Arquivo da categoria: Sem categoria

AMAZON TENTA ATRAIR LIVRARIAS INDEPENDENTES – VENDENDO GUILHOTINAS?

A Amazon lançou dia 6 de novembro passado o programa Amazon Source, através do qual livrarias e outras lojas de varejo podem vender toda a linha Kindle (e-readers e tablets), além de acessórios, e em troca recebem 10% das vendas de livros feitas através desses aparelhos por um período de dois anos.

Na verdade o programa tem dois formatos: encomendar Kindles com 9% der desconto do preço oficial e 35% dos acessórios, ou receber 6% de desconto nos aparelhos e 30% nos acessórios e ganhar os tais 10% sobre as vendas de livros. Não conheço os porcentuais, mas essa segunda opção parece ser a existente aqui no Brasil, onde os leitores Kindle podem ser adquiridos na Livraria da Vila e no Ponto Frio.

Segundo Russ Grandinetti, Vice-Presidente da Amazon para o Kindle, citado pelo Publishers Weekly, o programa resulta do sucesso da experiência com a rede Waterstones, do Reino Unido, iniciado há dois anos. O Amazon Source foi testado com duas livrarias localizadas perto de sua sede em Seattle – a livraria do campus da University of Puget Sound, e uma livraria independente, JJ Books. Ambas, é claro, afirmaram no press release da Amazon que estavam felicíssimas com o acordo.

Mas a reação dos livreiros independentes do resto do país foi majoritariamente negativa. A newsletter da Publishers Weekly, a revista do mercado editorial dos EUA, diz que “centenas de livrarias já se apresentaram para participar do programa”, mas não cita nenhuma declaração destas.
Continue lendo AMAZON TENTA ATRAIR LIVRARIAS INDEPENDENTES – VENDENDO GUILHOTINAS?

AmazonCrossing descobre o Brasil pela Machado de Assis Magazine

Capturar
AmazonCrossing, o braço editorial do poderoso sistema global de venda de livros pela internet, anunciou um programa de publicação de autores brasileiros em inglês que promete ser ambicioso. Alguns títulos terão apenas uma versão digital – principalmente os contos – mas os romances terão versão impressa e em áudio-books. A Amazon teve seu interesse pelos autores brasileiros despertado pela homenagem na Feira de Frankfurt, e a Machado de Assis Magazine – a revista de literatura brasileira em tradução, co-editada pela Biblioteca Nacional e o Itaú Cultural – foi o principal instrumento para a descoberta dos autores que participam do programa.

A história é a seguinte:

Os primeiros livros a serem publicados pela AmazonCrossing, ainda em 2013 são de contos, em versão para Kindle. Beatriz, livros de contos de Critóvão Tezza; uma seleção dos contos de Falo de Mulher, de Ivana Arruda Leite; dois contos de Ana Paula Maia (“Desmedido Roger” e “Esporo”); uma seleção de contos de Paloma Vidal, “Fantasmas”, extraído de sua coletânea Mais ao Sul. Além desses, ainda este ano serão lançados uma seleção de contos de Tércia Montenegro, extraídos do livro O Tempo em Estado Sólido, e o conto “A Pequena Morte”, de Cláudia Lage.

A partir de 2014 a AmazonCrossing passa a lançar também romances, e os primeiros quatro selecionados são Breve Espaço Entre Cor e Sombra, de Cristóvão Tezza, que venceu o Prêmio Machado de Assis da FBN em 1998; Eles Eram Muitos Cavalos, de Luiz Ruffato, que também recebeu o prêmio da FBN; o romance de estreia da jornalista Eliane Brum, Uma, Duas; o romance histórico do jornalista Sérgio Rodrigues, Elza, a Garota; e um dos títulos da saga Qua4tro Elementos, Marcada a Fogo, da escritora independente Josy Stoque.
Continue lendo AmazonCrossing descobre o Brasil pela Machado de Assis Magazine

Programa ajuda a detectar conteúdo erótico nas autopublicações.

