Autores e Leitores – a interação necessária

O que completa e dá sentido a um livro é sua leitura, como sabemos. Somente a absorção a fruição do conteúdo pelos leitores é que dá a este significado. Por isso mesmo, a busca pelos leitores é, de certa forma, um complemento da atividade do escritor. Busca que se perpetua mesmo depois da morte do autor, quando seu texto se incorpora ao imaginário social e continua sendo objeto de leitura. O escritor que diz que não precisa de leitores, que diz que “escreve para si mesmo”, não é mais que um autista da palavra.

Muitas vezes se confunde a busca do leitor com a busca do consumidor, do comprador de livros. Na sociedade capitalista, o sucesso se mede pela quantidade de livros vendidos, tomadas como sinônimo de livros lidos.

Essa é uma verdade parcial. Quantos livros são comprados e não lidos? E os lidos em bibliotecas, emprestados, furtados (esporte a que se dedicam estudantes pobres e loucos por leitura com pouco dinheiro, para lamento dos livreiros!) e que não há como computar nesse índice de leitores de um determinado título?
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Livros Demais – Livros de Menos

A produção de novos títulos tem aumentado exponencialmente desde que a edição digital se popularizou, especialmente nos Estados Unidos. Uma empresa como a lulu.com, especializada em self publishing, anuncia que tem mais de 1.100.000 “criadores”, dentro de um grande número de categorias, que incluem de livros de fotografias a romances, tanto em formato eletrônico como impressos sob demanda. E a lulu.com é apenas uma entre várias empresas desse segmento.

A Agência do ISBN nos Estados Unidos já chegou a outorgar mais de dois milhões de números em um único ano (2010), números que incluem todos os tipos de publicação, incluindo as digitais e as auto-publicadas.

O fenômeno não se restringe aos Estados Unidos. No Brasil já ultrapassamos a marca das 50 mil edições e reedições anuais (considerando apenas as editoras comerciais), segundo a pesquisa de Produção e Vendas do Mercado Editorial, da FIPE/CBL, que não inclui os livros auto-publicados.

E o fenômeno se repete em todos os países.
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Como a auto-publicação especial de ficção está conquistando a China

Helen Sun – Publishing Technology China
Com permissão de Publishing Perspectives

Aqui na China, quase 195 milhões de pessoas estão ligadas em um tipo de literatura virtualmente desconhecida no Ocidente, mas que rapidamente transforma seus autores e um novo tipo de editoras online em estrelas do mercado editorial do futuro. A literatura na Web, ou “ficção original”, como é chamada na China, é uma nova forma de literatura serializada que em teoria permite a qualquer um se transformar em autor best-seller.

O sistema funciona através de um número crescente de websites de auto-publicação que hospedam milhares de histórias, com livre acesso e em constante evolução, postadas nos sites dos autores. Esses websites são incrivelmente populares junto aos consumidores, atraindo mais de 40% dos usuários da Internet na China a cada mês, que leem essas histórias serializadas que podem tratar de qualquer coisa, desde romances históricos realistas, quadrinhos, ficção científica e fantasia.
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Dia do Livro – Comemoramos?

Dia 29 de outubro é o “Dia Nacional do Livro”. Foi instituído por ser a data em que a Real Biblioteca foi transferida para o Brasil, em 1810. E não faltam efemérides relacionadas com o livro: 27 de fevereiro é o “Dia do Livro Didático” (não se sabe a razão da escolha da data); 18 de abril é o “Dia do Livro Infantil”, instituído em homenagem ao nascimento de Monteiro Lobato; e 23 de abril é o “Dia Internacional do Livro e do Direito de Autor”, instituído oficialmente pela UNESCO em 1996, embora a data já fosse comemorada como tal na Catalunha (Espanha) desde 1926. É a data do nascimento de Cervantes e da morte de Shakespeare e de nascimento ou morte de outros autores menos votados. A história com Shakespeare envolve uma “licença poética”: ele morreu em 23 de abril de 1616, mas a Inglaterra ainda adotava o calendário Juliano e, portanto, estava dez dias atrasada. Enfim…

Eu tenho certa bronca com efemérides e com “eventos”. Essa história de comemorar o “dia do…” é, o mais das vezes, pretexto para esconder o assunto nos outros trezentos e sessenta e quatro dias do ano. A mesma coisa com os eventos: existem vários festivais, feiras e outros “eventos comemorativos e celebratórios” que podem esconder a ausência de políticas públicas, no caso, a respeito do livro e da leitura.
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Livrarias Independentes e preço do livro

John Le Carré, o conhecido romancista, recentemente fez um discurso como convidado de honra dos festejos do 50º. aniversário de sua editora alemã, a Ullstein. Além dos elogios de praxe para quem o publica, David Cornwell (seu nome real), fez uma declaração que surpreendeu a muitas pessoas:

“Há alguns anos impensadamente ofereci meu apoio à retirada de todas as restrições para a definição do preço de varejo dos livros [na Inglaterra]. Em retrospectiva vejo que isso foi um erro terrível. Em um só golpe a indústria editorial britânica se entregou nas mãos dos marqueteiros de massa – e um golpe mortal nos já ameaçados livreiros independentes”.

