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Portugal é o homenageado na Feira do Livro de Bogotá

A Feira do Livro de Bogotá deste ano teve Portugal como convidado de honra, sucedendo ao Brasil, que foi ano passado. O estande brasileiro deste ano só tinha livros da livraria da Fondo de Cultura Económica e teve gente que visitou a feira e quis deixar exemplares lá para exibição, que foram recusados.

A delegação portuguesa incluiu 23 autores, de vários gêneros, e a viúva de José Saramago, Pilar del Rio, que fez uma palestra sobre a obra do marido. As atividades de formação foram intensa e uma das novidades foi a “Ruta de La Independencia”, que marcava o caminho entre os estandes das editoras independentes.

A Publishers Perspectives publicou um artigo de avaliação geral da FILBO. Vale a pena ler (em inglês)

A minha avaliação da FILBO do ano passado e da política do livro colombiana foi publicada aqui.

“Fariam a mesma pergunta para Philip Roth?”

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Esse é o título do artigo de Dennis Abrams, publicado na Publishing Perspectives do dia 3 de maio, a partir de uma queixa feita pela romancista Claire Messud em uma entrevista que lhe foi feita pela Publishers Weekly a propósito do lançamento de seu último livro The Woman Upstairs (veja aqui a resenha publicada no New York Times Book Review). Note-se que a PW é uma publicação do mercado editorial.

Como se trata de assunto de caráter geral, solicitei permissão para publicá-la aqui, gentilmente concedida pelo Ed Nawotka.
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The Woman Upstairs (Knopf) está recebendo críticas elogiosas de várias publicações. Mas em uma entrevista recente com a Publishers Weekly, Mesud ficou frustrada com a linha das perguntas, particularmente sobre o principal personagem do romance, Nora Eldridge.

Depois que lhe perguntaram, “Eu não gostaria de ser amiga de Nora, e você? É uma personagem quase insuportavelmente cinzenta”, Messud respondeu:

“Por favor, que tipo de pergunta é essa? Você gostaria de ser amiga de Hubert Humbert? Gostaria de fazer amizade com Mickey Sabbath? Saleem Sinai? Hamlet? Krapp? Édipo? Oscar Wao? Antígona, Rskolnikov? Qualquer um dos personagens de Correções? Ou algum dos personagens de Infinite Jest? Algum dos personagens de qualquer coisa escrita por Pynchon? Ou Martin Amis? Ou Orham Pamuk? Ou de Alice Munro, já que estamos nisso? Se você ler para descobrir amigos, está com muitos problemas. Lemos para descobrir a vida, com todas suas possibilidades. A pergunta relevante não é se ‘esse é um amigo em potencial para mim?’ mas sim ‘esse personagem vive?’

Mas a coisa vai além disso, acho.

E se não for simplesmente uma pergunta ruim pela razões apontadas por Messud, mas uma pergunta que parte de suposições sobre livros de autores mulheres (e os personagens desses livros), que jamais seriam feitas sobre livros de autores homens?

Será que em algum momento perguntariam a Philip Roth se ele seria amigo de Portnoy?
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O artigo foi publicado em uma seção de discussões da Publishing Perspectives. E você, o que acha?

Meio-ambiente, demagogia e inutilidade

Já escrevi várias vezes sobre projetos de leis inúteis, leis que “não pegam” e outras brincadeiras legislativas. Isso dito, sou intransigente defensor do Congresso, de sua necessidade e importância. Mesmo com essas bobagens.

O PublishNews publicou hoje no clipping notícia do Boletim do SNEL sobre a tramitação de dois projetos de lei, um no Senado e outro na Câmara, propondo a obrigatoriedade do uso do papel reciclado na fabricação de livros didáticos.

O do Senado foi proposto pelo então Senador Renato Casagrande, do PSB-ES, e atualmente governador do Estado. Está relatado pelo Senador Cícero Lucena, do PSDB. O da Câmara dos Deputados foi proposto pelo Deputado Edivaldo Holanda Júnior, do PTC-MA. Firulas à parte, os dois queriam o mesmo que o Deputado Eliene Lima, do PP-MT, migrado para o PSD, o do cacique Kassab.

