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Estudo revela: quem empresta e-books nas bibliotecas é grande comprador

Estudo recente da Pew Internet e da American Life, nos EUA, indica que quem empresta e-books nas bibliotecas é também um comprador ativo do mesmo tipo de livros.

A pesquisa é importante porque as editoras norte-americanas ainda não definirem um modelo homogêneo de permitir os empréstimos de e-books. Várias alternativas são testadas. Há editoras que simplesmente não vendem e-books para bibliotecas. Outras, estabelecem um número máximo de usos da cópia adquiria, geralmente menos de trinta. Outros, ainda, cobram muito mais caros pelos e-books vendidos às bibliotecas.

A questão foi suscitada principalmente pelos e-books dos lançamentos e best-sellers, que as editoras temiam perder vendas pelo caráter não fungível dos e-books. O livro impresso na verdade tem um número limitado de leitores, e quando muitos leitores retiram um exemplar, este acaba se deteriorando irremediavelmente, mesmo que haja um cuidado permanente na sua conservação. Os e-books, ao contrário nunca se “desgastam”.

Essa questão da deterioração dos livros impressos é algo que por aqui não se presta muita atenção. Afinal, compram-se tão poucos livros para as bibliotecas que os responsáveis fazem o impossível para manter os exemplares existentes em uso. E é deprimente às vezes receber um livro que está um verdadeiro bagaço.

Até a edição da Lei do Livro, aliás, o descarte de livros imprestáveis – procedimento técnico normal e necessário – era uma tarefa administrativamente fastidiosa para as bibliotecárias. Normalmente era necessário abrir um processo administrativo para justificar o descarte de um livro, pois esses eram considerados como patrimônio, tombados e etc.

Esse dispositivo cretino foi eliminado pela Lei do Livro. O livro é de papel, e se muitas pessoas o lerem, o livro se desfaz. Já brinquei comentando que aquele dispositivo causava tantos problemas que criou um substrato cultural que levava as bibliotecas a manterem os livros longe dos leitores, já que o controle do objeto físico era uma tarefa complicada.

Essa cultura do objeto livro como intocável passa para os jornais: coitadas das bibliotecárias que se atrevem a descartar exemplares velhos. Algum jornalista desinformado acaba fazendo um escarcéu com isso, lamentando o fato desses exemplares serem descartados, “jogados fora”, como geralmente aparece nas matérias.

A verdade é que esse manuseio dos livros imprestáveis provoca até doenças de pele e respiratórias. Já testemunhei esse drama em algumas situações, quando as prefeituras não fornecem nem luvas nem máscaras para quem tem que manusear esses livros. Os usuários, então, coitados, nem pensar. Que se deem por satisfeitos quando encontram o livro que buscam, mesmo que nojento.

Nas bibliotecas que tem verbas regulares, o descarte e a aquisição de novos exemplares é um procedimento normal.

Por outro lado, alguns títulos efetivamente passam por um período inicial de maior demanda. Outros livros têm demanda permanente: dicionários, obras de referência, e títulos de literatura usados nas escolas. O temos dos editores gringos era que os e-books impedissem essa renovação natural dos acervos.

As limitações de uso para os e-books nasceram principalmente a partir dos best-sellers e novidades. Depois de um certo tempo – que varia para cada livro, é claro – os exemplares podem passar meses sem ser solicitados pelos leitores.

Coisa de rico. Se tivessem que vender para as bibliotecas brasileiras, tinham que se dar por felizes e satisfeitos de conseguir fazer as vendas.

“França de Vichy”, lamentos e dúvidas britânicos sobre o acordo da Waterstones com a Amazon

O contexto é muito diferente do brasileiro, mas o artigo abaixo transcrito, escrito para a Publishing Perspectives por Roger Tagholm, que é um jornalista do The Guardian londrino, especializado no mercado editorial, mostra as dificuldades enfrentadas pelas cadeias de livrarias e livreiros independentes quando se veem forçados a enfrentar a presença da Amazon. A gigante norte-americana de e-commerce de livros físicos e eletrônicos fechou mês passado um acordo com a Waterstones para se tornar fornecedora de conteúdo para essa cadeia, que passaria a vender o Kindle em suas lojas, recebendo uma comissão.

O que poderá acontecer com as cadeias de livrarias brasileiras – e com os livreiros independentes – quando a Amazon iniciar suas operações no Brasil, principalmente se cumprir a anunciada promessa de vender o leitor de livros eletrônicos por menos de R$ 200,00?

Leiam as observações de Tagholm abaixo. O artigo original está aqui em inglês.