Em novembro de 2011 publiquei um post aqui dando notícia de um programa chamado BookLamp, que detectava o “genoma” dos livros analisados. O programa permitia às editoras analisar o conteúdo de originais por tipos de temas, citações, etc., mencionados no texto. Na época o BookLamp já recebia material de algumas grandes editoras, inclusive os originais enviados sem solicitação, de modo a permitir que, posteriormente, fossem analisados mais detidamente aqueles que tivessem abordagens semelhantes a de outros livros de sucesso. Era uma ferramenta de análise e permitia também que, no site da empresa, fossem selecionados, para leitura, títulos com temas e outros elementos de conteúdo similares aos de algum romance recentemente lido. O post pode ser lido aqui.

Pois bem, o pessoal do BookLamp resolveu colocar esse instrumental para analisar a questão dos livros pornográficos autopublicados, assunto que tem provocado controvérsia no meio editorial dos EUA e da Inglaterra. A rede W. H. Smith resolveu retirar do ar o site alimentado pela Kobo até que todos os livros passagem por uma avaliação para eliminar aqueles que tratassem de pedofilia, bestialismo e incesto.

A coisa é quente.

Hoje o site Digital Book World publicou o post que reproduzo abaixo. Lembro sempre que a distinção entre hipocrisia e o veto de crianças a conteúdos questionáveis é sempre um assunto delicado, e que o moralismo anglo-saxão, unido aos evangélicos e outros ultramoralistas de plantão pode também prejudicar a liberdade de expressão na ficção. O texto está em inglês.

FJL
A publicação original foi feita aqui.

The Literary Darknet of Independent Publishing
Categories: Expert Publishing Blog
October 20, 2013 | Aaron Stanton | 7

The independent and self-publishing space recently found itself with a cascading bit of drama, eventually escalating to impact everyone from Amazon to Barnes & Noble, to WHSmith and Kobo. It began with an article on The Kernel about how Amazon sells incest, rape, and underage erotica in their online book stores. This is not mild content.

The story quickly spread through larger news channels to include virtually every major online retailer, though somehow, the Google Play Store escaped notice, despite having the exact same content. WHSmith, the respected online book seller, responded by shutting down their entire site to categorically remove all independent books until they could be verified “clean.” In case it’s back up by the time this article goes up, the image below is what a major site looks like when the universe implodes.
Continue lendo Programa ajuda a detectar conteúdo erótico nas autopublicações.

Frankfurt – ices 2 – O Pavilhão do Brasil estava bonito

Minha primeira impressão, no dia da inauguração, não foi muito boa. Era necessário entrar pelo lado, por uma porta (uma de cada lado, certo). E na minha cabeça uma exposição sobre o Brasil deveria estar escancarada desde o começo;

Quando voltei para visitar com mais detalhe, vi que o conceito estava funcionando. As “ilhas” boladas pela Daniela Thomas mostravam diferentes aproximações ao país. Havia pessoas lendo. A seção dos totens com personagens da literatura brasileira ficou bem bolada.

Eram totens com nomes de alguns dos personagens de livros formados por pilhas de impressos que apresentavam o livro, o personagem e um pequeno trecho da obra. Olhem o Policarpo Quaresma (infelizmente não consegui escanear a página inteira, pelo formato, mas dá para ver o conteúdo):

Texto do totem do Policarpo Quaresma
Texto do totem do Policarpo Quaresma

E outras fotos de totens:
Emília 20131012_150503_Small
20131012_150442_Small 20131012_150539_Small

Os painéis sobre as várias facetas do país, com colagem de textos em uma face e, atrás, projeção de um filme/documentário, sempre baseados em textos literários: Metrópole, subúrbio, sertão, floresta, mar e terra também ficaram bonitos.