As excelências não sabem como é feito papel reciclado, não tem a menor ideia do quanto seria necessário para imprimir os livros didáticos (ou proporção dos livros de qualquer tipo). Não sabem que o Brasil tem um dos índices mais altos do mundo de reciclagem de papel (e de alumínio também). Enfim, não sabem chongas de pitibiribas sobre o que tentam legislar. Querem jogar para as plateias.

O que não se dão conta é que cretinismos não ajudam nenhuma causa. Ao contrário, prejudicam.

Capas, Marketing e “tie-ins”

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Certa vez li um artigo, creio que na Publisher’s Weekly, sobre as várias capas do mesmo livro que circulavam simultaneamente. O livro era o “Reparação”, do Ian McEwan – em inglês. “Atonement” estava circulando simultaneamente em três edições com formato, capa e preços diferentes. Havia a edição em hardcover, a original, com uma sobrecapa sóbria e custando por volta de US$ 30; uma edição paperback, em um formato parecido com o nosso de 14 x 21 cm, custando cerca da metade do preço, capa ilustrada, diferente da do hardcover, mas também sóbria, e outra, designada como “mass market”, e custando por volta de dez dólares (ou valores são imprecisos, por conta da memória, que já não é lá essas coisas). Essa última tinha na capa uma foto do filme, com o Keira Knightley e o James McAvoy se beijando.

O que me intrigava era a coexistência das três edições, com preços diferentes. E capas diferentes.

É conhecido o fato de que, algum tempo depois do lançamento da edição hardcover – vendida muito para bibliotecas –, as editoras americanas lançam paperbacks, edições de bolso. Às vezes, para atender obrigações contratuais, edições paperbacks eram lançadas na Holanda, para distribuição no mercado internacional, aproveitando a publicidade do lançamento. Nos últimos anos, com as edições em e-books, esse processo evidentemente se acelerou e assumiu novas formas.

Mas, na ocasião, e através do artigo, compreendi um pouco melhor a segmentação e estrutura de preços da indústria editorial dos EUA. Os custos, margem e retornos não são calculados por edição, e sim globalmente. Isso inclui também, eventualmente, os direitos territoriais de publicação (nem sempre o livro pode circular pelo mundo inteiro, e recentemente surgiram reclamações porque a Amazon não respeita isso. Só isso?) e de tradução.

No final das contas, isso revela uma postura que, infelizmente, não se vê muito por aqui: é preciso oferecer o livro em formatos e preços para todos os segmentos possíveis de mercado. O contrário é a postura elitista.
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Livreiros independentes do Reino Unido querem que a Amazon pague impostos

O mercado editorial brasileiro está acostumado com a imunidade tributária do livro. As últimas taxas cobradas (PIS/PASEP-COFINS) foram eliminadas desde 2004 (salvo para quem está no regime do “Simples”), de modo que a cobrança, ou não, de impostos não representa um fator significativo para a concorrência.

Não é isso o que acontece no resto do mundo. A imunidade tributária para o livro é uma das pautas permanentes da IPA, a entidade internacional dos editores, e geralmente não tem sucesso. O IVA (nosso ICMS) é cobrado, na maioria dos países, da mesma forma e com a mesma alíquota que qualquer outro produto.

Mas, como sabemos, essa história de “paraísos fiscais” não existe só para trambiqueiros ilegais. Os legais usam amplamente esses paisecos para escapar da tributação e conseguir uma vantagem competitiva diante dos vendedores tradicionais de livros.

O exemplo egrégio disso, como não poderia deixar de ser, é a Amazon. Não apenas evade o IVA na maioria dos estados dos EUA, como se instalou, para suas operações na Europa, com uma filial em Luxemburgo. Nessa filial, para onde são emitidas as “notas fiscais” de vendas para toda Europa, o IVA é substancialmente menor que o cobrado nos países da Comunidade Europeia. Não satisfeita, e aproveitando seu prestígio, a Amazon conseguiu do governo escocês (semi-autônomo agora) outras vantagens fiscais para instalar um armazém de distribuição para suas operações no Reino Unido.

