Bibliotecas americanas emprestam livros através do Kindle

A Amazon e a OverDrive, distribuidora de livros para bibliotecas, anunciaram hoje de manhã o início da permissão para que as bibliotecas emprestem livros através do Kindle, anunciou a edição eletrônica do Publisher’s Weekly, o semanário da indústria editorial. O serviço estará disponível em cerca de 11.000 bibliotecas americanas, e permite que estas ampliem o empréstimo de e-books para o aparelho mais popular no país. Anteriormente os e-books só estavam disponíveis para aparelhos com o formato ePub e smartphones.

Espera-se que essa medida aumente dramaticamente a demanda das bibliotecas para e-books, que já vem aumentando nos últimos dois anos. A OverDrive, que ocupa posição dominante no segmento, anunciou recentemente que, em 2010, o aumento de empréstimos de e-books em bibliotecas públicas aumentou 200% em relação a 2009, com mais de quinze milhões de empréstimos de 400.000 títulos.

Segundo o acordo da OverDrive com a Amazon, os usuários das bibliotecas verificam a disponibilidade do título na homepage da sua biblioteca local e acessam um link para a Amazon (o sujeito precisa ter uma conta na Amazon, mas quem tem Kindle automaticamente tem uma). O livro é transferido diretamente para o dispositivo do usuário, via wi-fi ou USB pelos computadores pessoais ou pelo whispernet, o sistema proprietário da Amazon. O empréstimo vale por duas semanas. O leitor pode fazer as anotações que desejar, como se fosse o proprietário do título, e estas estarão disponíveis caso ele volte a emprestar o título ou o adquira posteriormente.

Note-se, entretanto, que algumas das grandes editoras, como a McMillan e a Simon&Schuster não permitem que as bibliotecas emprestem seus e-books.

Note-se também que nestes dias acontece um encontro entre a Association of American Publishers,o órgão de classe dos editores, e a American Library Association, dos bibliotecários. As discussões vão ser animadas.
Um dia a gente chega lá!

21 DE SETEMBRO – O DIA DA BIBLIODIVERSIDADE

A Aliança Internacional de Editores Independentes instituiu o dia 21 de setembro como Dia B – o Dia da Bibliodiversidade, para marcar a importância do assunto. Segundo Guido Indij, editor e livreiro argentino, coordenador da Red Hispanohablante de la Alianza Internacional de Editores Independientes, em artigo publicado no Publishing Perpectives, a “bibliodiversidade é a diversidade cultural aplicada ao mundo do livro. Ecoando a noção de biodiversidade, procura garantir a diversidade de ofertas editoriais disponíveis para os leitores”.”> Dia B – o Dia da Bibliodiversidade, para marcar a importância do assunto. Segundo Guido Indij, editor e livreiro argentino, coordenador da Red Hispanohablante de la Alianza Internacional de Editores Independientes, em artigo publicado no Publishing Perpectives, a “bibliodiversidade é a diversidade cultural aplicada ao mundo do livro. Ecoando a noção de biodiversidade, procura garantir a diversidade de ofertas editoriais disponíveis para os leitores”.

Com a avalanche de títulos publicados diariamente, pode-se perguntar qual a razão dessa preocupação. Como diz Gabriel Zaid, existem Livros Demais, como afirmou em livro publicado pela Summus, que traduzi e indiquei para que fosse editado no Brasil.

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A “Biblioteca Civilizatória” e a Biblioteca como serviço público

Uma das afirmativas mais recorrentes nos trabalhos que tratam de bibliotecas públicas diz respeito ao “papel civilizatório” que esta deve desempenhar. Entende-se por “papel civilizatório”, essencialmente, a presença nos acervos de bibliotecas públicas de certa quantidade de títulos aos quais se atribui – geralmente em meio a disputas acirradas – a qualidade de comporem um “cânon” de leituras indispensáveis. Geralmente os “leiturólogos” atribuem a esse cânon a capacidade de transformar um leitor “instrumental” em um “leitor crítico”.
Quando aceitam ir mais além do cânon, os “leiturólogos” geralmente passam a argumentar sobre a necessidade de que, pelo menos, os livros sejam “de qualidade”. Ou seja, acervos cujo valor simbólico é o valorizado por aquele campo intelectual que discute e legitimiza os atributos do “bom livro” e da “boa leitura”. É uma atitude próxima à da crítica literária tradicional. Mas, no que diz respeito aos “leiturólogos” há um componente adicional autoritário que o campo da crítica muitas vezes gostaria de ter, mas não dispõe de instrumentos.
Os críticos dispõem principalmente de um poder simbólico, que incorpora ou exclui as obras no cânon, mas deixa aberta ao leitor a decisão final sobre o que ler ou não.
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Conexões em destaque no Prosa & Verso

O Conexões – Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira é um dos projetos de que participo e mais me orgulho. Hoje o Prosa e Verso d’O Globo abriu duas páginas para o Conexões.
Quem quiser saber mais sobre a matéria pode visitar o Conexões para constatar sua importância, examinar as tabelas construídas com os questionários de mais de duzentos pesquisadores, professores e tradutores de literatura brasileira espalhados pelo mundo, assistir vídeos e conhecer alguns textos recuperados da história de nossa literatura ou produzidos especialmente para o Conexões.

