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Felipe Lindoso é jornalista, tradutor, editor e consultor de políticas públicas para o livro e leitura. Foi sócio da Editora Marco Zero, Diretor da Câmara Brasileira do Livro e consultor do CERLALC – Centro Regional para o Livro na América Latina e Caribe, órgão da UNESCO. Publicou, em 2004, O Brasil Pode Ser um País de Leitores? Política para a Cultura, Política para o Livro, pela Summus Editorial.

Capital Mundial do Livro – alguma cidade brasileira algum dia poderá ser?

Port Harcourt, cidade nigeriana, foi nomeada “Capital Mundial do Livro” pelo comitê de seleção integrado por membros da IPA (International publishers Association); IBF (International Booksellers Federation); IFLA (International Federation of Library Associations and Institutions) e da UNESCO. A atual Capital Mundial do Livro é Bangcoc, na Tailândia. O título é válido entre as duas celebrações do Dia Mundial do Livro e do Direito Autoral, comemorado no dia 23 de abril.

Port Harcourt foi escolhida “devido à qualidade de seu programa, em particular quanto ao foco na juventude, e no impacto que deve ter no desenvolvimento da cultura do livro, da leitura, escrita e edição na Nigéria e seu papel na melhoria dos índices de alfabetização”.

Jans Bemmel, Secretário Geral da IPA, declarou que “o número de candidaturas recebido este ano foi o maior (11), desde que o programa da UNESCO começou em 2001, seguindo uma iniciativa da IPA. Muitas eram muito boas. Nesse contexto, a IPA ficou muito impressionada pela qualidade da candidatura apresentada pela cidade de Port Harcourt: um programa claro, ambicioso e animador que vai para além de 2014, destinado a gerar entusiasmo pelos livros e pela leitura”.

É bom notar que Port Harcourt fazia parte da Biafra, uma guerra terrível que tentou separar a região da Nigéria entre 1967 e 1970. A guerra teve como centro a disputa pelos recursos petrolíferos da região e foi extremamente sangrenta.

Depois de terminada a guerra civil, com a derrota dos separatistas, os recursos provenientes da exploração do petróleo proporcionaram meios para o desenvolvimento econômico da região. Pelo visto, segundo a avaliação dos membros do comitê da “Capital Mundial do Livro”, não apenas o desenvolvimento econômico foi procurado, mas também o desenvolvimento social e cultural, a ponto de permitir essa indicação.

As candidaturas à “Capital Mundial do Livro” são apresentadas à UNESCO e devem incluir ações de caráter permanente e continuado na promoção do livro, da leitura, da edição e defesa dos direitos autorais de modo consistente. A única cidade sul-americana nomeada Capital Mundial do Livro foi Buenos Aires, em 2011.

Sinceramente, preferiria que alguma cidade brasileira se candidatasse a esse posto em vez de ser sede de olimpíadas ou da copa de futebol. Certamente as empreiteiras de grandes obras não ganhariam tanto dinheiro, mas o desenvolvimento cultural e social teria repercussões muito mais importantes e duradouras.

No panorama brasileiro, acredito que a única cidade que poderia apresentar uma candidatura decente a Capital Mundial do Livro seria Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. E isso graças ao formidável trabalho desenvolvido a partir da Universidade de Passo Fundo e capitaneado pela Tânia Rösing, e que se centra nas Jornadas Literárias. Um evento de literatura que não se reduz a um mero espetáculo de palestras e encontros de autores famosos – o que também acontece, sim – mas é um trabalho junto ao sistema escolar desenvolvido continuadamente, fazendo que os estudantes leiam, conheçam e discutam os livros de dezenas de autores de todos os gêneros, durante o período anterior à Jornada.

Ou, quem sabe, os famosos recursos do pré-sal permitissem que uma constelação de cidades da costa brasileira pudesse se candidatar coletivamente, apresentando um programa criativo, ambicioso, inovador e eficiente de expansão de bibliotecas, formação de mediadores, incentivo à escrita e à leitura nas escolas e fora delas.

Sonhar não custa nada. Com a palavra a Biblioteca Nacional e o Ministério da Cultura.

“O que há em um nome”, ou Guerra de Versões

Gosto de pensar no verso de Shakespeare como um tributo à guerra de versões. Os nomes – Montecchio ou Capuleto – assumem significados conforme a posição de quem os diz para quem, e a tragédia se arma a partir daí. Ou seja, depende do ponto de vista.

