Arquivo da tag: Amazon

Amazon vira instituição de caridade?

Capturar
Achei curiosa a notícia que saiu na newsletter da Publishers Weekly, o jornal da indústria editorial americana, no último dia 4 de dezembro: “As Editoras Não Lucrativas estão Sorrindo?” Era um jogo de palavras com um novo programa da Amazon, o AmazonSmiles, que permite aos clientes doarem 0,5% do valor de suas compras (de uma lista extensa, mas selecionada) para alguma instituição não lucrativa que houvesse se cadastrado como possível beneficiária do programa.

E a Island Press, uma editora sem fins lucrativos do estado de Washington se cadastrou e passou a ser mais uma dentre quase um milhão de “charities” que vão atrás dos caraminguás do programa. A editora fez uma campanha de e-mail entre seus clientes. Detalhe: são todas as compras feitas no AmazonSmile (da lista) que valem para a contagem dos 0,5%.

Quem reclamou no ato foram as livrarias independentes. A ingrata da Island Press havia caído no canto da sereia amazônica e diminuía os clientes das independentes, que sempre a haviam apoiado. A editora jurou amor eterno às livrarias e informou que nem sabia do programa até que um de seus doadores chamou atenção para ele. “Já que o programa existe, nos inscrevemos”. Lógico.

Mandei um e-mail para a assessoria de imprensa da Amazon no Brasil, perguntando se o programa valia aqui também e, se não, se sabiam quando chegaria por aqui. A resposta foi um link para o press release americano e uma frase curta: “Não, não temos nada para anunciar sobre isso e não comentamos planos futuros, desculpe”. Como é do estilo da casa.
Continue lendo Amazon vira instituição de caridade?

Vargas Llosa e David Grossman em Guadalajara: a literatura e o mundo ao redor.

llosa e grossman em Guadalajara
Vargas Llosa não é santo da minha devoção. Admiro muitos de seus romances, mas na maioria das vezes detesto suas opiniões políticas. E, na literatura, ele é autor de algumas barbaridades, como o tratamento de desprezo que deu para a obra de seu conterrâneo José Maria Arguedas, que é um escritor muito mais importante e seminal que ele. Coisa de inveja e despeito.

Mas, sem maniqueísmos, devo reconhecer quando ele fala bem e diz coisa com coisa.

fil logotipo Llosa e David Grossman debateram juntos na abertura da Feira de Guadalajara. Segundo a matéria do Publishing Perspectives falaram coisas muito interessantes, com as quais concordo. Acho extremamente importante o posicionamento contra o que eu gosto de chamar de “literatura de olhar o próprio umbigo”. Infelizmente, anda muito na moda falar do seu euzinho sem olhar o mundo ao redor. Esteticismo e politicamente correto são coisas que andam me aporrinhando cada vez mais. Passo.

David Grossman, na Feira de Guadalajara: “Os Palestinos têm o direito natural de ter um estado e uma sociedade, uma pátria, e gostaria que tivessem uma vida normal sem o peso da ocupação. Não posso tolerar o pensamento de que Israel intervém em suas vidas, e isso lança uma sombra. A paz é essencial para a futura sobrevivência de Israel. E neste momento não temos confiança em um futuro.”

Vargas Llosa: “A literatura não é simplesmente uma busca gratuita. As apalavras deixam uma marca e provocam mudança, e portanto o escritor tem uma grande responsabilidade, não apenas de criar uma bela obra de arte, mas também de influenciar a realidade. Qualquer jovem latino-americana dos anos 1950 teria pensado qual a razão de se importar em escrever, com tanta pobreza e analfabetismo, mas também escrevemos ara os analfabetos, na esperança que, ao fazer isso, possamos influenciar uma mudança na sociedade.”

Mais na Internet

Ainda no Publishing Perspectives, uma longa lista de comentários sobre a presença de Jeff Bezos em um programa de entrevistas no qual exibiu um filmete com um futuro drone de entregas da Amazon. Gozações e preocupações. E assinalam o desprezo total do Bezos para com as livrarias independentes: “Queixar-se não é estratégia”. Como quem diz, vão se catar, loosers!

A tradução é parte integral da vida literária na Índia, diz o artigo de Dennis Abrams sobre a importância dos livros traduzidos na construção de uma identidade literária em um país com dúzias de idiomas e dialetos.
Não apenas na Índia, digo eu. A tradução é o que garante a existência de uma República Mundial das Letras.

