Resenhas e críticas, o livro na imprensa… e na rede

Há muito que autores, editores e leitores reclamam que o espaço dedicado ao livro diminuiu radicalmente na imprensa escrita. Acabaram-se os cadernos literários, substituídos pelos de variedades, onde o livro ocupa um espaço ocasional e muito menor que antes. Comenta-se com nostalgia o desaparecimento dos críticos de “rodapé”, os titulares que mantinham seções fixas nos jornais, mal substituídos pela chamada crítica universitária, hermética na forma, e que também não aparece na grande imprensa, e se refugia nas publicações acadêmicas, anais de congressos etc.
Para entender e superar essa choradeira geral é preciso considerar algumas coisas.
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Raul Wassermann contribui para pensar as Bienais do Livro

Raul Wassermann, ex-presidente da CBL e diretor da Summus, enviou-me o texto abaixo comentando notícia publicada na Folha de S. Paulo do domingo 17 de julho, que tenho o prazer de compartilhar com vocês.

CONSIDERAÇÕES RÁPIDAS SOBRE BIENAIS DO LIVRO

1 – Neste fim de semana, 17/7/11, a Revista da Folha entrou num assunto tabu para todos os promotores de eventos: qual o número correto de pessoas presentes? O interessante é que, para chamar a atenção da própria imprensa, que se interessa mais por grandes números e menos por conteúdo e qualidade, todos os eventos ano a ano vão aumentando o número de presenças para mostrar um crescimento que “é notícia”. Assim foi com as bienais do livro de São Paulo e do Rio, que foram inflando para virar notícia e para concorrer entre si até que chegaram a números absurdos que decretaram uma volta a índices mais realistas em 1999/2000. A partir daí, voltaram a “crescer”….

2 – “Repensando a Bienal” foi o nome de uma comissão de trabalho da Câmara Brasileira do Livro que sempre pensou em como fazer mais do mesmo. Até hoje não houve coragem para mudar tudo que se faz e voltar a encarar o evento como impulsionador de mercado. E assim vamos gastando cada vez mais para, cada vez mais, recebermos o público que opta por vir à Bienal em vez de ir passear no shopping. Os antigos compradores das bienais do livro ficam em casa fuçando prateleiras na internet.

3 – Paulo Wernek, ao comentar a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) em 10/7 (FSP, p. A2), utiliza o primeiro parágrafo para deixar claro uma verdade inconteste: “ (a Flip)…uma clara tentativa do mercado editorial de superar um modelo de divulgação de livros que se mostrava esgotado: o das bienais que ano a ano se alternam entre o Rio e São Paulo”. Pois a tentativa deu certo, mas o mercado editorial a que o jornalista se refere é aquela parcela que, mesmo representando pouco no bolo geral do faturamento, é a que mais aparece (eu gosto de chamá-las de “as editoras do charme”). Enquanto isso, nada se faz para superar o modelo esgotado para atender as outras áreas do mercado. Até quando vamos gastar tanto com a montagem de estandes bonitos que vendem cada vez menos e que não desenvolvem mercado? Até quando o modelo será o de mercados desenvolvidos apenas para se mostrar como a maior da América Latina ou a terceira do mundo? Desde quando o aumento de metros quadrados leva ao aumento da demanda?

4 – Ideias, existem aos montes. Coragem para realizá-las é mais difícil pois em vez de nos preocuparmos com o mercado e nele pescarmos, estamos preocupados em mais, aqui, agora e primeiro o meu. Porque não feiras anuais, menores, com estandes padronizados? Por que não feiras setoriais como infanto-juvenis, universitárias, religiosas, etc. ? Por que não reativar o cheque-livro — muito mais fácil de administrar hoje com a tecnologia dos cartões de crédito — , que levava público às livrarias após as bienais e foi enterrada sabe-se lá por que ?

O PORTUGUÊS “É UM OBSTÁCULO” PARA A DIFUSÃO DA LITERATURA BRASILEIRA NO EXTERIOR?

O projeto Conexões Itaú Cultural – Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira, incluiu no questionário enviado para professores, pesquisadores e tradutores a pergunta sobre o papel do idioma português como um fator positivo, negativo ou neutro na difusão internacional da nossa literatura.
As respostas dos cerca de cento e cinquenta “mapeados” que tinham respondido ao questionário na época da elaboração deste texto (Hoje, o número de “mapeados” já está próximo de duzentos), são muito interessantes. Revelam uma determinada percepção do papel do idioma na difusão da literatura que vale a pena discutir.

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O IDIOMA PORTUGUÊS NO MUNDO E A TRADUÇÃO DA LITERATURA BRASILEIRA

Já escutei muitos discursos sobre a “importância” do idioma português no mundo.