O Publishing Perspectives do dia 27 de junho trouxe uma entrevista feita com Alberto Vitale, ex-executivo da Randon House entre 1989 e 2002, por uma bolsista Fulbright da New York University, Joana Costa Knufinke, espanhola que também faz seu doutorado em Literatura na Universidad de Barcelona.

Vitale é um dos nomes lendários da edição americana no período. Italiano educado nos EUA, como chefão da Random House – na época a maior editora dos EUA – era um temido porta-voz da indústria editorial americana nas negociações com a Feira de Livros de Frankfurt, principalmente a respeito da localização dos estandes. Esse tema o fez ter vários atritos com Peter Weidhaas, descritos pelo alemão em seu livro de memórias, See You in Frankfurt (Locus Publishers, New York, 2010). Foram alguns embates cataclísmicos, o do poderio e arrogância dos americanos contra o poderio e a arrogância dos alemães.
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ESPAÇOS DA LITERATURA BRASILEIRA: TRANSFORMAÇÕES

Mercado editorial, centros de pesquisa, espaço na imprensa, feiras e festas literárias, leis de incentivo cultural, o papel do escritor e suas relações na sociedade. As relações no âmbito do sistema da literatura brasileira passam por significativas transformações, principalmente desde o final dos anos 1980. O Plano Cruzado, de 1986, com o congelamento dos preços, teve como resultado, naquele ano, um significativo aumento do número de livros vendidos, e pode-se dizer que deslanchou um novo momento para autores, leitores e nossa literatura.

De lá para cá – com altos e baixos – vemos um aumento continuado na produção e vendas de livros, e do número de autores de literatura brasileira lançados. E, se até aquela época, eram raríssimos os autores que viviam exclusivamente do seu labor literário, esse número aumentou muito significativamente nos últimos anos, ainda que não necessariamente através da forma exclusiva de ganhos com direitos autorais.

O “labor literário” hoje inclui o cachê pela participação em feiras e festivais de literaturas, oficinas de criação literária, participação em programas governamentais de circulação de autores, já existentes em vários estados, com a contratação de autores para a elaboração de roteiros, tanto de cinema quanto de televisão, curadorias literárias e consultoria para editoras. Esse panorama dá uma nova feição à vida literária e, principalmente, transforma a relação dos autores com seus leitores. A “vida literária” se profissionaliza para além do trabalho solitário da escritura. Não basta escrever, tem de saber dar entrevistas, falar para auditórios em encontros com escritores, ler suas obras em público ou para a TV etc.
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Censura e Liberdade de Publicação – A Turquia Censura e Prende. E no Brasil?

A liberdade de expressão é uma das mais importantes conquistas na luta pelos direitos humanos. Apesar de inscrita na Declaração de Direitos Humanos, a instituição sofre constantes desafios. Governos, religiões, grupos de pressão, tem sempre um monte de gente atuando no sentido de restringir essa nossa liberdade. Às vezes agem até de forma sutil. Um amigo meu dizia que para os religiosos, por exemplo, só cabem nessa categoria os livros da sua religião. Os que defendem outras crenças passam a ser considerados como “esotéricos”.

Mas essa sutileza é a exceção. Geralmente apelam mesmo é para a truculência, seja através de mecanismos oficiais de censura amparados por lei, seja através da ação de grupos de pressão que acabam por “banir” livros dos mais diferentes ambientes. John Tebbel, autor do excelente “Between Covers” (Oxford University Press, 1987), que é uma história da edição nos EUA, chega a afirmar que a luta contra a censura é um dos fenômenos mais constantes na vida editorial nos EUA. A American Library Association, que reúne os bibliotecários de lá, tem uma lista de 97 clássicos da literatura americana que sofrem constante pressão de censura por parte das entidades que controlam as bibliotecas.

A Associação Internacional dos Editores mantem uma comissão permanente para acompanhar os casos de dificuldades para a liberdade de publicação. Até alguns anos atrás a CBL mantinha um comitê semelhante, atenta às tentativas variadas de ameaças à liberdade de publicação. Não sei se tal comitê ainda está instituído. De qualquer forma, não se ouviu falar de manifestações das entidades de classe, por exemplo, na proibição da biografia de Roberto Carlos.