O resultado, obviamente, é que as livrarias com domicílio nos países do Reino Unido (Inglaterra, Escócia, Gales e Irlanda do Norte) pagam um imposto do qual a Amazon está isenta. Ou melhor, paga uma alíquota muito menor em Luxemburgo, o suficiente para deixar o Grão Duque mais rico, mas sem comparação com o que se paga no resto da Europa.

Reagindo a essa situação, os livreiros independentes Frances e Keith Smith decidiram abrir um abaixo assinado, em uma petição para o David Cameron, para “fazer a Amazon pagar seus impostos corporativos” no Reino Unido.

A petição foi apoiada por autores e personalidades e alcançou mais de 150.000 assinaturas, e a petição foi entregue ao Primeiro Ministro no dia 24 de abril passado. Os peticionários alegaram que vários membros do parlamento já haviam se manifestado sobre o assunto, assinalando inclusive que a Amazon (assim como o Google e Starbucks!) se beneficiam da infraestrutura que é paga com os impostos dos contribuintes do Reino Unido, sem pagar os impostos devidos por seus negócios.

Um velho lema da revolução americana (a tal que separou os EUA da Inglaterra) era “no taxation without representation” (não se paga impostos sem representação, em uma tradução livre). A Amazon (e a Google e a Starbucks, entre outras), recriaram o lema: “no taxation and no representation; just lobby”. Tudo em nome do lucro, e dane-se o bem comum.

A matéria do The Guardian sobre o assunto está aqui.

“Mamãe Saraiva” não gosta de livros

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Na sexta-feira, dia 26 de abril, a Saraiva publicou um caderno separata de anúncios no Estadão, com ofertas para o “Dia das Mães”. “Mamãe Saraiva”- uma modelo com cara da Neide Aparecida (essa é só para quem tem mais de 60 anos) está com um smartphone na mão.
Nas seis páginas da separata estão anunciados:

– 6 celulares;
– 4 acessórios para celulares;
– 3 notebooks;
– 2 acessórios para notebooks;
– 3 aparelhos de TV digital (grande formato);
– 3 caixas de coleções de filmes;
– 2 cafeteiras de expresso;
– 2 utensílios de cozinha;
– 3 livros – DE CULINÁRIA.

“Mamãe Saraiva”, pelo visto, gosta de fofocar no intervalo dos programas de televisão, quando não está cozinhando. A “literatura” mais profunda que ela se permite é o de “Culinária para Bem Estar – Receitas antiTPM”, da filósofa do forno-e-fogão Rita Lobo. Aliás, “Mamãe Saraiva” pode ler a obra e “ser moderna até cozinhando” em um e-reader.

“Mamãe Saraiva” é uma idiota. Ou seus filhinhos pensam que ela é.
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Dia do Livro – Efemérides e promoção do livro e da leitura

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Dia 23 de abril – São Jorge, Santo Guerreiro – é cheio de efemérides. O Rio de Janeiro comemora esse que é um de seus santos (São Sebastião, o das flechadas, é o padroeiro oficial da cidade), mas internacionalmente a data está se consolidando como Dia Internacional do Livro e do Direito de Autor.

A coisa começou na Catalunha, Espanha. O santo guerreiro divide com o Rio essa devoção. Já há várias décadas foi se criando em Barcelona a tradição de presentear o amado ou amada com um livro e uma rosa nesse dia. As livrarias montam bancas especiais e oferecem as flores, e tudo isso realmente embeleza ainda mais Barcelona, pois além do padroeiro e do livro, o Diada Sant Jordí é o dia dos namorados na Catalunha.

Em 1995, por instância dos espanhóis, a UNESCO aproveitou o ensejo de que a data lembrava também o falecimento de Cervantes, Shakespeare e de outro escritor catalão, Josep Pla, e declarou o dia como destinado à celebração internacional do Livro e do Direito de Autor.