Um abrigo entre livros

As Edições SM, de origem espanhola, aportou há alguns anos no Brasil. Uma das ações da editora, através da Fundação SM, é o Prêmio Barco a Vapor de literatura para crianças e jovens.

Acho um prêmio importante, mas o que quero aqui não é fazer propaganda dele – disso a SM se ocupa muito bem.

Na segunda edição do Prêmio Barco a Vapor, em 2006, a Fundação SM produziu um pequeno documentário sobre uma experiência que então se desenrolava em S. Paulo.

Um edifício abandonado há anos, no centro da cidade, foi ocupado por moradores de rua. Depois de limpá-lo e deixar o prédio com condições mínimas de uso, os moradores, sob a liderança de Severino Manoel de Souza, instalaram uma biblioteca no lugar da garagem do edifício.

O vídeo dura apenas onze minutos, e vale a pena assistir todo:

Mas, se tiverem apressados, podem avançar até a marca dos 3:13 e ver a declaração do Sr. Severino Manoel de Souza.

Um abrigo entre livros

Viram?
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O Grande Gatsby em estilo Nintendo

Essa é ótima. O Publishing Perspectives de hoje tem um artigo sobre a iniciativa de Charlie Hoey, um desenvolvedor WEB de San Francisco e Peter Smith, editor de um website de culturas pop, que fizeram um joguinho Nintendo a partir do Grande Gatsby, do F. S. Fitzgerald.

É um curioso exemplo de “transmidia”, a partir de um clássico da literatura americana. Pode-se jogar no computador, com Gatsby atirando seu chapéu de coco nos outros personagens e coisas assim.

Não sei se isso ajuda ou não na divulgação de literatura – os autores prometem mais jogos, inclusive um a partir de “Esperando Godot”. Quem sabe jogar Nintendo pode experimentar.

Só sei uma coisa. O Manguel deve ter espumantes ataques de raiva quando souber disso.

Inculta e Bela?

Zanzando por bancas de jornais, notei a presença de várias revistas focadas no idioma português. Ao contrário das revistas sobre literatura, que considero terem se refugiado nas publicações das livrarias, aparentemente as dedicadas ao cultivo do idioma andam florescendo. Depois da triste polêmica em que muitas pessoas falaram sobre o livro “Por uma Vida Melhor” sem ter lido o texto acusado de “ensinar português errado”, fui ver a quantas anda essa questão nas publicações periódicas.
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“A massa ainda comerá o biscoito fino que fabrico”

Oswald de Andrade sempre foi um dos meus heróis na literatura brasileira. Pela produção literária, pela militância na literatura e na política, por seu desassombro e atrevimento. Maria José Silveira, Márcio Souza e eu usamos essa frase como lema da Marco Zero, a editora que fundamos e mantivemos por dezoito anos.
Quando escrevi “O Brasil pode ser um país de leitores?”, mencionei na introdução: “A massa dificilmente comerá do biscoito fino se a ele não tiver acesso e ficar reduzida ao consumo da broa de milho […] O esforço aqui apresentado é o da discussão de como fazer o “biscoito fino” chegar à massa.” (p. 16).
Trata-se, portanto, de preocupação constante e recorrente, que abrange a discussão de impasses e dificuldades do mercado editorial e possíveis soluções. Afinal, o que me levou a estudar essas questões foi também certo grau de frustação pela massa não consumir em quantidade o “biscoito fino” que produzíamos na Marco Zero.
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Financiamento coletivo de livros. Vai funcionar?

A moda do financiamento coletivo de espetáculos, que já existe no Brasil, tem sido experimentada em outros países para o financiamento de livros.
Por esse esquema, os fãs de uma determinada banda contribuem com uma quantia em dinheiro para financiar a vinda do espetáculo e são reembolsado com os resultados da bilheteria, em vários casos recuperando totalmente o que investiram – que é pouco – e assistindo o espetáculo de suas bandas preferidas.
Já existe quem tente levar o mesmo esquema para a edição de livros.
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Nossa elusiva matéria prima

Uma das coisas que aprendi nessa faina do mercado editorial é que o mundo dos livros é um reflexo do mundo real. Cabe tudo. Das coisas mais sublimes às calhordices mais inomináveis. Como papel (e agora, bits) aguenta tudo, é possível encontrar toda e qualquer coisa impressa e sendo vendida (ou empurrada, ou doada por conta de outros interesses) no mundo do livro.
Essa variedade me fascina.
Do lado positivo, há o aprendizado de uma lição de humildade: o que eu gosto, o que me satisfaz intelectual e esteticamente, não é nem (necessariamente) o melhor nem é o que o OUTRO precisa para satisfazer o mesmo tipo de necessidades. E isso não é uma rendição a um relativismo absoluto: o que acho uma porcaria tenho minhas razões para considerar assim e não pretendo mudar de opinião. Mas, quando analiso políticas públicas de acesso ao livro, devo reconhecer o direito do outro gostar (ou ter necessidade) do que eu não gosto ou até mesmo desprezo.
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Políticas públicas para o livro e o mercado editorial