Le Carré faz menção ao abandono, na Inglaterra, do “Net Price Agreement”, o acordo que obrigava livreiros a manter o preço de capa nas livrarias, com descontos mínimos durante um certo período. Atualmente o “preço fixo” europeu está mantido somente na Alemanha e na França, acho.

Bem, vamos por partes.

Primeiro é preciso esclarecer o que se entendo por “preço fixo”.
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A Literatura Brasileira no Mundo – Quem é quem?

Na semana passada dediquei todos os posts deste blog à Feira de Frankfurt – edição 1994 -, recuperando essa experiência, na qual tive o privilégio de trabalhar como um dos organizadores. Eventualmente voltarei a tratar da presença do Brasil em 1994, e certamente das preparações que estão sendo feitas para 2013.
Desde ontem, entretanto, estou em Santigo de Compostela, na Galiza, Espanha, participando do IV Encontro Internacional do Conexões Itaú Cultural – Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira, do qual sou um dos curadores. Claudiney Ferreira, que conheço desde quando produzia o programa de rádio Certas Palavras, é o Gerente do Núcleo Diálogos do Itaú Cultural, onde está o Conexões, cuja curadoria compartilho com o professor João Cezar de Castro Rocha.
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O BRASIL EM FRANKFURT EM 1994 – DAQUI PARA 2013

A Feira do Livro de Frankfurt 2011 começa amanhã. O Brasil estará presente em um estande que conta com o apoio da Biblioteca Nacional e do programa Brazilian Publishers, da APEX – Agência de Promoção de Exportações, do Ministério da Indústria e Comércio. Mais editoras brasileiras terão estandes próprios. Durante muitos anos algumas editoras religiosas se abrigavam junto de suas congêneres internacionais, como a Paulus e as Paulinas. Já há algum tempo, a Companhia das Letras mantinha seu próprio estande, este ano acompanhada nesse tipo de iniciativa pela Record e pelo Grupo A. O Brasil é foco de atenções. O olho grande do mercado internacional considera o país, hoje, um dos principais mercados de direitos autorais.

Ótimo que esteja assim hoje.

Dezenove anos depois da primeira vez em que o Brasil foi País Convidado da Feira, tentei, nestes últimos dias, no meu blog www.oxisdoproblema.com.br, dar um panorama do que foi feito e dos problemas enfrentados. Meu objetivo é muito simples: como não se constrói a partir do nada, queria refrescar a memória, fazer o balanço do bom e do ruim e contribuir, assim, para termos uma participação vibrante e proveitosa em 2013. Aqui vou tentar resumir o caso.
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O BRASIL EM FRANKFURT EM 1994 – 6 – AUTORES NA MUVUCA

Público aguardando as atrações na exposição principal do Brasil em Frankfurt 1994

Não me lembro mais – como já disse antes – quantos autores brasileiros estiveram no período da Feira, em 1994, e nem há meio de recuperar integralmente essa informação. Júlio Heilbron, que produziu os eventos para a Comissão Organizadora, tinha guardado (como bom produtor), uma boa parte da informação, e desencavou e digitalizou para me enviar o catálogo editado pela Feira com os eventos oficiais. Relendo-o, lembrei-me de vários outros eventos que sei que aconteceram, e de autores que foram por conta de suas editoras, e alguns por conta própria. Mas não pretendo aqui fazer listagem de tudo que foi feito, nem me preocupar com o nome de todos que foram a Frankfurt. Vou me ater aos processos, tal como os acompanhei como parte da organização do evento.

Assim como havíamos feito com o programa na Haus der Kulturen der Welt, nossa primeira preocupação era levar os autores que fossem requisitados pelos promotores dos mais diferentes eventos, principalmente os que se desenrolariam na Literaturhaus Frankfurt, local tradicional de debates literários da cidade. Foi produzida uma exposição sobre João Guimarães Rosa e Clarice Lispector para aquele local, assim como um videodocumentário sobre autores brasileiros.
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Políticas públicas para o livro e o mercado editorial