20131012_150800_Small

As redes onde as pessoas escutavam arquivos sonoros:

20131012_151341_Small

As tais “bicicletas” que faziam projetar documentários sobre vários aspectos da vida nacional. Nem sei se funcionavam só com a pedalada, mas todo mundo estava pedalando…

20131012_151444_Small

Tinha até gente lendo…

20131012_151924_Small

E, desculpem todos, mas não consegui manipular as fotos para evitar as distorções. Quando aprender, conserto…

Museu Gutenberg me faz virar artista gráfico – e outras Frankfurt – ices

image
Desde as primeiras vezes que visitamos a Feira de Frankfurt, então pela falecida Marco Zero – Maria José Silveira, Márcio Souza e eu – sempre fizemos questão de visitar os outros pavilhões.

O simples percorrer toda aquela imensidão proporciona um panorama das tendências que a indústria editorial assume naquele ano. Além disso, os pavilhões de artes gráficas, de equipamentos (e hoje de softwares também) para editoras e livrarias, abriam nossos olhos para o que se faz de mais avançado na indústria editorial.

Este ano, quando visitei a feira como curador do Conexões Itaú Cultural – Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira, não deixei de dar meu rolê pela feira.

No Pavilhão 4, das editoras alemãs, está também o estande do Museu Gutenberg, de Mainz, onde nosso patrono inventou a prensa com tipos móveis e desencadeou a criação da Galáxia que leva seu nome.

Ali sempre está uma réplica da prensa na qual imprimiu os primeiros livros, e um impressor vestido a caráter tira cópias de uma página da sua Bíblia usando a mesma tecnologia que ele usou.

Mas lá estão professores e aprendizes da escola de artes gráficas anexa ao Museu, demonstrando algumas técnicas. E hoje eu experimentei uma. O jovem coloca umas espécies de moldes sob uma folha de papel branco, e o candidato a artista gráfico usa rolos com tintas básicas para criar faixas por cima, de cada cor. Ressalta assim o molde do fundo com um padrão colorido.

Assim, graças ao Museu Gutenberg, hoje me qualifiquei como artista gráfico… É o que está no alto do post.

Fiquei orgulhosíssimo…

MOSTRA SIMPÁTICA

Uma das áreas do setor de artes gráficas e desliga da feira apresentou uma mostra de trabalhos de artistas brasileiros inspirados em livros e seus formatos – ou “desformatos” talvez. Algumas fotos.

image

image

PAULO LINS TODO PIMPÃO

A Feira de Frankfurt prepara posts com fotos de autores presentes. O pai do primo da minha neta Ana, o único escritor negro presente, ficou todo pimpão na foto.

“Eu tinha tirado a foto, mas nem sabia para o que era”, me disse, com sua modéstia característica…

Olhem só.

image

A abertura da feira – discursos

Em 1994, quando o Brasil foi pela primeira vez convidado de honra da Feira de Frankfurt, uma das críticas feitas foi a de que o orador oficial teve um péssimo desempenho. Foi Josué Montello, então presidente da ABL. Escolhido exatamente por ser uma alternativa institucional, para evitar polêmicas sobre que nome representaria melhor nosso país na ocasião.

Na verdade, foi uma escolha infeliz da Comissão Organizadora de então. Montello passou o tempo falando de suas leituras de Goethe e de como amava a cultura alemã.

Peter Weidhaas, que inventou esse formato atual da Feira de Frankfurt, no qual, a cada ano, um país ou um tema servia de pretexto para centralizar discussões, debater problemas, apontar rumos para a cultura, deixou claro em seu livro sobre a história da feira, “See you in Frankfurt”, que a escolha não fora adequada.

Este ano tivemos dois discursos excelentes de autores e uma palhaçada do Vice-Presidente Michel Temer.

Devo dizer aqui que sempre me sinto insultado quando brasileiros se apresentam com o discurso do país vira-lata, como dizia Nelson Rodrigues. Essa síndrome acomete personagens de todas as estirpes: políticos, jornalistas e também escritores, é claro. Mas me sinto igualmente ofendido e irritado com o discurso ufanista. Vade retro, Afonso Celso e epígonos.

