O desenvolvimento da Internet e dos livros eletrônicos há muito me faz pensar sobre o futuro das livrarias. Mais que o “futuro do livro”, o que vai acontecer com esses lugares que frequentamos para folhear livros, ver as novidades e – eventualmente – comprá-los, é o que me preocupa.
Há uns dois anos a ABA – American Booksellers Association – encomendou a uma consultoria um estudo sobre as alternativas para as livrarias independentes enfrentarem esse fenômeno. E a mesma ABA há vários anos havia desenvolvido o BookSense, um sistema de compras online que transferia a compra e o atendimento para a livraria que estivesse mais próxima do Zipcode (CEP) de quem fizesse o pedido. O BookSense deu fôlego para as livrarias independentes, mas o crescimento da Amazon e da Barnes&Noble sombreiam permanentemente o futuro das independentes.
Continue lendo O ATENDIMENTO E O FUTURO DAS LIVRARIAS
Todos os posts de Felipe Lindoso
Os desafios de traduzir nos EUA
É bem conhecido o dado de que o índice de livros traduzidos e publicados nos Estados Unidos e nos outros países de língua inglesa (Grã Bretanha e Austrália) é ínfimo. Chad Post, um batalhador para que aumente esse índice, mantém um site exatamente com o nome de Three Percent que, segundo ele, é o índice de obras traduzidas.
O Publishing Perspectives de hoje, 29 de agosto, reproduz uma entrevista com Edith Grossman, tradutora para o inglês de importantes obras originalmente em espanhol (publicou recentemente uma elogiada tradução do Dom Quixote) comenta sobre essas dificuldades e sobre a importância e as dificuldades do ofício de traduzir, que quero compartilhar com vocês.
O “DNA” dos livros pode servir de base para encontrá-los?
Semana passada Claudiney Ferreira, com quem trabalho no projeto Conexões Itaú Cultural – Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira – e que vasculha a Internet quase obsessivamente atrás de sites sobre literatura, achou uma curiosidade: o BookLamp. Tratava-se de um site que se propunha a levantar o DNA dos livros para servir de motor de buscas para os leitores descobrirem livros “semelhantes” aos que gostaram, e de ferramenta para autores e editores.
Visitei o site e achei realmente fascinante. E já tinha planejado escrever um post sobre o assunto.
Esse trabalho me foi poupado pelo Ed Nawotka, do Publishing Perspectives, que no dia 24 publicou um artigo sobre o assunto. Ed Nawotka esteve aqui há pouco, no Congresso do Livro Digital, e sua palestra motivou que eu escrevesse um post sobre a questão dos metadados e sua importância para o mercado editorial.
Bem, quem quiser ler o original, o link está aqui. Com permissão do Ed Nawotka, traduzi o artigo que deixo aqui para vocês:
O “Projeto do Genoma do Livro” do BookLamp é o futuro da descoberta?
Por Edward Nawotka
Se você achava que metadados eram complicados, conheça Booklamp.org., um novo motor de descoberta de livros que pesquisa 32.160 diferentes pontos de dados por livro. “Fazemos isso processando o texto completo proporcionado pelo editor em formato digital e passando pelo nosso computador”, explica o CEO Aaron Stanton.
Continue lendo O “DNA” dos livros pode servir de base para encontrá-los?
Revistas de livrarias – para onde vai a atenção dos leitores e o dinheiro das editoras
Achar os leitores é uma preocupação da indústria editorial. Nos velhos tempos, os críticos literários é que “achavam” os autores, e a consagração feita pelos famosos “críticos de rodapé” era o sinal de ingresso no cânone da literatura nacional. A antiga José Olympio tinha como padrão transcrever, nas páginas iniciais do livro, a “fortuna crítica” do autor. Autores e críticos se retroalimentavam em prestígio, e o prestígio resultava em vendas.
Essa contradança acabou. Não existem mais “rodapés literários” e as resenhas estão longe de proporcionar o prestígio – e as vendas – de antanho. O prestígio do autor (muitas vezes respaldado pelo prestígio – ou poderio – da editora) aparece não em críticas, mas em amplas matérias na capa dos cadernos “de cultura”, ou variedades.
Ora, esse espaço se reduz cada vez mais. E se publicam cada vez mais livros. Por conseguinte, divulgar os lançamentos se torna ao mesmo tempo mais importante e mais difícil.
Continue lendo Revistas de livrarias – para onde vai a atenção dos leitores e o dinheiro das editoras
A definição do público alvo leitor: como dados também complicam
O ambiente editorial norte-americano vive imerso em uma enorme quantidade de dados sobre vendas, que definem quem compra, onde compra, quem indica, quais as bibliotecas e escolas que indicam livros, etc., como indiquei no post de ontem.
O New York Times Sunday Book Review, que recebo por e-mail nas sextas-feiras, trouxe hoje um interessante artigo de Robert Lypsite, intitulado Boys and Reading: Is There any Hope? que aborda dois problemas interessantes. O artigo é publicado nessa edição do NY Times Sunday Book Review porque na próxima semana se inicia o semestre letivo nos EUA.
Continue lendo A definição do público alvo leitor: como dados também complicam
Como os dados modelam o mercado editorial
A informática permite hoje a coleta de dados importantes sobre o desempenho dos livros. É claro, desde que os metadados estejam corretamente assinalados e sejam “coletáveis”.
