AH, ESSES ECONOMISTAS!

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Entre os materiais compilados e distribuídos pelo SNEL – Sindicato Nacional dos Editores de Livros – no Seminário Internacional Sobre o Preço Fixo do Livro, que aconteceu no Rio de Janeiro no dia 17 de novembro, está o artigo escrito por Frederick Van Der Ploeg intitulado “Beyond the Dogma of the Fixed Book Agreement”.   O paper pretende ser uma avaliação objetiva – do ponto de vista da “ciência” econômica – daquilo que o autor já começa qualificando: dogma do acordo do preço fixo.

Não fosse de certa forma trágico, poderia achar muito engraçada uma discussão “objetiva” que começa qualificando o objeto do trabalho como dogma.

Como um bom dicionário define, objetividade dispensa um pré-juízo ou pré-conceito para poder ser exercitada. Como define o Aurélio: objetividade. [De objetivo + -(i)dade.] Substantivo feminino. 1.Qualidade do que é objetivo. 2.Caráter da atitude, ou do procedimento, que é, ou pretende ser, estritamente adequado às circunstâncias.

Começar afirmando que o preço fixo é um “dogma”, portanto, exclui qualquer objetividade de análise. Questão de lógica e semântica, o que não parece ser objeto de atenção desse economista.

Mas, vamos em frente.

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PREÇO FIXO, DEBATES RECENTES

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A eventualidade da adoção de uma lei que regule o preço de venda dos livros pelas livrarias, a chamada “Lei do Preço Fixo” foi objeto de duas discussões na semana passada. No dia 17, no Rio de Janeiro, o debate promovido pelo SNEL – Sindicato Nacional de Editores de Livros – convidou participantes do Reino Unido, da França e da Alemanha, além de editores brasileiros. Na terça-feira, dia 18, em S. Paulo, na sede da CBL – Câmara Brasileira do Livro – a ANL – Associação Nacional de Livrarias, promoveu outra discussão sobre o tema, convidando o advogado que assessora a entidade, o editor-distribuidor-livreiro Alexandre Martins Fontes e a mim, para a conversa.

Os três convidados internacionais do Rio de Janeiro – Sam Edenborough, Jean-Guy Boin e Joachim Kaufmann – foram clara e incisivamente favoráveis a uma medida que limite a possibilidade de descontos pelas livrarias.

Sam Edenborough, presidente da Associação de Autores e Agentes do Reino Unido foi, na minha opinião, quem fez a apresentação mais interessante. O mercado editorial do Reino Unido praticava o preço fixo até 1995, quando o chamado Net Book Agreement, foi cancelado. Edenborough trazia, portanto, uma avaliação do que acontecia quando o sistema valia e do que aconteceu depois de seu cancelamento.

Os adjetivos usados por Edenborough para caracterizar as duas situações (até 1995 e após 1995) são eloquentes: “Preço Livre: O Oeste Selvagem”, “Sucessos e fracassos são mais extremos”, “Os grandes players ficam cada vez maiores, e os menores cada vez menores”, e assim por diante.

(O site do SNEL disponibiliza informações sobre as apresentações)

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DICAS DE EDIÇÃO DE TRADUÇÃO (EM INGLÊS)

O blog Publishing Persopectives publicou hoje artigo de   Theresa M. Paquette relatando uma mesa redonda sobre edição de traduções literárias, com a presença de uma tradutora do alemão para o inglês, Susan Bernofsky, e cinco editores de Nova York.

Eis o texto:

5 Tips for Editing Literary Works in Translation

GBO Translation Panel, from left to right: Ed Nawotka, Edwin Frank, Susan Bernofsky, Declan Spring and Stephen Twilley.

Three top US book editors and one translator share their top tips for working with literary translations.

By Theresa M. Paquette

On Tuesday night, the German Book Office in New York City hosted a panel entitled, “Editing Translations – Editing Susan,” which offered attendees advice on editing works in translation. It followed a day-long workshop in which German-English translator Susan Bernofsky worked with up-and-coming translators around a text by Jenny Erpenbeck, whose novel The End of Days (New Directions) Bernofsky had recently translated.

