Arquivo da categoria: Colunas do Publish News

PREÇO FIXO, DEBATES RECENTES

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A eventualidade da adoção de uma lei que regule o preço de venda dos livros pelas livrarias, a chamada “Lei do Preço Fixo” foi objeto de duas discussões na semana passada. No dia 17, no Rio de Janeiro, o debate promovido pelo SNEL – Sindicato Nacional de Editores de Livros – convidou participantes do Reino Unido, da França e da Alemanha, além de editores brasileiros. Na terça-feira, dia 18, em S. Paulo, na sede da CBL – Câmara Brasileira do Livro – a ANL – Associação Nacional de Livrarias, promoveu outra discussão sobre o tema, convidando o advogado que assessora a entidade, o editor-distribuidor-livreiro Alexandre Martins Fontes e a mim, para a conversa.

Os três convidados internacionais do Rio de Janeiro – Sam Edenborough, Jean-Guy Boin e Joachim Kaufmann – foram clara e incisivamente favoráveis a uma medida que limite a possibilidade de descontos pelas livrarias.

Sam Edenborough, presidente da Associação de Autores e Agentes do Reino Unido foi, na minha opinião, quem fez a apresentação mais interessante. O mercado editorial do Reino Unido praticava o preço fixo até 1995, quando o chamado Net Book Agreement, foi cancelado. Edenborough trazia, portanto, uma avaliação do que acontecia quando o sistema valia e do que aconteceu depois de seu cancelamento.

Os adjetivos usados por Edenborough para caracterizar as duas situações (até 1995 e após 1995) são eloquentes: “Preço Livre: O Oeste Selvagem”, “Sucessos e fracassos são mais extremos”, “Os grandes players ficam cada vez maiores, e os menores cada vez menores”, e assim por diante.

(O site do SNEL disponibiliza informações sobre as apresentações)

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Enhanced e-books: beco sem saída ou aberturas não exploradas?

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Recentemente a newsletter DBW – Digital Book World  Daily publicou extenso artigo sobre as razões pelas quais os chamados livros digitais enriquecidos (enhanced) não haviam ganhado impulso. O artigo, The Real Reason Enhanced Ebooks Haven’t Taken Off (Or, Evan Schnittman Was Right… For the Most Part),  escrito por Peter Constanzo, destacava palestra de Evan Schnittman, pensador da indústria digital e diretor de vendas da Hachette Book Group na Feira de Londres em 2011. Nessa apresentação, Schnittman disse que o formato estava praticamente morto e era um beco sem saída para os editores.

O fato é que, alguns anos antes disso, inclusive em um dos Congressos do Livro Digital da CBL, essa moda do livro digital enriquecido – que permitia a inserção de áudio e vídeo de modo dinâmico – havia sido apresentado como a evolução mais importante do setor editorial. Esse segmento da indústria editorial, o dos livros eletrônicos, apesar de bem recente, já viveu alguns modismos que desapareceram rapidamente, como o das “leituras sociais” (quem tem paciência, mesmo, de ficar lendo em conjunto com um bando de desconhecidos?) e os apps autônomos para a publicação de livros, que só subsistem hoje para alguns livros ilustrados infantis.

Mas voltemos ao assunto.

Schnittman assinalava um ponto indiscutível, e que até hoje representa um entrave considerável. Os formatos “enhanced” não podem ser lidos com a mesma eficácia em todas as plataformas. O que funciona bem para tablets, e em especial para o iPad, mesmo que distribuído pela Amazon (suponho que também funcione bem para o Kindle Fire). O formato não é “trans-plataforma”. Comparando com música e jogos, Constanzo assinala que podemos escutar a música baixada online em qualquer aparelho digital, assim como se pode jogar “Call of Duty” em várias plataformas, com o mesmo resultado. O mesmo vale para filmes baixados em streaming ou vistos nos DVDs comprados ou alugados. Mas isso não acontecia com os livros “transmedia” elaborados com o ePub3.

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OREN TEICHER, DA ABA, EM ENTREVISTA EXCLUSIVA

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Oren Teicher, o CEO da ABA – American Booksellers Association esteve no Congresso da ANL e fez palestra no 5º. Congresso do Livro Digital da CBL, nos dias 20 e 21 de agosto passado.

Oren Teicher, CEO da American Booksellers Association, no V Congresso do Livro Digital, em São Paulo.
Oren Teicher, CEO da American Booksellers Association, no V Congresso do Livro Digital, em São Paulo.

