Arquivo da categoria: Colunas do Publish News

É POSSÍVEL DESAFIAR A AMAZON?

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As gigantes do comércio varejista de livros – Amazon, Apple e Kobo (o Google realmente ainda não disse a que veio), tem uma característica comum: todas constituem “ecossistemas” de venda. Em todas existe a facilidade para a compra, dentro do sistema, com a possibilidade imediata de leitura: na Amazon, o Kindle, na Kobo e na Apple, qualquer aparelho capaz de ler o formato ePub. A Apple foi a pioneira nesse tipo de coisas, com o iTunes. Mas, no mundo do livro, quem realmente começou a fazer essa ideia funcionar foi a Amazon. A Barnes & Noble tentou fazer o mesmo com seu Nook, mas só vende livros nos EUA e na Inglaterra, e está enfrentando sérias turbulências financeiras, apesar do apoio da Microsoft.

Todas as três dispõem não apenas de aparelhos de leitura dedicados (Amazon – Kindle e Fire; Apple – iPod, iPas e iPhone; B&N – Nook; e Kobo, sua linha de leitores), além de aplicativos que possibilitam a leitura em muitos outros aparelhos, inclusiva das outras (a exceção é o Kindle, da Amazon, que lê apenas os formatos PDF, TXT e DOC, além do formato proprietário). Outras característica em comum é que todas e construíram, de uma ou outra maneira, uma lista de oferta gigantesca.
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Bibliotecas escolares vão funcionar?

As bibliotecas são um componente essencial no processo educativo, concordam todos educadores. No entanto, são pouquíssimas as escolas que possuem esse equipamento essencial em suas instalações. De fato, levantamentos recentes indicam que 72,5% das escolas – públicas e privadas – não têm bibliotecas.

A história das bibliotecas nas escolas, como o crescimento do sistema educacional, tem várias etapas em nosso país. No modelo defendido e inaugurado por Anísio Teixeira, já se vão uns setenta anos, as bibliotecas faziam necessariamente parte das instalações da “Escola Nova”.

Até o início da década dos anos 60 do século passado, a existência de bibliotecas nas escolas era muito comum. De fato, nas capitais e cidades importantes, o sistema era bem estendido. Mas inexistia nas escolas isoladas, nas cidades do interior e nas zonas rurais. Esse período, que muitos exaltam como aquele onde havia uma “escola pública de qualidade”, na verdade esta era excludente. O sistema tinha suas virtudes (eu, que em toda minha vida, só estudei em escolas públicas, fui um beneficiário disso), mas às custas de excluir a maioria da população em idade escolar.
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“O Vazio da cultura (ou a imbecilização do Brasil)”

Esse título foi a matéria de capa da revista CARTA CAPITAL desta semana.

Mino Carta, começa seu editorial afirmando que “há muito tempo o Brasil não produz escritores como Guimarães Rosa ou Gilberto Freyre, […] pintores como Cândido Portinari […] historiadores como Raymundo Faoro […] polivalentes cultores da ironia como Nelson Rodrigues […] jornalistas como Claudio Abramo e mesmo repórteres como Rubem Braga e Joel Silveira. Há muito tempo…“

Mais adiante, a matéria de capa, assinada por Rose Pavan (“O Belo não está à venda – A submissão ao mercado impede que a arte relevante apareça“), segue pela mesma toada. O pacote sobre o assunto prossegue com uma crítica ao filme O Som ao Redor, escrita desde Nova York por Francisco Quinteiro Pires, um ensaio do filósofo Vladimir Safatle (“Relativa prosperidade, absoluta indigência“), outro ensaio de Daniela Castro sobre o mercado de artes plásticas e termina com uma entrevista do prof. Alfredo Bosi (“A esperança em tempos de magra colheita“).

Um pacotaço. Escrito por pessoas que admiro e respeito (embora não conheça a crítica de artes) em uma revista que sobressai diante da mediocridade ou da pura má fé das outras semanais.
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(Des)acordo ortográfico

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Um dos assuntos dos últimos dias foi o adiamento da etapa final da dita Reforma Ortográfica para 2016. Três anos a mais. A ABL bateu os pés e anunciou que não irá mais propor à ONU a proposta de que o português seja idioma de trabalho oficial da entidade.

Sou vítima de reformas ortográficas – eu e todos alfabetizados antes de 1971. Quando frequentava a escola primária, d. Elza Freitas Pinto, minha professora do primeiro ano do Grupo Escolar Barão do Rio Branco, em Manaus, nos ensinava pelas regras ortográficas enunciadas pelo vocabulário ortográfico de 1943, que quase foram reformadas em 1945, por um acordo ortográfico entre Brasil e Portugal (que falava também em nome de suas colônias, pois ainda era o paizinho do lusotropicalismo), mas que acabou por não ser retificado pelo Brasil.