Moderated by Publishing Perspectives editor-in-chief Ed Nawotka, panelists included, in addition to Ms. Bernofsky: Declan Spring, vice president and senior editor at New Directions; Edwin Frank, editor of New York Review Books Classics; and Stephen Twilley, managing editor of Public Culture and Public Books — all three of whom have edited her work.

Here are the panelists’ top five tips for editing works in translation:

1. Listen to the Author

According to Bernofsky, the problem with translation is this: you must create something that has legibility in its own right, not necessarily “an exact representation of,” the text, but a credible version of the author’s text, voice, and — of perhaps most importance — tone. She gave a shout-out to Erpenbeck, sitting in the audience, and the two recalled the collaborative work between translator and author. When it is clear the translation cannot be an exact representation of the original, the input of the author is essential.

2. Don’t Edit Where You Don’t Need To

Stephen Twilley says that an editor must always ask him or herself, “Can the text justify this?” This means, besides listening to the author, one must “listen” to the text. What is the significance of a particular detail in the narrative, for example? What are the consequences of removing or altering it? If this is removed or altered, does the work lose something crucial?

3. Don’t De-Contextualize

The panelists cited multiple instances in which an author or translator insisted their story was universal – and therefore that translations should forego any cultural specificity. All seemed to agree, however, that with this approach something is lost. As Bernofsky said, “Characters, when they [become] more international, they [become] blander.” Stephen Twilley compared a de-contextualized work to “plastic food.”

4. Style > Syntax

Edwin Frank made the point – and all agreed – that translation occurs not at the level of syntax and semantics, but at that of style. “You can translate syntax and semantics and you don’t have a book;” what is important for a work of translation is not that it matches the original word-for-word, but that the author’s original narrative, with all its idiosyncrasies and subtleties, is kept intact.

5. Treat the Translator Like the Author

Edwin Frank urged attendees to keep in mind that a translation is “finally the translator’s work.” While the editor offers a fresh eye with which to view the text, it is not his or her project. And so, to quote Spring, “You can’t argue over every little stet.”

LEI DO PREÇO FIXO: DEBATE REVIGORADO

Na próxima segunda-feira estarei no Rio de Janeiro para assistir ao Seminário Internacional promovido pelo SNEL para debater a chamada Lei do Preço Fixo. E, na terça-feira, irei participar, na sede da CBL, em S. Paulo, de mesa redonda promovida pela ANL – Associação Nacional de Livrarias, sob o mesmo tema.

É uma discussão antiga e importante. Já na terça-feira exoporei minha posição a respeito do assunto.

Mas, para adiantar a conversa, reproduzo abaixo o post quer Galeno Amorim publicou hoje em seu blog.

Uma lei para o preço do livro

Galeno Amorim

Historicamente, a Associação Nacional de Livrarias é quem brigava, solitariamente, pelo tema. Logo que surgiu, a Libre, a Liga Brasileira de Editores, passou a encampar a briga e engrossou o caldo, sem medo de ser feliz. Nos últimos anos, a causa passou, após pesquisa interna entre os associados, a ter simpatia de quase toda a Câmara Brasileira do Livro.

Mesmo assim, pouco andou.

O Sindicato Nacional de Editores de Livros, o Snel, era peremptoriamente contrário, professando sua crença na cartilha liberal segundo a qual o mercado é quem melhor regula. A Abrelivros, que reúne as editoras escolares e boa parte da receita do setor, também sempre concordo com isso.

Mais recentemente, entretanto, e especificamente após a chegada da Amazon no mercado brasileiro, muitos editores filiados ao Snel passaram a compartilhar a ideia de que só a adoção de uma lei do preço fixo conseguirá equilibrar as coisas.

O mercado endoidecido fez, nos últimos anos, o preço do livro ser artificialmente inflado, chegando as empresas editorais a passar fazer uso, na hora de calcular os preços dos livros aos consumidores finais, de um multiplicador sobre as despesas de produção entre 7 e 8 (há 20 aos, não passava de 5).