Os instrumentos para tanto são vários. Alguns podem estar dentro da própria editora, ou da livraria, consolidando dados sobre os clientes e vendas, devoluções, pagamento de direitos autorais, amortização do investimento, etc.
Um dos mais interessantes é o BookScan, da Nielsen International. Esse instrumento recolhe informações de vendas no varejo, a partir do ponto de venda, em mais de 31.500 livrarias nos cinco continentes. Apenas livros em inglês, na Inglaterra, Estados Unidos, Irlanda, Austrália, África do Sul, Itália, Nova Zelândia, Dinamarca, Espanha e Índia.
Continue lendo Como os dados modelam o mercado editorial
Centro Cultural Vergueiro – A biblioteca e alguns problemas
Sou admirador da administração do Calil na Secretaria Municipal de Cultura, entre outras razões pelo esforço que ele tem feito em relação à bibliotecas. Completou a reforma da Mário de Andrade (com recursos do BID negociados ainda na gestão Martha Suplicy), está acelerando a informatização dos acervos e tem uma política de aquisição de livros.
Mas ontem fui ao Centro Cultural Vergueiro fazer pesquisas em jornais da década de noventa. Aí encrencou. Os acervos microfilmados estão incompletos e as leitoras de microfilmes estão em péssimo estado, não fazem mais cópias e funcionam graças à grande boa vontade dos funcionários.
Com toda boa vontade, o funcionário indicou que eu fosse ao Arquivo do Estado ou pagasse pela consulta nos arquivos dos jornais.
Bem, o que salvou a viagem foi a boa vontade e disposição de ajuda dos funcionário da biblioteca.
Espero que a prometida reforma do Centro Cultural Vergueiro (já anunciada, mas não vi nada sendo feito por ali) dê um trato no acervo microfilmado.
O ENEM E O ENSINO DE LITERATURA – AUTORES E EDITORES TÊM A VER COM ISSO?
“Há algo de muito errado no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio)”, diz Luís Augusto Fischer em artigo publicado no Prosa e Verso do jornal O Globo do sábado, dia 13 de agosto. O errado que o escritor e professor assinala diz respeito especificamente às perguntas sobre literatura feitas no exame e como essas terminam por induzir determinadas práticas em sala de aula, e o resultado disso.
Fischer pergunta sobre a natureza e a qualidade das perguntas sobre literatura no ENEM que, na prática, hoje é o grande portal de acesso ao ensino superior nas universidades federais e nas que aderem ao PROUNI, o sistema de bolsas que facilita o ingresso de estudantes nas faculdades particulares.
Continue lendo O ENEM E O ENSINO DE LITERATURA – AUTORES E EDITORES TÊM A VER COM ISSO?
O custo de levar livros para todo o país
Certa vez estive em Sergipe estudando a possibilidade de montar ali um programa de revitalização de bibliotecas públicas. Em um carro da Secretaria da Cultura, percorremos, em um dia, praticamente o Estado inteiro, de norte a sul. Evidentemente não paramos em todos os municípios, mas soubemos que do município mais distante até Aracaju demorava-se no máximo umas duas ou três horas de ônibus.
Depois comentei com a diretora da Biblioteca do Estado a sorte que tinham de viver em um Estado pequeno, o quanto isso facilitava muitas coisas.
Esse pensamento me ocorreu em uma das discussões sobre o Programa do Livro Popular, atualmente em preparação na Biblioteca Nacional. Em reunião com editores na sede do SNEL, um dos pontos levantados referia-se à logística. Os custos de levar livros até os lugares mais afastados do país e as dificuldades que isso implica são realmente assustadores. O FNDE conhece muito bem o problema, na administração do programa do livro didático,e essa é uma das razões pelas quais acredito que mais cedo ou mais tarde irá adotar versões digitais dos livros escolares nesse programa. O mercado editorial de outros países não enfrenta esse tipo de problemas: os pedidos entregues nas editoras e distribuidoras alemãs até o final da tarde são despachados nos trens noturnos e estão nas livrarias de qualquer cidade do país no amanhecer do dia seguinte.
Mas os volumes envolvidos em livros para bibliotecas e para venda a preços populares aí por esse Brasilzão nem se comparam com os do MEC e constituem realmente um problema. Para vocês terem uma ideia, uma encomenda PAC dos correios com até dois quilos e dimensões pequenas leva vinte e quatro dias úteis para viajar de S. Paulo a Manicoré, no Amazonas (município onde meu pai nasceu), e custa R$ 23,50.
Com essas distâncias de um país continental, os Correios precisam assumir sua parcela de responsabilidade social nos programas de livro e leitura.
Feiras Internacionais – vale a pena ser país-tema?
Sabendo do meu envolvimento com a presença internacional da literatura brasileira, amigos meus já perguntaram para que serve essa história de ser “país convidado” ou “tema central” de feiras internacionais. Com a próxima reapresentação do Brasil como tema em Frankfurt, em 2013, vale a pena pensar um pouco a respeito.
Como já escrevi neste blog, o inventor desses “temas centrais” em feiras do livro foi Peter Weidhaas que, durante vinte e cinco anos, foi o diretor da Feira do Livro de Frankfurt, como resposta a uma demanda de que aquele evento não se restringisse a ser um amplificador do negócio de best-sellers e abordasse também temas relevantes no âmbito da discussão intelectual.
Continue lendo Feiras Internacionais – vale a pena ser país-tema?