Escrevo isso porque ecoam, na Internet e nos corredores da feira, até por quem não é ufanista, críticas ao discurso do Rufatto na abertura. Enquanto o escritor era ovacionado depois do discurso, já o Ziraldo se levantava gritando que não era para aplaudir, e que se ele, Rufatto, não gostasse do Brasil, que se mudasse.

Foi um discurso tão forte que o Michel Temer tentou responder no ato, deixando transparecer uma ameaça velada, ao comentar sobre a liberdade de expressão garantida em nosso país desde a redemocratização em um tom que queria assinalar que havia limites para isso.

Mas, o que disse o romancista?

Fundamental é lembrar a pergunta retórica inicial da fala: “o que significa ser escritor num país situado na periferia do mundo, um lugar onde o termo capitalismo selvagem não é uma metáfora?”

Essa a questão fundamental levantada pelo escritor e cidadão Luis Rufatto. Diz respeito a todos nós. O que significa ser cidadão em um país tão selvagem?

Em várias matérias publicadas por ocasião das comemorações dos 25 anos da Constituição de 1988 transpareceu, de modo evidente, que a cidadania não é usufruída plenamente por todos os brasileiros. Que direitos são negados. Que injustiças são cometidas cotidianamente. Que temos, em uma palavra, muito pela frente até podermos nos considerar um país minimamente justo. Rufatto nada mais fez que reafirmar isso. E foi importante que o fizesse. Não para desmerecer ou definir o Brasil. Muito pelo contrário. No caso, não fez mais que se integrar a uma honrosa tradição da nossa literatura, que é a de pensar o Brasil enquanto se está olhando de longe.

A história de 500 anos de iniquidade começa a se modificar, com todas as dores do parto. “A maior vitória da minha geração – diz ele no discurso – foi o estabelecimento da democracia. – são 28 anos ininterruptos, pouco, é verdade, mas trata-se do período mais extenso de vigência do estado de direito em toda a história do Brasil. Com a estabilidade política e econômica, vimos acumulando conquistas sociais desde o fim da ditadura militar, sendo a mais significativa, sem dúvida alguma, a expressiva diminuição da miséria: um número impressionante de 42 milhões de pessoas ascenderam socialmente na ultima década. Inegável, ainda, a importância da implementação de mecanismos de transferência de renda, como as bolsas-família, ou de inclusão, como as cotas raciais para o ingresso nas universidades públicas.”

Rufatto tem uma história pessoal admirável. Nascido em família pobre, foi de pipoqueiro a operário antes de virar jornalista e escritor. E sua obra procura desvendar nosso país e o mundo ao seu redor a partir dessa inserção. Não está, ao contrário de tantos, à procura de seu próprio umbigo.

Diz ele: “Acredito, talvez até ingenuamente, no papel transformador da literatura. […] Tive meu destino modificado pelo contato, embora fortuito, com os livros. E se a leitura de um livro pode alterar o rumo da vida de uma pessoa, e sendo a sociedade feita de pessoas, então a literatura pode mudar a sociedade. Em nossos tempos de exacerbado apego ao narcisismo e extremado culto ao individualismo, aquele que nos é estranho, e que por isso nos deveria despertar o fascínio pelo reconhecimento mútuo, mais que nunca tem sido visto como o que nos ameaça. Voltamos as costas ao outro – seja ele o imigrante, o pobre, o negro, o indígena, a mulher, o homossexual – como tentativa de nos preservar, esquecendo que assim implodimos a nossa própria condição de existir. Sucumbimos à sólidas e ao egoísmo e nos negamos a nós mesmos. Para me contrapor a isso, escrevo: quero afetar o leitor, modificá-lo, para transformar o mundo. Trata-se de una utopia, eu sei, más me alimento de utopias. Porque penso que o destino último de todo ser humano deveria ser unicamente esse, o de alcançar a felicidade na Terra. Aqui e agora.”

Considerar esse discurso como sendo “contra o Brasil”, me desculpem, é não saber ler. Ou preferir ser do tipo de escritor que se alimenta do próprio umbigo.

Sou mais Rufatto.