Porque acontece isso?

É que, pressionadas pelas grandes redes, as editoras sobem o chamado preço de capa sugerido ao cliente além do que faziam, e só para atender às pressões dos grandões que exisgem descontos maiores para oferecer diferenciais de preço e, com isso, ter muito mais competividade do que seus pequenos e frágeis concorrentes.

Sendo assim, não é verdade que seus consumidores estejam se beneficiando com os grandes descontos repassados. Na verdade, são os consumidores das livrarias menores é que vêm sendo penalizados e sacrificados porque são obrigados a pagar preços irreais.

Simples assim.

Pena que, até aqui, nem governo nem mercado se propuserem a fazer as contas para, assim, defender os direitos dos pobres coitados dos leitores que compram livros. E evitar a morte precoce dos livreiros independentes (não confundir com problemas de gestão, falta de foco ou marketing inapropriado).

Por outro lado, enquanto essa questão permanecer no campo emotivo de defesa e ataque entre os contendores, dificilmente algo razoável terá chance de prosperar. Agora, com muito mais coisa em jogo a ser eventualmente perdida, pode ser a hora de mudar.

Mas não basta só uma para o preço do livro.

 

Enhanced e-books: beco sem saída ou aberturas não exploradas?

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Recentemente a newsletter DBW – Digital Book World  Daily publicou extenso artigo sobre as razões pelas quais os chamados livros digitais enriquecidos (enhanced) não haviam ganhado impulso. O artigo, The Real Reason Enhanced Ebooks Haven’t Taken Off (Or, Evan Schnittman Was Right… For the Most Part),  escrito por Peter Constanzo, destacava palestra de Evan Schnittman, pensador da indústria digital e diretor de vendas da Hachette Book Group na Feira de Londres em 2011. Nessa apresentação, Schnittman disse que o formato estava praticamente morto e era um beco sem saída para os editores.

O fato é que, alguns anos antes disso, inclusive em um dos Congressos do Livro Digital da CBL, essa moda do livro digital enriquecido – que permitia a inserção de áudio e vídeo de modo dinâmico – havia sido apresentado como a evolução mais importante do setor editorial. Esse segmento da indústria editorial, o dos livros eletrônicos, apesar de bem recente, já viveu alguns modismos que desapareceram rapidamente, como o das “leituras sociais” (quem tem paciência, mesmo, de ficar lendo em conjunto com um bando de desconhecidos?) e os apps autônomos para a publicação de livros, que só subsistem hoje para alguns livros ilustrados infantis.

Mas voltemos ao assunto.

Schnittman assinalava um ponto indiscutível, e que até hoje representa um entrave considerável. Os formatos “enhanced” não podem ser lidos com a mesma eficácia em todas as plataformas. O que funciona bem para tablets, e em especial para o iPad, mesmo que distribuído pela Amazon (suponho que também funcione bem para o Kindle Fire). O formato não é “trans-plataforma”. Comparando com música e jogos, Constanzo assinala que podemos escutar a música baixada online em qualquer aparelho digital, assim como se pode jogar “Call of Duty” em várias plataformas, com o mesmo resultado. O mesmo vale para filmes baixados em streaming ou vistos nos DVDs comprados ou alugados. Mas isso não acontecia com os livros “transmedia” elaborados com o ePub3.

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CULTURA: AS PAUTAS QUE CONTINUAM ABERTAS – II

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Dando continuidade a essa mescla de avaliação e levantamento das questões da cultura que estiveram em pauta nos últimos quatro anos, quero complementar alguns aspectos não tratados no post da semana passada.

Sem dúvida um dos pontos altos dos últimos anos foi a aprovação e o início de implementação do Vale Cultura. A Ministra Martha Suplicy conseguiu agilizar a aprovação da lei e da sua regulamentação, e arregimentou os operadores de cartões, principalmente dos vales-alimentação, para que o programa começasse a operar.

