Há muito que autores, editores e leitores reclamam que o espaço dedicado ao livro diminuiu radicalmente na imprensa escrita. Acabaram-se os cadernos literários, substituídos pelos de variedades, onde o livro ocupa um espaço ocasional e muito menor que antes. Comenta-se com nostalgia o desaparecimento dos críticos de “rodapé”, os titulares que mantinham seções fixas nos jornais, mal substituídos pela chamada crítica universitária, hermética na forma, e que também não aparece na grande imprensa, e se refugia nas publicações acadêmicas, anais de congressos etc.
Para entender e superar essa choradeira geral é preciso considerar algumas coisas.
Em primeiro lugar, não há espaço nos jornais para tantos livros publicados. A produção de títulos cresce exponencialmente, e crescerá ainda mais com o fenômeno da autopublicação, que provoca nos EUA fenômenos com o lulu.com, que joga ao público mais de meio milhão de títulos novos por ano. Não há como dar conta disso, como analisou de modo muito bem humorado e preciso o filósofo Gabriel Zaid em seu “Livros Demais!” (Summus, 2004). E mais, essa avalanche não cabe nos jornais e nem nas livrarias, o que remete para as dificuldades da distribuição de livros em geral.
Em segundo lugar, esse fenômeno é mais sentido na área de literatura – ficção, poesia, ensaios – que constitui o segmento mais “prestigiado” (o Raul Wassermann chama de “livros de charme”) do mercado editorial, embora nem seja o maior. Livros didáticos, livros técnico-científicos e profissionais, livros religiosos (de todas as confissões), livros de negócios, livros infantis e juvenis, todos são segmentos que têm canais de divulgação e distribuição diferenciados do dos “livros de charme” (embora não estejam ausentes das livrarias).
Essa segmentação tem várias características. Os livros didáticos, por exemplo, passam hoje pelas avaliações do PNLD, feitas pelas universidades, e são trabalhados (divulgados e “pré-vendidos”) pelos divulgadores das editoras, diretamente nas escolas particulares. O mesmo acontece com o grosso dos títulos do segmento infantil e juvenil, tanto de literatura quanto dos chamados paradidáticos. Os livros religiosos se divulgam e se vendem em circuitos bem próprios, através dos locais de culto e devoção das diferentes confissões. E o segmento de livros de negócios tem uma área muito vibrante vinculada às palestras que seus autores fazem em empresas, congressos, eventos, etc., onde expõem suas ideias e vendem seus livros (muitas vezes adquiridos no atacado por quem organiza as palestras, ou pelos próprios autores).
Mesmo no caso dos livros de literatura, alguns autores (muito poucos, na verdade), que trabalham também como oficinistas de criação literária e procuram ativamente estar presentes nas feiras e festivais de literatura, conseguem não apenas divulgar como também vender diretamente seus livros nesses eventos.
Outro ponto que deve considerar é o público a que se destina o livro. O Gabriel Zaid sustenta que cada livro tem, teoricamente, um “número ideal” de leitores para os quais conhecer aquele título responde a uma necessidade qualquer. O problema é que muitas vezes esse público é minúsculo. No prefácio que escrevi para o livro do Zaid (que também traduzi), digo que há público para um livro sobre minhocas transgênicas. Só que esse público obviamente é limitadíssimo, e mesmo assim é muito difícil fazê-lo saber que existe o livro (para ele importante) sobre as benditas minhocas.
As redes sociais abriram um grande espaço para essa divulgação, inclusive a segmentada. Os blogs dos autores e as redes sociais contribuem para que leitores tomem conhecimento e acompanhem seus autores e livros preferidos.
Dentro das redes sociais proliferam também os “grupos” de “clubes de leitores”, que indicam entre si os livros que leram e gostaram ou não gostaram. Esses grupos também estão crescendo muito e já se constituem em fóruns, onde leitores com afinidades comuns (ou nem tanto) indicam livros uns para os outros. O grande problema desses locais é a inanição da maioria absoluta dos comentários, geralmente reduzidos ao “gostei”, “achei mais ou menos” ou “não gostei”.
Porque a verdade é que as resenhas fazem falta não apenas pela divulgação. Fazem falta também pelo efeito “consagrador” que um elogio feito em jornal de grande tiragem tem sobre o autor resenhado. Os livros publicados pela antiga José Olympio muitas vezes tinham, nas primeiras páginas, a notícia sobre a “fortuna crítica” (i.e., resenhas e artigos publicados por críticos reputados em jornais de grande circulação) do autor e do título, coisa que desapareceu completamente. Atualmente ninguém mais tem “fortuna crítica” e, por aqui, não temos nem os “blurbs”, aqueles elogios de uma frase que as editoras americanas colocam nas capas, emitidos pelos autores mais conhecidos da casa e pelos amigos do escritor (e até eventualmente extraídas das resenhas publicadas), e que podem até provocar vendas, mas que definitivamente não são nem resenhas nem críticas.
Pois agora surgiu, também nos EUA, uma novidade: resenhas pagas pelo autor.
Sim, pagas pelo autor.
O “Publishing Perpectives” do dia 18 de julho publica um artigo de Patti Thorn – http://migre.me/5iaNF – ex-editora de livros do jornal Rocky Mountain News que fundou uma empresa dedicada especificamente a produzir resenhas pagas, principalmente de títulos autopublicados, chamada Blue Ink Review. Diz a Patti que os resenhadores são todos qualificados (ela dá a lista no site – http://migre.me/5iaTk) e obedecem a um padrão que ela qualifica como objetivo e justo e são independentes. O autor – que pagou – não tem conhecimento prévio do conteúdo da resenha. Se não gostar do que foi escrito sobre seu livro, pode solicitar que a mesma seja retirada do site, mas não que seja modificada. O site tem conteúdo editorial, anúncios classificados e publica também uma lista dos livros que os editores gostaram e recomendam particularmente. Segundo ela, os resultados são ótimos. Autores ali resenhados já foram contratados pelas grandes editoras e por agentes literários e a lista ajuda também as bibliotecárias a escolher acervos para aquisição (lá, nos Estados Unidos, as bibliotecas compram livros regularmente).
Vamos ver quando a moda chega no Brasil e quem se habilita a abrir um site desses. E que autores irão pagar para ser resenhados…
Da mesma forma q tem um livro para cada leitor, tem um veículo (imprensa) para um grupo de interessados. Td livro tem seu caminho, vale a expertise do editor posicioná-lo no mercado. O xis do problema, são os editores e autores entenderem isso de forma clara (entre eles tb). Não importa q seja impresso por demanda (ou autopublicados), gráfica convencional, ou mesmo versão digital, mas sim uma produto sustentável e lucrativo em todos os sentidos.