Porque o negócio da Waterstones com a Amazon é “Como a França de Vichy”

Roger Tagholm – Publishing Perspectives

Mês passado, James Daunt, Diretor Executivo da Waterstones, chocou o mundo ao anunciar um acordo com a Amazon, segundo o qual a empresa passaria a vender e-books para os clientes da livraria. Mas não foi rangendo os dentes que ele fechou o negócio surpresa de vender o Kindle, como algumas pessoas sugeriram – ele o fez “depois que todos seus dentes foram arrancados”. Essa é a opinião de um importante editor britânico, expressada enquanto a indústria editorial do Reino Unido continua a digerir os escassos detalhes sobre o segredo mais bem guardado desde que a Berstelmann comprou a Random House, em 1998.
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HarperCollins lança programa de venda global de seus títulos em inglês

A HarperCollins, uma das “seis grandes” do mercado editorial dos EUA, lançou um programa de vendas global de seus títulos em inglês, segundo a newsletter da Publisher’s Weekly. Serão oferecidos 50.000 títulos impressos e 40.000 e-books em todos mundo, em qualquer tecnologia. As limitações ocorrerão somente em função dos direitos de venda dados a HC nos contratos.

A HarperCollins 360 – o nome do programa – já engloba os títulos publicados nos EUA e no Reino Unido, e espera incluir títulos de suas subsidiárias no Canadá e na Austrália nos próximos doze meses.

O anúncio do programa informa que a distribuição global ocorrerá com a incorporação de vários associados com capacidade de impressão sob demanda. O anúncio não especifica se os e-books serão vendidos através de varejistas, como a Amazon, ou varejistas locais, e se terão ou não DRM embutido.

Uma especulação que ocorre de vez em quando é a da possibilidade das editoras americanas detentoras de direitos globais publicaram elas mesmas as traduções, pelo menos no formato e-book. Acho isso difícil, pois não teriam capacidade de atender a capilaridade do varejo no mundo inteiro, e os direitos das traduções são vendidos para editoras locais, que certamente não gostariam que o formato e-book ficasse nas mãos dos detentores originais. No entanto, essa movimentação da HarperCollins é bem significativa do alcance global do mercado editorial propiciado por dois fatores: impressão sob demanda e e-books.

Associação Internacional dos Editores faz seu Congresso na África do Sul

A Associação Internacional dos Editores (IPA) inaugura amanhã, dia 12, seu 29º. Congresso Internacional, em Cape Town, África do Sul. É a primeira vez, em 116 anos de história, que a organização que congrega internacionalmente os editores se reúne no continente africano. O Congresso se reúne sob o tema “Editar para uma nova era” para discutir as oportunidades e desafios da edição digital, as ameaças de representadas por editoras e programas estatais de edição e as mudanças em discussão nas leis de direito autoral e de propriedade intelectual.

Notamos no programa, que pode ser acessado aqui a presença oficial de dois brasileiros nas diferentes mesas: Karine Pansa, presidente da CBL, e Dalton Morato, Diretor da ABDR.

O Dr. Morato falará na mesa sobre as mudanças em discussão na lei de direitos autorais – e certamente aproveitará a oportunidade para salientar a posição da ABDR de adotar medidas judiciais para derrubada de sites e a recusa a permitir licenciamento para reprodução parcial de obras protegidas, com exceção da “Pasta do Professor” alimentada por algumas editoras.

A presidente da CBL, Karine Pansa, participa de uma mesa sobre o crescimento dos mercados nos países em desenvolvimento.

No dia 11, antes da abertura do Congresso, haverá um seminário sobre a edição do segmento técnico-científico-médico (STM), através de sua associação internacional, com a Publishers Association of South Africa (PASA), para debater a situação do segmento na África do Sul.

Leitores nas feiras profissionais de livros

A BookExpo America, que encerrou ontem em Nova York, é uma feira profissional, tal como a de Frankfurt. Mas, ao contrário da feira alemã, seu foco é nas vendas das editoras aos livreiros, e não em direitos autorais. A feira de Frankfurt permite o ingresso do público em geral (desde que adquira o ingresso, que é caro), mas as vendas só podem ser feitas no domingo, último dia do evento. A BookExpo America não permitia a entrada do público em geral.

Até este ano, quando instituiu um Consumer’s Day destinado especificamente a Power Readers. O ingresso custava US $ 45 e não era qualquer um que podia adquiri-lo. Isso só era possível se o interessado fosse selecionado em alguma das listas preparadas por livrarias independentes, por associações de escritores ou pela New York Public Library.

O resultado não agradou gregos e troianos, como relata a matéria do Publisher’s Weekly. Alguns Power Readers reclamaram do preço (reclamação elementar, é claro) e de que a informação de que o ingresso era possível ter sido escassa. Entre editores, houve os que gostaram da presença dos leitores em palestras de autores (na BEA estas são de temas profissionais, das relações entre os componentes da indústria editorial: autores, editores e livreiros) e que achavam que esses leitores iriam gerar o famoso boca-a-boca. Outros expositores reclamaram, dizendo que os não profissionais (ainda que Power Readers) distraíam sua atenção das reuniões com livreiros, consumiam o material de divulgação levado para os livreiros e até interromperam “rudemente” algumas reuniões.