Mas a bola do momento – e não pela primeira vez – é a Turquia. Como sabemos, a Turquia é um país multiétnico. Mas, ao contrário de outros, teima em reprimir as manifestações de etnias e povos que não a própria etnia turca. O genocídio armênio no começo do Século XX foi a primeira das grandes demonstrações de violência do estado turco contra as minorias nacionais e lá, até hoje, é crime reconhecer que isso aconteceu. Mais recentemente, além dos armênios, os curdos também vem sofrendo intensa perseguição, e recém foi iniciado o julgamento do processo do Koma Civaken Kurdistan (KCK), ou Congresso pela Sociedade Democrática, a ala de ação civil e política do Partido dos Trabalhadores do Curdistão, declarado ilegal na Turquia.

Nesse julgamento, resultado de uma operação iniciada em 2009, dezenas de prisões foram efetuadas. No dia 28 de outubro de 2011 foi preso, com mais 28 pessoas, o editor e autor Ragip Zarakolu, que mais tarde foi indicado como candidato a receber o Prêmio Nobel da Paz. Juntamente com Zarakolu foram presos o editor Deniz Zarakou e o acadêmico Büşra Ersanli. Todos estão sujeitos a penas que vão até quinze anos de prisão.

A IPA enviou uma delegação de observadores a esse julgamento, encabeçada precisamente pelo chefe do Comitê de Liberdade de Publicação, Brjørn Smith-Simonsen.

No seu 29º. Congresso, reunido na África do Sul, a IPA aprovou uma resolução “rejeitando o abuso de definições amplas de termos tais como difamação, segurança do estado, segredo de estado, ou terrorismo, por abrirem amplo caminho para a censura, hostilização da mídia e influência antidemocrática”.

É bom lembrar que Orham Pamuk, o escritor turco ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, também sofreu hostilidades por criticar alguns aspectos da sociedade de seu país. O secretário geral do Conselho da Europa, Thorbjørn Jagland, declarou recentemente que havia mil casos em exame no Tribunal Europeu de Direitos Humanos relacionados com o direito de expressão na Turquia.

A legislação turca de controle à liberdade de expressão abrange uma quantidade de temas absolutamente estranhos. Não se pode falar mal de Kemal Ataturk, o fundador da moderna Turquia: dá cadeia. Não se pode falar dos direitos de minorias étnicas dento do território turco: dá cadeia. Não se pode reconhecer que houve o genocídio armênio: isso é ofender a “turquicidade” – seja lá o que isso signifique – e dá cadeia. Um relatório mais extenso sobre os problemas na Turquia pode ser lido aqui.

Os partidos políticos que defendem o reconhecimento dos direitos específicos dessas nacionalidades, particularmente armênios e curdos, são postos na ilegalidade e quem publica qualquer coisa sobre o assunto pode passar quinze anos ou mais na prisão. E mais, as gráficas que imprimem os livros são declaradas também responsáveis pelo conteúdo e sujeitas às mesmas penalidades.

A liberdade de expressão, como vemos, não é algo que diga respeito somente aos autores. Os editores, através dos quais as palavras daqueles chegam ao grande público, também estão sujeitos a punições, ao recolhimento de livros. E, como vimos, isso pode ser feito através da força bruta de regimes ditatoriais e também através do uso da “censura judiciária”, como é o caso da Turquia e, infelizmente, também do Brasil.

Triste é ver que algumas iniciativas de remediar pelo menos parte do problema aqui em nosso país, como é o caso da proposta de lei que modifica o código civil para ampliar a liberdade de elaboração de publicação de biografias deram em nada. Em vez de servir de polo de aglutinação das entidades de autores, editores e livreiros, serviu também de pretexto para ações diversionistas, como a criação de uma nova entidade de editores apenas para tentar medidas judiciais acerca do assunto, quando se sabe que o projeto de lei que resolve o problema está em etapa de tramitação terminativa nas Comissões da Câmara dos Deputados, esperando tão somente o parecer do Deputado Alessandro Molon para ser aprovada e seguir para o Senado.

Conexões Itaú Cultural na FLIP

Participarei semana que vem da FLIP, pela primeira vez.

Será em dois eventos consecutivos do Conexões Itaú Cultural – Mapeamento Internacional da literatura Brasileira, do qual sou um dos curadores.

