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Fórum das Letras de Ouro Preto – um encontro literário para a cidade

O Fórum das Letras, da Universidade Federal de Ouro Preto, é um encontro literário com algumas características que me parecem particularmente interessantes. A principal delas é o fato de ser pensado e planejado para a participação e desfrute da cidade e de seus moradores, e não para um público externo que chega de fora para participar do evento. Isso lhe dá uma dinâmica ao mesmo tempo mais tranquila e, de certa maneira, mais intensa. Não existe o clima de estrelismo que prevalece em outros eventos do tipo, e a plateia, muitos estudantes e moradores da cidade, tem uma participação atenta.

O prefeito de Ouro Preto, Angelo Oswaldo, é um personagem singular. Intelectual bem preparado, conhece a história da cidade e está ligado aos problemas relacionados com meio ambiente, preservação do patrimônio histórico e cultural.
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Livros Demais – Livros de Menos

A produção de novos títulos tem aumentado exponencialmente desde que a edição digital se popularizou, especialmente nos Estados Unidos. Uma empresa como a lulu.com, especializada em self publishing, anuncia que tem mais de 1.100.000 “criadores”, dentro de um grande número de categorias, que incluem de livros de fotografias a romances, tanto em formato eletrônico como impressos sob demanda. E a lulu.com é apenas uma entre várias empresas desse segmento.

A Agência do ISBN nos Estados Unidos já chegou a outorgar mais de dois milhões de números em um único ano (2010), números que incluem todos os tipos de publicação, incluindo as digitais e as auto-publicadas.

O fenômeno não se restringe aos Estados Unidos. No Brasil já ultrapassamos a marca das 50 mil edições e reedições anuais (considerando apenas as editoras comerciais), segundo a pesquisa de Produção e Vendas do Mercado Editorial, da FIPE/CBL, que não inclui os livros auto-publicados.

E o fenômeno se repete em todos os países.
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Como a auto-publicação especial de ficção está conquistando a China

Helen Sun – Publishing Technology China
Com permissão de Publishing Perspectives

Aqui na China, quase 195 milhões de pessoas estão ligadas em um tipo de literatura virtualmente desconhecida no Ocidente, mas que rapidamente transforma seus autores e um novo tipo de editoras online em estrelas do mercado editorial do futuro. A literatura na Web, ou “ficção original”, como é chamada na China, é uma nova forma de literatura serializada que em teoria permite a qualquer um se transformar em autor best-seller.

O sistema funciona através de um número crescente de websites de auto-publicação que hospedam milhares de histórias, com livre acesso e em constante evolução, postadas nos sites dos autores. Esses websites são incrivelmente populares junto aos consumidores, atraindo mais de 40% dos usuários da Internet na China a cada mês, que leem essas histórias serializadas que podem tratar de qualquer coisa, desde romances históricos realistas, quadrinhos, ficção científica e fantasia.
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Dia do Livro – Comemoramos?

Dia 29 de outubro é o “Dia Nacional do Livro”. Foi instituído por ser a data em que a Real Biblioteca foi transferida para o Brasil, em 1810. E não faltam efemérides relacionadas com o livro: 27 de fevereiro é o “Dia do Livro Didático” (não se sabe a razão da escolha da data); 18 de abril é o “Dia do Livro Infantil”, instituído em homenagem ao nascimento de Monteiro Lobato; e 23 de abril é o “Dia Internacional do Livro e do Direito de Autor”, instituído oficialmente pela UNESCO em 1996, embora a data já fosse comemorada como tal na Catalunha (Espanha) desde 1926. É a data do nascimento de Cervantes e da morte de Shakespeare e de nascimento ou morte de outros autores menos votados. A história com Shakespeare envolve uma “licença poética”: ele morreu em 23 de abril de 1616, mas a Inglaterra ainda adotava o calendário Juliano e, portanto, estava dez dias atrasada. Enfim…

Eu tenho certa bronca com efemérides e com “eventos”. Essa história de comemorar o “dia do…” é, o mais das vezes, pretexto para esconder o assunto nos outros trezentos e sessenta e quatro dias do ano. A mesma coisa com os eventos: existem vários festivais, feiras e outros “eventos comemorativos e celebratórios” que podem esconder a ausência de políticas públicas, no caso, a respeito do livro e da leitura.
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O BRASIL EM FRANKFURT EM 1994 – 6 – AUTORES NA MUVUCA

Público aguardando as atrações na exposição principal do Brasil em Frankfurt 1994

Não me lembro mais – como já disse antes – quantos autores brasileiros estiveram no período da Feira, em 1994, e nem há meio de recuperar integralmente essa informação. Júlio Heilbron, que produziu os eventos para a Comissão Organizadora, tinha guardado (como bom produtor), uma boa parte da informação, e desencavou e digitalizou para me enviar o catálogo editado pela Feira com os eventos oficiais. Relendo-o, lembrei-me de vários outros eventos que sei que aconteceram, e de autores que foram por conta de suas editoras, e alguns por conta própria. Mas não pretendo aqui fazer listagem de tudo que foi feito, nem me preocupar com o nome de todos que foram a Frankfurt. Vou me ater aos processos, tal como os acompanhei como parte da organização do evento.