É bom destacar que a BEA é o palco do lançamento das principais coleções do segundo semestre nos EUA. Lá a indústria editorial ainda mantém uma forte característica sazonal (aliás como é também a Rentrée Littéraire francesa), de modo que a BEA – antiga feira da ABA – American Booksellers Association parece muito mais uma convenção de vendas que um evento cultural.

Barnes & Noble quer que tribunal rejeite acordo de três editoras com o Departamento de Justiça

A cadeia de livrarias Barnes & Noble, que comercializa o Nook, leitor de e-books que concorre com o Kindle, da Amazon, peticionou ao juiz da ação do Departamento (ministério) da Justiça dos EUA para que o acordo proposto e aceito por três das editoras acionadas (HarperCollins, Hachette e Simon&Schuster) seja declarado inválido. A notícia foi publicada na newsletter da revista Publisher’s Weekly, que acompanha o mercado editorial americano.

A varejista alega que o acordo imposto pelo Departamento de Justiça e aceito pelas três editoras estabelece uma regulamentação do mercado – e não protege a “livre iniciativa” – em detrimento dos seus interesses e das livrarias independentes e dos autores. Seis empresas foram processadas pelo Departamento de Justiça americano, as três citadas e a Macmillam, a Penguin e a própria Apple, que contestaram a ação e não aceitaram a proposta de acordo.

A argumentação da Barnes & Noble, que entrou no processo como parte indiretamente interessada, reforça a argumentação das editoras que contestaram a ação e da Apple, no sentido de que, se aceita a argumentação do governo, isso favoreceria a criação de um monopólio no comércio de e-books nos EUA, beneficiando a Amazon.

Esse caso ainda vai render muito.

Empresas pressionam governo dos EUA a seu favor na Internet

O Washington Post do dia 31 de maio, publica uma matéria muito interessante, modelo de como ideologia e economia se misturam (de modo nem tão sutil assim), nas questões da Internet e do “livre acesso ao conhecimento”. Dito seja de passagem que sou totalmente favorável ao livre acesso ao conhecimento e à liberdade de imprensa.

Vamos ver a matéria de perto.

O título: “Companhias tecnológicas americanas advertem sobre ameaças à Internet por governos estrangeiros”.

O texto, com comentários em itálico:

“Autoridades dos EUA e gigantes da alta tecnologia lançaram uma ofensiva contra o que percebem como um ataque maciço à Internet e à lucratividade das empresas do Vale do Silício: governos estrangeiros”. Sem disfarces: as autoridades e as empresas se unem contra a ameaça dupla, à Internet e à lucratividade das empresas. Depois que o Departamento de Justiça dos EUA agiu para beneficiar a Amazon, o que mais se poderia esperar?”
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Editoras contestam ação do Departamento de Justiça dos EUA: “O governo favorece a monopolista”

As editoras que não aceitaram fazer acordo depois que o Departamento de Justiça dos EUA processou cinco delas e mais a Apple de conspirar para controlar os preços dos e-books contestaram a ação. Algumas delas usaram termos bem candentes, acusando mesmo o Departamento de Justiça de favorecer o monopólio da Amazon. Leia aqui a matéria da Publisher’s Weekly com a contestação oferecida pela Macmillam e pela Penguin. Muito ilustrativa.

Feiras de livro em crise

Desde há muito tempo tento chamar atenção para os problemas do modelo “bienais de livros” em grandes cidades. É uma discussão que precisa ser feita com profundidade e seriedade.
Pelo visto esse ponto anda sendo discutido também na Espanha. A Feira do Livro de Madri, que é uma feira de rua e anual, teve seu formato e conteúdo criticados este ano, segundo se depreende de matéria publicana no El País.

Reprografia, direito autoral e licenciamento – voltando ao assunto

Em março passado publiquei aqui no blog um post sobre a questão da pirataria e dos meios internacionalmente usados para defender os direitos dos autores e das editoras sem prejudicar estudantes e pesquisadores.

Esta semana o assunto voltou a entrar em pauta quando a ABDR – Associação Brasileira de Direitos Autorais conseguiu derrubar um site de compartilhamento de livros da área de ciências humanas. A ação provocou reações várias de protesto. E também algumas, infelizmente poucas, de análise mais racional do problema. Uma delas foi feita por Eduardo Melo no site Revolução Ebook.

Bem, fui dar uma olhada no site da ABDR para ver se havia alguma mudança na atitude deles quanto ao licenciamento. Não. Mencionam a “Pasta do professor”, iniciativa muito interessante de algumas editoras, mas apresentam um tortuoso raciocínio para dizer que o que vale “nos países desenvolvidos” não vale aqui. Quem quiser ir lá conferir, o link está aí acima.

Por enquanto só coloquei o link para o meu post de março, ao qual não tenho nada a acrescentar no momento.