Só o vocabulário do primeiro parágrafo já me denuncia. Quem sabe, hoje, o que é “curso primário” e “grupo escolar”?

Essa ortografia era o inferno dos “acentos diferenciais”, uma profusão de diacríticos que, obrigatoriamente, deviam ser usados para diferenciar palavras “homônimas homófonas homógrafas”. E tome a aprender que o particípio passado do verbo poder devia ser grafado com circunflexo (pôde), e que o presente do indicativo o dispensava. Pode? E era preciso saber as regras direitinho. Caso contrário, o ditado (ainda fazem isso no curso fundamental?) vinha cheio de marcas vermelhas.

Em 1971, um baita alívio. Eu já estava no ginásio (sabem o que é?) quando foi decretada a extinção da maioria dos acentos diferenciais, e a coisa ficou bem mais fácil.
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Machado de Assis Magazine – Número 2

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Foram divulgados ontem, dia 14, os nomes dos vinte autores que estarão presentes no segundo número da Machado de Assis Magazine – Literatura Brasileira em Tradução, co-edição da Fundação Biblioteca Nacional e do Instituto Itaú Cultural, e da qual sou o editor.

Foram 147 inscrições, dentre as quais o Conselho Editorial teve que selecionar vinte textos. Ou seja, apenas 13,6% dos inscritos podiam entrar.

Não é tarefa fácil, até porque, na abundância, o risco das escolhas é sempre maior. Ainda bem que a responsabilidade é dividida por todo o Conselho Editorial, que vota, com total liberdade, em quem deseja que participe da revista.

O trabalho prévio de análise do material a ser enviado aos conselheiros deve ser bem detalhado. Procura-se, principalmente, verificar se o livro tem existência legal – ou seja, se está registrado no ISBN, conforme o exigido pela Lei do Livro. E se o texto enviado faz parte de algum livro já publicado no exterior, principalmente em inglês, espanhol ou francês. No caso deste ano, também em alemão.

A questão é que a revista se destina a promover novas edições de autores brasileiros no exterior. Quem já está traduzido em algum desses idiomas já dispõe de um instrumento de trabalho para que agentes, editores e o próprio autor procurem novas traduções, em outros países. Não seria justo retirar a oportunidade de um autor não traduzido, privilegiando autores que já circulam no exterior.
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VENDA DE ESPAÇOS OU CURADORIA – SERÃO ESSAS AS ALTERNATIVAS PARA AS LIVRARIAS?

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Neste final de ano foram publicadas duas matérias sobre livrarias que me chamaram muita atenção. As duas tratavam de ambientes das lojas e sobre seu estoque, vistas de maneiras muito, mas muito distintas.

A primeira, publicada na Folha de S. Paulo, no dia 29 de dezembro, tinha a manchete “Concorrência inflaciona aluguel de espaços nas livrarias e reduz variedades de estoques”. Era assinada pela Raquel Cozer, que cobre a área para o jornal paulista e mantém também um blog, o “Biblioteca de Raquel”.

A segunda matéria, publicada no último dia do ano n’O Globo, era assinada por Priscila Guilayn, correspondente do jornal na Espanha, tinha como manchete “Em Madri, um novo palácio para a literatura” e tratava da inauguração de uma grande livraria anexa ao Museu Reyna Sofia, com uma área de 1.200 m2, a 500 metros de distância da Puerta del Sol, um dos pontos de maior movimentação da capital espanhola.

A matéria da Raquel Cozer destacava como os espaços de exposição em cadeias de livrarias eram objeto de concorrência cada vez mais acirrada entre as editoras, na busca de destaque para os livros que consideravam como seus candidatos a best-sellers para as vendas de Natal. Na verdade, “candidatos” é um termo enganador. Os investimentos das editoras nesses títulos os levavam quase que inexoravelmente para as listas dos mais vendidos e isso, vice-versa, aumentava a sua demanda nas lojas.
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2012 – Um ano complicado

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Estive revisando os posts publicados aqui na PublishNews e no meu blog, O Xis do Problema, durante o ano que termina. Foi uma experiência interessante revisar os assuntos e posições tomadas neste ano, cheio de novidades e movimentações no mercado editorial.