Em um dos intervalos do Congresso, Oren Teicher concedeu uma entrevista exclusiva ao blog O Xis do Problema, que compartilhamos nesta coluna do PublishNews.

A ABA – American Booksellers Association, é a associação profissional dos livreiros independentes dos Estados Unidos. Independentes, para a ABA, são aquelas livrarias que não estão listadas em bolsas de valores, ou seja, não são “corporações”.  A ABA tem como missão proteger e promover os interesses desses livreiros, e também a liberdade de expressão de todos os cidadãos.

A associação é sem fins lucrativos, mas vários programas e benefícios disponíveis a seus membros são administrados por uma empresa, a Booksellers Order Services, Inc. (BOS), que é de propriedade da ABA. A BOS, por sua vez, opera duas empresas subsidiárias, a BookSense, Inc, que administra o programa IndieCommerce,  que proporciona a infraestrutura de comércio eletrônico (inclusive promoções) dos livreiros associados. Também é proprietária da LIBRIS,  empresa de seguro que administra uma série de serviços para os livreiros.

A ABA existe para prestar serviços aos seus associados, e tem uma mentalidade bastante empresarial quanto às fontes de recursos. O pagamento dos sócios cobre as despesas básicas, mas a associação possui também uma boa quantidade de cursos de formação, que são pagos e lucrativos. Possui também uma companhia de seguros, que presta serviços aos associados por um preço mínimo, mas também é lucrativa, além de ter participação nos resultados na BookExpo America (a operação da feira foi vendida para a Reed faz alguns anos).

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Lições e observações do Ed Nawotka

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No dia 6 de agosto passado, o jornalista Ed Nawotka, editor da  newsletter Publishing Perspectives  participou de evento organizado pela nossa PublishNews, com o apoio da Nielsen e da Livraria Martins Fontes. O tema original do seminário era “Estratégias Globais para Editores Brasileiros”. E, de fato, Ed Nawotka expôs várias ideias sobre as possibilidades de expansão global de negócios para editores brasileiros.

Assisti à palestra e não pretendo resumi-la aqui, pois isso já foi feito na newsletter do dia seguinte ao seminário.

Entretanto, quero aproveitar a oportunidade para destacar alguns assuntos tratados por ele que, para mim, foram muito interessantes.

Um preâmbulo. Altair Brasil, que foi presidente da CBL e, antes de adquirir com outros sócios, a operação da Bertrand Brasil (hoje selo da Record), trabalhou em vendas do setor gráfico e no segmento de porta-a-porta. Altair comentou comigo, várias vezes, que “quem vendia livros em quantidade eram as gráficas; livreiro vende um exemplar de cada vez”. Essa é uma lição bem clara do segmento de vendas porta-a-porta. Não deixam passar nenhuma venda, e vão atrás do cliente onde quer que ele esteja. Só para ilustrar, uma historinha que o Hamilton Terni Costa conta. Quando era diretor da gráfica da Melhoramentos, antes da unidade ser vendida, Hamilton convidou um grupo de editores e distribuidores do porta-a-porta para conhecer as instalações. No final da visita, na hora do cafezinho, quando Hamilton colocava as vantagens para que eles imprimissem na Melhoramentos, um ou dois dos visitantes revelou: haviam feito vendas de coleções para os funcionários da gráfica, durante a visita. No papo. Na hora.

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VALE CULTURA E MERCADO EDITORIAL

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A Ministra Marta Suplicy divulgou semana passada os primeiros dados da movimentação financeira do Vale Cultura, dizendo “que há um consumo muito maior de livros e revistas”, e acrescentando que as editoras e livrarias haviam saído na frente e se preparado.

vale cultura

Bom, os números não mentem e informam que 88,09% dos gastos com o Vale Cultura foram feitos em empresas cujo CNAE as coloca na categoria de “Comércio Varejista de livros, jornais, revistas e papelarias” (4761-01).  O cinema veio em seguida, e depois a venda de instrumentos musicais, o segmento de CDs, as artes cênicas, com “outras atividades culturais” no fim da fila.  Ou seja, dos R$ 13,7 milhões consumidos em seis meses, R$ 12,112 milhões foram para livros, jornais, revistas e papelarias.

O que pensar disso tudo?