Google ganha a parada contra os autores e outros temas na Internet hoje

Alguns links de matérias sobre livros e leituras na Internet. Manhã de feriado aqui. Mas o resto do mundo não dá nem tchuns para nossa combalida república.

Amazon esmaga a competição

Dados do Book Industry Study Group sobre o mercado de e-books nos EUA mostra que a parcela da Amazon é ainda maior do que se supunha: 67%. Com a ajuda do Departamento de Justiça e da juíza Denise Coote, é Claro. Isso ainda vai dar chabu.

Livrarias independentes se movimentam no mundo inteiro: IndieBound nos EUA e uma grande campanha na Europa.

campanha livrarias europeias

O crescimento das grandes redes e das vendas online (no caso, principalmente pela Amazon) é uma preocupação que se espalha pelo mundo. O IndieBound é uma iniciativa da ABA – American Booksellers Association. Este fim de semana na Europa uma grande campanha para que as pessoas comprem pelo menos um livro físico nas livrarias (lá vale qualquer livraria, não apenas as independentes).

Mas a ABA funciona. Outros por aqui só fazem cartas chorando as pitangas…

Na Argentina, livrarias seguem firmes e fortes

livraia atheneu bs

Não é verdade que Buenos Aires tem mais livrarias que o Brasil todo. Isso é um mito. Mas tem belas livrarias (como a Ateneo Splendid) e os livreiros de lá conseguiram uma lei do preço fixo para se defender da febre de descontos das cadeias (que conta com a cumplicidade das editoras, é claro).

Revista sobre livros, literatura. Texturas

cabeceraTRAMA_TEXTURASblog4

Uma publicação espanhola online, muito interessante. Pode ser recebida por email.

E o Google ganhou a parada

google

O juiz Denny Chin nem levou para o júri. Decidiu que o Google presta um grande serviço ao escanear os livros do mundo inteiro. Depois de seis anos, o processo recebeu ontem a sentença em primeira instância em New York. Os autores que promoveram e a Author’s Guild dizem que vão recorrer, mas há dúvidas se um tribunal superior aceitará a apelação.

AMAZON TENTA ATRAIR LIVRARIAS INDEPENDENTES – VENDENDO GUILHOTINAS?

A Amazon lançou dia 6 de novembro passado o programa Amazon Source, através do qual livrarias e outras lojas de varejo podem vender toda a linha Kindle (e-readers e tablets), além de acessórios, e em troca recebem 10% das vendas de livros feitas através desses aparelhos por um período de dois anos.

Na verdade o programa tem dois formatos: encomendar Kindles com 9% der desconto do preço oficial e 35% dos acessórios, ou receber 6% de desconto nos aparelhos e 30% nos acessórios e ganhar os tais 10% sobre as vendas de livros. Não conheço os porcentuais, mas essa segunda opção parece ser a existente aqui no Brasil, onde os leitores Kindle podem ser adquiridos na Livraria da Vila e no Ponto Frio.

Segundo Russ Grandinetti, Vice-Presidente da Amazon para o Kindle, citado pelo Publishers Weekly, o programa resulta do sucesso da experiência com a rede Waterstones, do Reino Unido, iniciado há dois anos. O Amazon Source foi testado com duas livrarias localizadas perto de sua sede em Seattle – a livraria do campus da University of Puget Sound, e uma livraria independente, JJ Books. Ambas, é claro, afirmaram no press release da Amazon que estavam felicíssimas com o acordo.

Mas a reação dos livreiros independentes do resto do país foi majoritariamente negativa. A newsletter da Publishers Weekly, a revista do mercado editorial dos EUA, diz que “centenas de livrarias já se apresentaram para participar do programa”, mas não cita nenhuma declaração destas.
Continue lendo AMAZON TENTA ATRAIR LIVRARIAS INDEPENDENTES – VENDENDO GUILHOTINAS?

Livreiros independentes do Reino Unido querem que a Amazon pague impostos

O mercado editorial brasileiro está acostumado com a imunidade tributária do livro. As últimas taxas cobradas (PIS/PASEP-COFINS) foram eliminadas desde 2004 (salvo para quem está no regime do “Simples”), de modo que a cobrança, ou não, de impostos não representa um fator significativo para a concorrência.

Não é isso o que acontece no resto do mundo. A imunidade tributária para o livro é uma das pautas permanentes da IPA, a entidade internacional dos editores, e geralmente não tem sucesso. O IVA (nosso ICMS) é cobrado, na maioria dos países, da mesma forma e com a mesma alíquota que qualquer outro produto.

