Essa coisa dos anos “redondos” às vezes é muito chata. Mas há momentos em que se torna importantíssimo lembrar de coisas, principalmente por aqui na Pindorama, com essa história de que se esquece tudo.
Outro dia, na academia, meu instrutor, que é um jovem aí dos trinta e poucos anos, acabou puxando pelo assunto da Ditadura. Acontece que eu tenho a coluna detonada, já operei uma hérnia de disco e agora apareceu outra. Uma nutricionista iridóloga, Célia Mara Melo Garcia, depois de me examinar, perguntou se, aí pelos meus vinte anos, eu havia sofrido uma queda, um “trauma forte”. Respondi que sim, mas que não havia sido queda. Foi tortura, por eu ter sido preso político precisamente entre os 21 e os 23 anos. Isso aparece na minha íris, segundo ela, como um achatamento.
Bom, contei essa história para o instrutor, e comentei que achava que pelo menos uma parte dos problemas da minha postura e de má articulação corporal vinham dessa época. Para que ele entendesse o que, talvez, fosse parte do meu problema e das dores que eventualmente aparecem. Bom, a aula inteira seguiu nessa toada, ele querendo saber detalhes não sobre minha vida, mas sobre a Ditadura. Claro que falei o que pude naquele tempo, e tenho certeza de que o assunto vai voltar.
É um exemplo da importância da Comissão da Verdade e, a propósito, do tanto que o assunto apareceu na imprensa nesses dias. A maior parte da população do país não viveu aqueles anos, ou era criança na época. Ótimo para eles não terem passado pelo que minha geração sofreu.
Foi bom não terem passado pelos sofrimentos, pelo medo, pela alienação brutal do “milagre econômico” e as ilusões do Brasil Grande. Mas pena que também não tenham vivido a efervescência cultural, principalmente de 1968. Isso também merece ser lembrado, até para se entender o nojo que provocaram as atitudes de algumas pessoas que foram fantásticas naquela época, e ano passado se uniram ao obscurantismo lavignesco. Mas isso, deixa pra lá.
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