O Conexões Itaú Cultural – Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira, é um programa inédito de levantamento da presença da literatura brasileira no exterior. Desde 2007 o levantamento é feito nas universidades e na área editorial, rastreando estudiosos e pesquisadores e os tradutores de literatura brasileira. Ainda este ano será ampliado para levantar de forma mais abrangente os centros universitários e de pesquisa e as editoras do mundo todo que publicam livros de autores brasileiros.

Segue a programação que será apresentada em Paraty, para a qual estão todos convidados:

Os eventos literários, o papel performático dos escritores e a presença da literatura brasileira são assunto de encontro no Museu do Forte, Paraty

Pelo terceiro ano consecutivo, o Instituto Itaú Cultural marca presença na festa; nesta edição,
em parceria com o Banco Itaú, abre com um encontro com jornalistas e especialistas em literatura no primeiro dia, antes da abertura oficial do evento; a instituição apoia e ajudou a FLIP a idealizar a mesa bônus com Angeli e Laerte, e ainda exibe três filmes da série ICONOCLÁSSICOS

No Museu do Forte, um dos pontos históricos mais bonitos de Paraty, onde raramente há programação da Festa Literária Internacional da Literatura (FLIP), o Itaú-Unibanco, maior patrocinador da festa literária, e o Itaú Cultural realizam o debate Espaços da Literatura Brasileira: Transformações. Trata-se de um encontro de jornalistas com escritores, especialistas em literatura e criadores e produtores de evento literários de todo o país. Marcado para o dia 4 de julho (quarta-feira), a partir das 12h30, o evento é organizado em duas atividades acompanhadas de um brunch.

Os eventos literários no Brasil de hoje

O Boom dos Eventos Literários no Brasil é o tema de abertura do encontro no Museu do Forte no dia 4.Alguns dos principais criadores e realizadores de eventos literários brasileiros se encontram pela primeira vez para conversar com a imprensa sobre o assunto. Afonso Borges, escritor, produtor cultural, curador e criador do fórum Sempre Um Papo, com atuação em mais de 30 cidades do país; Mario Helio Gomes, escritor, jornalista, editor e coordenador de literatura da Festa Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto), Mauro Munhoz, diretor da FLIP, e Sergio Vaz, idealizador da Cooperifa que, em 10 anos, já se disseminou por todo o Estado de São Paulo, falam da sustentabilidade, produção, do mercado e da influência cultural desses eventos.

Eles partem do princípio que se operam transformações no sistema literário brasileiro, com a ampliação do espaço de atuação dos escritores. Além de seus livros, esses profissionais hoje vivem da participação em feiras e festivais de literaturas, oficinas de criação literária, programas governamentais de circulação de autores, contratos para a elaboração de roteiros de cinema e de televisão.

A Literatura Brasileira no Cenário Internacional

Ainda no dia 4, serão conhecidas novas informações do Conexões Itaú Cultural– Mapeamento da Literatura no Exterior, elaborado pelo Itaú Cultural desde 2008.Quais são os escritores brasileiros mais estudados no exterior? Quais instituições estrangeiras mantêm centros de estudos de literatura brasileira? Quem são os profissionais que estudam e ensinam literatura brasileira mundo afora? E em que condições? Qual a importância do Brasil ser tema de uma feira de livros internacional? A partir do Conexões, jornalistas, pesquisadores e escritores podem traçar a presença da literatura no exterior. Para esta mesa, os convidados são João Cezar de Castro Rocha, professor associado de literatura comparada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e colaborador da revista mensal mexicana Nueva Era; Felipe Lindoso, antropólogo, jornalista, editor, tradutor e consultor do Conexões Itaú Cultural); e o escritor Luiz Rufatto. A mediação é de Claudiney Ferreira, gerente do Núcleo Audiovisual e Literatura do Itaú Cultural.