Ainda que o benefício fiscal – tal como os da Lei Rouanet – só beneficie as grandes empresas, a estratégia da ministra, de buscar sindicatos para que incluam o benefício nas pautas de dissídio coletivo deve aumentar consideravelmente volume de recursos disponíveis para aquisição de produtos culturais.

Cabe a editoras e livrarias se mobilizarem para aproveitar cada vez mais esse dinheiro. Nos primeiros meses de implantação do Vale Cultura, com aproximadamente doze milhões de reais disponíveis, o consumo de livros e outros produtos editoriais foi bem significativo. Mas, na medida em que o volume aumente, outros segmentos devem disputar de modo mais agressivo a presença dos beneficiários do Vale Cultura. E é importante desenvolver estratégias de marketing para atrair e fidelizar essas novas capas de consumidores de produtos culturais.

Um ponto positivo foi o programa Mais Cultura, em particular seu conceito de que este representa o reconhecimento da cultura como necessidade básica, direito de todos os brasileiros, tanto quanto a alimentação, a saúde, a moradia, a educação e o voto. A ampliação dos editais para fomento de ações setoriais é realmente um avanço no uso dos recursos orçamentários, diminuindo o grau de discricionariedade (que ainda persiste) no uso dos recursos do Fundo Nacional de Cultural.

O Mais Cultura se consolida com a aprovação da Lei 13.018, de junho deste ano, que reformula vários aspectos do programa e estratégias de ação. Graças à ação da Ministra Marta Suplicy e sua equipe técnica, o principal problema na execução anterior foi solucionado – para o futuro: a substituição de convênios por editais de premiação.

A primeira formulação do projeto dos Pontos de Cultura teve dois aspectos. O primeiro, o da ideia em si, era espetacular: repasse de recursos (por volta de R$ 10.000,00) para as mais diversas iniciativas culturais, principalmente em áreas de periferia. Mas o caminho das boas intenções estava bichado.

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CULTURA: AS PAUTAS QUE CONTINUAM ABERTAS

CapturarCom a reeleição da Presidenta Dilma Rousseff, é bom recordar e atualizar as pautas de interesse da cultura, e esboçar uma avaliação do que foi feito.

Desde logo, quero deixar claro: votei e fiz campanha pela reeleição da presidenta. Mas não estou satisfeito com muitas das políticas e das práticas das três administrações petistas na área. Aqui, antes de mais nada, procuro discutir as questões como militante do livro e da leitura.

Destaco como aspectos positivos o fortalecimento da estrutura do MinC – que era insignificante até a administração Weffort –, a aprovação do Plano Nacional de Cultura e a instalação da Comissão Nacional de Política Cultural; a aprovação e o início da implementação do Vale Cultura. Todos esses são pontos importantes para a constituição de políticas públicas para a cultura em nosso país.

O esforço para a aprovação da Lei das Biografias também merece destaque. É bom lembrar que a primeira iniciativa foi tomada pelo ex-ministro e então Deputado Antonio Palocci (PT-SP). A tramitação chegou a ter o parecer favorável do então deputado e hoje Ministro José Eduardo Cardoso (PT-SP), mas essa primeira iniciativa terminou frustrada pelo arquivamento do projeto, já que Palocci não se candidatou à reeleição. O projeto foi reapresentado pelo Deputado Newton Lima (PT-SP) e já foi aprovado na Câmara – apesar de mutilado pela emenda apresentada pelo Deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), e está atualmente no Senado.

Esse processo tortuoso, diga-se de passagem, foi dificultado ainda mais pela atuação pouco consistente junto ao Congresso Nacional por parte das entidades de editores (os autores não têm mesmo ninguém que os represente). A tramitação correu exclusivamente pelo empenho dos parlamentares, e muitos atrasos se deveram a essa falta de articulação e ação das entidades. O resultado, no final das contas, foi que o projeto acabou chamando atenção do Caiado e de outros parlamentares conservadores e acabou mutilado.

O Senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES)  já percebeu essa incongruência e busca uma maneira de retirar a excrecência sem que haja necessidade de fazer o projeto voltar à Câmara dos Deputados. Uma alternativa é aprova-lo como está, para que seja logo enviado à sanção presidencial. Sonia Jardim, presidente do SNEL, já se declarou favorável a que a emenda seja retirada, mesmo que isso atrase a tramitação. O importante é saber que amanhã, quarta-feira dia 28, o assunto já estará em pauta no Senado. Espero que seja devidamente acompanhado.

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PAULO COELHO, MODIANO E PIRATARIA – ECOS DE FRANKFURT

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Três assuntos chamaram minha atenção no noticiário da semana passada sobre a Feira de Frankfurt. Por “ordem de chegada”: Paulo Coelho e sua conversa com Jurgen Boos, o Nobel de Patrick Modiano, e os comentários de editores brasileiros sobre a pirataria digital.
Matutando, acho que estabeleci algumas ligações significativas entre os três eventos. Reflexões que compartilho com vocês.
Na sua conversa com Boos, que é o diretor da Feira, e que chamou Mr. Rabbit para, de certa forma, compensar seu polêmico forfait ano passado, o Mago espicaçou a fundo o mercado editorial.

Segundo a matéria assinada por Ubiratan Brasil no Caderno 2 do Estadão do dia 9, Paulo Coelho declarou que “São duas as grandes razões que fazem alguém ler: a busca de entretenimento e a de conhecimento. Mas, no mundo tecnológico em que vivemos, esse leitor não necessita mais da cadeia intermediária entre ele e o conteúdo. Assim, editores, distribuidores e livreiros tornam-se, muitas vezes, dispensáveis para esse leitor, pois encarecem o produto.”

A estratégia pessoal de Paulo Coelho em relação ao assunto é simples: vende as versões digitais de seus livros a US $ 9,90 (na maioria dos casos), e não se importa com a pirataria. Na entrevista mencionou que viu uma edição em árabe que “certamente será pirateado em papel em todo mundo árabe”. A razão: a edição libanesa é muito cara para os compradores da região. Em outra ocasião, se não me falha a memória, ele mencionou que não se importava com traduções piratas de seus livros (acho que mencionava uma tradução para o farsi).

Resumindo, o que Paulo Coelho coloca é: livros baratos; acessibilidade máxima.

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DEFICIENTES VISUAIS E DISLÉXICOS BENEFICIADOS COM EXCEÇÕES NO TRATADO DE DIREITOS AUTORAIS

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Em junho de 2013 foi assinado em Marrakesh, capital do Marrocos, um tratado adicional à Convenção de Berna sobre Direito Autoral que facilita de modo significativo o acesso de obras literárias e científicas para as pessoas cegas, ou com grau acentuado de deficiência visual, e disléxicos. O documento, que passou a ser conhecido como Tratado de Marrakesh, foi aprovado em assembleia da Organização Mundial da Propriedade Intelectual – OMPI, organismo afiliado à Organização das Nações Unidas e dedicado especialmente à proteção de direitos intelectuais.

 

Mais de oitenta países já assinaram o tratado, mas poucos já o ratificaram, e são necessárias vinte ratificações para que entre em vigor internacionalmente. A Índia foi o primeiro a ratificar esse instrumento. No Brasil, a ratificação do instrumento está sendo acompanhada pelo Ministério da Cultura, pela Secretaria de Direitos Humanos e pelo Itamaraty. Cabe assinalar que o Brasil foi um dos proponentes do Tratado. Segundo Pedro Milliet, da Fundação Dorina Nowill, que acompanha o assunto, o interesse do governo brasileiro é real, mas nessas alturas não há mais chance de que o tratado seja ratificado antes das eleições. Esperemos que o seja ainda este ano.

Na América latina, apenas El Salvador já cumpriu o processo de ratificação, e, no Equador, este está bem avançado, pois não precisa passar pelo parlamento, por se tratar de tratado na área de direitos humanos.
O QUE É
As legislações sobre direitos autorais geralmente incluem as chamadas “exceções” – situações nas quais os mecanismos de proteção são suspensos em casos específicos. O exemplo mais conhecido é o do “fair use”, a cópia para uso próprio sem finalidades comerciais. A legislação brasileira há muito incluiu entre suas exceções os relacionados à publicação para uso dos deficientes visuais, seja em Braille ou outro “formato acessível”, como áudio livros.