O discurso da Ana Maria Machado, em tom muito diferente, condicionado também por sua posição oficial, não deixou de apontar as questões que deveriam afligir todos os escritores e todos os brasileiros. Diz ela aos ouvintes: “estejam certos que vão encontrar o reverberar dos problemas brasileiros nas obras de vários autores de percepção aguda. A sociedade e a política brasileira estão sempre nos rondando, por perto, por baixo do que se publica entre nós. Esse substrato político na escrita é uma dês nossas marcas. Em seu conjunto, nossos livros levantam indagações, reflexões, diálogos críticos com o real, hipóteses do imaginário, a partir de fatos do nosso cotidiano e de sabores por eles despertados em cada um de nós.”

Infelizmente, há também os que pretendem, ou fingem, escrever em um mundo imaginário que tem como única referência o próprio umbigo. Boa companhia lhes fará Paulo Coelho e outros do imaginado Parnaso da autoindulgencia.

A nota de rodapé patética foi o discurso do Temer. Coitado. Não merece mais que isso.

Felizmente para honra de nossa participação como Convidados de Honra da Feira de Livros de Frankfurt, os dois escritores fizeram uma bela homenagem à literatura e seu poder transformador.

Fogos de artifício pré Frankfurt

No período imediatamente anterior à inauguração da Feira de Frankfurt, na qual este ano o Brasil será o país homenageado, sempre se ouvem críticas, e as manifestações diversas de incompreensão e oportunismo.

É claro que críticas são legítimas, e longe de mim ser contra quem critica. Mas uma coisa é reconhecer o direito de crítica e outra é achar que qualquer uma é válida. Principalmente quando são feitas por personagens de renome que usam de sua posição para coloca-las sem uma justificativa arrazoada. No mundo acadêmico isso é conhecido como usar o critério de autoridade para validar o que se fala. Abdica-se, na verdade, da análise e da demonstração dos fatos para expressar opiniões de caráter estritamente pessoal que nem sempre estão fundados na realidade.

Dessa maneira se constroem pseudo argumentos de caráter estritamente ideológico, ou que simplesmente escondem estratégias de marketing pessoal.

São exemplos disso dois acontecimentos desse final de semana pré Frankfurt.

O primeiro protagonizado pelo nosso mago titular, autor que vende milhões de exemplares de livros pelo mundo todo e, para muitos, é epítome do escritor brasileiro bem sucedido. Paulo Coelho declinou de participar da delegação “oficial” de escritores brasileiros convidados, alegando que autores de sucesso popular não haviam sido convidados.

Com isso, viu gastar muita tinta para expor e comentar as virulentas críticas feitas ao governo brasileiro e à Biblioteca Nacional. Nem vou entrar no mérito dessas críticas. Concordo com algumas delas e discordo de outras.

Mas o que está evidente no pseudo ex-abrupto do mago não são as críticas. Trata-se mais de uma operação de marketing, como tantas outras que ele já fez. Observem que ele mesmo criou “furos”. A entrevista deveria ser publicada no domingo na Alemanha, mas Paulo Coelho providenciou traduções da mesma em inglês e português para divulgação seletiva e escalonada do conteúdo pelos jornais do mundo afora, e particularmente no Brasil. Note-se que o fato de ser escalonada também faz parte da operação de marketing. A entrevista foi enviada com embargo de data para vários meios, enquanto outros a receberam sem essa advertência. Ou seja, ele criou “furos” artificiais entre vários meios de imprensa, com o singelo objetivo de fazer render mais a notícia. É claro que pediu desculpas aos embargados-furados depois. Fácil.

Vários dos autores que Peter Rabbit mencionou também estarão lá na feira. A convite de seus editores. Que sabem muito bem que a Feira de Livros de Frankfurt, além – repito, além – do lado cultural, é uma feira de negócios editoriais. E os editores aproveitam a oportunidade para colocar seus autores. Como sempre fizeram e continuarão fazendo caso o governo desista de apoiar a presença de um estande brasileiro, nesta e em outras. Normal.