Desde que comecei a publicar o blog, em julho de 2011, foram 185 posts, todos sobre aspectos relacionados com o mercado editorial. O plugin “akismet”, que protege contra spam, bloqueou nada menos que 12.054 tentativas de jogar abobrinha por ali, sintoma dessa praga que aflige a todos os internautas.

Mas o que quero fazer aqui é repassar brevemente alguns dos temas que chamaram minha atenção durante este ano que termina com ameaças apocalípticas.

Uma das minhas preocupações constantes no decorrer de 2012 foi com a qualidade e a quantidade das informações disponíveis para o mercado editorial e as maneiras de aproveitá-las para fazer que os livros cheguem de modo mais fácil ao leitor.

Em um dos primeiros posts do ano, já no começo de janeiro, eu perguntava se “Teremos mais e melhores dados sobre as vendas em 2012?”. Criticava a pesquisa da FIPE/CBL-SNEL, que, no meu entender, rompeu com a série histórica sem explicações convincentes e lançou sombras e dúvidas em relação a essa importante pesquisa sobre a produção e venda de livros no Brasil. Mas, também, especulava sobre a possível chegada do BookScan, da Nielsen, e do sistema da GfK de monitoramento das vendas online, com dados recolhidos diretamente dos pontos de vendas das livrarias.
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ANL e Amazon e digitais. Hora de verdades?


O anúncio da chegada ao Brasil de três grandes operadoras do comércio eletrônico de livros – Amazon, Kobo e Google – coincidiu com a divulgação do “Diagnóstico ANL do setor livreiro 2012”.

Recentemente a entidade dos livreiros havia divulgado uma carta aberta ao mercado – i.e. às editoras – e ao governo, com suas sugestões para o desenvolvimento do mercado de livros digitais no país. Sugestões, não reivindicações, segundo a própria entidade.

O diagnóstico foi encomendado pela ANL junto à GfK, uma multinacional de pesquisa de mercado, que lançou no primeiro semestre deste ano seu serviço de rastreamento online da venda de livros, é concorrente ao BookScan da Nielsen (que diz que se prepara para entrar logo no mercado brasileiro).

O estudo da GfK tem algumas características interessantes. Enviou questionários, que podiam ser respondidos online, por fax ou e-mail e entrevistas por telefone junto a todos universo conhecido pela ANL, que é de 3.403 livrarias. A pesquisa recebeu respostas com informações de 716 lojas, o que equivale a 21% do total, um índice de respostas muito bom. Destas, 152 respostas foram obtidas através da central de redes de lojas, que disponibilizaram dados de suas filiais, e 564 respostas vieram diretamente de livrarias independentes e grandes redes, com um questionário respondido por cada loja, representando um total de 474 diferentes razões sociais.

Os números indicam que algumas ditas grandes redes não responderam ao questionário, e que a maior parte das respostas veio efetivamente das livrarias independentes e redes regionais, que têm uma presença maior junto à entidade.
Essa impressão é corroborada pelo dado divulgado de 62% dos respondentes possuírem apenas uma loja, e que o principal regime tributário é o simples.

Alguns destaques da pesquisa:
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FIL NIÑOS – OUTRO PLANETA


Todos que frequentamos as Bienais do Livro – do Rio e de S. Paulo – enfrentamos a balbúrdia e a barulheira da chamada “visitação escolar”. Assim são chamados os programas que promovem a visita de alunos, de escolas públicas e particulares, às feiras. Além das bienais mais antigas, essa prática vem se expandindo na maioria das iniciativas de feiras de livros.

A razão e justificativa dessas visitas é sempre a de colocar as crianças em contato com os livros, com a diversidade de oferta que se apresenta nos grandes eventos.

Só que, na realidade, o que se vê é uma balbúrdia absolutamente desorganizada. A garotada para nos estandes de algumas editoras que apresentam “atrações”: mocinhas que pintam tatuagens laváveis, contadores de histórias (a melhor das opções), palhaços e mímicos… e por aí vai. Quando não põem para tocar nos estandes músicas em uma altura que se equipara à inanição das letras.
Nenhum adulto de bom senso se atreve a ir às feiras nos “horários escolares”. A meninada correndo, o barulho, a confusão, nada contribui para quem queira procurar um livro.
Por outro lado, as editoras de livros infantis e juvenis – que muitas vezes convocam, através de seus divulgadores, os alunos de algumas escolas para que visitem seus estandes – argumentam que esse é um dos aspectos mais importantes e positivos das feiras. Afinal, em boa parte delas, os governos municipais ou estaduais desenvolvem programas de cheques-livros ou similares, que permitem que os alunos adquiram algum exemplar do que queiram.

