Todos os posts de Felipe Lindoso

Felipe Lindoso é jornalista, tradutor, editor e consultor de políticas públicas para o livro e leitura. Foi sócio da Editora Marco Zero, Diretor da Câmara Brasileira do Livro e consultor do CERLALC – Centro Regional para o Livro na América Latina e Caribe, órgão da UNESCO. Publicou, em 2004, O Brasil Pode Ser um País de Leitores? Política para a Cultura, Política para o Livro, pela Summus Editorial.

Preços de livros, descontos, livrarias e preço ao consumidor

Na coluna que ontem publicou na edição do PublishNews, Mike Shatzkin deixou claro uma tática das editoras para manter os “descontos” ao consumidor final sem perder a lucratividade: aumentar o chamado “preço de capa” das editoras, o que possibilita que no resto da cadeia de comercialização possam ser dados descontos “altos”.

O freguês, leitor, se ilude facilmente com essa história dos descontos. Acha que está desfrutando de uma barganha formidável.

Olhem o que Mike escreveu:
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VIAGEM PARA DENTRO

“A leitura de livros está crescendo aritmeticamente; a escrita de livros está crescendo exponencialmente. Se nossa paixão por escrever não for controlada, no futuro próximo haverá mais pessoas escrevendo livros que lendo”( Zaid, Gabriel: Livros Demais! Sobre ler, escrever e publicar, S. Paulo, Summus Editorial, 2004)

Blague?! Sim e não. O Gabriel Zaid escreveu, sim, um livro cheio de paradoxos, ou aparentes paradoxos como este da citação.

O fato é que se escreve cada vez mais. E há uma razão básica para isso: como o mundo do livro reflete o mundo real, e este é multifacetado, há espaço para a multiplicidade de “abordagens” da realidade. No limite, os “blogs” levam ao público o que antes se escrevia como objeto de reflexão estritamente pessoal, diários e cartas para amigos, colegas de trabalho ou outros cúmplices.
A Internet, a impressão sob demanda e outros meios técnicos possibilitaram, nos últimos anos, que a publicação desses escritos pessoais se tornasse viável. O narcisismo pós-qualquer coisa se aproveita disso e o resultado é essa avalanche de escritos que nos inunda.
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Máquinas de fazer livros, distribuição e impressão sob demanda

Quando a Xerox lançou a Docutech, há quase vinte anos, anunciou a nova máquina como uma “fábrica de livros”. Ainda não era: a capa tinha que ser impressa em máquinas planas e o acabamento exigia complementos ou devia ser feito por métodos tradicionais. Não era uma “fábrica de livros”, mas era o início de um caminho que parece estar chegando a uma etapa de amadurecimento definitivo.

Da Docutech em diante muitos outros modelos apareceram, inclusive para a produção de capas a cores em papel com gramatura adequada. Os sistemas POD – impressão sob demanda em inglês – tornaram-se componente da cadeia produtiva do livro, eliminando em grande medida a formação de onerosos estoques. Tanto a Amazon quanto as cadeias de livrarias e distribuidores dos EUA também usam esse sistema para oferecer a seus clientes, em tempo recorde, livros que, em outras eras, já estariam esgotados há muito tempo.

Na época do lançamento da Docutech, alguns futuristas imaginavam máquinas semelhantes instaladas em livrarias, produzindo os livros recebidos em formato eletrônico para atendimento de seus fregueses. Pois bem, essa realidade se aproxima com celeridade.
Semana passada a Publisher’s Weekly – a revista da indústria editorial dos EUA – anunciou que a empresa On Demand Books estava desenvolvendo parcerias com outras duas: a Reader’s Link e a Kodak Pictures Kiosk. O objetivo: levar verdadeiras fábricas de livros, produzidas pela On Demand para cerca de 24.000 pontos de vendas espalhados nos EUA. Sim, leram bem: vinte e quatro mil pontos de venda fabricando livros na hora para seus clientes.
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Defesa do consumidor, livros e mercado editorial

Acompanho com a maior atenção o desenvolvimento da ação que o Departamento de Justiça dos EUA promoveu contra a Apple e mais cinco editoras americanas, para obrigá-las a abandonar o chamado “modelo de agenciamento”. Para resumir a questão: tradicionalmente o sistema de mercado de livros norte-americanos funciona de modo bem parecido com o brasileiro. As editoras estabelecem um preço de capa e, a partir dele, vendem com desconto para a cadeia de mediação, distribuidores e livrarias. Lá, como aqui, as cadeias sempre obtiveram mais vantagens que as livrarias independentes, dentro de algumas limitações da legislação que obriga a oferta das mesmas condições para compras idênticas. Como as cadeias compram em quantidades muito maiores, se justificava por aí o oferecimento de vantagens adicionais a elas.