Essa história de efemérides é curiosa. Multiplicam-se os “dias do” pelo mundo afora, em uma pobre emulação dos feriados, nos quais se oficializa a comemoração do modo mais “prático”: sem trabalhar. As efemérides que não são feriados deveriam lembrar alguma coisa importante para a vida dos cidadãos.
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Machado de Assis Magazine convoca autores para o número 4

A Machado de Assis Magazine, revista de excertos de tradução coeditada pela Biblioteca Nacional e pelo Itaú Cultural, publicou no site da FBN a convocatória para seu quarto número.

Os números já publicados da revista podem ser lidos no seu site.

Este quarto número aceitará a inscrição de trechos de obras de literatura e humanidades, especialmente dos seguintes gêneros: romance, conto, poesia, crônica, livro-reportagem, ensaio literário, ensaio de ciências sociais e ensaio histórico. Os excertos de tradução devem ter no máximo quinze mil caracteres, sem contar o espaço. A novidade deste número é a abertura para textos de não ficção, ainda que restritos a algumas áreas. Os textos devem ser apresentados em inglês ou espanhol e a seleção é feita pelo Conselho Editorial da revista.

A Machado de Assis Magazine é publicada online, e autores e agentes podem baixar a revista em PDF, seja de forma integral, seja apenas o texto e as informações de cada um dos autores. Dessa maneira, a publicação contribui para a divulgação de obras disponíveis para publicação no exterior.

As inscrições estão abertas até o dia 20 de maio, e a documentação para que seja feita pode ser examinada no site da FBN.

Queixas dos editores contra a Amazon se expandem

Publicamos o artigo da Publishing Perpectives do dia 17 de abril, sobre debate acontecido na London Book Fair.

Roger Tagholm e Edward Nawotka

Editores internacionais e livreiros presentes na Feira do Livro de Londres deste ano estão vocalizando cada vez mais suas dificuldades em trabalhar com a Amazon.com. Em privado, editores levantaram preocupação com as exigências da Amazon, a venda que a empresa faz de edições para as quais não possui direitos territoriais de venda, e a compra de exemplares de atacadistas.

Falando off record, como se tornou norma quando a Amazon está envolvida, uma figura importante disse: “Todo mundo fala que se está chegando a uma situação horrível sobre os termos de negócio, e acho que existe uma preocupação crescente no que diz respeito a dados e à oferta que fazem de múltiplas edições, frequentemente desconsiderando a territorialidade.”

“É possível que haja algum problema com os campos de dados, mas circulam também teorias conspiratórias. Tentar consertar isso é vagaroso e difícil. Também estamos descobrimos que, quando se trata de seus próprios livros, muitas vezes eles não estão comprando de você. Procuram um atacadista em outro território – Ingram, por exemplo, ou alguém na Índia – onde o livro pode ser mais barato. Isso pode ser prejudicial aos autores, porque significa que recebem direitos autorais sobre livros exportados, mais baixos que os do mercado interno.”

Os boatos sobre a Amazon fazer “importações cinzentas” nos mercados em inglês e espanhol não são incomuns.
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Por conta da NET, não consegui postar hoje

Havia escrito um post sobre o caso do Sabático e sobre os suplementos literários em geral, para cumprir meu compromisso semanal com o PublishNews.

Escrevi a coluna, que ficou pronta ontem de tarde. Mas não consegui enviar para o PN porque a NET passou vinte e seis horas fora do ar!

Vinte e seis horas!

É uma falta de respeito total para quem paga e depende do serviço para trabalhar e se comunicar. Sinceramente, nem sei o que fazer.

A experiência mostra que, infelizmente, essa irresponsabilidade dos provedores de serviço se repete por todas. Temos a banda larga de pior qualidade e uma das mais caras do mundo. E o ministro Paulo Bernardo quer fazer o favor de desonerar essa canalhada. E a fiscalização da qualidade do serviço?

Quando a Anatel abriu inscrição para quem quisesse instalar um aparelho que mediria a qualidade e a estabilidade da banda larga, me inscrevi. E não recebi nenhum retorno. O tal aparelho jamais apareceu e nem uma carta, ou e-mail, dizendo que eu não estaria no grupo apareceu.

O post que deveria ser publicado hoje sairá amanhã, no PublishNews e aqui.

Obrigado e desculpem.