Assim como havíamos feito com o programa na Haus der Kulturen der Welt, nossa primeira preocupação era levar os autores que fossem requisitados pelos promotores dos mais diferentes eventos, principalmente os que se desenrolariam na Literaturhaus Frankfurt, local tradicional de debates literários da cidade. Foi produzida uma exposição sobre João Guimarães Rosa e Clarice Lispector para aquele local, assim como um videodocumentário sobre autores brasileiros.
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O BRASIL EM FRANKFURT EM 1994 – 5 – CAIPIRINHA, SAMBA E MULATAS

Uma das “críticas” mais recorrentes, e que volta e meia sai na imprensa sobre a participação do Brasil em 1994, é a de que a presença brasileira foi marcada por mulatas e caipirinha. Há um ano, exatamente, em matéria n’O Estado de S, Paulo, Ubiratan Brasil dizia que os organizadores da presença brasileira em 2013 (não identificados) tinham a “intenção de evitar o vexame brasileiro de 1994 quando, também na condição de convidado oficial, constrangeu os próprios editores nacionais por espalhar mulatas que serviam caipirinha no estande oficial”.

Na mesma data mandei um e-mail contestando o suposto “vexame”, mas não foi publicado.

Já chegarei aos fatos de 1994. Sei que há quem não goste de caipirinha e de passistas, e tem todo direito de ser assim. Logo se aduz que “mulatas e caipirinha” são estereótipos sobre o Brasil. Ergo, dizem os filósofos politicamente corretos da estereotipia, devem ser evitadas a ferro e fogo em qualquer situação em que o país se apresente.

Dito seja que caipirinha, no caso, é de imediato associada a uma bebida vagabunda que os bons brasileiros, educados europeiamente, devem abjurar e só consumir uísque (também gosto) e vinho (de preferência francês, mas com concessões para os argentinos e chilenos). Mulatas, por sua vez, são as passistas de escola de samba e a insinuação é que fazem parte do bando de prostitutas e travestis que “mancha” o nome do país no exterior. Pessoalmente não tenho paciência para assistir aqueles longos desfiles de escola de samba, mas algo me diz que a Elza Soares não gosta de ver a mulatice tratada dessa maneira. E agora que está na moda o consumo da cachaça “premium”, capaz que passem a exigir que só se sirva dessas em 2013.
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O Brasil em Frankfurt em 1994 – 4 – Autores antes da Feira

Como Burle Marx não é autor, teve quem reclamasse dessa exposição...

Uma das preocupações da organização da presença do Brasil em Frankfurt em 1994 era a de ampliar da melhor maneira possível o esforço que culminaria em outubro, a data da Feira. A Feira do Livro de Frankfurt é um evento profissional e de caráter internacional. As pessoas sabem disso, falam disso, mas tirar todas as consequências do significado desse fato não é tão simples.

Os cinco dias de funcionamento da feira são uma máquina de moer. Os encontros acontecem a cada quinze minutos ou meia-hora, e são marcados com meses de antecedência, e às vezes é preciso andar muito, mas muito mesmo, de um encontro para o outro. O tamanho dos pavilhões e a distância entre eles torna extremamente exaustiva a atividade dos profissionais que a frequentam.

Por outro lado, o burburinho em torno do país convidado começa bem antes, realmente. Mas só se alcançam efeitos práticos do ponto de vista profissional – isto é, de venda de direitos autorais para a tradução – se o trabalho começa a ser feito bem antes, para que editores e agentes se interessem pelos autores.

Por essa razão é que o programa de apoio à tradução tem tanta importância. Um idioma como o português, insular, competindo com o espanhol e o francês (dentre outros), tem que facilitar o acesso dos editores e agentes internacionais ao conteúdo disponível.
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O Brasil em Frankfurt em 1994 – 3 – DO PLANEJAMENTO À EXECUÇÃO

Cartaz da exposição de fotos, curadoria de Paulo Herkenhof

Armar o quebra-cabeças do que levar para Frankfurt – no que diz respeito às exposições e eventos, (dos autores começarei a tratar amanhã) – foi complicado, mas a qualidade do que propúnhamos aos alemães facilitou muito. É verdade que alguns museus importantes ficaram de fora, não conseguimos monopolizar as instituições da cidade. Na maioria dos casos, por já terem comprometido as datas com outros projetos de maturação mais longa, e não preciso enfatizar o quanto os alemães são fastidiosos no que diz respeito a prazos.

Agora se tratava de cumprir o acordado com os parceiros alemães e montar as exposições e levá-las para a Alemanha.

Como já mencionei, o Brasil passava por um momento de especial turbulência. O compromisso de aceitar participar da Feira de Frankfurt como país convidado tinha sido assumido pelo Embaixador Rouanet que, no final de 1992, conseguiu reverter o desastre feito por Ipojuca Pontes e restaurou o Ministério da Cultura. Rouanet foi substituído por Antônio Houaiss, que ficou no cargo até setembro de 1993. Um ano. Houaiss reitera a disposição de manter o compromisso e aprova o uso de incentivos fiscais para o financiamento do projeto.

Mas, como sabem todos os que lidam com a lei de incentivos fiscais, aprovar o projeto é uma coisa, conseguir quem se interesse por financiá-lo é outro cantar.
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