Mas, como sabemos, essa história de “paraísos fiscais” não existe só para trambiqueiros ilegais. Os legais usam amplamente esses paisecos para escapar da tributação e conseguir uma vantagem competitiva diante dos vendedores tradicionais de livros.

O exemplo egrégio disso, como não poderia deixar de ser, é a Amazon. Não apenas evade o IVA na maioria dos estados dos EUA, como se instalou, para suas operações na Europa, com uma filial em Luxemburgo. Nessa filial, para onde são emitidas as “notas fiscais” de vendas para toda Europa, o IVA é substancialmente menor que o cobrado nos países da Comunidade Europeia. Não satisfeita, e aproveitando seu prestígio, a Amazon conseguiu do governo escocês (semi-autônomo agora) outras vantagens fiscais para instalar um armazém de distribuição para suas operações no Reino Unido.

O resultado, obviamente, é que as livrarias com domicílio nos países do Reino Unido (Inglaterra, Escócia, Gales e Irlanda do Norte) pagam um imposto do qual a Amazon está isenta. Ou melhor, paga uma alíquota muito menor em Luxemburgo, o suficiente para deixar o Grão Duque mais rico, mas sem comparação com o que se paga no resto da Europa.

Reagindo a essa situação, os livreiros independentes Frances e Keith Smith decidiram abrir um abaixo assinado, em uma petição para o David Cameron, para “fazer a Amazon pagar seus impostos corporativos” no Reino Unido.

A petição foi apoiada por autores e personalidades e alcançou mais de 150.000 assinaturas, e a petição foi entregue ao Primeiro Ministro no dia 24 de abril passado. Os peticionários alegaram que vários membros do parlamento já haviam se manifestado sobre o assunto, assinalando inclusive que a Amazon (assim como o Google e Starbucks!) se beneficiam da infraestrutura que é paga com os impostos dos contribuintes do Reino Unido, sem pagar os impostos devidos por seus negócios.

Um velho lema da revolução americana (a tal que separou os EUA da Inglaterra) era “no taxation without representation” (não se paga impostos sem representação, em uma tradução livre). A Amazon (e a Google e a Starbucks, entre outras), recriaram o lema: “no taxation and no representation; just lobby”. Tudo em nome do lucro, e dane-se o bem comum.

A matéria do The Guardian sobre o assunto está aqui.

Queixas dos editores contra a Amazon se expandem

Publicamos o artigo da Publishing Perpectives do dia 17 de abril, sobre debate acontecido na London Book Fair.

Roger Tagholm e Edward Nawotka

Editores internacionais e livreiros presentes na Feira do Livro de Londres deste ano estão vocalizando cada vez mais suas dificuldades em trabalhar com a Amazon.com. Em privado, editores levantaram preocupação com as exigências da Amazon, a venda que a empresa faz de edições para as quais não possui direitos territoriais de venda, e a compra de exemplares de atacadistas.

Falando off record, como se tornou norma quando a Amazon está envolvida, uma figura importante disse: “Todo mundo fala que se está chegando a uma situação horrível sobre os termos de negócio, e acho que existe uma preocupação crescente no que diz respeito a dados e à oferta que fazem de múltiplas edições, frequentemente desconsiderando a territorialidade.”

“É possível que haja algum problema com os campos de dados, mas circulam também teorias conspiratórias. Tentar consertar isso é vagaroso e difícil. Também estamos descobrimos que, quando se trata de seus próprios livros, muitas vezes eles não estão comprando de você. Procuram um atacadista em outro território – Ingram, por exemplo, ou alguém na Índia – onde o livro pode ser mais barato. Isso pode ser prejudicial aos autores, porque significa que recebem direitos autorais sobre livros exportados, mais baixos que os do mercado interno.”

Os boatos sobre a Amazon fazer “importações cinzentas” nos mercados em inglês e espanhol não são incomuns.
Continue lendo Queixas dos editores contra a Amazon se expandem

Leia os posts de O Xis do Problema em seu kindle

A Amazon não dorme no ponto. Acrescentou mais uma funcionalidade no seu processo de adicionar conteúdo nos Kindle e Fire que circulam pelo mundo afora.

Agora, os blogs e sites que desejarem, podem acrescentar um botão de “Send to Kindle” no final de cada post. Este, então, será enviado para um – ou todos – os aparelhos registrados no nome de quem pediu o envio. O botão pode ser baixado no link acima ou diretamente do WordPress

Com isso, será possível não apenas ler depois, como também armazenar nos leitores o conteúdo dos posts, sem necessidade de ir até o site ou blog original.