Lá como aqui, o varejista também pode vender os livros a um preço menor que o oficial, de capa. E as cadeias, com mais vantagens, oferecem sempre descontos maiores. Tal como aqui, esse proceso foi forçando o fechamento de centenas de livrarias independentes. E as editoras pouco se lixavam com isso. Administravam menos contas e o volume de vendas aumentava sempre, inclusive depois da Internet.
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Advogado apresenta petição em quadrinhos no caso do Departamento de Justiça dos EUA contra as editoras.

Bob Kohn, advogado especialista em questões editoriais, pediu à juíza que cuida do caso do Departamento de Justiça dos EUA contra a Apple e cinco editoras, que permitisse que ele apresentasse uma petição amicus curiae – quando uma parte não envolvida apresenta argumentos a favor ou contra a demanda. A petição contestava a ação do Departamento de Justiça.

Kohn apresentou uma petição com quase cem páginas. A juíza devolveu dizendo que ele devia reduzir tudo a cinco páginas e que o prazo para entregar se encerrava hoje. Ele resolver sintetizar tudo em quadrinhos, “pois cada imagem vale por mil palavras”.

Transformei os quadrinhos em fotos, que publico abaixo. É divertido.






Prêmio VivaLeitura abre inscrições

Em 2004, como Consultor do CERLALC – Centro Regional do Livro para América Latina e Caribe, participei do planejamento do Ano Ibero-Americano da Leitura, que aconteceu no ano seguinte. Os países de língua espanhola haviam adotado uma sigla que absolutamente não funcionava em português, e entre os que trabalhavam no assunto (não fui eu o pai da ideia, mas não lembro exatamente quem foi) surgiu o nome VivaLeitura. Assim, as duas palavras emendadas e com essa letra maiúscula no meio.

Desse ano do VivaLeitura surgiram várias ideias que posteriormente foram implementadas pelo Galeno Amorim, na ápoca coordenador do assunto e hoje Presidente da Fundação Biblioteca Nacional. A meta de liquidar o déficit de municípios sem bibliotecas públicas no país (os poucos que ainda não têm estão assim pela recusa de prefeitos em assinar o convênio com a FBN – deviam ir para o pelourinho), o Plano Nacional do Livro e Leitura e o Prêmio VivaLeitura foram algumas delas.

A ideia do Prêmio VivaLeitura é mapear e cadastrar iniciativas de qualquer cidadão ou instituição que desenvolva projetos de incentivo à leitura de modo inovador e criativo. Programas oficiais não concorrem ao prêmio. Este se destina a incentivar os programas de mediação e apoio ao desenvolvimento do hábito da leitura em escolas, bibliotecas, organizações não governamentais ou pessoas físicas.
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Literatura Brasileira em Tradução – a Revista

A Fundação Biblioteca Nacional anunciou os nomes dos autores que terão excertos de traduções publicados no primeiro número da Revista que será editada em parceria com o Instituto Itaú Cultural. Sou o editor da revista e quero comentar alguns aspectos dessa iniciativa.

A Literatura Brasileira em Tradução se destina a mostrar excertos de livros de autores brasileiros, já publicados, com vistas à negociação de direitos autorais no mercado internacional. Os textos foram enviados à FBN, que recebeu 102 propostas, das quais foram selecionadas vinte, quinze em inglês e cinco em espanhol, para o primeiro número. Esse número terá edição online e uma edição impressa pela Imprensa Oficial do Estado de S. Paulo, também parceira do projeto, assim como o Itamaraty.

A escolha final dos textos foi feita por um Conselho Editorial composto pelos professores Italo Moriconi, Charles Perrone, Berthold Zilly, Laura Hosiasson, e por Aníbal Bragança (BN), Joaquim Pedro Penna (MRE), Carlos Sodré (IMESP), Claudiney Ferreira (Itaú Cultural). Rachel Bertol, do Centro Internacional do Livro da BN é a coordenadora, e eu, editor, e os dois fazemos também parte do Conselho.