PROGRAMAÇÃO

Espaços da Literatura Brasileira: Transformações
4 de julho, quarta-feira

12h30
Recepção

13hs
O Boom dos Eventos Literários no Brasil
Com Afonso Borges (Sempre um Papo), Mario-Hélio (Fliporto), Mauro (FLIP)
Sergio Vaz (Cooperifa). Mediação de Felipe Lindoso (Conexões Itaú Cultural)

13h30
Intervalo e brunch

14h45
A Literatura Brasileira no Cenário Internacional
Com João Cezar de Castro Rocha (Conexões Itaú Cultural e UERJ)
Felipe Lindoso (Conexões Itaú Cultural), Luiz Rufatto (Escritor). Mediação deClaudiney Ferreira (Itaú Cultural)

PERFIL DOS PARTICIPANTES
Afonso Borges é escritor, produtor cultural, curador e empresário. Criador do Sempre Um Papo, com atuação em mais de 30 cidades em oito Estados brasileiros, além de ter sido realizado também em Madri, na Espanha. No site www.sempreumpapo.com.br, estão disponíveis mais de 400 programas com escritores brasileiros e internacionais. É colunista da CBN de Belo Horizonte. Em 2012, foi curador da Bienal do Livro de Minas Gerais.

Felipe Lindoso é antropólogo, jornalista, editor e tradutor, autor do livro O Brasil Pode ser Um País de Leitores? Consultor do CERLALC/UNESCO – Centro Regional para o Livro na América Latina e Caribe; Consultor da Fundação Biblioteca Nacional (Programa do Livro Popular e Frankfurt 2013); ex- Diretor da Câmara Brasileira do Livro e um dos organizadores da participação do Brasil como País Convidado nas Feiras Internacionais de Frankfurt – 1994, Bogotá 1995 e FIL-Guadalajara, 2001. Mantem o blog www.Oxisdoproblema.com.br. É consultor do Conexões Itaú Cultural.

João Cezar de Castro Rocha é professor associado de literatura comparada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Colaborador do “Sabático” de O Estado de S. Paulo e da revista mensal mexicana Nueva Era; mantém blog em “Arcade”, plataforma da Stanford University. Editor-in-Chief da revista Portuguese Literary & Cultural Studies, da University of Massachusetts-Dartmouth.Para a mesma universidade, organizará, para a Tagus Press, a coleção “BrazilianLiterature in Translation”. É consultor do Conexões Itaú Cultural.

Luiz Ruffato é escritor, tem nove títulos publicados, dentre eles Eles Eram Muitos Cavalos, Estive em Lisboa e Lembrei de Você e a série de cinco volumes, Inferno Provisório. Seus livros estão editados em Portugal, Itália, Argentina, México, França, Portugal, Colômbia e Alemanha. Já participou de eventos sobre literatura brasileira na Argentina, Chile, Colômbia, México, Cuba, Porto Rico, República Dominicana, EUA, Portugal, Espanha, França, Alemanha, Itália, Líbano e Timor-Leste. Foi escritor residente na universidade de Berkeley (EUA).

Mario Helio Gomes é escritor, jornalista e editor. É coordenador de literatura da Festa Literária Internacional de Pernambuco – Fliporto. Publicou, entre outros livros: O Brasil de Gilberto Freyre; Cícero Dias – uma vida pela pintura; e organizou os livros No Planalto, com a Imprensa e Relatórios de Graciliano Ramos.

Mauro Munhoz é arquiteto e criador da Associação Casa Azul. Dessa iniciativa, e da necessidade de incluir a população paratiense nas discussões sobre requalificação urbana, nasceu em 2003 a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), da qual Munhoz é diretor geral e de arquitetura.

Sergio Vaz é poeta, autor de 7 livros, ativista cultural e um dos fundadores do Sarau da Cooperifa, movimento cultural que transformou um bar na periferia de São Paulo em centro cultural e que há onze anos realiza atividades culturais na região sul da cidade. O sarau da Cooperifa inspirou dezenas de outros movimentos culturais pelo Brasil a fora. Mantém o blog http://www.colecionadordepedras1.blogspot.com.br/. Já foi convidado a falar de seu trabalho no México, Inglaterra, Espanha e França.

Sindicato dos Autores dos EUA se manifesta contra acordo de editoras na ação contra o “modelo de agenciamento”


O Author’s Guild, o Sindicato dos Autores dos EUA, deu entrada hoje em sua petição como interessada na ação que o Departamento de Justiça dos EUA move contra a Apple e mais cinco editoras, contra o chamado “modelo de agenciamento” para os livros eletrônicos.