A Amazon é grande e truculenta. Mas, sem dúvida, imaginativa e eficiente.

Como usuário do Kindle (desde que foi lançado), já incorporei o botão aqui no blog.

Assim, prezados amigos, poderão guardar para ler depois ou manter arquivado essas coisas que escrevo por aqui.

IPA ENDOSSA EPUB 3 COMO PADRÃO GLOBAL PARA E-BOOKS

Captura de Tela 2013-03-13 às 12.34.29A International Publishers Association – União Internacional de Editores emitiu comunicado anunciando que considerava o formato EPUB 3 como o padrão global para publicações digitais.

A resolução foi tomada em reunião da diretoria que aconteceu este mês em Nova York, e está justificada nos seguintes pontos:

– A IPA acredita que um ambiente digital competitivo e diversificado exige a ampla adoção e uso de padrões abertos e gratuitos de conteúdo digital, disponível para editores, provedores de tecnologia e plataformas de distribuição;
Continue lendo IPA ENDOSSA EPUB 3 COMO PADRÃO GLOBAL PARA E-BOOKS

É POSSÍVEL DESAFIAR A AMAZON?

Captura de Tela 2013-03-12 às 12.12.49
As gigantes do comércio varejista de livros – Amazon, Apple e Kobo (o Google realmente ainda não disse a que veio), tem uma característica comum: todas constituem “ecossistemas” de venda. Em todas existe a facilidade para a compra, dentro do sistema, com a possibilidade imediata de leitura: na Amazon, o Kindle, na Kobo e na Apple, qualquer aparelho capaz de ler o formato ePub. A Apple foi a pioneira nesse tipo de coisas, com o iTunes. Mas, no mundo do livro, quem realmente começou a fazer essa ideia funcionar foi a Amazon. A Barnes & Noble tentou fazer o mesmo com seu Nook, mas só vende livros nos EUA e na Inglaterra, e está enfrentando sérias turbulências financeiras, apesar do apoio da Microsoft.

Todas as três dispõem não apenas de aparelhos de leitura dedicados (Amazon – Kindle e Fire; Apple – iPod, iPas e iPhone; B&N – Nook; e Kobo, sua linha de leitores), além de aplicativos que possibilitam a leitura em muitos outros aparelhos, inclusiva das outras (a exceção é o Kindle, da Amazon, que lê apenas os formatos PDF, TXT e DOC, além do formato proprietário). Outras característica em comum é que todas e construíram, de uma ou outra maneira, uma lista de oferta gigantesca.
Continue lendo É POSSÍVEL DESAFIAR A AMAZON?

ANL e Amazon e digitais. Hora de verdades?


O anúncio da chegada ao Brasil de três grandes operadoras do comércio eletrônico de livros – Amazon, Kobo e Google – coincidiu com a divulgação do “Diagnóstico ANL do setor livreiro 2012”.

Recentemente a entidade dos livreiros havia divulgado uma carta aberta ao mercado – i.e. às editoras – e ao governo, com suas sugestões para o desenvolvimento do mercado de livros digitais no país. Sugestões, não reivindicações, segundo a própria entidade.

O diagnóstico foi encomendado pela ANL junto à GfK, uma multinacional de pesquisa de mercado, que lançou no primeiro semestre deste ano seu serviço de rastreamento online da venda de livros, é concorrente ao BookScan da Nielsen (que diz que se prepara para entrar logo no mercado brasileiro).

O estudo da GfK tem algumas características interessantes. Enviou questionários, que podiam ser respondidos online, por fax ou e-mail e entrevistas por telefone junto a todos universo conhecido pela ANL, que é de 3.403 livrarias. A pesquisa recebeu respostas com informações de 716 lojas, o que equivale a 21% do total, um índice de respostas muito bom. Destas, 152 respostas foram obtidas através da central de redes de lojas, que disponibilizaram dados de suas filiais, e 564 respostas vieram diretamente de livrarias independentes e grandes redes, com um questionário respondido por cada loja, representando um total de 474 diferentes razões sociais.

Os números indicam que algumas ditas grandes redes não responderam ao questionário, e que a maior parte das respostas veio efetivamente das livrarias independentes e redes regionais, que têm uma presença maior junto à entidade.
Essa impressão é corroborada pelo dado divulgado de 62% dos respondentes possuírem apenas uma loja, e que o principal regime tributário é o simples.

Alguns destaques da pesquisa:
Continue lendo ANL e Amazon e digitais. Hora de verdades?