Além da manipulação, nosso Peter Rabbit “desenfatizou” – para não dizer ocultou, o fato de que estará na Feira, cumprindo os compromissos marcados com suas editoras. E ainda deixou o MinC na defensiva. O resultado foi conseguir uma exposição ainda maior que teria – e que certamente já seria enorme – às custas de criticar a bendita lista de convidados.

Faço questão de repetir aqui. Fosse eu quem organizasse a lista, provavelmente usaria outros critérios e escolheria outros autores. Na minha opinião, por qualquer critério adotado, a lista tem omissões difíceis de entender. Mas, fosse minha a lista, ou fosse a de qualquer outra pessoa, grupo ou coletivo que a organizasse, as críticas, em qualquer caso, são inevitáveis. Pois não há
não há como evitar: quem foi escolhido acha isso simplesmente natural e merecido, e quem não foi se considera vítimas de complôs e panelinhas. Assim caminha a humanidade, per omnia omnia secula.

Mas devo dizer que esse fuzuê todo é mais uma amostra da imensa capacidade do mago de se promover, e não é à toa que tratamos de um dos escritores mais vendidos do mundo. No mercado editorial, quem não se promove não vende. Pode conseguir glória crítica e literária, mas para vender tem que mercadejar muito. E nisso Paulo Coelho é, sem nenhuma dúvida, nosso gênio particular.

Outro tipo de crítica é a que foi expressa – não pela primeira vez – pelo jornalista Élio Gaspari em sua coluna dominical n’O Globo. Eventos como o de Frankfurt são apenas oportunidade para mandriões mamarem nas tetas da vaca estatal, segundo ele. E que se alguém tem que tratar da divulgação da literatura brasileira no exterior, que sejam os próprios autores e seus editores.

É uma posição política e ideológica da qual discordo frontalmente. Essa critica do sr. Élio Gaspari confunde os negócios editoriais com a projeção da cultura brasileira (não e
apenas literária, mas em todas suas formas). Como diria nosso prezado Conselheiro Acácio, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Os editores vendem eventualmente alguns autores por questão de prestígio, e aproveitam o fato de comprar muitos direitos internacionais para empurrar um que outro de seus editados.

A literatura brasileira não se apresenta com mais força no concerto universal das ideias simplesmente porque o português é um idioma que está em um gueto: somos nós, os portugueses e a camada de cima da elite dos chamados PALOPs – Países de Língua Oficial Portuguesa. A predominância do inglês é avassaladora e nossas condições de trocas nessa imperfeitíssima República Mundial das Letras é extremamente desigual

Essa atitude, na minha opinião, combina duas posições ideológicas dominantes no pensamento contemporâneo: o culto ao deus mercado e a louvação da dita iniciativa privada.

Mas, no fundo, é também uma manifestação contemporâneo daquele famoso espírito de vira-latas cunhado por Nelson Rodrigues.

FRANKFURT VEM AÍ

Capturar
Na próxima semana acontecerá a Feira de Livros de Frankfurt, o maior evento mundial da indústria editorial, e na qual o Brasil será, pela segunda vez o país Convidado de Honra.

Há dois anos escrevi uma série de posts sobre a primeira experiência do gênero, em 1994, quando fui um dos participantes da organização. Não vou voltar sobre o tema, e muito menos sobre o conteúdo da programação deste ano. Tenho certeza de que será uma bela festa, com muito espaço na imprensa europeia, tanto para os autores presentes quanto para os demais eventos paralelos.

A minha preocupação continua sendo o pós feira. Com o risco de parecer redundante e cansativo, volto ao essencial: o esforço só vale a pena se estiver no contexto de uma política continuada – “de Estado”, como virou moda dizer – de difusão da cultura brasileira no exterior. Não apenas de nossa literatura e de nossos escritores, mas da cultura brasileira, vista inclusive na perspectiva de desenvolvimento do tal “soft power” do qual tanto se tem falado.

