É POSSÍVEL DESAFIAR A AMAZON?

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As gigantes do comércio varejista de livros – Amazon, Apple e Kobo (o Google realmente ainda não disse a que veio), tem uma característica comum: todas constituem “ecossistemas” de venda. Em todas existe a facilidade para a compra, dentro do sistema, com a possibilidade imediata de leitura: na Amazon, o Kindle, na Kobo e na Apple, qualquer aparelho capaz de ler o formato ePub. A Apple foi a pioneira nesse tipo de coisas, com o iTunes. Mas, no mundo do livro, quem realmente começou a fazer essa ideia funcionar foi a Amazon. A Barnes & Noble tentou fazer o mesmo com seu Nook, mas só vende livros nos EUA e na Inglaterra, e está enfrentando sérias turbulências financeiras, apesar do apoio da Microsoft.

Todas as três dispõem não apenas de aparelhos de leitura dedicados (Amazon – Kindle e Fire; Apple – iPod, iPas e iPhone; B&N – Nook; e Kobo, sua linha de leitores), além de aplicativos que possibilitam a leitura em muitos outros aparelhos, inclusiva das outras (a exceção é o Kindle, da Amazon, que lê apenas os formatos PDF, TXT e DOC, além do formato proprietário). Outras característica em comum é que todas e construíram, de uma ou outra maneira, uma lista de oferta gigantesca.

A Sony saiu na frente, com seu leitor, mas jamais conseguiu montar uma plataforma de oferta de conteúdo que a mantivesse competitiva. A Amazon, sim, conseguiu assumir o pioneirismo no comércio digital, convencendo as editoras, no momento em que já era a principal varejista dos livros impressos, a lhe venderem os livros em formato digital dando-lhe liberdade de formular os preços ao consumidor. A Amazon, como sabemos, usou muito bem isso para se consolidar como a maior loja, a caminho de se tornar semi-monopolista até que as editoras se deram conta de que haviam criado um monstro que podia engolir todas elas.

A Kobo, por sua vez, conseguiu montar uma ebookstore de tamanho considerável, e conseguiu um importante apoio ao fechar um acordo com a ABA, a associação das livrarias independentes dos EUA.

A estratégia de conseguir uma massa de varejistas para dar suporte a seu sistema é, na minha opinião, a única saída possível para que livrarias independentes e mesmo cadeias de livrarias físicas possam efetivamente sobreviver e prosperar no mundo do livro digital. A Saraiva, a principal rede brasileira, até o momento optou por oferecer livros em formato ePub sem um aparelho próprio. Até quando essa estratégia será viável é questão de especulação e depende, em grande medida, da manutenção das vendas de livros impressos. E não quero especular aqui sobre o ritmo de crescimento do mercado de livros eletrônicos no Brasil.

Nos últimos dias foi anunciado o surgimento de uma alternativa na Alemanha: um ecossistema de venda de livros eletrônicos local, completo com sistema de vendas, aparelho digital próprio e o suporte de uma grande quantidade de lojas físicas, que vendem os aparelhos. Além disso, com a participação da gigantesca Bertelsmann, a companhia dona da Random House e de outras empresas na área editorial, além de outros segmentos.

Trata-se da Tolino, associação de três gigantescas redes de livrarias alemãs, Thalia, Weltbild e Hugendubel (que tem algumas das livrarias mais bonitas daquele país), além da citada Berstelmann. Além das empresas diretamente vinculadas ao mercado editorial, a Tolino conta com a participação da Deutsche Telekom e seu caixa forrado de Euros.

A Tolino foi lançada no dia 7 de março, com o aparelho em venda em 1.500 pontos de varejo e uma oferta de 300.000 títulos em alemão. Em comparação, a loja Kindle naquele país oferece apenas a metade disso em títulos na língua de Goethe. O Tolino Shine é um leitor touch screen, com iluminação frontal em led, como alguns dos modelos Kindle, e custa €99, equivalente a cerca de R$ 250,00. O Tolino Shine permite leitura de arquivos EPUB, PDF e TXT. A infraestrutura nas nuvens da DT oferece espaço ilimitado para livros comprados dos parceiros e até 25 GB de armazenamento em livros adquiridos de outros varejistas. Além disso, a FT oferece mais de 11.000 hotspots WI-FI espalhados pela Alemanha. O aparelho tem capacidade de 4GB internos, expansíveis até 32 GB através de cartões Micro SD.

A informação de que o aparelho permite armazenamento de arquivos adquiridos de outros varejistas indica que livros vendidos na iBookstores, ou pela Kobo, poderão ser lidos também no Tolino Shine. Não consegui apurar a situação das livrarias alemãs independentes em relação à venda de conteúdos digitais.

É bom lembrar que a Kobo, apesar de origem canadense, foi adquirida pela Rakuten, uma empresa japonesa, e que sua tecnologia permite o melhor uso dos caracteres na sua tela. A livraria virtual da Kobo se gaba de oferecer uma grande seleção de títulos em japonês, também supostamente maior que a oferta da loja Kindle local.

Existem outros e-readers, com a tecnologia de tinta eletrônica, comum ao Kindle, ao Kobo e ao Tolino Shine, como é o caso do ainda vivo Sony Reader, e marcas como Hive e Anobii. O desconhecimento da real situação do mercado chinês é o desafio que se apresenta. Como sabemos, os chineses fabricam tudo para o resto do mundo, e fazem aparelhos muito baratos. Entretanto, reconheço meu desconhecimento das condições reais do mercado de e-readers e ebooks naquele país.

As experiências aqui relatadas, deixam claro que a imensa vantagem que a Amazon tem nos EUA pode ser contrabalançada pelos seus concorrentes no exterior, desde que sejam criados ecossistemas competitivos. Não se trata apenas de oferecer ereaders ou tablets mais baratos, mas sim de trabalhar para que os leitores tenham acesso fácil aos aparelhos e, principalmente, a uma oferta de títulos realmente significativa em seu idioma nativo.

Com menos de 20.000 títulos disponíveis em formato eletrônico, esse panorama está ainda distante de ser alcançado por aqui.

Um comentário em “É POSSÍVEL DESAFIAR A AMAZON?”

  1. Ótimo artigo e o tema é muito pertinente pois a estratégia de ebook ainda não está clara para muitos no Brasil e no mundo. Para mim, o formato EPUB é o formato que virou padrão de mercado e todos os leitores suportam direta ou indiretamente. A estratégia da Saraiva de vender ebook em formato EPUB me parece correta. A ideia de que se precisa incluir um aparelho na oferta não faz sentido quando se usa um formato aberto. Utilizando o software Calibre converto praticamente todos os formatos existentes para o formato do Kindle e envio diretamente para ele sem problemas, ficando até melhor que o PDF nativo do aparelho da Amazon. Acredito que o foco em ter um aparelho dedicado é um dos grandes erros das livrarias brasileiras que não entenderam que elas não tem tamanho para ter um formato dedicado como a Amazon, nem são empresas de HW como a Sony e a Apple. Então o foco tem que estar em conteúdo e na facilidade de uso. Na interface com o usuário, facilidade de download, facilidade de pagamento e etc. Isso é conseguido com SW e não com HW. A Amazon investe muito em SW e o site dela ainda é o melhor para compra de livros, estando muitos anos luz à frente dos concorrentes. Os sites nacionais de livrarias são em média muito ruins, mesmo o da Cultura que é dos melhores ainda tem muito a melhorar.

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