Diante da grande quantidade de envios, optamos por estabelecer alguns critérios que ajudassem na escolha dos vinte autores que entrariam no primeiro número. Procuramos dar preferência à produção atual dos escritores, levando em conta diversidade de idades, estilos e temáticas. Também foi dada preferência às traduções ainda não publicadas em livro. Ou seja, no caso de autores que enviaram trechos em inglês, deu-se preferência a obras ainda inéditas em países de língua inglesa; o mesmo valeu para o espanhol.
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A Bienal Internacional do Livro de S. Paulo – pelo retrovisor

A 22ª. Bienal Internacional do Livro de S. Paulo terminou domingo, com a CBL divulgando, mais uma vez, números significativos: mais de 750.000 visitantes, dos quais 120 mil estudantes vindos da capital e do interior, e que receberam vales para compra de livros em um total de R$ 750.000,00, incluído nessa soma os vales para professores.

A profusão de lançamentos anunciados e atividades manteve o padrão superlativo desse tipo de eventos. Eu mesmo acabei participando de cinco mesas no espaço Livros & Cia., organizado com a curadoria do editor e jornalista Quartim de Moraes: no painel de autores do livro “Retratos da Leitura no Brasil 3”, organizado por Zoara Falla, e para o qual escrevi um dos ensaios; na mesa redonda “Dilemas e Conflitos do Mercado Editorial”, com Breno Lerner e Isa Pessoa (mediada pelo Quartim), e fui mediador em mais três mesas: “Os Bastidores dos Prêmios Literários”, com Selma Caetano, José Luis Goldfard e Adriana Ferrari; “A Experiência da auto-publicação”, com o escritor Eduardo Spohr, e na mesa de encerramento, “A Literatura Brasileira Pede Passagem”, com o próprio Quartim, Manuel da Costa Pinto e Jorge da Cunha Lima. Todas por convocação do meu amigo Quartim e todas com o fabuloso pagamento de R$ 0,00. Tudo por amor ao livro, e para contribuir com a Bienal.

Destaco também o conjunto de mesas organizadas nos dois primeiros dias pelo Carlo Carrenho, e que trataram das questões do livro eletrônico e do ingresso do mercado editorial no mundo digital. Teve gente muito importante, como Russ Grandinetti, VP da Amazon, que aproveitou uma visita ao Brasil para louvar a empresa, oferecendo belos gráficos e nenhum dado concreto, mas derramando simpatia. E outros expositores que mostraram bem a integração do Carrenho com o mundo da edição digital, com exposições dignas de presença em um evento mais estruturado, como o Congresso do Livro Digital.
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Lista dos e-books mais vendidos nos EUA

A Digital Books World, newsletter especializada em livros eletrônicos dos EUA, divulgou várias listas de mais vendidos do setor naquele país. A DGB , associada com a Iobyte Solutions, preparou uma lista geral dos vinte e cinco mais vendidos e quatro listas segmentadas pelo preço.

A curiosidade a ser notada é que, dos vinte e cinco títulos mais vendidos, 21 foram publicados pelas “seis irmãs”, as maiores do setor, e praticamente a metade (12 títulos) foram publicados por editoras que aplicam o modelo de agenciamento, e com preços acima de US$ 10,00 (US 12,00 é o mais comum), e apenas quatro estão no segmento de preço mais baixo (de Us$ 0,00 a 2,99).

Outro detalhe significativo é que apenas dois títulos foram publicados por editoras fora do grupo das seis maiores editoras americanas (Random House, Penguin, Macmillan, Simon & Schuster, Hachette, HarperCollins). A Scholastic – que não está entre as seis, mas é uma grande editora (publicou o Harry Potter nos EUA) emplacou dois títulos, e a Soho Press, essa sim, independente, um título.

Ao observar as listas divididas por categorias de preço, verifica-se que apenas no segmento de preço de US$ 3. a US$ 7,99 é que começam a aparecer as independentes, com três posições. E somente no segmento mais barato (de US$ 0,0 a Us$ 3) aparecem dois autores autopublicados, Sidney Landon e Lynda Chance. Esses dois, pelo título dos romances, aparentemente produzem “romance novels”, um segmento diferenciado nos EUA, por aqui representado pelos livros de banca tipo “Sabrina”. Etc.

Scortecci faz proposta para mudanças na Bienal


João Scortecci, editor, sócio da CBL – ex diretor da entidade – avança na discussão sobre a situação da Bienal do Livro de S. Paulo, apresentando propostas para reformulação do evento, em carta publicada na Ilustrada da FSP.
O posicionamento do Scortecci é mais importante exatamente por passar das reclamações – que circulam nos corredores à boca pequena – para apresentação de propostas. Cabe à CBL tomar a iniciativa de organizar essa discussão e conduzir à consolidação de propostas. Ou não…