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CARTAS AOS PRESIDENCIÁVEIS DE 2014

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Logo após a Bienal do livro de S. Paulo, várias entidades do livro apresentaram cartas dirigidas aos presidenciáveis destas eleições. Uma, preparada pela CLB, foi também assinada pela ABDL – Associação Brasileira de Difusão do Livro, ABEU – Associação Brasileira das Editoras Universitárias e ANL – Associação Nacional de Livrarias. A outra foi assinada exclusivamente pelo SNEL – Sindicato Nacional dos Editores de Livros.

A iniciativa de preparar cartas aos candidatos à presidência não é inédita, ao contrário do que andaram dizendo as entidades. Em 2002, a CBL preparou uma carta enviada para os então principais candidatos: Lula, Serra e Ciro Gomes. A campanha do Lula mandou Palocci, Marco Aurélio Garcia e Galeno Amorim para uma reunião na sede da entidade. A campanha do Serra enviou o Clóvis Carvalho, que havia sido ministro do FHC, que também conversou na entidade. Ciro Gomes acusou o recebimento, mas não mandou ninguém.

Em 2006, Galeno Amorim, através da OEI, organizou uma “Carta do Povo do Livro” aos presidenciáveis, com centenas de assinaturas de autores, editores, bibliotecários, agentes de leitura, etc. Em 2010 ninguém se manifestou.

Isso é só para recuperar a história, sempre um tanto desmemoriada…

Na entrevista que me concedeu ainda durante a Bienal, Karine Pansa contou, em linhas gerais, a gênese da carta redigida pela CBL, que deveria ter sido divulgada por ocasião da abertura da Bienal, e ficou para mais tarde. A presidente da CBL informou que a ideia surgiu a partir da demanda de um candidato (não informou qual), e acabou entrando em pauta em uma das reuniões do grupo de entidades do livro.

(Vale outra passagem pela ladeira da memória. Apesar de anunciada como tal, a iniciativa de buscar a coordenação de ações entre as várias entidades do livro também não é nova. Nas gestões do Altair Brasil e do Raul Wassermann foram feitas várias dessas reuniões, na busca da coordenação de ações. A reforma dos estatutos de CBL, na gestão Wassermann, apontava claramente para uma perspectiva de evolução da CBL para uma espécie de federação das entidades, que teriam inclusive participação na gestão da mesma. Esse estatuto, aprovado em Assembleia Geral depois de meses de discussão, foi rapidamente modificado nos primeiros meses da gestão Oswaldo Siciliano). Mas voltemos ao assunto, para não perder o foco.

Depois da solicitação do não mencionado candidato, a CBL decidiu enviar a carta para todos, para evitar engajamento em campanhas. Correto. Uma minuta foi preparada pelo jurídico da entidade. Era, no primeiro momento, uma carta da CBL. Nessa reunião em que foi levantado o assunto, houve o compromisso de recolher as opiniões das diferentes entidades sobre o conjunto das questões.

Karine Pansa destacou alguns pontos. Em primeiro lugar, existem diferenças de perspectivas entre as entidades. “É natural”, disse. Mas o importante, para a dirigente da CBL, é que o diálogo entre as entidades continua. Especificamente em relação ao SNEL e à Libre, que não assinaram a carta lançada pela CBL, Karine Pansa declarou que a diretoria do sindicato pediu mais tempo para discutir as propostas. A Libre, por sua vez, exigia uma ênfase específica na situação das pequenas editoras, que não foi possível compor no momento. Karine Pansa sempre ressaltou que a continuade do diálogo entre as entidades é o ganho importante que foi mantido.

No final, a CBL (na versão do link, a cópia da dirigida à Marina)    divulgou seu documento e o SNEL  o seu.

Então, vamos ao grão.

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Políticas públicas para o livro e o mercado editorial