogotá sobre a questão dos metadados, há uma lista de elementos mínimos que deveriam ser disponibilizados pelos editores para os elos seguintes da cadeia do livro. Para distribuidores e livreiros terem conhecimento de algumas das condições de comercialização do produto. Para o público leitor – e isso é ainda mais importante – de modo a que o livro possa ser facilmente encontrado pelos mecanismos de busca eletrônicos e para que o eventual comprador saiba qual é seu conteúdo.

Alguns desses componentes são ocultos, pois dizem respeito somente à relação editor/distribuidor-livreiro. Outros devem ser necessariamente complementados com informações próprias do distribuidor/livreiro. Na lista apresentada no post anterior, seriam esses: preço (o livreiro tem que especificar seu(s) preços e condições, que são eventualmente diferentes dos do editor); código de desconto proprietário do editor, que tem que ser complementado pelos eventuais descontos dados pelo livreiro; código de disponibilidade do produto, que deve ser complementado pelos códigos do livreiro (disponibilidade de entrega, prazos, etc.); código de devolução (ou das condições de consignação, que são elementos da relação comercial editor/livreiro). Ou seja, de uma lista de trinta, podemos considerar que quatro dizem respeito à relação entre editor-livreiro e que devem ser acrescidos pelas informações das próprias das relações livreiro-comprador final.
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Metadados para principiantes – aproveitando os ensinamentos de um mestre

A minha viagem à Colômbia para participar da Feira de Livros de Bogotá (que termina hoje, 1 de maio) incluiu a participação em um seminário organizado pelo CERLALC – Centro Regional para o Livro na América Latina e Caribe, intitulado “Todo Comienza em um Libro”. A mesa-redonda da qual fiz parte foi antecedida por uma conferência de Richard Stark, intitulada “Libros, marketing y metadatos: estrategias de posicionamiento y aumento de ventas. Los nuevos entornos en la promoción y distribución de libros, en un mundo conectado”. Stark é diretor de “Product Data” – Dados sobre produtos – da cadeia Barnes & Noble, e também coordena o Comitê de Metadados do BISG – Book Industry Study Group. Nessa condição é um dos responsáveis pela manutenção do BISAC – Book Industry Standards and Communication que, como o nome indica, estabelece padrões para a indústria editorial americana, largamente seguidos também pelos ingleses. O BISG também é o responsável pelo ONIX – Online Information Exchange, sobre o qual falarei amplamente mais adiante, e pelo X12 e-commerce transactions.

Fundado em 1976 por editores e gráficos, o BISG atualmente se destaca em ações de formação e no estabelecimento de padrões de informação estatística para a indústria editorial, buscando unificar os resultados de várias fontes de informação que permitam uma análise compreensiva dos dados de produção e comércio de livros.
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Brasil em Bogotá – A primeira experiência das novas políticas da Biblioteca Nacional

A 25ª. Feira do livro de Bogotá – FILBO – inaugura hoje com o Brasil como “País Invitado de Honor”. É a primeira dessas homenagens articuladas por Galeno Amorim desde que assumiu a presidência da Fundação Biblioteca Nacional. A sequência de feiras que homenageiam o Brasil terá seu ápice na Feira do Livro de Frankfurt, em 2013, quando o país será, pela segunda vez, o país tema. Aliás, também em Bogotá é a segunda vez. A primeira foi em 1995, o ano seguinte ao da presença do Brasil em Frankfurt, e naquele ano algumas das exposições levadas para a Alemanha foram remontadas na Colômbia.

Essas participações fazem partes das iniciativas da FBN de apoiar uma maior presença da literatura brasileira na indústria editorial internacional, juntamente com as bolsas de tradução e o aumento do número e do tamanho dos estandes brasileiros em outras feiras internacionais.

Funcionará?

Vejamos alguns condicionantes disso.

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China X Brasil – Gastos per capita com bibliotecas

Será que chegaremos lá?

No post de ontem o artigo de Roger Tagholm publicado informava que o programa de “Salas de Leitura” chinês já havia alcançado a marca de 500.000 salas instaladas em aldeias chineses, a um custo equivalente a R$ 5.222.000.000,00 (cinco bilhões e duzentos milhões de reais).

A conta é simples. São 1.336.718.000 chineses em 2011. Dividindo os cinco bilhões e caqueirada por isso, o investimento per capita do governo chinês, apenas nesse programa, é de R$ 3,90.

Multiplicados pelos 192.379.287 brasileiros que o IBGE informou sermos em 2011, o investimento per capita por aqui deveria ser da ordem de R$ 751.257.840,00 (setecentos cinquenta e um milhões, duzentos e cinquenta e sete mil e oitocentos e quarenta reais).

A questão é simples. Se queremos pelo menos ficar no nível dos BRICS (não vou falar das mais de dez libras per capita/ano da Inglaterra!), esse deveria ser nosso investimento.

Sei que existem programas em execução da Rússia “putinesca” e vou tentar descobrir na Índia e na África do Sul. Espero que não fiquemos em último lugar no investimento em bibliotecas per capita.

China – Políticas para o livro na visão de um inglês

Roger Tagholm visitou recentemente a China no contexto da organização do Market Focus Program, da Feira de Livros de Londres, que colocará o país asiático no centro das perspectivas do mercado naquele evento internacional. Tagholm publicou o artigo abaixo no Publishing Perspectives, que autorizou sua reprodução aqui.

CHINA, UMA HISTÓRIA LITERÁRIA QUE SE DESENROLA

Existe uma grande ênfase hoje na China no enorme projeto governamental de Salas de Leitura Rurais, uma ambiciosa iniciativa que tem como alvo colocar uma “sala de leitura” – de fato uma biblioteca – em cada uma das 630.000 aldeias da nação. Até agora cerca de 500.000 já foram instaladas e quando o projeto terminar, o investimento do governo chinês deverá ficar por volta de 18,5 bilhões de yuan (aproximadamente US$ 2,9 bilhões, ou R$ 5,22 bilhões).

Esse esquema, orgulhosamente apresentado por Wu Shuilin, vice-ministro da Administração Geral de Imprensa e Publicações da China (AGIPC), o órgão governamental que dirige toda a mídia do país, está entre a grande quantidade de ideias e informações absorvidas pela mídia do Reino Unido durante a recente visita ao país, organizada pelo British Council e ligadas ao papel da China como Market Focus na Feira de Livros de Londres, este mês. Como a maioria de meus colegas jornalistas, jamais havia estado antes na China e o programa apertado, cobrindo três cidades, foi cheio de descobertas.
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