Os doze idiomas que, além do inglês, conformam o maior número de falantes são, além do português, o coreano, o japonês, o alemão, o bengali, o hindu, o russo, o mandarim, o espanhol, o árabe e o francês. O inglês não é nem mesmo o que tem maior número de falantes (11% da população mundial, contra 33% do mandarim, por exemplo).

De qualquer forma, se considerarmos que existe hoje, do ponto de vista internacional, um idioma hipercentral, a língua franca moderna, o inglês, temos que reconhecer também a existência de várias outras línguas “super-centrais”, que expandiram sua predominância territorial para muito além do seu local de nascimento. São os outros onze idiomas (cf. Calvet, L, S – Carnets d’Atelier de Sociolinguistique, 2007).

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Feiras de Livros e Festivais de Literatura – Para Quê?

Na semana em que a FLIP ocupa muitas páginas dos jornais, espaço na Internet e nas conversas, vale a pena pensar um pouco sobre esses mecanismos de promoção do livro e da leitura: feiras de livros e festivais de literatura.
As bienais do livro (a de S. Paulo primeiro e depois a do Rio de Janeiro) costumavam ter, desde há muito tempo, o que se chamava de “atividades paralelas”. Paralelas por serem quase “marginais” ao objetivo principal desses eventos, que era apresentar ao público uma amostra do conjunto da produção editorial. Muitos títulos que sumiam rapidamente das livrarias eram garimpados nesses eventos, que por muito tempo estiveram circunscritos às duas cidades. A exceção era a Feira do Livro de Porto Alegre – a mais antiga, aliás – que se diferia das bienais por ser um evento montado ao ar livre.
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Livro eletrônico – resenha eletrônica

A chegada dos e-books mexe não apenas no mercado editorial. Mexe também com a percepção que os leitores possam ter do que acontece, e de onde acontecem as coisas.

A Amazon há muito abriu um espaço para resenhas – positivas e negativas – postadas pelos leitores dos livros vendidos pelo Kindle. E posso garantir que há coisas muito interessantes ali. Gente que se deu ao trabalho de refletir sobre o que leu e compartilha com outros possíveis leitores. Tem muita abobrinha também, é claro. Faz parte.

O Marcelino Freire, contista da minha maior admiração, fundou uma editora, a Edith onde publicou seu último livro, Amar é Crime, que saiu primeiro disponível nos e-readers da Gato Sabido e da Amazon (para os atrasados: não se preocupem, vai ter edição impressa também – vejam no link acima a data do lançamento. Dia 13 de Julho no Sarau da Cooperifa, do grande Sérgio Vaz) e já ganhou uma resenha eletrônica, em blog. Pode ser vista neste link a resenha do Eduardo S. Nasi.
Parabéns para o Marcelino.

A Literatura Brasileira no Exterior

Aqui está a coluna publicada no Publish News de hoje.

Em 1994 fui um dos organizadores da participação do Brasil como “País Tema” da Feira de Livros de Frankfurt, assunto sobre o qual ainda voltarei a falar. Mas hoje quero compartilhar com os leitores algumas reflexões decorrentes da minha participação atual no projeto Conexões – mapeamento Internacional da Literatura Brasileira, do Itaú Cultural, do qual sou consultor.
A menção à Feira de Frankfurt não foi casual. O fato é que, depois dela, o número de traduções e o reconhecimento da literatura em português produzida no Brasil aumentou substancialmente. As estatísticas internacionais são tão ou mais precárias que as brasileiras, mas os dados do mercado editorial alemão mostram que os livros dos nossos autores eram os mais traduzidos entre os provenientes do chamado “Terceiro Mundo”, na Alemanha.
Esse enorme esforço não teve a continuidade merecida, em termos de políticas públicas de promoção da literatura. Os programas de apoio à tradução foram interrompidos várias vezes, e as ações se resumiram quase que à presença das editoras brasileiras nas feiras internacionais.
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A Amazon tropeça no Brasil?

Notícias recentes dão conta de uma certa resistência das editoras em comercializar versões digitais dos livros publicados aqui pela a Amazon. A rejeição mais categórica foi quanto aos termos com os quais inicialmente a Amazon comercializou o conteúdo digital nos EUA, onde pagava o preço de atacadista/distribuidor para as editoras mas vendia ao preço que quisesse. Essa manobra, claramente de dumping sofreu muitas resistências, até que as principais editoras conseguiram reverter esse esquema, passando a comercializar pelo que lá é chamado de sistema de “agenciamento”.
A Amazon conseguiu seu êxito inicial de impor seu preço nos EUA por conta de alguns fatores importantes:
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Políticas públicas para o livro e o mercado editorial