A primeira constatação, claro, é que isso é ótimo. Na verdade, o que todas as pesquisas sobre hábito de leitura indicam, sempre, é que a leitura é muitíssimo bem considerada pelos brasileiros. Para formação, informação, cultura, educação e lazer. E para a religião também (a esmagadora maioria dos leitores coloca a leitura da Bíblia como sua atividade preferida na área). O que atrapalha a leitura é realmente a dificuldade de acesso. Além dos que declaram não conseguir ler corretamente, ou que preferem outras atividades.

Outra informação importante da notícia que veiculou os números do Vale Cultura é que a Ministra anunciou esses resultados em um evento na Federação dos Sindicatos de Metalúrgicos da CUT, em S. Bernardo. A Ministra foi lá – e tem feito atividades semelhantes em outros segmentos – para estimular os sindicatos a incluir o Vale Cultura na pauta das reivindicações nas campanhas salariais.

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Experiências no interior do país

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Em vários posts venho criticando os problemas de distribuição no país, e as bibliotecas – públicas e escolares – são uma preocupação constante.
Há alguns dias estive em Jaraguá, cidade do interior de Goiás. Maria José Silveira nasceu lá e o município a homenageou dentro da programação de um mês dedicado à literatura. Várias atividades programadas em torno do livro, da poesia e da leitura. Bela iniciativa.

As questões começaram antes da viagem. O funcionário da Secretaria de Cultura queria comprar pelo menos uma coleção dos livros da autora, tanto os romances quanto os livros para jovens. Tentou na Saraiva, filial de Goiânia. Não havia nada. Nem uma coleção editada pela Formato, que é um selo da Saraiva. Entrega? Pior que a Amazon com a Hachette.

Resultado: tivemos que achar por aqui os exemplares que conseguimos para levar alguns.

A programação teve suas cerimônias homenageando a filha da terra na sede da Casa da Cultura, construção do século XIX restaurada com muito cuidado. Foi programada também visitas a duas escolas de ensino fundamental da cidade. Escolas arrumadas, com professoras motivadas. As duas tinham pequenos acervos de livros, que fui ver. Achei poucos exemplares de livros dos programas de Biblioteca na Escola, do MEC. A Secretária de Educação do município me disse que o MEC, quando enviava, o fazia diretamente para as escolas. Só comunicava para a Secretaria os acervos e quantidades do PNLD, até porque eventualmente o primeiro nível de trocas ou complementações (naturais diante da variação de matriculados declarados no Censo Escolar do ano anterior e os efetivamente matriculados no ano) eram feitos diretamente pela Secretaria Municipal. Só no caso em que esses ajustes não fossem possíveis era que se apelava para a Secretaria de Educação do Estado.
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SNEL DIVULGA PESQUISA SOBRE MERCADO EDITORIAL – ÓTIMA INICIATIVA

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O Sindicato Nacional de Editores de Livros – SNEL, divulgou pesquisa fruto de bolsa de estudo financiada pela entidade junto ao Instituto Coppead de Administração. Esse apoio resultou em uma tese de mestrado, de autoria de Leonardo Bastos da Fonseca, “Crescimento da Indústria Editorial de Livros do Brasil e seus Desafios”, orientado pela professora Denise Lima Fleck.

É uma iniciativa importante, até pela escassez de estudos analíticos e sistemáticos sobre o tema. A própria bibliografia apresentada no trabalho mostra uma abundância de matérias jornalísticas vis à vis a produção mais extensa e pesquisada.
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DIA MUNDIAL DO LIVRO, LEITURA E DIREITO AUTORAL – A FRUSTRAÇÃO

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O dia 23 de abril foi declarado pela UNESCO o Dia Mundial do livro, da leitura e do Direito Autoral. Essa é a data do nascimento de Shakespeare, morte de Cervantes e do Inca Garcilaso de la Vega, assim como data do nascimento ou morte de outros autores proeminentes, como Maurice Druon, Vladimir Nabokov, Josep Pla e Manuel Mejía Vallejo, e sabe-se lá de quantos outros escritores. Mas esses nomes foram o pretexto para que, em 1995, a Assembleia Geral da UNESCO decidisse que o dia celebraria livros, autores, direito autoral, e serviria como encorajamento para que todos, e em particular os jovens, descobrissem o prazer de ler e renovassem seu respeito pela contribuição inestimável do livro e seus autores para o progresso social e cultural da humanidade.