Quem observa as bienais já constatou, à farta, que os livros adquiridos são os que estão nos estandes de saldos. Estandes que não têm o menos pudor em colocar os preços precisamente no valor desses cheques ou vales dados pelas secretarias de educação. No que, obviamente, atuam apenas como comerciantes que tentam recuperar seu investimento.
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A Feira de Guadalajara

Depois de uma cansativa viagem de vinte e oito horas, que incluiu uma decolagem abortada em um avião da Embraer, cheguei a Guadalajara para participar de uma mesa no evento “La Otra Mirada”, no fórum Internacional de Editoras. O tema foi o desafio digital: seria possível criar uma rede de distribuição de conteúdos digitais fora das “redes dominantes” e das grandes corporações?

Eu estava na companhia de Javier Sepúlveda, da Ebooks Patagônia, Blanca Rosa Roca, da Roca Editorial e da Barcelona Ebooks, e de Buenaventura Porcel, do grupo Trevenque, mediados pelo colega colunista do PublishNews, Octávio Kulesz.

A conclusão geral foi a de que sim, é possível, mas com muitas dificuldades.

Gostei muito da apresentação de Blanca Rosa Roca, que põe a mão na massa e procura distribuir por todos os canais possíveis, incluindo também as grandes corporações. Seus livros estão na Amazon, Apple e são distribuídos no México pela Random House Mondadori (a mesma que se associou recentemente à Penguin e que, portanto, passa a ser sócia da Cia. das Letras).

Na minha perspectiva, acredito que as livrarias poderão sobreviver no meio digital, se:

a) Junto, os editores levarem a sério as questões dos metadados. Ser descoberto é o maior desafio do mundo digital, para editores e livreiros, e nisso eles serão parceiros ou cúmplices. Como já comentei várias vezes, a situação no Brasil no que diz respeito a isso é simplesmente catastrófica. Se editores e livreiros nacionais não se derem conta disso e começarem a levar o assunto a sério, a Amazon – e a Kobo – vão forçá-los a isso, e para sua vantagem, não das pequenas livrarias ou das editoras.

b) Quanto às livrarias, acredito ser imprescindível que organizem uma plataforma de vendas comum, nem que seja com um dos e-readers já existentes, como a ABA fez com a Kobo. Mas, sobretudo, é fundamental que criem um “ecossistema” onde os clientes/leitores possam navegar com a mesma fluidez como navegam na Amazon. Ou seja, precisam aprender a ser interdependentes para manter sua independência.

As condições para que isso aconteça não são impossíveis, mas certamente muito difíceis. As livrarias não conseguem se organizar para melhorar sua logística em comum, têm serias deficiências de gestão, seus sistemas de informática não facilitam a busca de livros – já comentei sobre isso e não o farei novamente aqui – e enfrentam, no caso do Brasil, as facilidades abusivas que as editoras concedem às cadeias nas condições de venda dos best-sellers em descontos, por exemplo.

Mas o campo das possibilidades está em aberto.

A Feira de Guadalajara é um caso à parte. Conseguiu se colocar (bem abaixo de Frankfurt, evidentemente), como polo de negociações de direitos, tal como Bolonha e Londres.

Com é controlada pela Universidad de Guadalajara, os eventos de ordem acadêmica e profissional são muito intensos e significativos. Um detalhe importante: os horários de visitas para o público em geral e para os profissionais são diferenciados, o que permite a estes efetivamente encarar a feira como participantes de uma comunidade de negócios e não apenas como administradores dos estandes. Desse modo, a presença dos diretores das empresas é muito mais significativa que nas nossas Bienais, por exemplo.

As atividades para crianças e escolares se desenvolvem principalmente em um pavilhão separado, o que diminui muito a balbúrdia da molecada circulando entre os estandes. Devo dizer, entretanto, que como estou aqui nos dias profissionais, talvez essa minha percepção possa ser equivocada.

Outro grande achado de Guadalajara foi a de convidar e pagar passagens e hospedagens para bibliotecários americanos, que para cá vêm com recursos para aquisição de acervos. Infelizmente a crise por lá fez diminuir muito essa fonte de recursos, mas a iniciativa continua, inclusive com encontros profissionais para bibliotecários.
Enfim, Guadalajara pode proporcionar vários exemplos de alternativas para a organização das nossas duas grandes e polêmicas Bienais do livro, a do Rio e a de São Paulo. Resta saber se os responsáveis pela organização delas estão atentos e dispostos a aprender e melhorar.

Isso, porém, tal como a sobrevivência das livrarias no meio digital, só o tempo dirá.