Das cinco editoras inicialmente indiciadas, três – Hachette, HarperCollins e Simon & Schuster – aceitaram uma proposta de acordo para sair da ação. O Author’s Guild se manifestou precisamente contra essa proposta de acordo, sem poupar palavras contra a Amazon, à qual acusa de buscar o monopólio na venda de livros eletrônicos, destruir a competição no setor e abusar de seus mecanismos, como o “botão de compra”.

A petição também acusa o Departamento de Justiça de não compreender como funciona o mercado editorial e de proteger a Amazon e suas práticas anticompetitivas, que são “sofisticadas, com base no acúmulo de dados e incansavelmente criativas” na busca de seus objetivos.

Este é o link para o texto integral da petição, em inglês.

Estudo revela: quem empresta e-books nas bibliotecas é grande comprador

Estudo recente da Pew Internet e da American Life, nos EUA, indica que quem empresta e-books nas bibliotecas é também um comprador ativo do mesmo tipo de livros.

A pesquisa é importante porque as editoras norte-americanas ainda não definirem um modelo homogêneo de permitir os empréstimos de e-books. Várias alternativas são testadas. Há editoras que simplesmente não vendem e-books para bibliotecas. Outras, estabelecem um número máximo de usos da cópia adquiria, geralmente menos de trinta. Outros, ainda, cobram muito mais caros pelos e-books vendidos às bibliotecas.

A questão foi suscitada principalmente pelos e-books dos lançamentos e best-sellers, que as editoras temiam perder vendas pelo caráter não fungível dos e-books. O livro impresso na verdade tem um número limitado de leitores, e quando muitos leitores retiram um exemplar, este acaba se deteriorando irremediavelmente, mesmo que haja um cuidado permanente na sua conservação. Os e-books, ao contrário nunca se “desgastam”.

Essa questão da deterioração dos livros impressos é algo que por aqui não se presta muita atenção. Afinal, compram-se tão poucos livros para as bibliotecas que os responsáveis fazem o impossível para manter os exemplares existentes em uso. E é deprimente às vezes receber um livro que está um verdadeiro bagaço.

Até a edição da Lei do Livro, aliás, o descarte de livros imprestáveis – procedimento técnico normal e necessário – era uma tarefa administrativamente fastidiosa para as bibliotecárias. Normalmente era necessário abrir um processo administrativo para justificar o descarte de um livro, pois esses eram considerados como patrimônio, tombados e etc.

Esse dispositivo cretino foi eliminado pela Lei do Livro. O livro é de papel, e se muitas pessoas o lerem, o livro se desfaz. Já brinquei comentando que aquele dispositivo causava tantos problemas que criou um substrato cultural que levava as bibliotecas a manterem os livros longe dos leitores, já que o controle do objeto físico era uma tarefa complicada.

Essa cultura do objeto livro como intocável passa para os jornais: coitadas das bibliotecárias que se atrevem a descartar exemplares velhos. Algum jornalista desinformado acaba fazendo um escarcéu com isso, lamentando o fato desses exemplares serem descartados, “jogados fora”, como geralmente aparece nas matérias.

A verdade é que esse manuseio dos livros imprestáveis provoca até doenças de pele e respiratórias. Já testemunhei esse drama em algumas situações, quando as prefeituras não fornecem nem luvas nem máscaras para quem tem que manusear esses livros. Os usuários, então, coitados, nem pensar. Que se deem por satisfeitos quando encontram o livro que buscam, mesmo que nojento.

Nas bibliotecas que tem verbas regulares, o descarte e a aquisição de novos exemplares é um procedimento normal.

Por outro lado, alguns títulos efetivamente passam por um período inicial de maior demanda. Outros livros têm demanda permanente: dicionários, obras de referência, e títulos de literatura usados nas escolas. O temos dos editores gringos era que os e-books impedissem essa renovação natural dos acervos.

As limitações de uso para os e-books nasceram principalmente a partir dos best-sellers e novidades. Depois de um certo tempo – que varia para cada livro, é claro – os exemplares podem passar meses sem ser solicitados pelos leitores.

Coisa de rico. Se tivessem que vender para as bibliotecas brasileiras, tinham que se dar por felizes e satisfeitos de conseguir fazer as vendas.