Foi uma iniciativa que partiu da Catalunha (que , como os ingleses e os cariocas, têm S. Jorge como patrono). Em Barcelona, há décadas, as livrarias instalam bancas nas calçadas, com ofertas especiais e, para cada livro comprado, dão uma flor de presente.

Essa iniciativa vem, a cada ano, aumentando seu alcance. As editoras e livrarias de muitos países compreendem perfeitamente que, sob o pretexto da celebração, as ações de marketing podem resultar em seu benefício.

worldbook day
Assim, alguns exemplos: nos EUA, vinte e cinco mil voluntários distribuem, pelo país inteiro, meio milhão de exemplares de livros doados pelas editoras, tendo como alvo preferencial pessoas e comunidades onde o hábito de leitura é escasso. A mesma iniciativa acontece no Reino Unido e na Irlanda. No Reino Unido, adicionalmente, são distribuídos quatorze milhões de fichas para crianças e jovens com menos de 18 anos de idade, para sejam trocadas nas livrarias por um exemplar de um dos 10 títulos selecionados para o programa. Na Índia, os editores colaboram com ONGs locais para distribuir livros em favelas e promover sessões de leitura de livros. Na Islândia, editores colaboram por duas semanas com ações feitas por um dos principais jornais do país para promoção de sessões de leitura e discussões de livros.

São apenas alguns exemplo. Como podemos ver, todos muito significativos.
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ENTIDADES DO LIVRO: É POSSÍVEL TRABALHAREM JUNTAS?

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O PublishNews publicou, faz alguns dias, matéria relatando que a ABDL – Associação Brasileira de Difusão do livro “sugeriu” à CBL, ANL e ABEU “promover encontros periódicos para discutirem juntas assuntos do setor”. E anunciou para esta terça-feira, 15 de abril, a primeira reunião do grupo.

Alvíssaras. Espero que a reunião aconteça e produza alguma coisa. Qualquer coisa. Pelo menos marque uma próxima reunião…

Mas, a essas alturas, depois de quilômetros rodados na observação das questões de políticas do livro, permito-me tecer algumas observações.
A primeira, uma simples curiosidade: o SNEL não se qualifica? A ABRELIVROS tampouco? Talvez isso não haja sido noticiado e essas entidades tenham sido convidadas. Oxalá.

Já tratei anteriormente dessa multiplicidade de entidades ligadas ao livro. Tantos dos editores quanto dos autores. As desses últimos, coitados, muito mais anêmicas. Dá pena qualquer comparação quando se vê a Author’s Guild dos EUA peitando o Google, parando Hollywood, etc.

Mas, fiquemos nas entidades do livro.
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Um abril para não esquecer. A Ditadura e a indústria editorial

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O golpe civil-militar que instalou a ditadura no dia 1. de abril de 1964 teve profundas repercussões na indústria editorial brasileira. Em vários níveis.

A mais evidente e comentada foi a censura a livros, e os ataques a algumas editoras, com a prisão dos seus responsáveis. O mais conhecido desses é o caso da Civilização Brasileira.

Ênio Silveira era ligado ao PCB. Mas sempre atuou com uma independência intelectual admirável, e editou muitos livros que seriam abominados pelo partidão. Pagou caro por isso, com a bomba que foi jogada na sede da editora e da livraria, na Rua Sete de Setembro, no Rio de Janeiro, o incêndio do depósito e o estrangulamento do crédito. A Civilização Brasileira é um exemplo paradigmático da resistência dos editores. Não foi a única, mas a verdade é que a censura violenta contra a Civilização Brasileira deixou muitos e muitos editores em estado de “auto-censura”, com raras exceções.

É bom lembrar que o maior volume de livros censurados o foi por conta da “moral e dos bons costumes”. Nesse sentido, o caso do Rubem Fonseca é paradigmático. O autor fez parte do grupo civil que deu respaldo “intelectual” ao golpe de 1964, no IPES fundado e dirigido pelo general Golbery do Couto e Silva, o fundador do SNI. Era advogado da Light e suas credenciais de direitistas sempre foram impecáveis. Mas, excelente escritor que é, Rubem Fonseca mostrou um retrato cáustico da burguesia carioca, em particular em alguns contos do Feliz Ano Novo. A reação foi fulminante, e o livro foi fazer companhia aos escritos por Adelaide Carraro e Cassandra Rios.
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