Nos últimos dois anos muito se fez na criação de condições para o aumento da presença da nossa literatura e de nossos autores – que não são necessariamente literários, pois livros são escritos sobre tudo – no exterior. O programa de bolsas da Fundação Biblioteca Nacional é um bom exemplo disso.
Continue lendo FRANKFURT VEM AÍ

PAULICEIA LITERÁRIA – AUMENTA A OFERTA DE FESTIVAIS EM SP.

Capturar
O Festival Pauliceia Literária, promovido pela Associação de Advogados do Estado de S. Paulo entre os dias 19 e 22 passados, não foi o primeiro do gênero na cidade, ao contrário do que informou a matéria equivocada d’O Estado de S. Paulo. A Balada Literária, iniciativa do escritor Marcelino Freire, já com vários anos de vida, e que terá sua edição deste ano em novembro, é pioneira nesse tipo de iniciativa. Mas a Pauliceia Literária é o primeiro evento promovido por uma associação profissional que não tem nenhuma ligação direta com os livros. No caso, os advogados, e isso de grande importância.

Temos também, aqui em S. Paulo, alguns outros eventos literários com leituras e conversas com e entre autores. A Casa das Rosas faz encontros de poesia, o SESC tem um menu de atividades do tipo, promovidos por várias entidades e que se abrigam em suas unidades. E os saraus de poesia das periferias de S. Paulo são um fenômeno fantástico de incentivo à leitura e à produção literária.

A Pauliceia Literária é declaradamente inspirada no modelo da FLIP, mas Cristina Baum, sua curadora, afirma que não pretender “fazer uma FLISP”. Pretende, sim, dialogar com os outros festivais literários do país e do exterior. Cristina tem experiência para isso, pois foi a primeira curadora da FLIP e em eventos com a PalFest, um festival literário na Palestina ocupada, entre 2008 e 2010. Tem tudo, portanto, para fortalecer e transformar a Pauliceia em um evento importante e significativo na programação cultural da capital.

Até junho passado o portal da FBN que registra feiras e eventos literários já registrava mais de cento e cinquenta eventos desse tipo este ano. E o número cresce sempre. Já escrevi sobre o assunto aqui.

A Associação de Advogados de São Paulo promoveu o evento como parte das comemorações de seu 70º. Aniversário. Sérgio Rosenthal, advogado criminalista e seu presidente, e Luís Carlos Moro, advogado trabalhista e diretor cultural da AASP foram os impulsionadores da realização do evento.
Continue lendo PAULICEIA LITERÁRIA – AUMENTA A OFERTA DE FESTIVAIS EM SP.

BIBLIOTECAS ESCOLARES – UMA PAUTA QUE VAI E VEM

Capturar
A importância das bibliotecas escolares no processo educativo é dessas coisas que todo mundo concorda mas que nunca se acha modo de efetivar. E volta e meia alguma excelência, Deputado ou Senador, resolve mostrar seu interesse no assunto e propõe alguma medida legislativa a respeito.

Está em vigor, desde 2010, a Lei 12.244, de maio daquele ano, que prevê a obrigatoriedade de instalação desses equipamentos em todas “as instituições de ensino públicas e privadas de todos os sistemas de ensino do País”. E mais, que essas bibliotecas devem “respeitar a profissão de bibliotecário”, tal como definida na legislação corporativa defendida com unhas e dentes por esses bacharéis. No prazo de dez anos (a contar de maio de 2010), todas as escolas deveriam contar com bibliotecas, e dirigidas por bibliotecários.

Considerando-se o número de escolas públicas e privadas do ensino fundamental e médio do país, nem que todas as faculdades de biblioteconomia parissem turmas e turmas de bibliotecários, jamais haveria profissionais suficientes para isso. Sem contar que os cursos de biblioteconomia (ou ciências da informação, como gostam agora de ser chamados) não dão a menor pelota para as matérias relacionadas com bibliotecas públicas e escolares. Na maioria delas esse assunto não entra nem nos currículos.
Continue lendo BIBLIOTECAS ESCOLARES – UMA PAUTA QUE VAI E VEM