“França de Vichy”, lamentos e dúvidas britânicos sobre o acordo da Waterstones com a Amazon

O contexto é muito diferente do brasileiro, mas o artigo abaixo transcrito, escrito para a Publishing Perspectives por Roger Tagholm, que é um jornalista do The Guardian londrino, especializado no mercado editorial, mostra as dificuldades enfrentadas pelas cadeias de livrarias e livreiros independentes quando se veem forçados a enfrentar a presença da Amazon. A gigante norte-americana de e-commerce de livros físicos e eletrônicos fechou mês passado um acordo com a Waterstones para se tornar fornecedora de conteúdo para essa cadeia, que passaria a vender o Kindle em suas lojas, recebendo uma comissão.

O que poderá acontecer com as cadeias de livrarias brasileiras – e com os livreiros independentes – quando a Amazon iniciar suas operações no Brasil, principalmente se cumprir a anunciada promessa de vender o leitor de livros eletrônicos por menos de R$ 200,00?

Leiam as observações de Tagholm abaixo. O artigo original está aqui em inglês.

Porque o negócio da Waterstones com a Amazon é “Como a França de Vichy”

Roger Tagholm – Publishing Perspectives

Mês passado, James Daunt, Diretor Executivo da Waterstones, chocou o mundo ao anunciar um acordo com a Amazon, segundo o qual a empresa passaria a vender e-books para os clientes da livraria. Mas não foi rangendo os dentes que ele fechou o negócio surpresa de vender o Kindle, como algumas pessoas sugeriram – ele o fez “depois que todos seus dentes foram arrancados”. Essa é a opinião de um importante editor britânico, expressada enquanto a indústria editorial do Reino Unido continua a digerir os escassos detalhes sobre o segredo mais bem guardado desde que a Berstelmann comprou a Random House, em 1998.
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Sebos, um mundo à parte

O mundo dos sebos constitui uma dessas áreas do mercado editorial que todo mundo sabe que existe, mas poucos se aventuram a explorar, no sentido de compreender seu papel, sua dimensão e seus efeitos na indústria.

É bom lembrar que a história dos sebos se confunde com a das livrarias “normais” e com as editoras, e até mesmo com a das bibliotecas. José Olympio trabalhava na livraria Garroux e abriu sua loja quando adquiriu a coleção de Alfredo Pujol. A livraria, negócio mais estável que a publicação, foi a base do desenvolvimento de varias casas editoriais, assim como as revistas lítero-políticas, como é o caso da Revista do Brasil, de Monteiro Lobato.

A aquisição das coleções ou bibliotecas de bibliófilos permitia a circulação dos livros em um momento em que a indústria editorial apenas engatinhava, e a importação de livros era um importante componente do mercado livreiro-editorial.

Esse papel de “reciclagem” dos sebos se acentuou com o desenvolvimento, e a consequente segmentação, do mercado editorial e livreiro. As editoras separaram-se das livrarias e estas se subdividiram, ficando de um lado as livrarias de novidades e acervo e, do outro, os sebos, ou “livrarias de usados”.
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HarperCollins lança programa de venda global de seus títulos em inglês

A HarperCollins, uma das “seis grandes” do mercado editorial dos EUA, lançou um programa de vendas global de seus títulos em inglês, segundo a newsletter da Publisher’s Weekly. Serão oferecidos 50.000 títulos impressos e 40.000 e-books em todos mundo, em qualquer tecnologia. As limitações ocorrerão somente em função dos direitos de venda dados a HC nos contratos.

A HarperCollins 360 – o nome do programa – já engloba os títulos publicados nos EUA e no Reino Unido, e espera incluir títulos de suas subsidiárias no Canadá e na Austrália nos próximos doze meses.

O anúncio do programa informa que a distribuição global ocorrerá com a incorporação de vários associados com capacidade de impressão sob demanda. O anúncio não especifica se os e-books serão vendidos através de varejistas, como a Amazon, ou varejistas locais, e se terão ou não DRM embutido.

Uma especulação que ocorre de vez em quando é a da possibilidade das editoras americanas detentoras de direitos globais publicaram elas mesmas as traduções, pelo menos no formato e-book. Acho isso difícil, pois não teriam capacidade de atender a capilaridade do varejo no mundo inteiro, e os direitos das traduções são vendidos para editoras locais, que certamente não gostariam que o formato e-book ficasse nas mãos dos detentores originais. No entanto, essa movimentação da HarperCollins é bem significativa do alcance global do mercado editorial propiciado por dois fatores: impressão sob demanda e e-books.