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D’O CAPITAL AO LIVRO DIGITAL (PASSANDO PELO CINEMA)

Dias atrás enfrentei uma maratona de 492 minutos para assistir as três partes do filme “Notícias da Antiguidade Ideológica: Marx, Eisenstein, O Capital”, do cineasta alemão Alexander Kluge. Sem querer entrar na seara do colega colunista aqui do Publish News, Pedro Almeida, e sua coluna “Veja antes de ler”, quero aproveitar o filme para fazer algumas considerações sobre livro e cinema. Não entro na seara dele porque não se trata de “ver antes de ler”. Muito pelo contrário. O que eu quero falar é sobre a especificidade do ler e, portanto, da irredutibilidade do livro.
As notícias sobre o filme vendiam uma coisa e, na verdade, o esforço do cineasta era outro. As matérias falavam de “um filme sobre O Capital” e até insinuavam que se tratava de uma tentativa de filmar a obra fundamental de Marx.

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Presidente Dilma na Bienal do Rio

A Coluna No Prelo, do Prosa e Verso de hoje, sábado, anuncia que a Presidente Dilma poderá não apenas inaugurar a próxima Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, como também  ser entrevistada no Mulher e Ponto por uma jornalista. Ótima notícia, mas a coluna comeu mosca ao dizer que esta seria a primeira vez que um Presidente da República inaugurava a Bienal do Rio. O Sarney inaugurou, como Presidente da República, a II Bienal do Livro do Rio de Janeiro, que acontecia então no São Conrado Fashion Mall. O então presidente do SNEL era o Sérgio Lacerda, da Nova Fronteira.

Eu estava lá. Era a primeira vez que a Marco Zero participava de uma Bienal, e o Sarney até passou pelo nosso estande.

Como a memória é fraca, lembro que o Fernando Henrique visitou a Bienal do Livro de S. Paulo e que o Lula, esse cujos detratores dizem que não gosta do livro, prestigiou a inauguração da Bienal de São Paulo em 2004.

Aliás, para ficar também na ladeira da memória, foi o Senador José Sarney que encaminhou a emenda da desoneração fiscal das editoras (eliminação da cobrança do PIS/PASEP-COFINS), em acordo com o então ministro Palocci e com o aval do Presidente Lula.

Não é porque o Sarney agora quer que os documentos governamentais permaneçam em sigilo eterno que os editores (ingratos?!) devam deixar de registrar o que ele fez pelo livro.

 

Editoras e Universidades ampliam uso do livro eletrônico

Como já havia mencionado em post anterior, a popularização do livro eletrônico, seja sob a forma dos e-readers ou via laptops, tablets e netbooks – esta estreitamente ligado ao uso educacional.
A base de usuários crescerá muito a partir desse mercado.
Depois dos acordos da Xerif com a Universidade Estácio de Sá e algumas outras, uma nova iniciativa vem se somar a essa. Saraiva, o Grupo A, GEN e Atlas se unem em uma nova empresa, a Minha Biblioteca para fornecer livros para universidades.
A iniciativa traz outra novidade, que é a chegada ao Brasil da Vital Source, uma empresa da Ingram, dos Estados Unidos. Essa subsidiária da Ingram nos EUA desenvolveu exatamente a plataforma My Library para oferecer esse serviço às editoras e universidades americanas. A Ingram não apenas é a maior distribuidora de livros físicos daquele país, como tem também o sistema Lighning Source, de printing on demand que é fundamental para o funcionamento do comércio de livros.
Veja matéria completa publicada hoje pelo Publish News, texto de Maria Fernanda Rodrigues.

Raul Wassermann contribui para pensar as Bienais do Livro

Raul Wassermann, ex-presidente da CBL e diretor da Summus, enviou-me o texto abaixo comentando notícia publicada na Folha de S. Paulo do domingo 17 de julho, que tenho o prazer de compartilhar com vocês.

CONSIDERAÇÕES RÁPIDAS SOBRE BIENAIS DO LIVRO

1 – Neste fim de semana, 17/7/11, a Revista da Folha entrou num assunto tabu para todos os promotores de eventos: qual o número correto de pessoas presentes? O interessante é que, para chamar a atenção da própria imprensa, que se interessa mais por grandes números e menos por conteúdo e qualidade, todos os eventos ano a ano vão aumentando o número de presenças para mostrar um crescimento que “é notícia”. Assim foi com as bienais do livro de São Paulo e do Rio, que foram inflando para virar notícia e para concorrer entre si até que chegaram a números absurdos que decretaram uma volta a índices mais realistas em 1999/2000. A partir daí, voltaram a “crescer”….

2 – “Repensando a Bienal” foi o nome de uma comissão de trabalho da Câmara Brasileira do Livro que sempre pensou em como fazer mais do mesmo. Até hoje não houve coragem para mudar tudo que se faz e voltar a encarar o evento como impulsionador de mercado. E assim vamos gastando cada vez mais para, cada vez mais, recebermos o público que opta por vir à Bienal em vez de ir passear no shopping. Os antigos compradores das bienais do livro ficam em casa fuçando prateleiras na internet.

