O ensaio do prof. Vladimir Safatle na revista Carta Capital 734 se diferencia, sob vários aspectos, da matéria de Rosane Pavan sobre a qual comentei em post anterior. A primeira, e talvez mais importante, é que se trata de um breve ensaio, enquanto a outra era uma reportagem.
Entretanto, tal como a outra, pretende abranger em um só escopo coisas que, a meu ver, são diferentes. Ou, melhor dito, têm a aparência de estar albergadas em um único conceito, o de “cultura brasileira”, e misturam temas que merecem abordagens diferenciadas.
Reclama o prof. Safatle da ausência de análises dos “rumos da cultura brasileira”, “como se julgamentos de valor no campo da cultura fossem exercícios proibidos, pois seriam pretensas manifestações de uma vontade de submeter a multiplicidade da produção cultural a padrões, no fundo particulares de avaliação”. Segundo ele, os momentos anteriores de crescimento econômico brasileiro foram traduzidos em “momentos de grande explosão criativa”, mesmo na ditadura, e não são assim agora.
(Cabe sempre dizer: estou me dispondo a comentar esse número da Carta Capital motivado principalmente pelo respeito que tenho pela publicação e pelos autores dos textos. Não gastaria meu tempo com barbaridades de colunistas e pseudo jornalistas que babujam calhordices em outros semanários). Dito isso…
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“O Vazio da cultura (ou a imbecilização do Brasil)”
Esse título foi a matéria de capa da revista CARTA CAPITAL desta semana.
Mino Carta, começa seu editorial afirmando que “há muito tempo o Brasil não produz escritores como Guimarães Rosa ou Gilberto Freyre, […] pintores como Cândido Portinari […] historiadores como Raymundo Faoro […] polivalentes cultores da ironia como Nelson Rodrigues […] jornalistas como Claudio Abramo e mesmo repórteres como Rubem Braga e Joel Silveira. Há muito tempo…“
Mais adiante, a matéria de capa, assinada por Rose Pavan (“O Belo não está à venda – A submissão ao mercado impede que a arte relevante apareça“), segue pela mesma toada. O pacote sobre o assunto prossegue com uma crítica ao filme O Som ao Redor, escrita desde Nova York por Francisco Quinteiro Pires, um ensaio do filósofo Vladimir Safatle (“Relativa prosperidade, absoluta indigência“), outro ensaio de Daniela Castro sobre o mercado de artes plásticas e termina com uma entrevista do prof. Alfredo Bosi (“A esperança em tempos de magra colheita“).
Um pacotaço. Escrito por pessoas que admiro e respeito (embora não conheça a crítica de artes) em uma revista que sobressai diante da mediocridade ou da pura má fé das outras semanais.
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