3 – Paulo Wernek, ao comentar a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) em 10/7 (FSP, p. A2), utiliza o primeiro parágrafo para deixar claro uma verdade inconteste: “ (a Flip)…uma clara tentativa do mercado editorial de superar um modelo de divulgação de livros que se mostrava esgotado: o das bienais que ano a ano se alternam entre o Rio e São Paulo”. Pois a tentativa deu certo, mas o mercado editorial a que o jornalista se refere é aquela parcela que, mesmo representando pouco no bolo geral do faturamento, é a que mais aparece (eu gosto de chamá-las de “as editoras do charme”). Enquanto isso, nada se faz para superar o modelo esgotado para atender as outras áreas do mercado. Até quando vamos gastar tanto com a montagem de estandes bonitos que vendem cada vez menos e que não desenvolvem mercado? Até quando o modelo será o de mercados desenvolvidos apenas para se mostrar como a maior da América Latina ou a terceira do mundo? Desde quando o aumento de metros quadrados leva ao aumento da demanda?

4 – Ideias, existem aos montes. Coragem para realizá-las é mais difícil pois em vez de nos preocuparmos com o mercado e nele pescarmos, estamos preocupados em mais, aqui, agora e primeiro o meu. Porque não feiras anuais, menores, com estandes padronizados? Por que não feiras setoriais como infanto-juvenis, universitárias, religiosas, etc. ? Por que não reativar o cheque-livro — muito mais fácil de administrar hoje com a tecnologia dos cartões de crédito — , que levava público às livrarias após as bienais e foi enterrada sabe-se lá por que ?

O IDIOMA PORTUGUÊS NO MUNDO E A TRADUÇÃO DA LITERATURA BRASILEIRA

Já escutei muitos discursos sobre a “importância” do idioma português no mundo.

Os doze idiomas que, além do inglês, conformam o maior número de falantes são, além do português, o coreano, o japonês, o alemão, o bengali, o hindu, o russo, o mandarim, o espanhol, o árabe e o francês. O inglês não é nem mesmo o que tem maior número de falantes (11% da população mundial, contra 33% do mandarim, por exemplo).

De qualquer forma, se considerarmos que existe hoje, do ponto de vista internacional, um idioma hipercentral, a língua franca moderna, o inglês, temos que reconhecer também a existência de várias outras línguas “super-centrais”, que expandiram sua predominância territorial para muito além do seu local de nascimento. São os outros onze idiomas (cf. Calvet, L, S – Carnets d’Atelier de Sociolinguistique, 2007).

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Feiras de Livros e Festivais de Literatura – Para Quê?

Na semana em que a FLIP ocupa muitas páginas dos jornais, espaço na Internet e nas conversas, vale a pena pensar um pouco sobre esses mecanismos de promoção do livro e da leitura: feiras de livros e festivais de literatura.
As bienais do livro (a de S. Paulo primeiro e depois a do Rio de Janeiro) costumavam ter, desde há muito tempo, o que se chamava de “atividades paralelas”. Paralelas por serem quase “marginais” ao objetivo principal desses eventos, que era apresentar ao público uma amostra do conjunto da produção editorial. Muitos títulos que sumiam rapidamente das livrarias eram garimpados nesses eventos, que por muito tempo estiveram circunscritos às duas cidades. A exceção era a Feira do Livro de Porto Alegre – a mais antiga, aliás – que se diferia das bienais por ser um evento montado ao ar livre.
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Livro eletrônico – resenha eletrônica

A chegada dos e-books mexe não apenas no mercado editorial. Mexe também com a percepção que os leitores possam ter do que acontece, e de onde acontecem as coisas.

A Amazon há muito abriu um espaço para resenhas – positivas e negativas – postadas pelos leitores dos livros vendidos pelo Kindle. E posso garantir que há coisas muito interessantes ali. Gente que se deu ao trabalho de refletir sobre o que leu e compartilha com outros possíveis leitores. Tem muita abobrinha também, é claro. Faz parte.

O Marcelino Freire, contista da minha maior admiração, fundou uma editora, a Edith onde publicou seu último livro, Amar é Crime, que saiu primeiro disponível nos e-readers da Gato Sabido e da Amazon (para os atrasados: não se preocupem, vai ter edição impressa também – vejam no link acima a data do lançamento. Dia 13 de Julho no Sarau da Cooperifa, do grande Sérgio Vaz) e já ganhou uma resenha eletrônica, em blog. Pode ser vista neste link a resenha do Eduardo S. Nasi.
Parabéns para o Marcelino.

A Literatura Brasileira no Exterior

Aqui está a coluna publicada no Publish News de hoje.

Em 1994 fui um dos organizadores da participação do Brasil como “País Tema” da Feira de Livros de Frankfurt, assunto sobre o qual ainda voltarei a falar. Mas hoje quero compartilhar com os leitores algumas reflexões decorrentes da minha participação atual no projeto Conexões – mapeamento Internacional da Literatura Brasileira, do Itaú Cultural, do qual sou consultor.
A menção à Feira de Frankfurt não foi casual. O fato é que, depois dela, o número de traduções e o reconhecimento da literatura em português produzida no Brasil aumentou substancialmente. As estatísticas internacionais são tão ou mais precárias que as brasileiras, mas os dados do mercado editorial alemão mostram que os livros dos nossos autores eram os mais traduzidos entre os provenientes do chamado “Terceiro Mundo”, na Alemanha.
Esse enorme esforço não teve a continuidade merecida, em termos de políticas públicas de promoção da literatura. Os programas de apoio à tradução foram interrompidos várias vezes, e as ações se resumiram quase que à presença das editoras brasileiras nas feiras internacionais.
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